domingo, 4 de novembro de 2012

OS BASTIDORES DOS BASTIDORES: A minha história numa banda de Heavy Metal – Parte XI


Após aquele (engraçado) episódio em Nilópolis, com a banda Akael, naquele mesmo mês de agosto ainda teríamos mais um compromisso na agenda: no dia 31, o I Festival Nikity Rock, marcado para ser realizado em um antigo sobrado ao lado do DCE da Universidade Federal Fluminense.

Ficamos sabendo que o line up do festival contava também com uma banda muito interessante chamada Awake, que ensaiava no mesmo estúdio que nós, o do Flávio. Eles faziam um som muito pesado, baseado em Black Sabbath e Doom Metal. Com músicos muito bons, a Awake ainda tinha a “cereja do bolo”: Andrea PA.

Andrea era uma vocalista que trazia consigo tudo o que uma banda precisava ter no front: visual – a menina era tinha influências góticas quando se produzia, fazendo com que sua pele alva, coberta de tatuagens, se contrastasse de forma muito interessante com o negro que vestia –, boa extensão vocal – que alcançava bons agudos sem deixar de lado um grave poderosíssimo! – e presença de palco!

O Flávio me falara muito bem da Andrea e da Awake e nossas bandas já haviam se cruzado no estúdio dele. Enquanto esperávamos o nosso horário, por vezes pudemos ouvir as marteladas que vinham de dentro do estúdio; eram eles.

No dia do “show do sobrado, como de costume, chovia muito. Aliás, a chuva era algo que parecia perseguir a Alone In The Tour. O tal sobrado fedia a mofo e era coberto de estrelas do PT, o que denunciava ter sido ali um antigo comitê político, ou algo do gênero. Os shows aconteceriam no andar de cima, mas primeiro teríamos que realizar o clássico sorteio, que definiria a ordem das bandas naquela noite.

Além de nós e da Awake ainda deviam fazer parte do line up umas três bandas, ou seja, quem se apresentasse por último pegaria o final da festa...  Os eventos underground sempre – repito: sempre! – foram muito desorganizados e os horários nunca – repito: nunca! – eram respeitados. O sorteio foi feito e, veja você!, ficamos em primeiro! Entraríamos no palco, tocaríamos, tomaríamos umas cervejas, assistiríamos a Awake e rua! Mas, eu não me lembro bem o porquê, acho que a Awake possuía um público pagante maior e esse público iria embora caso eles fossem os últimos a tocar, então, refizemos o sorteio. E, para a nossa tristeza, ficamos de fechar a noite. Do céu ao inferno em apenas dois sorteios.

Das outras bandas eu não me lembro o que assisti, mas a Awake eu posso dizer que, como sempre, arrebentou! Não sei, mas acho que eles usavam as últimas cordas afinadas em ré ao invés de mi (para o leigo em música, basta saber que isso significa gerar riffs mais graves e pesados). Agora some riffs pesados a uma voz feminina poderosa! Isso era a Awake!

Escalados para fechar a noite – não confunda com as bandas que fecham as noites dos grandes festivais de rock, pois no underground fechar sempre foi uma derrota! –, lutávamos contra o tédio e a ansiedade ao mesmo tempo! Curiosamente, fizemos, talvez, o show mais empolgante da noite e também da Alone In The Tour! Aqueles que ficaram até o final do evento curtiram muito o nosso som e a empolgação deles com as nossas músicas era a mesma com as do Iron Maiden, por exemplo. Ao final do show vendemos algumas cópias de Alone In The Dark e as autografamos também!

Enfim... Era uma casa ruim abrigando um evento ruim sob um tempo ruim, mas saímos de lá bastante satisfeitos com a recepção da galera.

Teríamos pela frente pouco mais de um mês e meio sem shows. A próxima apresentação seria no dia 18 de outubro, no festival Rock no Engenho II, com as bandas Awake (novamente), Red Label, Supernova, Holy Profecy e Digitus Infamis, no Clube Italiano, em Niterói mesmo.

O Rock no Engenho II foi mais um daqueles eventos organizados por pessoas que não estão nem aí para o underground e estão mais interessadas em encher seus cofres! Em reunião, ficou estabelecido que cada banda ficaria responsável por vender uma quantidade X de ingressos. Caso não os conseguisse vender, a banda deveria pagar do próprio bolso o valor das entradas.

Ora, queríamos tocar! Não me lembro se conseguimos vender ingressos e nem de onde tiramos dinheiro para “pagar o show”, mas estávamos lá.

Era a segunda vez que a Over Action era escalada para dividir o palco com a Awake. Logicamente, nós integrantes de ambas as bandas já trocávamos algumas ideias; acabou rolando uma amizade ali. E em uma dessas “ideias”, soubemos de algo que jamais imaginamos: Andrea não estava muito satisfeita com o som que vinha fazendo na Awake. Impossível imaginar! Eles eram muito “redondinhos” naquilo que faziam. Para mim, era um exemplo de banda! Mas é como eu sempre digo: quer saber de verdade como está o clima em uma banda? Faça parte dessa banda!

Quem nos assistia também não fazia ideia das discussões, das dificuldades, de nada... Quando estávamos no palco, assim como a Awake, fazíamos o nosso trabalho e ponto. Podíamos mostrar a todos que sabíamos tocar “Phantom Of The Opera” (Iron Maiden) de forma perfeita, mas ninguém ali no público sabia, por exemplo, o quão difícil era trocar os pratos já rachados do Leonardo.

OK, mas sobre a Andrea e a Awake eu tenho muito a dizer um pouco mais para frente. Voltemos ao Rock no Engenho II.  

Para começar, ficamos novamente escalados para fechar a noite... Sabe, acho que a banda pagou caro por ter colocado aquela foto da menina chorando na capa de Alone In The Dark, porque ô azar!

A casa estava lotada, o que pode ser conferido numa pequena (e estranha) resenha da época, feita pela lendária Feira Moderna Zine. Assistimos a todas as bandas daquela noite, mas não lembro do show de nenhuma delas, com exceção da Awake, claro. Preciso dizer que ao subirmos no palco, para lá das 3h da madrugada, apenas 0,1% daquele grande público, incluindo alguns integrantes da Awake, permanecia no local? Ah! Também estava lá o Dr. Christian, que trabalhava com o Rodrigo! Ele filmou o show!

Mesmo assim, fizemos a nossa apresentação e com direito a novidades! É que durante o jejum de shows no mês de setembro, aproveitamos para compor material inédito, já para um futuro novo EP. Tocamos “Spiritual Hole” e “I Like You Dead”, se não me engano.

E é também sobre esses novos sons que falarei no próximo capítulo!

[Continua]