quarta-feira, 30 de junho de 2010

LYSA23 - Final

Em algum momento da tarde, Lysa conseguiu alguns minutos de conversa com Fred. Precisava se explicar, ou melhor, tentar alguma explicação diante do flagrante de Fred pela manhã. A verdade é que não havia o que explicar; o Fred viu e pronto. Mas Lysa sentia que devia, fosse como fosse, uma satisfação a Fred.

Antes de chegar à mesa de Fred, Lysa pensava em como começar aquele papo. Assumir a bissexualidade antes de qualquer coisa? Talvez. Sabia que não devia desculpas ao rapaz, até porque foi ele quem “invadiu” sua residência. Mas sabia que tal invasão fora por uma boa causa – Lysa tinha ciência da atual preocupação de Fred em relação à estadia de Adler, um estranho, em seu apartamento.

- Fred, nós podemos conversar agora?

- Claro, Lysa.

- Eu... Eu não sei o que dizer. Morro de vergonha só de pensar, e...

- Não precisa me explicar nada, Lysa. Que isso? Eu é que peço desculpas por ter entrado daquela forma no seu apartamento. Eu não tenho nada com a sua vida.

- É que não queria que você pensasse que eu sou uma depravada, sei lá...

- Lysa, você estava na sua casa, com a sua namorada... Repito: eu não tenho nada com a sua vida.

- Ela não é minha namorada!

- Seja lá o que for, Lysa, não importa. Pelo menos agora eu sei o motivo de nunca me dar uma chance. Eu só não entendi quando me disse que estava “completamente apaixonada pelo homem da sua vida”. Estava falando do tal estrangeiro, não foi?

- Sim, claro! Quer dizer, eu acho. Quer dizer, sei lá...

- Ah... – dizia Fred tão confuso quanto Lysa.

- Fred, aquela menina é uma amiga minha, a Gabriela. Eu... Eu não sei o que me deu naquela hora, entende? Eu sequer sei o que sinto por ela. A verdade é que... A verdade é que não tenho mais controle do que sinto.

- Eu não sei como te ajudar, Lysa. Não sei mesmo. Confesso que tudo isso me confunde.

- Eu imagino, Fred.

- Só acho que você, no fundo, não gosta nem do estrangeiro nem da sua amiga.

Aquela frase de Fred pegava Lysa em cheio. A sinceridade e a serenidade de Fred fazia com que seus olhos enchessem de lágrima. Talvez por concluir, a partir dali, que sua busca insaciável estivesse mais ligada ao sexo que à paixão propriamente dita. O strip em frente a webcam, as masturbações frequentes – tendo ora Adler, ora Gabriela no pensamento –, as noites com Adler, a entrega completa às seduções de Gabriela, os beijos nas boates... “Estou sempre pensando em sexo, essa é a verdade”, pensava Lysa.

- Bem, Fred, eu só espero que esse episódio fique apenas entre nós. Não queria que todo o escritório ficasse sabendo... daquilo.

- Não se preocupe com isso, Lysa. Morreu aqui.

- Posso confiar em você?

- Sempre pôde, Lysa. Sempre pôde.

Os dois se abraçaram, mas, pela primeira vez, se abraçaram com ternura mútua. Enquanto o abraçava, Lysa concluía no quão forte e real era aquele abraço; livre de qualquer maldade, de qualquer intenção que os levassem para a cama horas mais tarde. Lysa sentia um abraço diferente de todos os que já havia recebido, inclusive o de Adler, no aeroporto.

- Fred, eu posso te fazer uma pergunta? – dizia Lysa após o abraço.

- Sim, claro.

- Ainda sente algo por mim?

- Olha, Lysa, eu preciso confessar que, embora não seja contra, aquilo que vi hoje de manhã no seu apartamento me veio como um baita banho de água fria, entende? Ainda é cedo para mentir e dizer que não sinto nada. Ainda sinto, mas quero esquecer, de verdade.

- Eu... entendo. Aliás, eu acho que você e a Tatiana...

- A Tatiana é uma fofa. Quem sabe?

- Torço por vocês.

- Obrigado, Lysa.

Lysa voltava à sua mesa se sentindo um pouco mais leve, mas sentindo também que deixara com Fred um pedaço de si. Parte da confusão havia sido “resolvida”, mas ainda faltava o lado mais complicado de tudo: o que fazer em relação a Adler e Gabriela.

* * *
À noite, Lysa chegava em seu apartamento e encontrava Adler a preparar alguma coisa para o jantar. Por um lado se sentia feliz, por ter, a cada dia, provas da honestidade do alemão, mas sentia uma ponta de tristeza ao concluir, após um beijo, que aquele “fogo internacional” havia diminuído. Talvez por haver entre os dois a mentira, a traição homossexual – ainda mais dura de se confessar –, enfim, por estar sendo desleal àquilo que tantas vezes chamou de amor.

- Está triste, Lysa? – perguntava Adler.

- Um pouco...

- Com o quê?

- Ah, Adler, não sei. Mas me responda uma coisa?

- Diga.

- Sente a mesma coisa que sentia por mim quando chegou ao Brasil?

- Ora, mas não se passou nem uma semana! Claro que sinto! Você não?

- Eu acho que não, Adler. Eu preciso ser sincera com você. Eu... Eu acho que, na verdade, era a distância que me mantinha acesa, entende?

- Mas ontem à noite mesmo você estava, como posso dizer?, morrendo de tesão, Lysa! O que realmente houve?

- Estou confusa, Adler. Muito confusa. Eu... – Lysa respirava fundo – Eu me envolvi com Gabriela, hoje de manhã.

- Como?

- Transamos! Pronto, falei! Gabriela e eu transamos esta manhã. Ela veio aqui, me seduziu, eu não aguentei, caí na dela e...

- Meu Deus...

- E esse meu “não aguentar” é que me deixou tão confusa, Adler! Não quero te enganar, ao mesmo tempo não sei se gosto o suficiente de ti e... Enfim, estou pirando!

A confissão de Lysa fazia até com que Adler deixasse o feijão queimar. O rapaz, embora envolvido até o pescoço com suas pesquisas no Brasil, se via quase que sem motivos para permanecer naquele apartamento. “Essa menina não é normal”, pensava Adler.

- OK, Lysa. Você não me deve explicação alguma. É a sua casa, a sua vida, o estranho aqui sou eu.

- Mas, meu amor, me entenda...

- Só não me chame de amor, por favor, Lysa. Só me dê até amanhã, OK? Eu vou achar um lugar para ficar e está tudo bem.

- Não precisa sair daqui.

- Sim, preciso.

Adler já havia feito alguns contatos no Rio de Janeiro e, após alguns telefonemas, segundo ele mesmo, se hospedaria, a partir do dia seguinte, na casa de um músico que conheceu naquela manhã de entrevistas, na Lapa.

No dia seguinte, antes mesmo do acordar de Lysa, Adler saía de casa levando consigo suas roupas e outros pertences. Sobre o criado mudo de Lysa, deixava um bilhete:

Lysa,

Obrigado por tudo. Cuide-se.

Beijos.

Adler.

Lysa, morrendo de dor de cabeça, acordava, lia o bilhete e, apesar de certa tristeza, sentia um pouco de alívio. “Espero que ele fique bem”, pensava.

Mas restava a última parte de toda aquela confusão: Gabriela.

* * *
Durante todo o dia, Lysa tratou de se “enfiar” nos afazeres do escritório; queria esquecer toda aquela história. Tatiana insistia em puxar assunto sobre Fred com Lysa, mas era, educadamente, cortada por um “depois, Tati, por favor”. Nunca Lysa rendera tanto num expediente. Conseguiu não pensar em sexo, em Gabriela, em Adler ou em Fred.

À noite, morta de cansaço, preferiu não ir à faculdade. Parou num bar e pediu um refrigerante.

Durante os goles, notava que, naquele momento de relaxamento mental, pensava em Gabriela. Os beijos, as carícias e o semblante de Gabriela – naquele misto de sensualidade e deboche – não saíam da cabeça de Lysa.

Até que Lysa sente a presença de alguém a se sentar em sua mesa. Era Gabriela.

- Refrigerante, Lysa? – dizia Gabriela a sorrir.

- Gabriela, sua louca! Quer me matar de susto?

- Estava pensando em mim, não estava?

- Como sabe? – deixa escapar Lysa – Quer dizer, claro que não!

- Ah! Estava! Também só penso em ti, Lysa.

- Ah, Gabriela – dizia Lysa a acariciar o rosto da amiga –, o que eu faço contigo? Diga! O que eu faço?

- Leve-me para sua cama – dizia Gabriela a morder os lábios.

