segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

AMIGO SECRETO

Dentro de mim, não aceitava toda aquela tradição de consumo natalino. Quem fora Papai Noel? Ele estava presente no nascimento de Jesus? Tudo não passa de uma invenção capitalista para nos fazer aumentar em 20% ao ano o consumo em relação a dezembro do ano anterior. Ruas lotadas, expedientes mais curtos para consumidores e mais longos para os lojistas.

Da janela do ônibus, eu observava tudo com certo nojo. Não gosto dessa época do ano. Não gosto de Natal. Nada contra os escritos sagrados, mas não dá para agüentar o misto de informações. O que uma oportunidade “única” de se adquirir uma TV de plasma tem com a manjedoura? Ou com José, Maria, os animaizinhos?

Na cabeça, as marteladas contínuas do dever de comprar um presente para o meu “amigo secreto”. Na verdade eram três amigos secretos. Um na família, outro no futebol de domingo e outro no escritório. Haja paciência. Eu não poderia dizer que não participaria, ora. Seria o errado, o do contra. Preferia participar de tudo aquilo com a boca fechada. Eu daria meu presente, receberia o meu e pronto. Protocolo cumprido três vezes.

Tinha imaginado comprar os presentes no dia seguinte, num sábado. Sabia da merda tremenda que seria. Estava a poucos dias do Natal. Teria de estar com os três presentes à mente. Nada de sair andando por aí à procura dessas coisas. Iria direto aos pontos.

Na família, meu amigo secreto era um tio meu. Um violonista seresteiro de mão cheia. Não seria difícil. Um CD do Nelson Gonçalves ou do Dilermando Reis resolveria o problema. No futebol, eu tirara o Tião. Goleiro dos bons. Então, uma luva! Foi a primeira e certeira idéia que tive. Uma luva de goleiro! Pronto! No escritório, meu amigo secreto, ou melhor, minha amiga secreta era a Carla. Carla era secretária do chefe. Linda, meiga, gentil, divertidíssima... Enfim, uma mulher muito interessante e agradável. Mas o que comprar para Carla?

Eu não sabia direito o tipo de roupa que usava, pois só a via de uniforme. Terninhos que, meu Deus, eram de enlouquecer. Uma coisa que me chamava atenção era a quantidade de arcos que a Carla tinha. Eram vários. Sempre combinando com suas peças, seus arcos eram como um toque final. Ela ficava linda com eles. Mas um arco? Seria muito simplório. Pessoas trocando presentes interessantíssimos e eu com um arco na mão? Não. Haveria algo melhor a comprar.

Com o presente dos dois primeiros amigos secretos já comprados, era hora de correr atrás do de Carla. Que tarefa cansativa. Só aturava por ser para Carla. Quem dos rapazes daquela empresa não sonhara em tirar o nome de tal gostosura. Era a chance de surpreendê-la. Era a chance de se mostrar sensível. De mostrar que tinha observação ao gosto dela. Seria lindo escutá-la dizendo “mas era exatamente isso que eu queria”.

* * *
No dia da troca de presentes:
- Agora é a vez do Augusto!
Dizia alguém. Ah! O Augusto sou eu! Esqueci de me apresentar.
- E aí, Augusto? Tirou quem? Tomara que tenha sido eu! Pelo tamanho do presente, deve ser coisa boa!
Um amigo já chegava com mais uma de suas piadinhas.
- Cale essa boca – eu dizia.
De fato a caixa era grande mesmo. Sentia que todos ali gostariam de ser o meu amigo secreto.
- Bem – eu dizia –, meu amigo secreto é uma pessoa adorável. Não sei bem o que dizer. Sou tímido. Bem, meu amigo secreto é na verdade uma amiga. É a Carla!
Sentia a inveja das outras mulheres. Sentia a inveja dos homens também.
- Nossa! Então esse presentão é meu?
Dizia Carla.
- Sim. Feliz Natal, Carla.
- Obrigada! Feliz Natal, Augusto.
- Espero que goste!
- ABRE! ABRE! ABRE!
Gritavam.
- Está bem, eu vou abrir!
Dizia Carla sorridente.

Carla abria o embrulho sob olhares atentos. Enfim, a surpresa: Um urso de pelúcia enorme. Branco. Um urso polar. Com enfeites de Natal. Custara uma fortuna. Mas eu achei que o mesmo, sim, estava à altura de Carla.
- E então? Gostou?
Eu perguntava.
- Sim, claro. É lindo...
Ela respondia com um sorriso sem sal. Eu não sentia o seu gostar. Ali, eu constatava que havia errado no presente.

* * *
Depois da troca de presentes, o Júlio César, do departamento de marketing, chegava até Carla.
- Bem, eu não tirei você no amigo secreto, mas tenho uma coisa para ti.
- Ah! Júlio César, não precisava.
Ela abria o pequeno embrulho e lá estava: um arco. Carla sorria como uma criança. Abraçava Júlio César como eu nunca vira.

O urso que lhe dei, ficava cabisbaixo sobre a mesa em meio ao monte de papéis de presente. Senti pena daquele urso. Na verdade senti pena de mim mesmo. Que idiota eu fui. Caí nas garras daquele velho gorducho maldito. Caí no espírito consumista do Natal na espera de um sorriso como aquele que Carla deu a Júlio César. Um arco. Estive tão perto e terminei tão longe. Um arco, meu Deus! Um arco!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

ENFEITE DE NATAL

Eu esperava por um telefonema dela. Já se passavam das oito horas do dia 24 e não sabia ao certo onde eu passaria aquele Natal. Eu esperava por um telefonema dela. Ela me diria o que fazer. Eu já tinha descartado o Natal na casa de meus pais. Estaria à disposição dela. Onde ela quisesse estar naquele dia, eu estaria. Disse isso a ela. Ela concordava, mas com semblante de quem não gostara da idéia. Na certa ela estava mais preocupada com um Natal entre amigos. Amigos, sim, no masculino mesmo. Eram muitos. Todos homens. Nunca vira mulher para gostar tanto assim da companhia destes. Nem uma única fêmea para contar a história? Sempre homens? Eu, pacato, aceitava. Até a página dois, mas aceitava.

Eu esperava por um telefonema daquela que, com seu jeito esperto de me convencer, guiava-me por caminhos de sua própria escolha. Eu só sabia gostar, querer, amar. O resto era com ela. Transformava meu “não” em “sim” e vice-versa. Passeava de salto alto sobre meu coração. Quando não o limpava tão pontiagudo da lama que trazia neles. Meu peito era seu tapete, seu chão, seu canto reservado para as mágoas. Eu só sabia gostar, querer, amar. Tudo era com ela.

Dez horas do dia 24. O telefone tocava e meu peito latejava como que num renascer da mais profunda idéia de solidão. Somente ela me ligava. Ninguém jamais discara meu número. A menos para as notícias ruins. A morte de minha mãe foi uma delas. Caminhava emocionado em direção ao aparelho que se esgoelava a me chamar.
- Alô – eu atendia.
- Oi. Sou eu. Não fica chateado, mas não nos veremos no Natal, OK?
Ela me esfaqueava sem dó. Uma frase cortante.
- Mas...
- Vou passar na casa de uns amigos. Amanhã à noite nos vemos. Está bem?
- Amigos? Entendi. Eu vou ficar por aqui mesmo.
- É bom mesmo. Aquele concurso que tentarás tem provas em janeiro, não é? Aproveite para estudar.
- Sim. É o que vou fazer.
- Bem, vou indo. Até amanhã.
- Feliz Natal, meu amor.
- Ah... Sim... Feliz Natal.
Nunca sentira tamanho desânimo. Na verdade sentira, mas é que somente naquele momento caía pesada ficha de que eu nada era para ela. Nada.

Sentia-me como um enfeite de Natal. Ela me pusera em sua árvore de mentiras, apagava as luzes e saía com suas luminosas verdades. Eu permaneceria ali até os Dia de Reis, quando me guardaria numa caixa até o próximo Natal...

Não estudei droga alguma. Peguei uma folha em branco, uma caneta e compus uma canção.

Age como a luz negra
Faz a confusão ser um bem pra si
Adiando o não de um fim

Vive a me dizer estrelas
Que de tanto alcançá-las diz:
Seja meu pra ser feliz

O que me resta é ser
O seu enfeite de Natal
E no Dia de Reis
Você vai me colocar numa caixa e então, guardar

Sem direito a ser ou não ser
Sem direito a lhe dizer
O que sinto ou não ao ver você

Mesmo sendo assim
Leve o meu coração com o seu feliz
Pois pra mim está tudo bem

Depois, fui dormir.

* * *
Ouça Luciano Freitas com “Enfeite de Natal”.

