Ficamos
sabendo que o line up do festival
contava também com uma banda muito interessante chamada Awake, que ensaiava no
mesmo estúdio que nós, o do Flávio. Eles faziam um som muito pesado, baseado em
Black Sabbath e Doom Metal. Com
músicos muito bons, a Awake ainda tinha a “cereja do bolo”: Andrea PA.
Andrea
era uma vocalista que trazia consigo tudo o que uma banda precisava ter no front: visual – a menina era tinha
influências góticas quando se produzia, fazendo com que sua pele alva, coberta
de tatuagens, se contrastasse de forma muito interessante com o negro que
vestia –, boa extensão vocal – que alcançava bons agudos sem deixar de lado um
grave poderosíssimo! – e presença de palco!
O
Flávio me falara muito bem da Andrea e da Awake e nossas bandas já haviam se
cruzado no estúdio dele. Enquanto esperávamos o nosso horário, por vezes pudemos
ouvir as marteladas que vinham de dentro do estúdio; eram eles.
No
dia do “show do sobrado, como de costume, chovia muito. Aliás, a chuva era algo
que parecia perseguir a Alone In The Tour. O tal sobrado fedia a mofo e era
coberto de estrelas do PT, o que denunciava ter sido ali um antigo comitê
político, ou algo do gênero. Os shows aconteceriam no andar de cima, mas
primeiro teríamos que realizar o clássico sorteio, que definiria a ordem das
bandas naquela noite.
Além
de nós e da Awake ainda deviam fazer parte do line up umas três bandas, ou seja, quem se apresentasse por último
pegaria o final da festa... Os eventos underground sempre – repito: sempre! –
foram muito desorganizados e os horários nunca – repito: nunca! – eram
respeitados. O sorteio foi feito e, veja você!, ficamos em primeiro!
Entraríamos no palco, tocaríamos, tomaríamos umas cervejas, assistiríamos a
Awake e rua! Mas, eu não me lembro bem o porquê, acho que a Awake possuía um
público pagante maior e esse público iria embora caso eles fossem os últimos a
tocar, então, refizemos o sorteio. E, para a nossa tristeza, ficamos de fechar
a noite. Do céu ao inferno em apenas dois sorteios.
Das
outras bandas eu não me lembro o que assisti, mas a Awake eu posso dizer que,
como sempre, arrebentou! Não sei, mas acho que eles usavam as últimas cordas
afinadas em ré ao invés de mi (para o leigo em música, basta saber que isso
significa gerar riffs mais graves e
pesados). Agora some riffs pesados a
uma voz feminina poderosa! Isso era a Awake!
Escalados
para fechar a noite – não confunda com as bandas que fecham as noites dos
grandes festivais de rock, pois no underground
fechar sempre foi uma derrota! –, lutávamos contra o tédio e a ansiedade ao
mesmo tempo! Curiosamente, fizemos, talvez, o show mais empolgante da noite e
também da Alone In The Tour! Aqueles que ficaram até o final do evento curtiram
muito o nosso som e a empolgação deles com as nossas músicas era a mesma com as
do Iron Maiden, por exemplo. Ao final do show vendemos algumas cópias de Alone In The Dark e as autografamos
também!
Enfim...
Era uma casa ruim abrigando um evento ruim sob um tempo ruim, mas saímos de lá
bastante satisfeitos com a recepção da galera.
Teríamos
pela frente pouco mais de um mês e meio sem shows. A próxima apresentação seria
no dia 18 de outubro, no festival Rock no Engenho II, com as bandas Awake
(novamente), Red Label, Supernova, Holy Profecy e Digitus Infamis, no Clube
Italiano, em Niterói mesmo.
O
Rock no Engenho II foi mais um daqueles eventos organizados por pessoas que não
estão nem aí para o underground e
estão mais interessadas em encher seus cofres! Em reunião, ficou estabelecido
que cada banda ficaria responsável por vender uma quantidade X de ingressos.
Caso não os conseguisse vender, a banda deveria pagar do próprio bolso o valor
das entradas.
Ora,
queríamos tocar! Não me lembro se conseguimos vender ingressos e nem de onde
tiramos dinheiro para “pagar o show”, mas estávamos lá.
Era
a segunda vez que a Over Action era escalada para dividir o palco com a Awake.
Logicamente, nós integrantes de ambas as bandas já trocávamos algumas ideias;
acabou rolando uma amizade ali. E em uma dessas “ideias”, soubemos de algo que
jamais imaginamos: Andrea não estava muito satisfeita com o som que vinha
fazendo na Awake. Impossível imaginar! Eles eram muito “redondinhos” naquilo
que faziam. Para mim, era um exemplo de banda! Mas é como eu sempre digo: quer
saber de verdade como está o clima em uma banda? Faça parte dessa banda!
Quem
nos assistia também não fazia ideia das discussões, das dificuldades, de
nada... Quando estávamos no palco, assim como a Awake, fazíamos o nosso
trabalho e ponto. Podíamos mostrar a todos que sabíamos tocar “Phantom Of The
Opera” (Iron Maiden) de forma perfeita, mas ninguém ali no público sabia, por
exemplo, o quão difícil era trocar os pratos já rachados do Leonardo.
OK,
mas sobre a Andrea e a Awake eu tenho muito a dizer um pouco mais para frente. Voltemos
ao Rock no Engenho II.
Para
começar, ficamos novamente escalados para fechar a noite... Sabe, acho que a
banda pagou caro por ter colocado aquela foto da menina chorando na capa de Alone In The Dark, porque ô azar!
A
casa estava lotada, o que pode ser conferido numa pequena (e estranha) resenha
da época, feita pela lendária Feira Moderna Zine. Assistimos a todas as bandas
daquela noite, mas não lembro do show de nenhuma delas, com exceção da Awake,
claro. Preciso dizer que ao subirmos no palco, para lá das 3h da madrugada,
apenas 0,1% daquele grande público, incluindo alguns integrantes da Awake,
permanecia no local? Ah! Também estava lá o Dr. Christian, que trabalhava com o
Rodrigo! Ele filmou o show!
Mesmo
assim, fizemos a nossa apresentação e com direito a novidades! É que durante o
jejum de shows no mês de setembro, aproveitamos para compor material inédito,
já para um futuro novo EP. Tocamos “Spiritual Hole” e “I Like You Dead”, se não
me engano.
E é também
sobre esses novos sons que falarei no próximo capítulo!
[Continua]