Um beijo lésbico tomou a atenção de todos num raio de metros, de tão intenso. As duas saíram correndo, tomaram um táxi e sumiram. Lysa, no meio daquela empolgação toda, nem notava que, ao atravessar a rua de mãos dadas à Gabriela, esbarrara em um outro casal que:

- Aquela ali não é a Lysa, de mãos dadas com outra menina? – dizia Tatiana.

- Sim, Tatiana, é a Lysa mesmo. Onde vamos jantar? – dizia Fred.

[Fim]

segunda-feira, 28 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 11

Após o flagrante de Fred, Gabriela, que parecia achar tudo aquilo excitante até, dava gargalhadas sobre aquela cama suada. Lysa, atônita, tentava assimilar o que acabara de ocorrer. De repente, muda, Lysa se levanta, tranca a porta do apartamento e segue direto para o chuveiro; precisava de um banho, um banho gelado.

Enquanto a água fria caía sobre o corpo de uma Lysa pensativa, Gabriela aparecia à porta do banheiro.

- Está tudo bem, Lysa, relaxa! – dizia Gabriela.

- Gabriela, por favor, vá embora! Preciso ficar sozinha!

- O que tem demais nisso? O cara viu a gente se chupando, e daí?

- SAIA DAQUI! – berrava Lysa.

- OK... Eu... Eu te amo... Mesmo sendo essa grossa que é, eu te amo. Beijos.

No escritório, um Fred de olhos arregalados sentava à mesa. Fred não sabia o que pensar. Ora, o que pensar diante daquilo? Acabara de flagrar a menina de seus sonhos em pleno ato sexual com outra menina.

- E então, o que houve, Fred? – perguntava Tatiana.

- Ah? Nada. Quer dizer, ela não estava em casa. Deve estar a caminho, não sei.

- Você parece nervoso, Fred.

- Eu? Não, imagina... Escuta – mudava de assunto Fred –, conseguiu agendar a visita com aquele cliente? O...

- O Dr. Adalto?

- Isso.

- Sim, está agendada.

- OK. Quer vir comigo?

- Sério?! Eu... Eu posso mesmo? Você nunca...

- Bem, eu acho que está na hora de você começar a fazer algumas visitas e...

- Ai, obrigada, Fred!

Tatiana não sabia exatamente o quê, mas sabia que algo ocorrera na ida de Fred ao apartamento de Lysa. É que Fred voltara “estranho” de lá. Se não bastasse o aspecto preocupado, o rapaz ainda demonstrava uma atenção “diferente” à Tatiana, que, por sua vez, logicamente, achava ótimo.

* * *
Mesmo atrasada, Lysa comparecia ao escritório. Automaticamente, a jovem ia direto à mesa de Fred, mas não o encontrava. Quis perguntar à Tatiana sobre o paradeiro de Fred, mas a mesma também não se encontrava em seu posto. “Onde se meteram?”, pensava Lysa, que, já em sua mesa, resolvia ligar para o celular de Fred.

- Fred, eu...

- Não posso falar agora, Lysa. Estou numa visita, OK?

- Ah, sim...

Lysa, naquele momento, não tinha o que fazer. O jeito era trabalhar, se dedicar àquela papelada que se acumulava em sua mesa, a fim de esquecer – ou pelo menos tentar –aquele episódio embaraçoso de horas antes.

Logo o celular de Lysa soa. Era Adler. “Ainda tem o Adler”, desabafava a si mesma Lysa, que notava que por algumas horas sequer lembrava da existência do alemão.

- Lysa, tudo bom?

- Sim, Adler, tudo – dizia Lysa sem convencer.

- Está com uma voz estranha, Lysa. Está tudo bem mesmo?


- Está, Adler, está! Mas que saco!

- Ah?

- Ai, me desculpa, Adler... É que estou num dia meio difícil aqui no escritório, e...

- Tudo bem, tudo bem... Eu só espero realmente que a presença da Gabriela em frente ao seu prédio, hoje de manhã, não tenha nada a ver com o seu humor.

- Ah? Você encontrou a Gabriela?

- Sim, e ela me disse coisas muito estranhas. Disse-me que você é “dela” e não “minha”, algo assim.

- Eu vou matar a Gabriela!

- Calma, calma, é claro que não acreditei nela, meu amor. Depois das noites que passamos juntos, como acreditaria?

- Claro, claro... É tudo brincadeira da Gabriela...

- Bem, ela não parecia estar brincando, Lysa. Acho que ela sente, sim, algo por ti, de verdade. E o fato de tal sentimento não ser correspondido é que fez com que ela falasse comigo naquele tom ameaçador.

- Ameaçador, é? Hum...

- Mas, deixe isso para lá. Deixe-me te contar o que fiz agora pela manhã...

Enquanto Adler descrevia todos os seus “interessantíssimos” afazeres de pesquisador, Lysa, que mal prestava atenção no que lhe era dito, tentava entender o que ocorria com ela em relação ao sexo e aos sentimentos que se embaralhavam dentro de si. Começava a levar a sério algum tipo de distúrbio; como pôde se entregar a Adler como se entregou, e, na manhã seguinte, ser, de corpo e alma, posse de Gabriela?

Algumas horas depois, chegavam da visita Fred e Tatiana. Sorrindo e carregando um copo de milk shake cada um, os dois chamavam a atenção de todo o escritório por proporcionarem uma aproximação até então inédita. Todos ali sabiam que Fred evitava certas atitudes, a fim de manter em Lysa uma ideia de disponibilidade; Fred nunca quis dar chances a uma suposição errada por parte de Lysa. Mas esse tempo parecia ter chegado ao fim.

Lysa, pela primeira vez, sentia uma pontada de ciúmes – o que embaralhava ainda mais seus pensamentos.

Tatiana chegava até Lysa e:

- Está tudo bem, amiga? Não te vimos mais cedo. O Fred foi atrás de ti e tudo. O que houve?

- Ah... Uns problemas... Família, sabe como é?

- Algo com seus pais?

- Não, não... Esquece, está tudo bem... Mas diga, o Fred te levou na visita, foi?

- Foi! Minha primeira visita a um cliente! Adorei! E o Fred, Lysa? Ele foi um fofo me passando as dicas. Que morra aqui – dizia Tatiana agora em voz baixa –, mas eu arrisco a dizer que, não sei, acho que rolou um clima, sabe?

- Um clima, é? Hum... Que... Que bom.

[Continua]

quinta-feira, 24 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 10

- Está pensativo – dizia Tatiana a Fred.

E realmente estava. Fred estava acostumado a ver Lysa cruzar a porta do escritório pontualmente às nove da manhã, todos os dias. Já se passava das dez e nem sinal de Lysa, o que preocupava, de certa forma, Fred, que no fundo sabia que a amiga teria telefonado no caso de algum imprevisto – mas o fato é que não telefonara.

Inevitavelmente, Fred começa a pensar na história “louca” de Lysa hospedar um estranho em sua casa. A impaciência tomava conta do rapaz, que mal conseguia dar atenção à Tatiana.

- Fred, eu estou falando com você! – insistia Tatiana.

- Ah?

- Você está pensativo. O que houve?

- A Lysa, Tatiana. Ela nunca foi de se atrasar.

- A Lysa. Sempre a Lysa, não é, Fred?

- Vou ligar para ela.

Tatiana expressava seu descontentamento com um sopro para o alto. Diante da cegueira de Fred, Tatiana, com o gosto amargo da desatenção do rapaz, resolvia voltar ao trabalho.

Fred tentava o celular de Lysa, mas, para seu azar, o aparelho da amiga estava descarregado no momento. Tentava, então, o telefone residencial.

Lysa e Gabriela se encontravam como que num estado lisérgico; esqueciam completamente de suas vidas, se entregavam uma a outra numa espécie de descoberta adolescente. Era como se ambas quisessem viver aquele momento até as últimas consequências; viver tudo o que, por uma força interna, talvez, deixaram de viver na presença uma da outra.

O telefone soava.

- Não vai atender – ordenava Gabriela.

- Mas pode ser do trabalho.

- Foda-se. Você inventa uma desculpa. A gente falsifica um atestado médico, sei lá.

- Mas...

- Vem cá, Lysa – Gabriela agarrava a amiga pelos cabelos, posicionando-a entre suas pernas.

A secretária eletrônica de Lysa atendia a ligação de Fred, que, por sua vez, deixava um recado:

- Lysa, é o Fred! Está tudo bem? Beijo.

Mas o recado se perdia em meio as já ofegantes respirações de Gabriela e Lysa.

“Aconteceu alguma coisa”, pensava Fred.

Tatiana trabalhava, mantinha os olhos frente à tela do PC, mas não deixava de prestar atenção no que Fred fazia. Tatiana sentia que o rapaz estava aflito, sem saber o que fazer.