Foto da capa por Gabriel Andrade.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

GISELE - O Natal de Luana Sob Outro Ponto de Vista


Parte I:

Rômulo chegava em casa com uma boa notícia para seus pais: Luana – sua prima-namorada – e os pais dela passariam aquele Natal com eles. Mas preferia não anunciar de imediato, pois, naquele momento, os pais de Rômulo recebiam visitas. Apenas alguns familiares, incluindo uma prima do rapaz, a Gisele, que, desde de bem nova, devorava-o com os olhos. Era nítido o incômodo por parte de Rômulo diante da prima. Gisele o olhava e mordia os lábios. Puxava a blusa disfarçadamente a fim de provocar-lhe ainda mais com seu decote. Decote este que já era um escândalo.

- Oi Rômulo. Tudo bom, meu filho?
Dizia seu pai, Jânio.
- Oi pai. Tudo bom. Boa noite pessoal.
Rômulo fazia um gesto com a mão a todos, mas os olhos se voltavam exclusivamente para o tórax de Gisele.
- Boa noite.
Os tios e tias o cumprimentavam sem perceberem a troca de olhares entre Rômulo e Gisele. Nunca desconfiava de nada aquela família. Para eles Gisele era a inocência em forma de menina. Vontade de mostrar os seios? E as calcinhas depositadas propositalmente na gaveta de Rômulo? Jamais! É o que pensariam.

Rômulo seguia até seu quarto. Livrava-se da camisa como se sentisse enforcado por ela. Na verdade não era bem a camisa que causava tal sensação. Os gestos sempre bem pensados de Gisele o faziam perder o fôlego. Abria a gaveta e lá estava: mais uma calcinha de Gisele, como sempre, acompanhada de um bilhete cujo conteúdo seria impróprio até para maiores. Ele guardava-a junto a dezenas de outras. Prometia a si mesmo que as devolveria numa melhor oportunidade.

- RÕMULO!
Gritava Jânio.
- JÁ VOU!
Rômulo ia até a sala.
- Sim, pai.
Rômulo chegava ofegante.
- O que houve, rapaz? Viu um fantasma?
Brincava Jânio.
- Um fantasma não o deixaria assim, titio! Deve ter visto coisa melhor! Não é mesmo, Rômulo?
Metia-se Gisele a fim de provocá-lo.
- Bem - dizia Jânio -, queremos saber se sua namorada passará ou não o Natal conosco, filho.
- Sim. Passará sim.
- Mas que maravilha! Então terei o prazer de conversar melhor com o primo Marcos também.
- Pois é, pai.
- Fico feliz!
- Namorada de Rômulo? Quem é?
Questionava Gisele.
- Uma prima nossa, Gisele. Não nos víamos há anos e...
- Entendi.
Respondia Gisele vermelha de raiva.
- Era só isso, pai?
- Sim. Já está indo dormir, filho?
- Sim. Vocês me dêem licença.
- Tem toda, filho.

Naquela sala, a família continuava com sua reunião a respeito dos preparativos para o Natal. Falavam quase todos ao mesmo tempo. Peru, bacalhau, presentes, árvore. Cada um com seu assunto. Todos desencontrados. Gisele se via solta para agir. Saía do recinto sem ser notada e partia em direção ao quarto de Rômulo.

Batia à porta.
- Pode entrar – dizia Rômulo.
- Sou eu.
- Ora, Gisele. O que quer aqui? Estou indo dormir.
- O que fez com ela?
- O que fiz com o quê?
- Com a calcinha que deixei para ti.
- Fiz o mesmo que com as outras várias. Estão guardadas para o quanto antes devolvê-las.
- Jura que irá devolvê-las, Rômulo.
Dizia Gisele levantando a barra da pequena saia. Sentava-se à beira da cama de Rômulo.
- Por favor, Gisele. Seus pais podem entrar aqui e não será nada agradável...
- Lógico que não será agradável para eles. Mas para mim...
Gisele soltava uma gargalhada, levantava mais a saia e:
- Ih! Esqueci que deixei na sua gaveta.
- Você ficou louca?
- Louca por você, Rômulo. Até quando vai resistir?
- Escuta bem o que vou lhe dizer, Gisele. Eu estou muito feliz com a Luana. Procure outro alguém para ti. Acabará me complicando.
- GISELE!
Gritavam da sala.
- Viu? Saia daqui! Anda!
Ordenava Rômulo.
- Eu vou, mas volto. E se estiver dormindo... Ai...Vai ser divertido!
- Sua louca.
- JÁ VOU!
Gisele gritava e seguia até a sala dizendo ter ido ao banheiro. Todos acreditavam.

Rômulo não tinha certeza sobre seriedade da promessa de Gisele. Permanecia acordado num misto de medo e excitação. Como ser humano, via-se tentado diante de Gisele. Para uma menina capaz de transitar entre os familiares com uma saia daquela e sem nada por baixo, invadir seu quarto mais tarde seria apenas uma amostra do que ela realmente seria capaz. Rômulo lutava contra um tesão incontrolável, mas trancava a porta. Era o mais seguro a fazer.

Parte II (Final):

No dia de Natal, Luana era paparicada a todo tempo pelas tias, prima etc. “Mas olha só que linda!” “É a filha de Marcos? Nossa! Mas está uma gracinha!” “É! Eu a vi no enterro de Arlete. Está uma menina linda!” “Está namorando o Rômulo? Mas esses jovens de hoje...”.

- Todos te adoram, Luana! Viu? Não fico surpreso com o sentimento que sinto por ti. Não se apaixonar por você é coisa impossível a qualquer ser humano.
- Pára, Rômulo. Assim eu não sei o que dizer. Fico sem graça. Pára.
- Não tem motivos para isso, Luana. Você exala simpatia pelos poros. O que posso fazer a não ser lhe comprovar isso através do que sinto?
- Vem me beijar, vem.
Luana aproveitava o momento em que estavam sozinhos à varanda.
- Que bonito!
Uma voz vinha de trás do casal. Era Gisele, também prima de Rômulo.
- Oi Gisele.
Cumprimentava Rômulo.
- Podem continuar. O beijo de vocês, assim, sob as estrelas dessa noite tão especial, está de emocionar. Vamos, continuem!
- Não entendo o que quer dizer, Gisele. É deboche?
- Não vai me apresentar nossa nova prima, Rômulo?
- Para início de conversa, Luana sempre foi nossa prima. Apenas andou afastada.
Luana arregalava os olhos. Assustada e sem entender nada da entonação de voz com que os dois se falavam, ficava calada.
- Luana, essa é a Gisele. Nossa prima.
Apresentava Rômulo.
- Muito prazer, Luana. Mas para a ocasião, acho que não devo ser apresentada como prima, mas como ex-namorada!
- FICOU MALUCA?
Rômulo gritava.
- Como é?
Questionava Luana.
- É isso mesmo, Luana. O seu namoradinho aí parece querer colecionar primas em seu currículo. Você não é a primeira, Luana. Fique sabendo. E nem eu fui! Abra seu olho!
Gisele se retirava da varanda com ar de missão cumprida.

* * *
Minutos depois, Rômulo procurava por Gisele.
- Preciso falar com você sua peste!
- Olha como fala comigo! O que foi? A Luaninha te deixou, foi?
- Cale essa boca e me escuta! Luana foi embora por sua causa! Agora, fique sabendo que se o meu namoro estiver acabado por conta disso, você sofrerá conseqüências que a farão se arrepender de cada calcinha que depositou em minha gaveta!
- Isso nunca! Deixar calcinhas para você me excita sabia?
Gisele colocava a mão sobre o peito de Rômulo.
- Tire a mão de mim, Gisele!
- Tira você!
Gisele colocava a mão de Rômulo sobre sua coxa.
- Você não vale nada, Gisele.
- Não? Então tira a mão daqui que eu quero ver.
Rômulo não tirava. Alisava as pernas de Gisele sem entender o que estava acontecendo com seu próprio corpo. Queria livrar-se de Gisele, mas sentia-se preso às tentações fincadas como estacas.
- Tira, Rômulo. Ou está gostoso? Beija-me! Anda!
- Não!
- Não? Então beijo eu!
Gisele alcançava-lhe os lábios. Os movimentos da menina eram sempre mais rápidos que qualquer reflexo de Rômulo, que, enfim, entregava-se.

Um beijo. Um beijo rápido, porém, voraz.
- Por que fez isso, Gisele?
- Por que fizemos, você quer saber?
- Eu não fiz nada.
- Fez sim, Rômulo. Acabou de me beijar.
- Você me beijou! Eu não.
- Ninguém beija só. Nós nos beijamos!
- Preciso sair daqui. Preciso falar com Luana.
- Falar o quê? “Luana, a Gisele me beijou”. É isso que vai falar?
- Deixe-me em paz, Gisele.
- Escuta, Rômulo. Se não posso ser sua namorada, se Luana é o doce que todo homem se acomoda em ter, deixe-me ser o lado bom disso tudo, Rômulo. Diga se Luana beija como eu o beijei.
- Vai para o inferno, Gisele!