Até que:

- Tatiana – dizia Fred –, eu vou até a casa de Lysa.

- Fazer o quê?

- Preciso saber se está tudo bem com ela. Sinto que algo aconteceu. Não sei se ela comentou contigo, mas ela está hospedando em sua casa um rapaz de outro país que ela conheceu na Internet.

- Sério?

- Pois é. Isso me cheira mal.

- Nossa...

- Bem, estou indo. Avise que não demoro.

- OK...

Tatiana não pôde deixar de pensar no quão agradável seria ter a preocupação de Fred. “Será que um dia eu encontro um cara feito ele?”, pensava enquanto via Fred correr rumo à casa de Lysa.

Fred dirigia pelo caminho pensando nas diversas coisas que poderiam ter ocorrido com Lysa. Pensava em coisas terríveis, é verdade, mas pensava também que Lysa poderia estar, na verdade, tirando o dia para se divertir com seu “amigo estrangeiro” – o que não deixa de ser terrível também, já que faria com que sua preocupação se transformasse num mico histórico.

Chegando ao prédio de Lysa, Fred, da mesma maneira que Gabriela, aproveitava o descuido de um porteiro sonolento, que, constantemente, deixava o portão aberto. Fred subia até o apartamento de Lysa sem usar o interfone.

Ao chegar, Fred observava que a porta se encontrava entreaberta – a chegada de Gabriela fora tão intensa que Lysa esquecera desse pequeno detalhe. “Merda”, pensava um Fred aflito. Imaginando o pior, Fred não pensa duas vezes e abre a porta rapidamente.

Da sala do apartamento de Lysa, se tinha uma visão completa do quarto quando de porta aberta. Dessa forma, Fred, sem querer, avistou os dois corpos nus que se entrelaçavam naquilo que mais parecia uma cena de filme pornô.

Enquanto Lysa, de costas para a porta, se perdia em movimentos rápidos com a língua, Gabriela, com as pernas totalmente abertas, avistava a sorrir o adentrar de Fred.

- Acho que temos companhia, Lysa... – dizia Gabriela com os lábios borrados do que restara de um batom.

Lysa, num tremendo susto, se virava para a conclusão mais apavorante de sua vida: Fred acabava de lhe flagrar num ápice homossexual.

- FRED? – gritava Lysa.

- Desculpe-me, é que... Eu... – dizia Fred, que, imediatamente, sumia daquele apartamento.

- Poxa vida! Ele se foi, Lysa – dizia Gabriela num sorriso provocante – Nem quis brincar com a gente.

- Meu Deus, o que é que eu estou fazendo? – dizia Lysa levando a mão à cabeça.

[Continua]

segunda-feira, 21 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 9

No dia seguinte, bem cedo, Adler saía de casa, antes mesmo de Lysa, a fim de iniciar suas pesquisas. Na agenda do alemão, visitas a locais significativos, encontros com jornalistas e entrevistas com alguns artistas brasileiros também. Seria um longo dia para Adler. Longo e prazeroso, é verdade.

Lysa era acordada com beijos.

- Estou indo, Lysa – dizia Adler.

- E como vai se virar sozinho por aí, Adler?

- Já andei fazendo alguns contatos. Não se preocupe, está tudo sob controle.

- Tem meu celular. Qualquer coisa, me liga, por favor!

- Pode deixar, Lysa.

Do lado de fora, Adler teria um inesperado encontro; encostada num poste, Gabriela o esperava mascando um chiclete. Adler até a viu, mas, como não conhecia a fisionomia da moça, passou direto. Até que:

- Ei! – dizia Gabriela.

Adler virou e:

- Bom dia.

- Não está me reconhecendo, não é?

- Como?

- Gabriela! Eu sou a Gabriela, está lembrado?

Adler não sabia o que dizer. Sua experiência com Gabriela pelo messenger não fora muito boa, e o semblante que agora lhe fitava os olhos demonstrava uma raiva imensa.

- Perdeu a língua, alemão? – continuava Gabriela.

- Eu estou atrasado. Deixe-me ir.

Se já não bastasse a aparência de Adler, Gabriela percebia ainda o sotaque, concluindo assim a veracidade de toda aquela história. “Esse filho da puta é alemão mesmo”, pensava. Por um instante, Gabriela imaginou algumas peripécias sexuais provavelmente protagonizadas por Lysa e Adler naquele confinamento de dias. Uma inveja, consequência de sua paixão por Lysa, lhe tomou os olhos.

- Ela é minha, ouviu? – dizia Gabriela.

Adler pausou os passos, virou para Gabriela e:

- Como é?

- É isso mesmo que ouviu! Ela é minha! Não importa o que vocês tenham um com o outro, entende? Ela é minha! A Lysa que você provavelmente chupou todos esses dias é minha! Minha!

- Quer me dizer que...

- Isso mesmo! Lysa e eu temos um caso! Você entende? A gente se pega!

- Que vocês são amigas, disso eu sei. Mas, namoradas?

- Ah, o alemão está entendo!

Adler, embora achasse todo aquele papo no mínimo estranho, resolveu não dar mais assunto e partiu para seus compromissos. Gabriela esperou o afastamento de Adler e, em poucos segundos, estava frente à porta de Lysa, que escovava os dentes quando a campainha soou.

Imaginando ter Adler esquecido alguma coisa, Lysa alcançava a porta usando apenas o que vestia durante o sono: uma calcinha e uma camiseta de malha.

- Esquecido... – dizia Lysa ao abrir a porta – Gabriela? – assustava-se.

- Gostosa demais!

- O que... O que você está fazendo aqui?

- Não se preocupe, Lysa. O alemão já foi. Estamos a sós.

- Gabriela, eu estou atrasada para o trabalho, e...

- Não vai demorar nada, Lysa – dizia Gabriela adentrando ao apartamento.

- Gabriela, pelo amor de Deus, o que pensa que está fazendo?

- E então? Como foram as noites do casal? Sou sua amiga, não sou, Lysa? Conte-me tudo!

- Saia daqui.

Gabriela se jogava na cama e:

- Está linda só de calcinha!

- Saia daqui, Gabriela, por favor!

- Não! Se você acha que eu vou desistir assim tão fácil do que é meu, você está enganada!

- Está maluca?

Gabriela se levanta rapidamente da cama e chega até Lysa num piscar de olhos. Com os lábios bem próximos aos de Lysa, a moça tenta recriar todo aquele clima que envolvera tantos e tantos beijos entre as duas.

- Você se lembra, Lysa, de como você me beijava na noite? E de como eu te beijava, você se lembra? – dizia Gabriela a correr a ponta dos dedos sobre o abdômen de Lysa.

Lysa, envolvida numa espécie de tesão não compreendido, sem notar, deixa que Gabriela aos poucos tome seu corpo com mãos e palavras ardentes.

- Você gosta, não gosta? Por mais que se envolva com esse alemão, por mais que se diga dona de seus desejos, sabe que treme com minha presença. Você não resiste aos meus beijos, Lysa. E olha que há uma infinidade de coisas que sequer experimentamos...

- Pare com isso... Gabriela – dizia Lysa a fechar os olhos. Entregava-se aos poucos à sedução da amiga.

Gabriela, enfim, toca os lábios trêmulos de Lysa. E aí foi como tudo desabasse. Como se Lysa tirasse um peso de si e assumisse de vez a fraqueza que, mesmo inconscientemente, sempre sentira diante da presença de Gabriela.

As duas arrancam suas roupas com ferocidade; como se ambas, naquele momento, mergulhassem na maior de todas as suas loucuras alcoólicas. Gemidos ofegantes se misturavam a declarações que vinham em forma de suspiros – até um “eu te amo” saiu de Lysa.

Naquele instante, tudo que havia em volta de Lysa se transformara em pó. Nada mais parecia importante, real ou convincente. Tudo que Lysa queria – talvez por uma espécie de fuga, ou desprendimento –, era colocar para fora tudo aquilo que ela aprisionara durante aqueles anos de amizade com Gabriela.

Após o orgasmo – um dos mais prazerosos de sua vida –, Lysa concluía em pensamento: “Sinto-me tão leve”.

* * *
No escritório de Lysa, “Ela não costumava se atrasar”, pensava Fred.

[Continua]

sexta-feira, 18 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 8

Durante todo aquele mês que antecedia sua viagem ao Brasil, Adler manteve contato diário com Lysa, que por sua vez, diante disso, praticamente “sumiu do mapa”. Todo tempo vago que tinha era na frente do notebook que ela passava. Não é necessário dizer que o encantamento de outrora se transformara numa espécie de fixação, uma paixão quase que doentia.

As amigas Gabriela, Bruna e Joyce até que tentaram, mas a atenção de Lysa estava totalmente focada em Adler. Foi como se o esclarecimento sobre as atitudes “estranhas” do alemão fossem o suficiente para que Lysa se entregasse de vez àquele sentimento – muitas vezes chamado de “amor” por ambos.

Gabriela, confessamente apaixonada por Lysa, não se conformava. Não aceitava a ideia de que perdera “o amor da sua vida” para um “desconhecido que diz morar na Alemanha”. Para Gabriela, tudo não passava de uma grande farsa. Mas como comprovar isso? Que motivo haveria naquela farsa? A verdade é que a gravidade da invasão de Adler no messenger de Lysa sumira completamente diante do carinho e da atenção absurda vinda do rapaz. E Gabriela já tinha ciência disso.

No dia marcado para a chegada de Adler ao Brasil, Lysa pedira a seu chefe para sair um pouco mais cedo, a fim de buscá-lo no aeroporto.

- ...é que ele não conhece ninguém por aqui, e... – explicava Lysa.

- Tudo bem, Lysa, sem problemas – dizia seu chefe.

Fred, sem querer, ouviu a conversa dos dois. E, assim que Lysa se dirigiu à sua mesa, a abordou:

- Então ele é de outro país? – disse Fred.

- Ele quem, Fred?

- Esse cara que você vai buscar no aeroporto.

- Ouvindo a conversa alheia? Que feio...

- Não estou brincando, Lysa. Só me diga de uma vez se você tem ou não tem alguém!

- Que papo é esse, Fred?

- Cansei, Lysa! Cansei! Todo mundo sabe que sou louco por ti, mas parece que menos você!

- Fred, meu amigo, você e eu não temos nada a ver um com o outro. Não para algo mais sério. Entenda isso, por favor.

- Uma chance! Só isso que lhe peço!

- Fred, eu não queria falar sobre isso, mas eu estou completamente apaixonada! Acho que encontrei o homem da minha vida.

- Sem essa...

- É sério, Fred! Eu estou, pela primeira vez na minha vida, amando!

- No mínimo nem o conhece...

- O conheço muito bem. Ele chega hoje da Alemanha e passará um mês em minha casa.

- Na sua casa? Ficou louca?

- Fiquei! De amor! Agora, me deixe trabalhar.

Fred não acreditava no que ouvira. Lysa hospedaria um desconhecido em sua casa durante um mês. “Das duas uma: ou o amor de Lysa por esse cara é mais verdadeiro do que imagino ou ela está se metendo numa grande encrenca”, pensava Fred.

Ao checar sua caixa de e-mails, Lysa nota uma mensagem recente de Adler:

Lysa, meu amor,

Dentro de algumas horas estarei aí. Mal posso esperar para te abraçar e sentir na pele tudo o que senti virtualmente. Se me permitir, antes de dizer sequer um oi, quero te beijar loucamente!

Eu te amo!

Adler.

Lysa, sempre muito sensível aos gestos de Adler, sentia seu corpo ser tomado por um misto avassalador de ansiedade e tesão. Nunca sentira nada como aquilo. Nunca. Frente ao PC, Lysa começava a viajar num sonho erótico, no qual deslizava seus lábios sobre o corpo alvo de Adler, do tórax à cintura. A sensação era a de que não conseguiria segurar a vontade de se perder no sexo de Adler até chegar em casa. Então, imaginava que o alemão lhe corresse a língua entre os seios, ainda no banco de trás do táxi.

O telefone celular de Lysa soava.

- Sou eu, Lysa, Gabriela.

- Ah... Diga.

- Então vai mesmo cometer essa loucura?

- Não tem loucura nenhuma!

- Um desconhecido na sua casa durante um mês não é loucura?

- Não! É amor!

- Está louca!

- Estou!

- E nós, Lysa?

- Gabriela, chega!

- OK, Lysa. Felicidades...

Enquanto todos a sua volta se mostravam contra, Lysa se via cada vez mais a fim de levar a história às ultimas consequências. “Estou amando um rapaz culto, carinhoso, lindo... O que há de errado nisso?”, pensava Lysa.

Mais tarde, na hora exata do desembarque de Adler no Brasil, lá estava Lysa. Como o casal já havia se visto por diversas vezes na webcam, não se fez necessário qualquer tipo de placa ou sinal.

Quando os dois olhares se encontraram, foi como se todo aquele aeroporto parasse para assisti-los. Adler correu até Lysa e um beijo tratou de igualar qualquer diferença cultural. Um beijo.

As expectativas de ambos eram enormes. Todo aquele sonho erótico de Lysa horas antes do encontro também esteve presente na mente de Adler, que por sua vez, no momento do beijo, não conseguiu disfarçar o tesão que lhe tomava.

* * *
Os primeiros três dias de Adler na casa de Lysa foram repletos de sexo, risadas, sotaque e também de comprovações. A melhor delas foi a de que Adler era de fato verdade. Tudo o que passara virtualmente para Lysa estava sendo confirmado através de gestos ainda mais intensos que antes.

- Não acredito que está aqui comigo, na minha cama – dizia Lysa.

- Já se passaram três dias, Lysa, pode acreditar – dizia Adler a sorrir.

- E, me diga, quando começará com suas pesquisas?

- Amanhã mesmo. Quero começar com o Samba. Tirar umas fotos da... Praça...

- Da Praça Onze, Adler.

- Isso! Praça Onze! – dizia Adler num sotaque que deixava Lysa ainda mais excitada.

- Fala Praça Onze de novo, Adler!

- Praça Onze, Praça Onze...

- Vem cá, me pega!

Precisa dizer no que deu?

O sonho de Lysa se concretizava ao mesmo tempo em que os pesadelos de Gabriela e Fred tomavam proporções gigantescas. A ausência de Lysa diante dos dois era a comprovação da presença mais que crescente de Adler.

[Continua]

quarta-feira, 16 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 7

À noite, sentada em sua cama, Lysa pensava nas palavras de Gabriela. Palavras que não saíram de sua cabeça durante todo o dia. Como acreditar naquele “absurdo”? Gabriela, sua amiga, a amava muito além da fronteira da amizade. Lysa, inevitavelmente, pensava nos beijos que trocaram por diversas vezes, sob a intenção mútua (pelo menos até então) de despertar a libido dos homens presentes naquelas boates.

“Mas era tudo tão lúdico”, pensava Lysa, que ao mesmo tempo se questionava se era bom ou ruim beijar os lábios de Gabriela. “Repulsa eu não sentia, nunca senti”. Começava então um conflito interno pelo qual Lysa jamais passou em sua vida: sendo heterossexual, como sempre se julgou, como conseguia, sem qualquer tipo de impasse, beijar Gabriela da forma como beijava? O álcool, sempre presente nessas horas, de certa forma, a influenciava. “Preciso confessar que Gabriela beija melhor que muito menino que já ‘peguei’ por aí, mas...”. Lysa continuava o questionamento enquanto ligava o notebook.

O telefone soa alto e, com o susto, Lysa percebe que alisava o próprio corpo enquanto se questionava sobre Gabriela. Arregala os olhos, respira fundo, levanta da cama e vai correndo em direção ao aparelho.

Eram seus pais, que tentavam se comunicar com Lysa havia mais de duas semanas.

- Lysa, minha filha – dizia sua mãe
–, você não dá mais sinal de vida? Essa sua secretária eletrônica serve para quê? Seu pai e eu ficamos preocupados! Quase fomos aí!

- Ai, mamãe, é que minha vida tem sido tão corrida... Mal paro em casa.

- Isso não é desculpa, Lysa! Porque se seu pai deixar de depositar o dinheiro na sua conta, você ligará num instante!

- Mil desculpas...

- Está tudo bem, minha filha?

- Está, mamãe, tudo bem. E vocês por aí?

- Também, graças a Deus! E os estudos, o trabalho? Tudo bem?

- Sim, tudo na paz.

- Por falar no trabalho, e aquele tal de Frederico, minha filha? Hein?

- Ah... o Fred? Mamãe, quantas vezes preciso lhe dizer que não há nada entre o Fred e eu? Somos amigos, só isso!

- Ah, mas ele é tão bonzinho, Lysa. Ainda me lembro daquela vez que...

- Já sei! Que vocês passaram um fim de semana aqui em casa e que ele levou vocês para conhecerem o Cristo Redentor, não foi?

- Isso!

- Você me conta essa história toda vez que me liga, mamãe!

Como sempre, a conversa entre Lysa e seus pais não passou da superfície. Lysa procurava não se aprofundar muito nos assuntos sentimentais com seus pais. A mãe de Lysa, desde que conheceu o Fred, martela na ideia de um futuro casamento. Como, diante disso, Lysa se abriria com a mãe para falar sobre Adler? E sobre Gabriela, então? Preferia manter a superficialidade das conversas e passar aos seus pais a imagem de menina esforçada que sempre passou – o que, em partes, não era bem uma mentira, haja vista sua seriedade profissional.