Ali, nos fundos da imensa casa de Rômulo, os dois olhavam-se em silêncio. Todo o resto da família ocupava-se no falatório de sempre. Gisele desabotoava lentamente seu vestido. Tinha a idade de Rômulo, 17 anos, porém, a experiência de Gisele fazia o primo parecer uma criança de colo. Rômulo olhava para cada gesto de Gisele confundindo-se com imagens do rosto de Luana. Estava entre um amor de conto de fadas e a necessidade que era o sexo.

Ele sabia do tanto de explicações que devia à Luana. Sabia que o mais óbvio a se fazer seria partir atrás dela. Mas a fraqueza que se alojava aos membros e ao coração o faziam permanecer por longos quinze minutos diante dos seios desnudos de Gisele. Ele não acreditava no que acontecia. Encontrava-se anestesiado diante das garras de Gisele.
- Eu preciso ir. Se vista, Gisele.
- É o que quer?
- Sim. Quero falar com Luana.
- Então vá. Acho que cheguei ao meu limite também. Faça o favor de devolver-me o mais rápido possível minhas calcinhas. Seu frouxo.

Rômulo dava meia-volta. Parava. Gisele continuava com os seios amostra. Parecia saber que aquilo era o que mantinha Rômulo cada vez mais confuso sobre o que fazer.
- Vai, Rômulo! Vai atrás da Luana!
Gisele tinha o controle.
- Vai Rômulo! Vai atrás da Luana!
Gisele prendia o primo numa teia invisível.
- Vai Rômulo! Vai atrás da Luana!
Rômulo permanecia de costas para Gisele. Paralisado.
- Vai Rômulo! Vai atrás...
Num giro repentino, Rômulo voltava o rosto para Gisele. Levava os lábios até bem próximo dos da prima e:
- Se vista! E nunca mais apareça na minha frente!

Rômulo saía de casa sem dar explicações. Ia até a casa de Luana em busca de perdão. O rapaz omitiria todo o acontecido. Mas estava ciente do peso que carregaria dentro de si a cada vez que olhasse para Luana e dissesse “eu te amo”.

* * *
Mais histórias sobre Luana nas séries “Luana” e “Duas”.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A PIZZA DE NATAL

“Aniversariante não paga”, dizia a placa. Poder jantar numa bela pizzaria seria ótimo. Sem dinheiro nem para o café da manhã, às onze horas da noite, eu, de tanta fome, já perdia os sentidos. Todos lá dentro pareciam comemorar o meu aniversário. Esse era o lado divertido de nascer num dia 24 de dezembro. Mas o que aquelas pessoas faziam numa pizzaria em plena véspera de Natal? E aqueles funcionários? Aposto que o dono da pizzaria devia estar em casa com sua família. Ah! Danem-se. Eu só sabia que, por direito, teria minha refeição garantida.
- Pois não, senhor?
Recebia-me uma atendente da pizzaria.
- Uma mesa, por favor. Sou aniversariante.
- Ah! Sim! Meus parabéns! E onde estão os convidados do senhor?
- Não tenho convidados.
- Não tem? Tudo bem. Siga-me até a sua mesa, sim?
- OK.

Chegando à minha mesa, a atendente perguntava o meu nome.
- Paulo Fernando.
- OK. Aqui está a sua comanda. Será rodízio ou fará algum pedido?
- Rodízio!
- OK. Quinze e noventa.
- O que é quinze e noventa?
- O preço do rodízio, senhor.
- Você não me escutou? Sou a-ni-ver-sa-ri-an-te. Há uma placa ali fora que diz “aniversariante não paga”. Logo, eu não pago. Não é isso?
- Quase isso. Acima do “aniversariante não paga”, a placa também diz “acompanhado de no mínimo quatro convidados”.
- É? Mas eu não tenho convidados!
- Então, infelizmente, o senhor terá de pagar o valor do rodízio.
- Mas que absurdo!
- Sinto muito, senhor, mas são ordens da casa.
- Preciso de quatro convidados? É isso?
- Exatamente. O senhor não teria uma namorada ou alguns amigos? Familiares...
- Não tenho ninguém nessa cidade. Somos somente Deus e eu. Se é que ele existe.
- Bem, o senhor nasceu no mesmo dia em que o menino Jesus, senhor. Isso pode significar alguma coisa, não?
- Não.
- Por que não, senhor?
- Porque Jesus nasceu no dia 25. E eu nasci no dia 24.
- Ah! É mesmo.
- Bem, eu preciso correr atrás de meus quatro convidados, sim? Dê-me licença.
- Fique à vontade, senhor.
Eu precisava encontrar quatro pessoas a fim de comerem uma pizza. Não deveria ser tão difícil.

Ao sair da pizzaria, deparava-me com um grupo de jovens que vinha em direção à porta. Eu não tivera boas experiências com os jovens daquela cidade, mas...
- Por favor.
Eu dizia.
- Sim.
Um dos jovens me respondia.
- Vocês vão para a pizzaria?
- Sim, vamos. Por quê?
- Bem, eu gostaria de pedir um favor.
- Pois peça.
- É que hoje eu faço aniversário e...
- Meus parabéns. Chama-se Jesus?
Ele brincava.
- Obrigado, mas, não, não me chamo Jesus. Por que me chamaria?
- Nasceu no mesmo dia que ele, então...
- Não. Jesus nasceu no dia 25. Eu nasci no dia 24.
- Ah! Podes crer. Mas continue.
- Então... Aniversariante não paga a conta se trouxer quatro convidados à pizzaria. Eu pensei em vocês serem meus convidados. O que acham? Eu não conheço ninguém nessa cidade e não possuo um tostão furado. Estou com muita fome...
- Bem, por mim... O que vocês acham, pessoal?
Ele buscava a aceitação de todos.
- Tudo bem.
Eles aceitavam. Eles eram seis ao todo.

Adentrava-me à pizzaria e era atendido pela mesma atendente.
- O senhor voltou!
- Sim! E trouxe meus convidados.
- Que rápido!
- Pois é! Você tem uma mesa para nós?
- Para sete não.
- Como não?
- Não tendo, ora. Precisam esperar um pouco. Eu tenho uma mesa para seis pessoas prestes a desocupar.
Os jovens olharam para mim com olhares que, na minha cabeça, pareciam dizer “dane-se o seu aniversário”.
- Eu não posso por mais uma cadeira nessa mesa de seis?
- Nosso estabelecimento não permite. Precisaria acoplar a esta mesa uma outra de no mínimo dois lugares.
- Ora, ora.
- Tudo bem, cara. A gente espera.
Um dos jovens dizia.
- Farão isso por mim?
- Relaxa!
- Serei eternamente grato.

* * *
Depois de muitos minutos, a atendente nos aprontava uma mesa de oito lugares, como combinado.
- Venham por aqui.
Nós íamos.

Sentávamos à mesa. A atendente perguntava pelo nome de cada um. Preenchia as comandas. “Marcelo” “Lucas” “Júlio César” “Michele” “Andréia” “Viviane” “Paulo Fernando”.
- Escreva aí que sou aniversariante.
Eu dizia.
- Ah! Sim! Sua identidade, por favor.
- Está aqui.
Eu apresentava-a.
- Sinto muito, mas o senhor nasceu no dia 24 de dezembro.
- Exatamente, mas porque sente muito?
- Já passa da meia-noite, senhor. Hoje é dia 25. Feliz Natal!
- O quê? Feliz Natal? Você quer dizer que terei de pagar pela minha pizza? Feliz Natal?
- Sinto muito, senhor...
- Espere... Nós pagaremos a sua pizza, senhor. Fique tranqüilo.
Dizia Viviane, uma das jovens.
- Não, não precisam se preocupar...
- Por favor. É Natal, senhor. Estamos todos aqui porque não agüentamos tanta hipocrisia nos nossos respectivos lares. Se nós o levássemos para uma de nossas casas, talvez o senhor fosse mais mal tratado de que aqui. Deixe-nos fazer diferente.
- Viviane o seu nome, não é?
Eu perguntava.
- Sim.
- Viviane, eu estou nessa cidade há dois meses em busca de um emprego. Venho sendo destratado desde o primeiro minuto em que pisei aqui. Não é fácil pedir uma oportunidade a uma pessoa que tem idade para ser seu filho. Para mim não está sendo, pelo menos. Isso me fez criar uma imagem muito negativa do jovem urbano. Mas saiba que vocês, hoje, acabaram de acender uma luz no fim do meu túnel.
- Feliz Natal! E que a sorte lhe brilhe daqui para frente, senhor.
- Feliz Natal, meus convidados!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

SERES INVISÍVEIS

Longe da família, abandonada às vésperas do Natal pelo noivo e com uma série de frustrações pessoais, Joana entendia que não conseguiria absorver o espírito natalino naquele ano. Encontrava-se molhada de chuva, entediada e, ao fone de ouvido, João Gilberto parecia tentar alegrá-la, Mas se embaralhava ao falatório frenético de consumidores saciados. Faltavam uns oitocentos metros até a sua casa quando Joana resolvia descer do ônibus e seguir o restante a pé e sob a chuva. Não agüentava a ansiedade de estar sozinha e de desfrutar do silêncio de seu apartamento.