Depois de falar por, mais ou menos, quarenta minutos com seus pais, Lysa retornava ao notebook. E, para sua surpresa, a tela exibia um “oi” de Adler pelo MSN.

Lysa: oi

Adler: estamos bem?

Lysa: um pouco. a gabriela me confirmou o seu email e isso me deixou feliz

Adler: fico feliz tb

Lysa: só estou muito confusa. não posso achar normal vc ter invadido o meu msn

Adler: eu entendo. bem, se vc quiser me bloquear, tudo bem. sentirei sua falta, mas entenderei o seu lado. mas antes, gostaria que visse uma coisa.

Lysa: o que?

Adler habilitava sua webcam e aguardava o aceite de Lysa.

Lysa, ainda muito insegura, aceita o convite de Adler, que logo aparece segurando algumas folhas de papel escritas e desenhadas em hidrocores coloridos. Os papéis, jogados um a um ao chão, diziam: “Vou ao Brasil no mês que vem e espero te encontrar! Acho que ao vivo serei capaz de dizer com mais clareza tudo o que venho sentindo por ti”.

Depois de jogar a última folha ao chão, Adler esboçou um sorriso meio sem graça, mandou um beijo e desligou a câmera.

Se já não bastasse a beleza incontestável de Adler, a “declaração mais que fofa” do rapaz deixava Lysa sem ação, sem saber o que pensar. A confusão imperava na cabeça da jovem.

Lysa: q lindo, adler. é certo mesmo? vc vem ao brasil no mês que vem?

Adler: sim. preciso finalizar alguns estudos que faço sobre a cultura de vcs.

Lysa: ah, sim

Adler: posso contar com a sua ajuda por aí?

Lysa: sim, claro...

Sem perceber, lá estava Lysa novamente entregue aos encantos de Adler. Aquela que prometera a si mesma nunca mais falar com o rapaz, estava agora o ajudando a programar uma viagem – Adler precisava ir aos lugares certos, onde as culturas a serem pesquisadas realmente se faziam presentes.

[Continua]

segunda-feira, 14 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 6

Alguns dias se passaram sem que Adler aparecesse no messenger. Lysa, um pouco mais tranquila, tentava ver um lado bom no fato. De certa forma seria mesmo mais seguro não manter contato com hacker. Mas essa era a forma com a qual seu lado racional tentava concluir aquilo tudo. O assunto “Adler” não mais se fazia presente nas rodas de papo com as amigas, muito menos com Gabriela, que praticamente proibiu Lysa de sequer citar o nome do alemão.

Mas e o seu lado emocional? Lysa sentia no peito como se uma história muito bacana houvesse lhe escapado pelas mãos. Lutava, mas sentia ainda muita falta de Adler, mesmo que virtualmente. Por vezes se conectava, numa luta entre a mente, que rezava por um sumiço definitivo por parte do alemão, e o coração, que esperava ansiosamente pelo alerta sonoro do rapaz no MSN. A verdade é que a rotina de Lysa transformara-se no imenso vazio da indecisão.

Exatas duas semanas após o último contato com Lysa, Adler, enfim, dá as caras, através de um e-mail.

Lysa,

Sei que deve estar pensando coisas horríveis sobre mim. Deve estar pensando que fugi de você, mas, acredite, não fugi, tive problemas na conexão naquele exato instante. Minha conexão só se restabeleceu hoje.

Bem, eu errei em invadir o seu MSN atrás da Gabriela, mas você precisa entender que foi por uma vontade incontrolável de estar em contato contigo mesmo estando off line. Eu queria saber mais e mais sobre você e como naquela segunda-feira não te vi on line resolvi procurar pela Gabriela (que, é bom que saiba, não me tratou nada bem).

Segue abaixo exatamente o que conversei com a sua amiga. Espero que tire as suas conclusões.

Adler: gabriela?

Gabi: sim. o q foi?

Adler: primeiramente, obrigado por aceitar meu convite

Gabi: olha eu já to sabendo quem vc é. foi a lysa que te deu meu msn?

Adler: calma. primeiro é preciso q saiba q estou completamente apaixonado pela lysa

Gabi: e o q meu msn tem a ver com isso?

Adler: preciso saber mais sobre ela... vc é amiga dela, não é?

Gabi: não é da sua conta

Adler: gabriela, por favor, eu só queria saber uma maneira de causar uma boa impressão na lysa. acha q posso mandar um presente para ela?

Gabi: vc não é alemão, seu fake!

Adler: só me responda uma coisa: ela gosta de perfumes? só me responda isso!

Gabi: vai pra merda!

E foi somente isso que falamos um com o outro, Lysa. Sei que a ideia de invadir o seu MSN atrás da Gabriela não foi das melhores, mas entenda que a intenção foi a melhor possível.

Mil beijos!

Ich liebe dich!
[Eu te amo!]

Adler

Como acreditar naquele e-mail de Adler? Depois de ter invadido seu MSN? Mesmo assim, Lysa se via prestes a aceitar o pedido de desculpas do alemão. Mas não podia descartar os alertas de Gabriela. O jeito seria procurar pela amiga para tirar a “prova dos nove”.

Por telefone:

- Gabriela, é Lysa.

- Diga.

- Preciso conversar contigo, mas tem que ser pessoalmente. Pode almoçar comigo?

- Sim, claro, pode ser no La Mole?

- Sim! Estarei lá em vinte minutos.

- OK!

Chegando ao restaurante, Gabriela, antes de qualquer palavra: “Já sabe que se for sobre aquele alemão...”. Lysa sorriu meio sem jeito e: “Sim, amiga, mas dessa vez você TEM que me ouvir”.

Lysa mostrou, impresso, o e-mail de Adler à Gabriela, que leu em silêncio, com a mão a alisar o queixo.

Minutos depois:

- E então, Gabriela – dizia Lysa –, é verdade o que ele diz aí?

- É sim, amiga. Sobre a conversa que tivemos, sim, foi exatamente isso.

- Poxa, Gabriela! Se você me dissesse isso antes, eu...

- Ah, espere aí, então o hacker agora virou o santo e eu a filha da puta?

- Não estou falando isso, Gabriela, mas... Poxa, qual o seu problema?

- Você quer saber qual é o meu problema, Lysa? Quer saber? O problema é que eu te amo!

Meio sem entender, Lysa, esperava pela conclusão daquilo.

- Lysa – continuava Gabriela –, eu nunca vi você falando de um cara como dessa vez! Eu já estava para te falar sobre o que sinto por você já faz um tempo. Não queria que esse Adler estragasse tudo, entende?

- Gabriela, você ficou maluca? Desde quando você é... lésbica? Ou bissexual, sei lá!

- Ora, Lysa. A gente já cansou de se beijar na noite e...

- Espere aí, aquilo era uma brincadeira, Gabriela, para deixar os rapazes loucos, lembra?

- Brincadeira uma ova! Para mim era muito sério, OK? Eu te amo, sua babaca! Tchau!

Gabriela largava uma nota de cinquenta reais sobre a mesa e saía deixando uma Lysa ainda mais confusa que antes.

[Continua]

quinta-feira, 10 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 5

Naquela segunda-feira, Lysa não conseguiu ir à faculdade, tamanha curiosidade que lhe tomava; só pensava em ir para casa, encontrar Adler on line e tentar entender o que realmente estava acontecendo. A caminho de casa, telefonou para Gabriela, a fim de saber mais a respeito das perguntas de Adler, mas o celular da amiga estava fora de área ou desligado. O jeito foi controlar a ansiedade durante todo o engarrafamento que enfrentou.

Já em casa, antes mesmo de ir para o banho, Lysa ligava o notebook. Enquanto a máquina iniciava o sistema, ela pegava a primeira roupa que via sobre a cômoda – um short e uma camiseta – e, aí sim, ia para o chuveiro. O calor, ainda mais insuportável que no fim de semana, fazia com que Lysa tirasse o terno como se quisesse se livrar de algo pegajoso.

Sob a ducha, a jovem pensava, tentava juntar as peças daquele “quebra-cabeça”, mas logo notava que sequer tinha as peças em mãos. Chegou a pensar que, na noite em que estava bêbada (o suficiente para esquecer de alguns atos), teria passado o MSN de Gabriela a Adler. Mas ao mesmo tempo Lysa tentava descartar essa hipótese, já que isso a remetia a uma outra ideia: a de que poderia ter dito ainda coisas muito mais comprometedoras ao rapaz, naquela noite.

Lysa sai do banho ainda com os cabelos molhados e, respingando toda a casa pelo caminho até o quarto, já morrendo de calor, retira a camiseta e se joga sobre a cama, se posicionando de bruços frente ao notebook. Lysa inicia o messenger e, rapidamente, recebe um “oi” de Adler.

Lysa: precisamos conversar

Adler: sobre o q?

Lysa: sobre gabriela

Adler: que gabriela?

Lysa: a minha amiga. eu sei que esteve conversando com ela pelo msn. ela me disse

Adler: mas eu nem sei de quem está falando, lysa

Lysa: ela me disse que vc a procurou e a encheu de perguntas. é verdade?

Adler pausa por alguns segundos. O messenger acusa o escrever indeciso de Adler, como se ele escrevesse, apagasse, escrevesse, apagasse. Até que a resposta, enfim, vem.

Adler: ok ok eu fiz uma coisa muito errada e te peço, desde já, desculpas...

Lysa: explique, please!

Adler: sim, mas entenda que tudo o que fiz foi pq eu estou te amando! de verdade! vai me entender?

Lysa: diga primeiro o que fez

Adler: ok. eu invadi o seu msn

Lysa: vc é um hacker???

Adler: não. digamos q eu tenho alguns truques. vc me falou certa vez q sua melhor amiga era a gabriela. então eu usei um desses truques, entrei no seu msn e peguei o contato da sua amiga. mas eu só fiz isso pq queria saber mais sobre vc. só q eu não esperava q vc já tivesse falado de mim a ela

Lysa: louco!

Adler: sim. foi loucura, eu concordo. mas é que estou louco por vc, lysa. isso é que me fez tomar essa atitude

Lysa: não confio mais em vc

Adler: por favor, confie!

Lysa: o q vc perguntou a ela?

Foi quando Adler ficou off line. “Ele caiu”, pensou Lysa. Mas, passados dez minutos sem que Adler retornasse, a jovem concluiu que se tratou de uma fuga.

Estava decidida. Nunca mais falaria com Adler. Não poderia, de forma alguma, confiar numa pessoa que mal conhece e que ainda por cima invade o seu MSN. Mas ainda faltava uma coisa: saber que perguntas exatamente foram essas que Adler fez à Gabriela.

Por volta de umas onze horas da noite, Lysa consegue finalmente falar com Gabriela ao telefone.

- Gabriela!

- Diga, Lysa.


- Como assim “diga”? É você quem tem que dizer, ora! Que raios Adler foi te perguntar?

- Primeiro eu quero saber como esse filho da puta conseguiu o meu MSN.

- Nem queira saber. Ele invadiu o meu MSN e... Mas, fique tranquila, ele me disse que não é um hacker.

- PUTA QUE PARIU, Lysa! Em que planeta você vive? Ele deve ter invadido o meu MSN também! E pior: deve ter invadido os nossos computadores! Caralho, Lysa! Caralho!

- Calma, Gabriela! Também não é assim!

- Como não é assim? Esses hackers invadem sistemas de bancos, Lysa, como não invadiriam os nossos computadores de merda, hein?

- Acho que ele não seria capaz...

- Como não? ACORDA, Lysa! Ele invadiu o seu MSN!

- Eu não sei. Ele disse que fez por amor e...

- Eu desisto...

- Mas me diga o que ele te perguntou sobre mim, Gabriela!

- Agora não posso, OK? Tenho que tratar de mudar minhas senhas! A gente se fala... Ah! E, pelo amor de Deus, vê se faz o mesmo com as suas!

Lysa, ainda muito confusa, seguia o conselho de Gabriela e trocava todas as suas senhas. Não tinha noção do que Adler seria capaz de fazer. Mas ao mesmo tempo em que sentia a necessidade de cortar qualquer tipo de relação com Adler, sentia também ainda um arder de uma paixão mal resolvida. Mesmo diante daquilo tudo, ainda se sentia apegada à figura de Adler, que se mantinha off line.

[Continua]

quarta-feira, 9 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 4

A rotina de segunda-feira se apresentava de forma diferente para Lysa. Contrariando a maioria das segundas-feiras, a jovem acordava com a sensação de ter um belo dia pela frente. Vestida num terninho, Lysa não se parecia nem de longe com aquela que transpirara vulgaridades durante o fim de semana. A verdade é que durante os dias úteis Lysa era a seriedade e o profissionalismo em pessoa – amava sua carreira mais que tudo.

Toda a trilha sonora repetitiva do escritório chegava aos ouvidos de Lysa como música. Nada a incomodaria naquele dia, nem mesmo a pilha de papéis – fruto ainda de uma sexta-feira muito corrida – sobre sua mesa. “Bom dia”, cumprimentava Lysa, com um sorriso contagiante, os colegas de trabalho.

O motivo dos sorrisos tão ensolarados e do astral nas alturas de Lysa não poderia ser outro: a descoberta de um envolvente sentimento, até então muito distante de seu coração havia anos. Lysa sequer tinha tempo para se questionar sobre o porquê dessa coisa toda vir a ocorrer de forma virtual, estando ela sempre cercada por homens capazes de tudo por um beijo seu. Lysa só pensava que o que sentia era real e pronto. Sentia-se disposta a apostar em Adler.

- Olá! – dizia Fred, um amigo do trabalho – Quanta alegria!

- Pois é, menino – respondia Lysa.

- Posso saber o motivo?

- Digamos que ainda não, OK?

- Humm... Segredos. Entendi. Espero que não seja o que estou pensando.

- E o que está pensando?

- Num dono para o seu coração.

- Digamos que você quase acertou.

- Ah... Bem, deixe-me ir para a minha mesa. Tenha um bom dia, Lysa.

- Bom dia para ti também, Fred.

O Fred sempre deixou muito claro a todos do escritório o que sentia por Lysa; um amor incondicional. Porém, Lysa nunca o enxergou como um pretendente; dizia que Fred, apesar de seus 25 anos, era ainda muito “menino” – seu programa dominical preferido era o de jogar videogame com os amigos pela manhã.

Fred era um cara de muito boa aparência. Moreno e de estatura mediana, Fred tinha os cabelos lisos cuja franja lhe cobria parte de um dos olhos verdes – era o que Lysa costumava chamar, em tom de brincadeira, de “o limite entre o nerd e o emo”. O rapaz possuía um jeito quieto e manso de ser, o que causava suspiros em algumas colegas de trabalho. Tatiana, por exemplo.

- Lysa – dizia Tatiana –, quando é que você vai dar uma chance ao Fred, hein?

- Eu? Chance? Não rola, Tati. Primeiro, ele trabalha comigo. Segundo, ele é muito menino para mim.

- Ah se fosse comigo... Dá vontade de colocar ele no colo e levar para casa!

- Fique à vontade!

* * *
Faltando alguns minutos para o fim do horário de almoço, Lysa, como de costume, acessava a sua caixa de e-mail. Para sua surpresa, Adler havia escrito algo para ela.

Lysa,

Está tendo um dia ótimo, não? Sei disso! Pois eu também estou!

Ich liebe dich!
[Eu te amo!]

Adler

Mais uma vez Adler dava sinal de completa sintonia com Lysa. Ele sempre surgia com as frases certas nos momentos certos, o que deixava a jovem cada vez mais impressionada com tudo aquilo. E o “eu te amo”, ao final, fazia com que Lysa o levasse ainda mais a sério.

O telefone celular de Lysa soava. O display informava ser uma ligação de Gabriela. Lysa preferia não atender; não queria que as frases prontas da amiga estragassem o seu dia.

Mas o celular continuou a tocar e tocar. Parecia urgente. Lysa atendia.

- Diga, Gabriela.

- Você falou sobre mim para o tal do Adler?

- Bem, eu acho que sim... Devo ter dito sobre amigos, talvez... Por quê?

- Ele acaba de me adicionar no MSN e de me encher de perguntas sobre você, Lysa. Não respondi a nenhuma delas, lógico.

- Mas como?! Eu posso ter falado sobre você, sobre nossa amizade, mas jamais ter passado o seu MSN.

- Então não sei como ele conseguiu. Só sei que não gostei nada disso, amiga. Abre o seu olho. Depois conversamos.

- Eu...

- Preciso desligar, amiga. Beijo.

- Bei... jo.

Lysa tinha certeza de que, de uma forma ou de outra, a ligação de Gabriela estragaria o seu dia. E aquela história toda era no mínimo estranha. Como Adler conseguira o MSN de Gabriela? E que tipo de perguntas fizera ele à sua amiga? Lysa teve vontade de escrever um e-mail pedindo esclarecimentos a Adler, mas teve de voltar ao trabalho – dessa vez, sem os sorrisos.

[Continua]

segunda-feira, 7 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 3

Lysa passava o restinho do domingo numa ressaca infernal. Se isso já não bastasse, a lembrança do que fizera mais cedo frente à câmera para Adler a deixava com nojo de si mesma. “Eu devia estar muito louca, não é possível”, pensava Lysa. Tudo o que queria era ficar quieta em sua cama e esperar pela pesada segunda-feira. Mas, como sempre, Lysa resolvia telefonar para Gabriela.