Joana, completamente ensopada, cumprimentava o porteiro.
- Boa noite Floriano.
- Boa noite menina. Tudo bom?
- Nem tudo.
- Vai melhorar.
- Tem que melhorar, não é?
- Claro que vai, menina.
Floriano respondia com um sorriso sincero, porém, cansado. Parecia demonstrar toda a experiência de um senhor que já passara por quase tudo nessa vida. Joana observava o sorriso e, antes de chamar o elevador, dava meia volta, seguia até a mesa de Floriano. Deixando o rastro da chuva que a molhara pelo corredor do hall de entrada do prédio, ela atirava:
- Floriano, onde passará o Natal?
- Estás olhando para a mesa de minha ceia, menina.

Encantada com a calma do senhor, Joana passava a mão sobre aquela cabeça branca e tentava:
- Floriano, sempre passei o Natal com minha família, lá no Rio de Janeiro. Há uns dois anos que passo esta data aqui em São Paulo, devido à oportunidade de emprego que me surgiu. Preferia passar com meu ex-noivo, que é daqui, e alguns amigos. Nesse Natal, não tenho mais o meu noivo e com ele foi a minha vontade de viver. Quero passar sozinha, entende?
- Entendo. Mas e os seus amigos? Por que não passa o Natal com eles?
- Sem o Eduardo não teria lógica. Os meus amigos são os amigos dele. E sei que eles estarão juntos. Prefiro não encontrá-lo. Entende?
- Sim. Entendo. E por que não passa no Rio com a sua família?
- Acho que seria bom, Floriano. Mas estou num momento em que preciso ficar sozinha. Minha família é enorme. Eles me ligarão no dia 24, como sempre fazem, e já está de bom tamanho.
- Então passará o dia de Natal sozinha?
- Sim.
- Que seja feliz do mesmo jeito!
- Obrigada Floriano.

Joana seguia até o elevador molhando ainda mais o corredor. As gotas que deixava pelo chão mais pareciam pedaços de uma alma cansada e triste, porém sem noção da força que possuía para reverter aquele quadro. Floriano ficava a observá-la vagarosa até o elevador.
- Menina!
Chamava Floriano.
- Oi.
- Se amanhã você se sentir muito sozinha, desça e passe o Natal comigo. Comeremos umas rabanadas que superarão qualquer solidão. Ah! E tenho uma TV aqui também.
- Claro!
Respondia Joana surpresa com o convite.

Joana subia até o seu apartamento pensando em quantos Natais o Floriano já havia passado sozinho. Lembrava que no ano anterior ela passava por ele no 24 com amigos, garrafas de vinho e um coração cheio de alegrias. Nem se importara com a solidão daquele senhor. Sentia que os momentos em que ela parecia quase invisível naquele ônibus lotado de pessoas felizes eram idênticos aos momentos em que Floriano vivera durante tantos Natais naquela portaria.

* * *
No dia 24, às dez e meia da noite, Joana já se encontrava tonta de sono e de tédio. Então resolvia ir até a portaria. No elevador, esbarrava em pelo menos vinte pessoas sorridentes e contagiadas pelo clima natalino.

Chegando à portaria, encontrava Floriano assistindo um tradicional especial de fim de ano.
- Floriano.
- Oi menina. Feliz Natal!
- Feliz Natal para o senhor também! Como está o movimento?
- O de sempre. Cada um mais feliz e contente que o outro.
- E o senhor? O que sente quando as vêem?
- Quer realmente saber? Triste. Não pela felicidade deles, isso seria horrível de minha parte. Mas pela diferença enorme entre a quantidade de pessoas que por aqui passam e a quantidade de cumprimentos que recebo. Sinto-me meio invisível. Entende?
- Entendo sim. Posso ficar por aqui com o senhor?
- Claro que sim, menina. Quando chegar meia-noite, abriremos um vinho para você e um refrigerante para mim. Não posso beber em serviço. – Ele sorria. – E comeremos as rabanadas que lhe falei. A D.Ângela, do trezentos e dois, faz para mim. Todos os anos. Falando nela, olha ela aí.

- Floriano, estão quentinhas, até a meia-noite estarão no ponto!
Chegava a sorridente Ângela.
- Muito obrigado D.Ângela. Este ano eu terei companhia. Conhece a Joana, do oitocentos e quatro?

Aquele Natal foi diferente para Floriano e para Joana. Fazia anos que ele não sabia o que era passar o Natal na verdadeira companhia de alguém. Ela não sabia que atrás de um senhor quase invisível estava uma pessoa tão divertida a ponto de fazê-la esquecer de tudo de errado que a rodeava. Os dois conversaram durante toda à noite, saborearam as deliciosas rabanadas de Ângela e finalizaram o papo com a promessa de repetirem a dose no reveillon. Visíveis. Um ao outro.

* * *
Conto revisado. Publicado originalmente em 21 de dezembro de 2007 no fotolog.com/lucianofreitas.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

AS BUSCAS DO MÊS DOZE

Calor. Muito calor. Era assim durante todo aquele dezembro. Eu, de férias, durante o dia, aproveitava o máximo da praia. Durante a noite, caminhava sem rumo a observar o comportamento alheio. O calçadão ficava entupido de gente, que caminhava, assim como eu, sem destino. As noites quentes e o clima de final de ano me traziam certo desconforto, mas ao mesmo tempo uma sensação de estar começando uma nova fase. Não sei dizer o porquê. Na verdade eu esperava sempre por um novo amor. É verdade! Um novo amor ao fim de cada ano.

Eu, com meus 26 anos e uma bem sucedida carreira de arquiteto, objetivava para aquele dezembro encontrar uma mulher especial. Uma mulher que me fizesse esquecer de todos os meses de dezembro passados. Uma mulher que me fizesse prever todos os próximos meses ao seu lado. Uma mulher para a minha vida.

Sabia que um mês seria muito pouco para constatar tanta qualidade em uma mulher. Não se procura uma mulher para a sua vida, e sim, é a vida que coloca no seu caminho a mulher que jamais procurou. Eu tinha isso em mente. Como eu trabalhava muito, acho não tinha mesmo tempo para procurar mulheres. Pelo menos de janeiro a novembro. Porém, também não tinha tempo para que a vida me mostrasse uma. Então, dezembro era o mês escolhido, por conta de minhas férias, para que eu ou a vida chegasse a alguém especial.

No dia 23 daquele mês, eu trocava a praia pelo shopping. Embora eu detestasse tal programa em épocas de loucuras consumistas, precisava comprar alguns presentes para minha família. Não podia chegar na casa de meus pais, no Natal, com as mãos abanando.

Eu chegava ao shopping ao abrir de suas portas. Com as lojas ainda vazias, a tortura era pouco mais tolerável. Já tinha em mente tudo o que compraria. Por isso, não levaria nem duas horas dentro daquele inferno. Mas passando por uma loja de camisas, onde eu costumava comprar, uns novos modelos na vitrine me chamavam à atenção. Eu entrava na loja e logo era atendido por uma lojista que nunca tinha visto por ali.
- Bom dia! Meu nome é Natalia! Posso ajudar?
O sorriso estampado era de deixar qualquer pão-duro com a mão mais aberta. Aquela menina possuía uma áurea de simpatia impressionante.
- Bo-Bo-Bom dia – eu dizia. – Pode sim! Eu...
- Thiago!
Chamava-me Adriana, a lojista que costumava me atender.
- Oi Adriana. Tudo bom?
Eu respondia.
- Tudo bom também, Thiago. Natalia, o Thiago é meu cliente. Pode deixar comigo, sim?
Adriana tirava a Natalia de cena.
- Adriana, eu acho que não tem problema da Natalia me atender. Ela é nova aqui, não?
- Extra de Natal.
Respondia Adriana.
- Então. Eu já compro com você o ano todo, Adriana. Se não se incomodar, gostaria de ser atendido por ela, pode ser?
- Claro, claro. Fique à vontade.
Adriana dava meia-volta com nítida vontade de me mandar ir à merda.
- Olha, senhor... – dizia Natalia.
- Opa! Senhor? Eu tenho 26 anos, Natalia. Por favor.
- Desculpe.
- Diga. O que iria dizer?
- É que não quero causar situações chatas. Se a Adriana costuma lhe atender, pode ser atendido por ela. Não há problema.
- Não! Fui recebido por você e é você quem vai me atender, OK?
- Como quiser. O que deseja?

Natalia era muito atenciosa. Embora eu saiba que o que move a simpatia de um vendedor é a comissão que ele receberá com a venda, digo que nunca havia sido tão bem tratado em uma loja antes. Sem contar na beleza de Natalia, que tinha a pele bem branquinha e olhos que hipnotizavam. Os cabelos eram brilhosos e enormes, cortados de maneira cuidadosa. Um charme! Seu corpo fazia o uniforme de vendedora parecer um traje de festa. Era sem dúvida a mais bela naquela loja. E, talvez, a mais talentosa também.

Eu comprava cinco camisas com a Natalia e deixava consigo os meus sinceros votos para sua permanência na loja.
- É o que deseja? Ficar na loja?
Eu perguntava.
- Por enquanto sim. Tomara que eu fique. Preciso muito desse emprego.
- Cá entre nós...
- Diga.
- Essa loja também precisa muito de você.
- Obrigada.
- Nunca fui tão bem atendido. Que a Adriana não me ouça.
- É meu dever, senhor.
- Senhor não. Thiago, por favor.
- OK. – Ela ria. – É meu dever, Thiago.
- Fica melhor assim. A que horas você sai da loja?
- Tarde. Bem tarde.
- Eu imagino. Essa época de fim de ano...
- Pois é.
- Bem, não vou lhe atrapalhar mais. Boas vendas, Natalia. A gente se vê. Eu espero.
- Sim. Também espero.
- Espera mesmo? Pelas compras ou por mim?
Por essa ela não esperava. Ela olhava para os lados com receio e:
- Por você. Foi muito bacana o que você fez.
- Fui justo. Apenas isso. Mas não com você. Fui justo com meu coração, Natalia.
- Como assim?
- Eu quero lhe ver novamente. Conversar, lhe conhecer melhor. Há algo em você que...
- Thiago...
- Não fique sem jeito, por favor. Sei que não é a ocasião certa para isso, mas quando eu falaria a ti o quanto gostei de sua pessoa?
- Thiago...
Natalia morria de vergonha.
- Posso lhe esperar às cinco?
- Às oito.
- Fechado. Estarei frente ao shopping. OK?
- OK.

* * *
Conforme combinado, lá estava eu a esperar Natalia para uma conversa. Imaginava o quanto devia estar cansada. Tinha que pensar num lugar agradável para levá-la. Um lugar aconchegante e tranqüilo. Ela, então, chegava.
- Oi Thiago.
- Oi Natalia.
- Meu Deus, mas como você é rápido.
- Refere-se ao meu convite?
- Isso.
- Bem, se preferir, nós podemos marcar um outro dia...
- Não. Eu estou brincando. Para ser sincera eu gosto de pessoas objetivas como você.
- Eu já posso contar isso como um ponto a favor?
- Já tem muitos pontos a favor, Thiago.
- É? E como os consegui?
- Quando entrou na loja e me olhou já ganhava um. Quando gaguejou a me desejar bom dia, ganhava outro. Quando me escolheu para lhe atender, mais outro. E a cada minuto com você naquela loja tu ganhavas mais e mais, Thiago.
- Nossa! – Eu ficava sem palavras. – O que tenho a lhe dizer é que... Bem, também gosto de pessoas objetivas como você, Natalia.

Naquela noite, conversávamos um pouco sobre a vida de cada um. Todas as palavras jogadas a uma mesa do então vazio Bar Anexo me levavam a crer que Natalia era, sim, um doce de mulher. O tipo de pessoa que diz o que sente. Que transborda de coisas boas e pensamentos bons. Divertida, Natalia me fazia virar criança. Uma criança às vésperas do Natal. Ríamos muito naquela noite quente. Acabávamos de nos conhecer e parecíamos tão íntimos.
- Dá um sorriso para mim?
Ela pedia.
- Para quê?
- Dá um sorriso, garoto!
Ela insistia e eu sorria.
- Pronto! Mas o que tem o meu sorriso?
- Tudo de bom que um sorriso pode ter. E mais um pouco.
- E o que seria esse “mais um pouco”, Natalia?
- O despertar de uma vontade louca de lhe beijar, Thiago. Pronto! Falei!

Eu não conseguia classificá-la como oferecida ou como tímida. Natalia era um misto do que ambos os adjetivos tinham de melhor. Eu ainda não sabia, mas a vida, e não eu, pusera fim às buscas daquele mês doze.

* * *
Foto da capa: Janaina Muller.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A VIDA REAL - O Natal de Charles e Valéria

Tudo o que eu queria naquele Natal era simplesmente assistir a orquestra do Walter Lins, que faria uma apresentação junto ao coral de umas meninas sei lá de onde, na noite do dia 24. Uma apresentação especial, no salão do Clube dos Líderes. Apenas músicas natalinas seriam executadas. Sabia que não poderia contar com a Valéria. Àquela altura, ela estaria com a cara cheia de vinho e sem a mínima condição de sentar-se junto a mim naquele salão. Eu daria minhas bicadas também, mas pouparia os meus rins para depois da apresentação.

- Você vai mesmo ao clube, Charles?
- Vou sim, Valéria.
- Que saco!
- Por quê?
- Aquela orquestra chata com um bando de meninas chatas cantando um monte de músicas chatas.
- Acho que será bacana. Ouvi dizer que as meninas cantam muito bem, Valéria.
- Conversa. Deve ser um bando de desafinadas que apenas cativam o público por conta de sua faixa etária. Apenas isso.
- Não sei. Elas têm entre 12 e 19 anos, Valéria. Já estão bem grandinha, não acha?
- Bem... Não importa. O que importa é que eu não vou.
- OK, mas eu vou.
- Mas você volta cedo, não é?
- Claro que sim.
- OK. Faremos nosso Natal especial, Charles.
- Especial? Por quê?
- Você sabe o que quero dizer...

Claro que eu sabia. Valéria planejava adentrarmos ao dia 25 completamente embriagados e cansados de tanto trepar. Era isso que ela queria. No Natal passado, não estávamos juntos, mas me lembro bem de seu estado. Ela estava muito mal. As visitas de suas amigas nunca a fazem bem. Elas chegam sempre bem carregadas de álcool e cigarro. Eu esperava apenas encontrá-la inteira quando chegasse do clube.

* * *
No dia 24:
- Valéria, eu estou indo ao clube.
- (...)
- Valéria? VALÉRIA?
- Oi!
- Está surda?
- Não!
- Estou indo ao clube.
- OK.
Respondia Valéria com uma dicção péssima. Já estava mal.
- Tome um banho gelado, Valéria.
- Sim. Eu já vou... Minhas amigas chegam em breve.
- Você não vai beber mais com elas, vai?
- Claro. Eu estava apenas esquentando, ora.
- Céus...

* * *
Chegando ao Clube dos Líderes, acomodava-me num dos bancos e ficava a esperar pelo início da apresentação. Como eu queria estar numa daquelas cadeiras da orquestra. Eu e meu trompete. Seria o máximo.

As luzes do salão se apagavam e a orquestra de Walter Lins começava a ocupar seus lugares. Logo depois, as meninas do coral entravam em fila. Todas vestidas de vermelho e branco. Não podiam ser menos previsíveis? Eram crianças e jovens muito bonitas. Algumas possuíam os olhos tão azuis que geravam comentários entre os presentes na platéia. Como eu estava sozinho, guardava minha admiração para mim mesmo.

As meninas se posicionavam em silêncio e numa organização invejável. Na fileira da frente, as mais novinhas. Na fileira de trás, as mais velhas, com olhares mais experientes e mais seguros. Estas acabavam ofuscando as crianças por conta da beleza que ultrapassava o limite da inocência induzida por aquelas roupas ridículas.

Olhando com cuidado o rosto de cada uma daquelas jovens, deparava-me com um semblante familiar. Mas de onde eu conhecia? Eu pensava. Pensava mais. Ah! Lembrava! Tremulo, mas lembrava. Era o rosto de Larissa! A menina com quem eu sonhara tempos atrás. A menina que tinha a cara de Valéria anos mais jovem! Estava ali na minha frente! Larissa! [vide série “Elas”].

Pronto. Aquilo era o suficiente para eu não mais prestar atenção em sequer uma nota que fora executada pela orquestra ou pelas meninas. Apenas às notas daquela menina eu estava a ouvidos. Eu parecia criar uma espécie de filtro para tudo aquilo que a rodeava. Para minha visão e audição só existia ela ali naquele palco.

* * *
No fim do concerto, o maestro Walter apresentava cada músico e, logo depois, cada menina daquele coral. Eu precisava estar atento. Aquela menina era a quinta da esquerda para a direita.
- As meninas. Da esquerda para a direita. Uma salva de palmas para: Letícia, Juliana, Amanda, Sofia, Larissa...
Larissa? Eu não acreditava no que ouvia. Aquela menina era exatamente a que aparecera em meu sonho. Era muito para mim. Tinha sido tão difícil esquecê-la.