- Nos abandonou ontem na pista e agora quer conversar, né? – dizia Gabriela.

- Desculpa, amiga. É que eu estava muito mal.

- Todas nós estávamos, Lysa, mas tudo bem. Diga, o que houve?

- Lembra do Adler?

- O alemão? O que tem?

- Ai, amiga... Fiz um strip para ele na webcam, acredita? Estou morrendo de vergonha, Gabriela!

- Está zoando, não está?

- Não. É sério! Eu me despi na frente da...

- Não é disso que estou duvidando, Lysa! Digo que só pode estar zoando com a minha cara quando diz que está preocupada com isso. Porra! O cara mora lá na puta que o pariu, e você me vem com essa? Faça-me o favor, vai...

Definitivamente, Gabriela não era, nem de longe, a pessoa ideal para um desabafo. A superficialidade com que as amigas de Lysa tratavam os assuntos relacionados aos rapazes era medonha. Para Gabriela, por exemplo, os homens deveriam estar empilhados numa prateleira de supermercado, de preferência, no setor de utensílios domésticos.

- Lysa – dizia Gabriela –, quando você vai aprender que homem a gente curte? A partir do momento em que se preocupa com qualquer coisa relacionada a ele, já não é homem, e sim problema!

- OK, Gabriela. A gente se fala...

Lysa sentia que não deveria lidar de forma tão fria aquilo tudo. Adler fora um rapaz encantador e, justamente por isso, a vergonha daquelas atitudes lhe doía tanto. Sentia que o melhor a fazer era pedir desculpas a Adler, mas com que cara? Lysa já se envergonhava do que lembrava ter feito e ainda mais do que não lembrava. “Tenho medo do que eu tenha realmente feito frente àquela câmera”, pensava.

Depois de pensar por mais alguns instantes, resolve ligar o notebook à procura de Adler.

Adler não estava on line, porém, o messenger indicava uma mensagem nova para Lysa. Era um e-mail de Adler.

Lysa,

Sei que deve estar inundada numa maré de confusões. Sei que ontem você exagerou na bebida e acabou fazendo aquilo que lhe veio à cabeça. Não serei hipócrita. Eu gostei muito do que vi na webcam. Mas tenho certeza de que não só de strip se faz uma Lysa.

Fiquei espantado com sua coragem e maravilhado com suas curvas e toda aquela sensualidade. Mas preciso dizer que o que mais me manteve atento a ti foi a quantidade de coisas que temos em comum. Fazia tempo que não conhecia alguém que me fizesse escrever um e-mail como esse.

Queria que você soubesse que não vejo a hora de lhe ver on line novamente, para que eu possa descobrir ainda mais se fomos feitos ou não um para o outro.

Se estiver com vergonha de tudo aquilo, relaxe, pois, se você quiser, eu esqueço tudo!

Beijos,

Adler.

“Como esse garoto sabe sempre exatamente o que sinto e o que espero dele, meu Deus?”, pensava uma Lysa boquiaberta. As palavras de Adler faziam com que Lysa se sentisse outra por dentro. A vergonha e a sensação de descarte davam lugar agora a um sentimento que parecia uma espécie de paixão.

Lysa sabia que o tesão avassalador da madrugada era fruto da quantidade de álcool. Naquele início de noite de domingo as coisas clareavam na cabeça de Lysa: “Estou gostando do Adler, é isso”. Mas ao mesmo tempo uma nuvem negra dizia “vocês mal se conhecem e a distância é um agravante”.

Foi quando Adler ficou on line no messenger.

Adler: oi

Lysa: ooooooi

Adler: leu meu email?

Lysa: sim. vc é um fofo! eu estava realmente muito mal com aquilo tudo

Adler: imagino. mas está tudo bem, ok? foi demais, não posso negar, mas não será o strip que nos unirá. sinto que tem muito mais a oferecer, entende? vc deve ser uma menina maravilhosa

Lysa: maravilhoso é vc. acho que no seu lugar outro cara teria tirado a roupa tb

Adler: é eu sou muito travado para essas coisas. e foi naquele momento que percebi isso rsrsrs

Lysa: olha, me desculpe tb pelas barbaridades q devo ter dito a vc

Adler: está tudo bem, lysa. podemos conversar?

Lysa: claro

Adler: não bebeu, não é? rsrsrs

Lysa: bobo! rsrsrsrs

Lysa passaria toda aquela noite numa conversa séria com Adler, na qual ambos procurariam conhecer melhor um ao outro. E por mais claro que estivesse a vontade mútua de mostrar apenas o lado bom de cada um, naquela noite, Lysa deitaria sobre o travesseiro com a cabeça na Alemanha; completamente envolvida na sedução de Adler.

[Continua]

sexta-feira, 4 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 2

Tropeçando nas próprias pernas, Lysa consegue finalmente chegar em casa. A secretária eletrônica marca quatro mensagens, o que faz com que a jovem se lembre, com muito esforço, da existência de seus pais.

Os pais de Lysa moravam numa cidade do interior do estado. Com o muito orgulho, pagavam os estudos da filha e ainda a ajudavam a manter as despesas do apartamento. Lysa, que afirmava estar sempre “durinha da Silva”, estudava Administração de Empresas e já trabalhava no ramo fazia uns dois anos, porém, sua grana escorria pelos dedos em forma de bebidas e noitadas.

Lysa apertava o play da secretária e desabava no sofá. Como já previra, lá estavam quatro mensagens de seus pais:

- bipe – Lysa, meu amor, é a mamãe. Você está aí?

- bipe – Lysa, dá uma ligada para mamãe. Beijos.

- bipe – Lysa, aqui é o seu pai. Dá uma ligada para a gente.

- bipe – Lysa, é seu pai de novo. Você está aí?

A claridade do notebook ainda ligado no quarto fazia com que Lysa lembrasse de Adler. A vontade que teve foi a de, imediatamente, checar se o rapaz estava on line. Mas o efeito da noitada não a deixava sequer levantar daquele sofá. Não foi preciso mais que dois minutos para que Lysa, banhada em suor e cheirando a álcool, se ajeitasse ali mesmo para dormir.

Naquele misto de sono e alucinação, meio acordada meio dormindo, Lysa não se contém e, ali mesmo, naquele sofá, solta aquilo que seria o último suspiro de toda a sensualidade esbanjada momentos antes na boate: uma masturbação.

Após aquele confuso orgasmo, Lysa se sente um pouco melhor e resolve ir até o notebook. Desabando sobre a cama, com os dedos ainda melados e com forte odor vaginal, Lysa movimenta o cursor e nota uma solicitação pendente no messenger. Era Adler pedindo para ser adicionado aos seus contatos.

Os olhos de Lysa, que antes se espremiam por conta da claridade da tela, se tornavam agora enormes, tamanha era a curiosidade. Lysa aceita o pedido e nota que Adler se encontra on line.

O sono estava levemente despertado, porém, a dor de cabeça se mostrava ainda mais forte, o que dificultava Lysa de identificar a foto de Adler. “Que porra de foto é essa?”, perguntava-se Lysa. Até que:

Adler: oi!

Lysa: oi... acordado já? são 3h!

Adler: no brasil. aqui são 8h! bom dia!

Lysa: ah sim, é mesmo...

Adler: eu que lhe pergunto. acordada já?

Lysa: acabei de chegar em casa rsrsrs to morta!

Adler: então vá dormir. a gente conversa outra hora.

Lysa: não não... podemos conversar!

Adler resolve aceitar o pedido de Lysa e, então, uma longa conversa se dá.

Primeiramente, Lysa pergunta o que de fato seria a foto de Adler, pois não conseguia distinguir bem o que via. Adler explicava ser um de seus desenhos. Sim, Adler gostava de desenhar e, ao invés de uma foto, usava seus desenhos para ilustrar o seu messenger. Lysa, por sua vez, usava uma foto atraente, na qual exibia um rosto lindo e um decote de tirar o fôlego.

A pedido de Lysa, Adler troca sua foto por uma em que de fato o exibia. Lysa já imaginara mais ou menos a aparência do novo amigo, mas não fizera ideia do quão bonito era Adler. O rosto de pele alva trazia traços delicados e um par de olhos bem claros – sem uma definição certa de cor. Os cabelos eram loiros, bem loiros, e muito bem cortados também. A foto ainda dava uma amostra de ombros bem largos.