Depois de tudo, eu corria até atrás do palco a fim de ao menos chegar perto de Larissa. Eu avistava o pianista da orquestra, muito meu amigo, mas não me lembrava de seu nome.
- PIANISTA!
- Charles! Você por aqui! Esqueceu meu nome?
- Perdão... É...
- Euclides.
- Isso! Euclides! Tudo bom?
- Tudo sim. Foi bom o concerto, não?
- Foi ótimo. Tocou muito bem. Parabéns. Agora escute. Para onde foram as meninas do coral?
- Estão naquela salinha ali. Mas acredito que estejam se trocando.
- Ah! Sim! Claro. Eu queria trocar uma palavra com elas.
- Sei.
Euclides me olhava desconfiado, mas me ajudava.
- Vem comigo, Charles. No meio de tanto músico, ninguém vai se dar conta que não faz parte da orquestra. Elas virão até nós para uma foto. Aí você tenta falar com elas. OK?
- Fico te devendo essa, cara!
- Fica frio.

Euclides estava certo. Depois de trocadas, as meninas chegavam até a sala onde toda a orquestra se encontrava. Um jornal local tiraria uma foto dos dois grupos juntos. Eu estava sobrando ali. A última a entrar na sala era Larissa. Eu, na porta, esperava-a passar. Quando passou:
- Larissa?
- Oi. Sou eu?
- Sim, você. Deves saber que cantas como poucos.
- Obrigada. Qual o seu nome?
- Charles.
- Obrigada Charles.
Era impossível. A voz! Ela falando era a Larissa do meu sonho.
- Sei que está ocupada, mas precisava lhe dizer uma coisa.
- Diga.
- Não nos conhecemos, certo? Nunca nos vimos.
- Sim. Que eu me lembre, nunca o vi.
- Então. Acreditaria se eu dissesse que lhe conheço, mas através de um sonho?
- Como assim?
- Eu tive um sonho há tempos. Com você. O nome, o rosto, o cabelo, a voz, o jeito de falar. Era você, Larissa. Por isso vim aqui atrás do palco. Precisava falar com você.
- Olha, Charles. Se isso foi uma cantada, acredite, foi a pior de todas que já recebi.
- Não! Não foi uma cantada! Foi a mais pura verdade!
- Então, quando está cantando alguma menina, costuma mentir? É isso?
- Não! Não foi o que eu disse. Eu...
- Bem, deixe me tirar uma foto com o pessoal. Passar bem. Ora, ora... Sonho?
- Mas...
Que papel de babaca eu fazia.

* * *
Eu saía arrasado daquele clube. Não imaginava que a única coisa que diferisse a Larissa do sonho e a Larissa do coral fosse justamente a reação que tiveram ao me ver pela primeira vez. O que eu queria também? Que aquela menina linda me beijasse como no sonho? Sonho! Sonho!

Chegava à casa de Valéria. Ela e mais três amigas, as de sempre, bebiam como se o mundo fosse acabar no dia 25.
- Feliz Natal, meninas!
- Mas se não é o Charles!
Dizia uma das amigas de Valéria. As outras duas se beijavam loucamente e nem me viam entrar.
- Mas que putaria, Valéria!
Eu dizia.
- Sem essa, Charles! Seu preconceituoso!
Valéria dizia com a boca completamente torta e com o corpo molengo e cercado de garrafas e cinzas de cigarro. Era excitante e deprimente ao mesmo tempo. Era acima de tudo real!

Minha vontade era de sonhar. A realidade estava alta demais para mim. Sonhar com Larissa. A minha Larissa. Nada mais. Eu ia para casa.

* * *

Foto da capa por Jocelyn Durston.

Mais histórias sobre Charles e Valéria nas séries "Elas" e "Eles" e em "Visita de Emergência".

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O NATAL DE LUANA

Parte I:

No início de dezembro, Luana já pensava como seria o seu Natal. Não queria passar a data como nos anos anteriores, apenas com o pai, Marcos, e a madrasta, Patrícia. Rômulo, primo e, agora, namorado de Luana, tentava convencê-la a passar o Natal com ele, na casa de seus pais. Luana sabia do imenso corre-corre do pai na administração de seus supermercados, naquela época do ano. Ofício que sempre privou Luana de conhecer o restante daquela enorme família. Se não fosse a morte da prima de Marcos, a Arlete, talvez, Luana e Rômulo jamais tivessem se conhecido [vide série “Duas”].

- Acho que o primo Marcos não se importaria de você passar o Natal comigo.
Dizia Rômulo.
- Meu pai gosta muito de você, Rômulo, e vem aceitando nosso namoro como jamais pensei que fosse. Mas não sei até que ponto me autorizaria a passar o Natal longe dele.
- Pois é. Por isso queria que seus pais também fossem para lá.
- Isso seria ótimo, mas você não tem idéia da imensidão de trabalho que meu pai acumula nesse período do ano. Meu pai sai cedo de casa e só chega bem tarde. Às vezes, vira até a noite no escritório. Estou acostumada a vê-lo chegar em casa, no dia 24 de dezembro, quase às onze da noite. Trocamos os presentes, conversamos um pouco e vamos todos dormir. Sempre foi assim.
- Nossa. Um Natal meio chato, não?
- E como. Mas entendo o lado dele. É o trabalho dele. É o que nos mantém. Tenho muito orgulho de meu pai.
- Eu também teria, Luana.

Naquele dia, Rômulo insistia ficar na casa de Luana até a chegada de Marcos, a fim de conversar com o primo-sogro sobre seus planos para o Natal.
- Rômulo, meu pai chegará muito tarde e, provavelmente, muito cansado. Não sei se conseguirá. Outra: Celeste vai embora daqui a pouco. Não sei se meus pais vão gostar da idéia de nos encontrarem aqui sozinhos.
- É. Eu também acho. Farei o seguinte, Luana. Ficarei aqui até sua empregada ir embora. Caso ele chegue antes, ótimo. Caso contrário, darei um jeito de falar com ele em uma outra hora.
- Isso. Mas enquanto ele não chega...
- Ah?
Rômulo, rindo, fingia não entender.
- Vem me beijar, vem?
Luana e Rômulo caíam no sofá. Quase sem querer, Rômulo sobre Luana. Celeste logo aparecia na sala para uma interrupção.
- Luaaana!
O nome da menina, dito de forma séria por Celeste, já era o suficiente para que o clima fosse quebrado na hora.
- Rômulo, não faz isso.
Dizia Luana a brincar, dando uma leve tapinha no braço do namorado.
- Foi você quem me puxou, Luana.
Eles riam da situação e voltavam a conversar.

Marcos e Patrícia, para a sorte de Rômulo, chegavam em casa antes de Celeste sair.
- Oi filha! Oi Rômulo!
Diziam o casal.
- Chegou cedo, papai.
- Só passei aqui para pegar uns documentos. Patrícia irá ficar, mas eu ainda volto para o escritório.
- Você teria um tempo para mim, primo?
Perguntava Rômulo.
- Um tempo não, mas um tempinho sim. Pode dizer.
- É que estava conversando com a Luana sobre vocês passarem o Natal lá em casa, esse ano. O que acha?
- Olha, Rômulo, eu agradeço o convite, mas eu acho um pouco inviável. Luana já deve ter lhe explicado o porquê, não?
- Sim, sim. Explicou. Mas eu tenho uma idéia. A Luana podia ir antes lá para casa. O senhor e sua esposa poderiam chegar lá quando desocupassem do supermercado.
- A idéia me parece boa. Mas não queria chegar lá justo na hora da ceia. Seria um pouco desagradável.
- Que isso, primo? O senhor é da família! Não tem essa.
- OK! Fica combinado assim. Eu dou um jeito de levar Luana antes. Eu e Patrícia passamos por lá quando estivermos livres.
- Ótimo! Todos lá em casa adorarão a notícia de que passarão o Natal conosco, primo.
- Fico feliz, Rômulo. Agora me deixe ir. Até mais.

- Viu, Luana? Fácil.
- Você... Você tem um dom de convencer, sabia disso?
Dizia uma Luana tomada de felicidade.
- Eu? Quem me dera. Se eu tivesse mesmo, convenceria a lua a vir até aqui iluminar os nossos beijos. Bem aqui na sala.
- Fofo.
- Deixe-me ir, Luana. Missão cumprida. Beijos!
- Beijos!

* * *
No dia 24 de dezembro, tudo corria como combinado. Marcos deixava Luana na casa de Rômulo por volta de seis da tarde, na promessa de tentar retornar com Patrícia antes das onze.
- Luana, comporte-se por aí.
Dizia Marcos antes da menina saltar do carro.
- Eu sei, papai.
- Eles são nossa família, mas há anos não os vemos. Então, toda educação ao falar e ao tratar cada um deles, entendido?
- Fala como se eu fosse uma mal-educada. Cruzes!
- Sei que não és. Mas não custa ressaltar. Se tu és bem-educada é porque eu lhe friso isso todo o tempo.
- Pode deixar, papai. Estarei lhe esperando, OK? Beijo!
- Beijo, filha. Fica com Deus. Até mais tarde.
- Até.

Parte II (Final):

À noite, a família de Rômulo já estava toda presente para a ceia. Luana era paparicada a todo tempo pelas tias, primas etc. “Mas olha só que linda!” “É a filha de Marcos? Nossa! Mas está uma gracinha!” “É! Eu a vi no enterro de Arlete. Está uma menina linda!” “Está namorando o Rômulo? Mas esses jovens de hoje...”.

- Todos te adoram, Luana! Viu? Não fico surpreso com o sentimento que sinto por ti. Não se apaixonar por você é coisa impossível a qualquer ser humano.
- Pára, Rômulo. Assim eu não sei o que dizer. Fico sem graça. Pára.
- Não tem motivos para isso, Luana. Você exala simpatia pelos poros. O que posso fazer a não ser lhe comprovar isso através do que sinto?
- Vem me beijar, vem.
Luana aproveitava o momento em que estavam sozinhos à varanda.
- Que bonito!
Uma voz vinha de trás do casal. Era Gisele, também prima de Rômulo.
- Oi Gisele.
Cumprimentava Rômulo.
- Podem continuar. O beijo de vocês, assim, sob as estrelas dessa noite tão especial, está de emocionar. Vamos, continuem!
- Não entendo o que quer dizer, Gisele. É deboche?
- Não vai me apresentar nossa nova prima, Rômulo?
- Para início de conversa, Luana sempre foi nossa prima. Apenas andou afastada.
Luana arregalava os olhos. Assustada e sem entender nada da entonação de voz com que os dois se falavam, ficava calada.
- Luana, essa é a Gisele. Nossa prima.
Apresentava Rômulo.
- Muito prazer, Luana. Mas para a ocasião, acho que não devo ser apresentada como prima, mas como ex-namorada!
- FICOU MALUCA?
Rômulo gritava.
- Como é?
Questionava Luana.
- É isso mesmo, Luana. O seu namoradinho aí parece querer colecionar primas em seu currículo. Você não é a primeira, Luana. Fique sabendo. E nem eu fui! Abra seu olho!
Gisele se retirava da varanda com ar de missão cumprida.

Rômulo não sabia o que dizer, a princípio. Luana ficava estática. Não sorria, não chorava. Não dizia absolutamente nada.
- Luana, não acredite nessa garota, por favor. Eu posso lhe explicar tudo.
- Rômulo, não precisa me explicar nada. Eu não tenho nada com o seu passado. Mas também não gostaria de ser mais uma prima que o Rômulo pegou. Você tem noção do que você significa para mim? Do que seu beijo foi para mim?
- Ela é maluca, Luana. Sempre se insinuou para mim. Eu nunca tive nada com ela. Acredite em mim. Ela está com ciúmes de você.
- Olha, Rômulo, seja lá o que for, ouvir aquilo tudo não foi nada fácil. Quero ir embora.
- Não! Por favor! Não vou te perder por causa dessa mentira. Nem que eu faça a Gisele vir aqui e desmentir tudo.
- Não estou terminando nosso namoro, Rômulo. Só quero ir para casa.
- Mas...
- Por favor. Amanhã, se quiser, você passa lá em casa para conversarmos.
- Como vai fazer?
- Vou ligar para o meu pai e pedir que venha me buscar.

* * *
Sem entender nada, Marcos e Patrícia buscavam Luana, que se encontrava cabisbaixa, completamente o oposto da menina que Marcos ali deixara horas antes.
- O que houve, minha filha?
- Nada, papai.
- Nada? Você me liga com uma voz péssima, me pede para buscá-la antes da hora e agora me diz que não houve nada?
- Marcos – interrompia Patrícia –, a gente se despede de seus familiares, dá alguma desculpa e pronto. Em casa, sim, se Luana quiser, conversaremos.
- OK.

Já em casa, Marcos desabava sobre o sofá. Patrícia assistia Luana subir calada até o seu quarto.
- Não quer conversar, Luana?
Perguntava Patrícia.
- Quero. Só vou trocar de roupa.
- OK. Estaremos aqui.

Minutos depois, Luana descia com Mimi, sua gata, no colo. Vestia roupas de dormir e parecia mais exausta que o pai e a madrasta.
- O que aconteceu, filha?
Perguntava Marcos.
Luana contava todo o ocorrido. Parecia prender um choro que acumulava forças.
- Então quer dizer que o Rômulo é o pegador da família.
Dizia Marcos furioso.
- Não, papai. Quer dizer, eu ainda não sei. Eu não quis que ele explicasse nada na hora. Só quis vir embora. Senti-me muito mal.
- Mas se esse garoto pensa que isso vai ficar assim...
- Marcos – dizia Patrícia –, ainda não ouvimos o Rômulo. Calma.
- E precisa? Bem que eu desconfiava. Muito educado e todo cheio de palavras... É por essas e outras que não faço a mínima questão de me unir a eles. Família. Argh! Luana, eu não quero mais saber de você com o Rômulo. Estamos entendidos?
- LUANA!
Rômulo gritava do portão.
- Era só o que me faltava. O que mais esse garoto quer? Mande-o embora, Patrícia.
Dizia Marcos.
- Não. Deixe o garoto entrar. Para todos os efeitos, nem trair a Luana ele traiu. Vamos ouvi-lo.
Dizia Patrícia, que ia até o portão recebê-lo.

* * *
- É tudo mentira da Gisele, Luana. Por favor, acredite em mim! Primo! – dirigia-se a Marcos – Você é homem e sabe como age uma mulher tomada pelo ciúme...
- Opa! Tire-me dessa, Rômulo. Eu não vou ajudá-lo em seus argumentos. Eu não.
- Rômulo e Luana, Marcos e eu estaremos na cozinha. Fiquem aí e conversem.
Aconselhava Patrícia.

- O que tem para me dizer, Rômulo?
Perguntava Luana.
- Olha, Luana, eu posso sair daqui sem o seu amor, sem o seu carinho, sem a sua confiança. Eu posso sair daqui sabendo que nunca mais a terei como a tive. Posso sair daqui tendo você apenas como prima novamente. Mas precisa acreditar que nada do que a Gisele disse é verdade. Como já lhe falei, a Gisele é doida por mim. Sempre foi. Ela não aceitou toda a forma carinhosa como meus familiares lhe trataram. Ela não tem nem um décimo de sua simpatia e de sua beleza. Mais: Ela não tem um centésimo da importância que tu tens na minha vida! Luana, eu te amo! E me dei mais conta disso ao vê-la partir lá de casa. Acredite em mim! Eu nunca tive nada com aquela louca e nem com prima alguma!
- Isso também não importa, Rômulo. Acredito em você. E passado todos nós temos. O mais importante de tudo isso foi o que acabou de me dizer. Que me ama. Só não quero mais ter que cruzar com aquela menina novamente. Só isso. E espero estar fazendo a coisa certa.
- Provarei com o tempo que está, Luana.
- Como largou sua família no meio da ceia? O disse a eles?
- Não disse nada.
- E eles?
- Não me importa. Só você me importa.
- Ai, Rômulo! Vem me beijar, vem.

Marcos e Patrícia ouviam tudo da cozinha.
- Ah! Fizeram às pazes! Que lindos!
Dizia Patrícia sorridente.
- Vou respeitar a decisão de Luana, Patrícia. Mas ficarei de olho nesse garoto.
- Bem, feliz Natal, meu amor.
- Feliz Natal, Patrícia.

Na sala:
- Feliz Natal Rômulo – desejava Luana.
- Feliz Natal, Luana. Eu te amo.
- Eu também.
Eles se beijavam.

* * *
Foto da capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana nas séries "Luana" e "Duas".

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

AQUELE NATAL

Às 11:30h do dia 24 de dezembro, eu chegava até a janela de meu quarto após uma noite mal dormida. Cabeção, meu grande amigo, já se encontrava debruçado à sua, ao lado da minha. Cabeção estava em silêncio. Apenas observava o meu rosto, que não estava nada bem. Com os olhos bem vermelhos, a face ainda amassada pelo travesseiro e o cabelo feito um ninho, eu olhava para o lado e me dava conta da presença dele.
- Fala, Cabeção.
- O que houve com você? Está com uma cara horrível.
- Dormi pouco. Quando preguei os olhos, já deviam ser mais de quatro.
- Vai lavar esse rosto. Melhora.
- Já vou, mas me espera aí. Eu já volto. Preciso falar com você.
- OK.

Eu lavava o rosto, escovava os dentes e penteava o cabelo de forma rápida. Passava na cozinha, abria um pacote de biscoito recheado e voltava à janela.
- Pronto – eu dizia.
- Está melhor.
- É. Nada como uma água gelada na cara.
- É. Mas diga. O que você queria falar comigo?
Perguntava Cabeção.
- Ah! Sim. Lembra da Silvana? Lá da rua 14 de Outubro.
- Aquela que você andou dando uns beijos?
- Isso! Aquela gracinha.
- Sim. O que tem ela?
- Eu liguei para ela, essa noite.
- E?
- Forcei a maior barra para nos vermos, mas me parece que ela não engoliu minhas palavras.
- Eu te conheço, Douglas. Você deve ter falado um monte de merda.
- Juro que não. Eu realmente estou louco de saudades dela.
- Daqueles seios deliciosos, você quer dizer.
- Pára. É sério. Ontem, eu acordei com imensa vontade de beijá-la. Não parei de pensar nisso um instante. Então, à noite, eu resolvi ligar para ela.
- Mas o que você disse a ela?
- Ah! Quer saber, Cabeção? Dá um pulo aqui. Vamos jogar um pouco.
- OK. Vai ligando essa geringonça que você chama de videogame.
- É? Geringonça? Pois fique sabendo que, na década passada, o Super Nintendo foi o melhor videogame de 16 bits no mercado. E...
- Basta! Estou indo para aí.
Cabeção me cortava. Aquilo renderia um discurso imenso.