Lysa: nossa! vc é muito gato

Adler: digo o mesmo de vc

O fato é que o estado de Lysa não ajudou muito no que era para ser um papo entre duas pessoas nos primeiros passos de uma amizade. Enquanto Adler buscava demonstrar seus gostos, sua personalidade, Lysa se concentrava em sua vontade louca de transar. Sendo assim, acabava pondo maldade em toda e qualquer frase dita pelo rapaz. Adler, notando a condição em que Lysa se encontrava, resolveu, depois de um tempo de conversa, entrar na onda.

Adler: vc me parece meio “alta”

Lysa: acertooooou

Adler: adoro mulheres nesse estado

Lysa: dá um pulinho aqui então uhauhauha

Adler: e se eu der mesmo?

Lysa: aí eu te “dou” uahuauhauhauh

Adler: :O

Lysa: soube que vcs guardam coisas enormes entre as pernas huauhahuuha

Adler: meu deus... rsrsrs tem webcam?

Lysa: tenho

Alder: liga

Lysa: ok

Com as câmeras e os microfones de ambos devidamente ligados, Lysa, num estado de alucinação que parecia interminável, subia o vestido e se apresentava a Adler já com a minúscula calcinha à mostra.

- Meu Deus! – diz Adler.

- O que foi? Nunca viu? Hahahahaha!

- Vocês brasileiras são quentes mesmo, não?

- Das outras brasileiras eu não sei, mas eu sou beeeeeem quente!

Adler apenas assistia uma Lysa ardente a se despir. O rapaz parecia não acreditar no que via: uma jovem brasileira linda, completamente bêbada, num strip.

Até que, sabe-se lá o porquê, Lysa parece cair na real. A imagem de um Adler a apreciá-la com o olhar de um javali faminto passou a incomodá-la. Rapidamente, quando se preparava para mostrar os seios, Lysa desliga a webcam, pede desculpas a Adler e se desconecta do messenger.

- Meu Deus – diz a si mesma Lysa –, onde estou com a cabeça, meu Deus? Eu estava me despindo para um estranho! Eu não sou como a Gabriela, ou como a Joyce e a Bruna. Não! Ai, minha cabeça, como dói...

Por fim, Lysa desaba de vez em sua cama para um sono profundo, que duraria até às cinco da tarde daquele domingo.

[Continua]

quarta-feira, 2 de junho de 2010

LYSA23 - Parte 1

O calor e o tédio a consumiam. Era um sábado à tarde e Lysa aguardava algumas amigas entrarem no messenger para decidirem o que fariam à noite. A demora das amigas fazia com que Lysa rolasse de um lado para o outro da cama, frente ao notebook.

Morando sozinha, a privacidade lhe permitia trajar apenas uma calcinha confortável e uma camiseta de malha bem fresca. Seus cabelos, mesmo presos num imenso rabo de cavalo, lhe causavam um suor irritante na nuca. Lysa, morena que era, deitada sob a luz forte daquela tarde veraneia, exibia, logicamente sem se dar conta, às paredes e à janela daquele quarto uma cena típica de um filme publicitário de lingerie. Suas curvas delicadas e seu olhar amendoado fixo à tela do notebook venderiam facilmente qualquer produto.

Os minutos se passavam. Lysa expunha aquele tédio na forma de sopros, que faziam com que alguns de seus fios soltos, frente ao rosto, levantassem e descessem lentamente – era incrível como a jovem tornava atraente qualquer momento, até mesmo os mais tediosos.

Em mais um de seus trajetos rumo ao outro canto da cama, a rolar, Lysa apanha o travesseiro e o posiciona entre as pernas e, como num susto, tem uma ideia: entrar numa daquelas antigas salas de bate papo, a fim de passar o tempo, só.

Antes de definir o nome com o qual participaria na sala, Lysa pensara no que seria mais divertido. “Passar-me por um homem tarado ou por uma ninfomaníaca?”. Concluindo que ambos os perfis seriam caricatos demais (e comuns até), decidira ser ela mesma e, então, entrar com o seu próprio nome seguido pela idade: Lysa23.

A jovem se espanta com a quantidade de pessoas que ainda habitam as bizarras salas de bate papo. Lysa chega a pensar em desistir, pelo fato de associar tal ambiente a loucos, maníacos sexuais... Mas, mesmo assim, resolve entrar. Queria se divertir, só isso.

Lysa escolhe, entre as salas intituladas “namoro”, a mais cheia. Logo ao entrar, recebe um número imenso de mensagens do tipo “quer tc?” – de homens e mulheres, diga-se. Mas apenas uma mensagem a atingiu de forma eficaz: “entediada?”, dizia Adler.

Lysa23: sim muito entediada. como sabe?

Adler: rsrsrsrs adivinhei. então procura papo

Lysa23: sim claro por isso to aqui

Adler: rsrsrs

Lysa23: de onde vc é?

Adler: dresden, alemanha e vc?

Lysa23: alemanha? nossa! sou do rio de janeiro, brasil

Adler: imaginei rsrsrs entro sempre aqui em busca de amizades brasileiras

Lysa23: pq?

Adler: pq amo o brasil. estudo a língua de vcs e a literatura tb.

Lysa23: nossa! então entende a minha língua perfeitamente?

Adler: sim. as gírias da net tb... rsrsrs vamos acabar com esse seu tédio!

Lysa23: rsrsrs

Ao longo do papo, Lysa se espantava com o grau de conhecimento de Adler a respeito do Brasil. O rapaz, que dizia ter apenas 25 anos, demonstrava conhecer (e muito) não só a literatura brasileira, mas também a música, o cinema, as artes plásticas, a culinária, tudo. Era praticamente um brasileiro nascido no país errado.

Lysa se via abismada e ligeiramente atraída por tanta cultura alocada num homem só. Mas tinha a consciência, sim, de que, na verdade, não sabia nada sobre Adler. Tudo podia não passar de uma brincadeira; um brasileiro numa lan house fétida se fazendo passar por alemão com a ajuda do Google. Por que não?

Foi quando uma de suas amigas, a Gabriela (para certa tristeza de Lysa), deu sinal de vida no messenger. Aquilo que era tédio se transformara numa experiência interessantíssima. Os dois trocaram e-mails e se despediram.

Lysa23: gostei de tc com vc... a gente se fala

Adler: ok te add no msn

Imediatamente, Lysa, antes de mesmo sequer tocar no assunto sobre o programa para aquela noite de sábado, conta à Gabriela sobre Adler. A amiga se vê desconfiada e dá pouca atenção. “Adler, Lysa? Alemanha? Cai na real e vamos falar do que interessa: hoje à noite, o que rola?”.

* * *
Lysa e as amigas Gabriela, Bruna e Joyce se divertiam na pista de uma badalada boate, em algum lugar do Rio de Janeiro. A transpiração das meninas se espalhava e se misturava às luzes e às salivas carregadas de vodka e tabaco. Lysa e as meninas, envoltas em vestidos curtos e decotados, exibiam suas curvas ao olhares famintos daquele ambiente. Lysa era a mais atraente das quatro, por possuir em seu tom de pele moreno o brilho natural; um convite à carícia e ao sexo.

Mais tarde, já exaustas, as amigas resolvem se sentar um pouco no lounge. Bruna, a mais bêbada, não se importa em deixar as pernas abertas. Joyce (a menos bêbada, talvez) tenta reprimir Bruna:

- Fecha as pernas, sua vaca!

- Joyce, me deixa! Estou suando litros e preciso refrescar a “perseguida”!

- Que horror, Joyce! – diz Lysa.

- Gente, a Lysa está apaixonada por um nerd alemão! – diz Gabriela em tom de deboche.

- Alemão? – diz Bruna – Tenho histórias ótimas sobre os alemães! Dizem que, entre as pernas, eles guardam uma coisa enooooorme hahahahahahaha!

- Calem a boca! – diz Lysa – Não é nada disso! É só um cara que eu conheci no bate papo! Só isso! A Gabriela está zoando...

Naquele clima “alto” das meninas, não demorou muito para que um beijo ardente entre Bruna e Joyce se fizesse presente. Enquanto isso, ao lado, Lysa tentava explicar à Gabriela sobre Adler.

- Gabriela, me escuta. Ele parece ser especial. Sim, ele pode ser uma farsa, mas ele... ele... sei lá, me passou tanta verdade.

- Sem essa, Lysa, olha aquele cara ali me comendo com os olhos!

Lysa via a inutilidade de se conversar algo sério com as amigas naquela situação. Nem ela mesma sabia do que estava realmente falando. Sua cabeça doía e girava como nunca. De um lado, Joyce e Bruna a se atracarem numa troca mútua de mãos leves entre pernas e seios; do outro, Gabriela a lamber de forma obscena uma long neck, a fim de provocar um rapaz próximo à pista.

Lysa, com o nome de Adler em mente, pega sua bolsa, larga as amigas em seus delírios e vai para casa.

[Continua]