A minha mãe preparava mil coisas ao mesmo tempo para a ceia de Natal. O cheiro de todos aqueles ingredientes trazia às mentes minha e de Cabeção lembranças do Natal passado.
- Você estava com a Silvana no Natal passado, não?
Perguntava Cabeção enquanto forçava os botões do joystick.
- Sim. Estava. Lembro que morri numa boa parte de minha mesada com o presente que dei a ela.
- Lembro dela por aqui no dia 25. Estava uma gata.
- Opa!
- O que foi? Você não está mais com ela, Douglas.
- Mas a fiz uma proposta para voltar. Isso faz com que eu exija de você um pouco mais de respeito para com ela.
- Respeito? OK! Respeito àqueles seios maravilhosos! Isso sim.
- Cale a boca, Cabeção, e jogue! O meu boneco vai morrer por sua culpa. Atira! Atira!
- Estou atirando, merda!

Nós dois passávamos todo aquele dia ensolarado dentro no quarto. Era impressionante a capacidade que tínhamos de jogar e jogar aqueles jogos sem parar. À tarde, eu roubava algumas rabanadas preparadas por minha mãe, a fim de matarmos a fome.
- Vocês não vão almoçar? Já passam das duas!
Perguntava minha mãe.
- Não. Essas rabanadas já são um almoço!
- Mas não acabe com elas, por favor. É para a ceia, Douglas.
- OK.
Eu me apossava de quatro. Duas para mim e duas para Cabeção.

- Seu celular tocou, Douglas – dizia Cabeção assim que eu voltava ao quarto.
- Quem era?
- Eu sei lá.
- Deixe-me ver. (...) Ih! Adivinha.
- Silvana?
- Ela!
- Vai retornar?
- Agora não.
- Por que não?
- Na última fase de Sunset Riders? Ela espera um pouco.
- Isso – dizia Cabeção mordendo uma rabanada. – Mas está uma delícia a rabanada de sua mãe!
- Sempre está!

* * *
À noite, Cabeção aparecia na minha casa, como de costume.
- E aí? Vamos dar uma volta? A galera deve estar toda lá no bloco C.
- Não posso, Cabeção. Meus familiares começarão a chegar para ceia e...
- Entendi. E a Silvana? Ligou para ela?
- Liguei sim. Pegue duas cervejas lá na cozinha para a gente, vai. Eu te conto o que aconteceu.
- Já é!
Cabeção ia até a cozinha, abria a geladeira e alcançava duas latinhas, as mais geladas, e voltava correndo para me ouvir.
- E então? Diga.
- Bem – eu dizia –, primeiramente eu me desculpei por não ter retornado a ligação de imediato.
- Disse a causa? Ou seja, o videogame.
- Claro que não, Cabeção! Disse que estava a ajudar minha mãe com a ceia.
- E ela?
- Achou-me fofo.
- Canalha.
- Deixa-me falar, Cabeção!
- OK! Fala.
- Ela disse que me ligara a fim de conversar mais sobre a minha proposta. Conversamos. Eu estava mais criativo no fim da tarde, então, acho que me saí melhor do que ontem à noite.
- Mas ela aceitou ou não, merda?
- Disse que pensaria e, caso aceitasse, estaria na praça por volta de uma da madrugada a me encontrar.
- E se ela não aceitar?
- Não estará na praça.
- Assim? E você vai correr o risco de um bolo desse? Está na cara que ela não vai. Quer te fazer de otário, Douglas.
- Será?
- Caso ela aceite, o que é muito difícil, e apareça na praça, nossa, será um natal farto, não? Aqueles seios...
- Cabeção! Mais respeito!
- Mas você ainda nem pegou!
- Mas está marcado, ora. Ficou maluco?
- Sim. Maluco por aqueles seios. Não adianta, Douglas. Só vou ter algum respeito quando me disser que estão juntos novamente. E firme!
- Seu prego. Você não vale merda alguma.
Eu dizia. Nós ríamos.

* * *
Depois da ceia, eu me dirigia até a praça. Voava em minha bicicleta. Oswaldo, o porteiro, nem me via. Imaginava Silvana cheirosa e levemente embriagada de vinho. Imaginava-a sentada em um dos bancos daquela praça deserta, abrindo um sorriso ao ver me aproximar. Eu sorriria também.

Ao chegar à praça, eu não via ninguém. Dei voltas e voltas por toda sua extensão a fim de encontrar tudo aquilo que imaginara no caminho, mas nada. Apenas suava feito um porco com o calor que fazia naquela noite. Àquela altura, nem sabia se queria mais encontrá-la. Até que:
- Oi.
Era ela. Silvana tinha os seios médios para grandes e eretos como lanças. O cabelo, numa tonalidade ruiva, estava preso numa imensa trança. Usava uma curtíssima saia jeans e uma camiseta folgada que deixava a mostra suas marcas deixadas por aquele sol de dezembro. O rosto ligeiramente maquiado trazia na boca um batom leve.
- Eu temia que não aparecesse.
Dizia Silvana num sorriso que me fazia voltar no tempo.
- Eu também temia. Acho que até mais do que você. Mas eu gostei do seu jogo. Senti-me numa última fase, sabe?
- Não, não sei. Não curto games.
Eu tinha o dom de mandar mal.
- Você está linda e eu suado feito um mendigo.
- Não importa. Importa é que provaste a mim que me desejas.
- Você nem sabe o quanto, Silvana.

Nós nos beijávamos e deixávamos aquele calor infernal tomar conta de nossos corpos. Aquela nossa volta teve um início lindo, mas não duraria muito. Duas semanas depois, eu já estaria sozinho novamente e a desejar uma outra menina: a Lívia. Coisa que nem gosto de lembrar. Mas essa história eu já contei, não? [vide “Aquele Verão”].

* * *
Mais histórias sobre Douglas em “Tapete Testemunha” I, II e “Aquele Verão”.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

O NATAL DOS LOPES

A família Lopes mantinha uma tradição há mais de duzentos anos. Ela possuía uma imagem da Virgem Maria esculpida em madeira por um artista português. Essa imagem ficava sempre sob a guarda da primeira Maria de cada geração. Até então, Maria do Carmo Lopes, vinte e oito anos, tinha a posse daquela imagem, que não podia ser vendida ou doada, mas sim, estar à disposição para a posse da primeira Maria da geração posterior a dela.

O destino, até então, provera apenas homens na família Lopes. O que dava o direito de Maria permanecer com a imagem. Imagem esta que era cuidada com muito carinho. Devido à idade da peça, a mesma devia ser privada de deslocamentos. Se possível, apenas na passagem de posse. Maria se sentia feliz em ter a escultura da Virgem Maria em sua sala. Filha de pais muito religiosos, a moça tinha um apego muito especial pela peça, além de sentir até um pouco de medo de perdê-la.

Na nova geração dos Lopes, havia Carlos, de quatro anos, Tadeu, de sete, Lucas, de oito, Jorge, de nove, e, o mais velho, Roger, de dezoito. Roger era um jovem que sempre se mostrara problemático. Se já não bastasse a sua homossexualidade, o que afrontava toda uma família firme ao catolicismo, Roger também era usuário de drogas e garoto de programa desde os dezesseis. Vivia longe da família, na casa de uns amigos de mesma profissão. Os pais de Roger não conseguiram segurar as rédeas do menino. Perderam o controle da situação quando ele ainda tinha quatorze anos. Mas na verdade Roger já nem era considerado membro dos Lopes. Já não aparecia para a família há dois anos.

No dia 20 de dezembro, Roger telefonava para sua mãe, Cassandra.
- Mãe?
- Roger? Está vivo? O que houve? Só pode ser problema.
- Não houve problema algum, mãe! Houve solução!
- Fala logo que eu estou com pressa. Não tenho tempo para ficar de papo com pervertidos feito você!
- E nem eu com velha beata!
- Ah?
Espantava-se Cassandra.
- Escuta. Vou passar o Natal aí com vocês. Ouviu?
- Era só que me faltava! Você? Aqui conosco? Não perca seu tempo, garoto. Não é bem vindo aqui!
- Você vai fechar a porta para mim?
- A ceia nem será aqui, este ano, Roger.
- Vai sim que eu já sei!
- Quem lhe disse?
- Meu primo Jorge!
- Olha, fique longe do Jorginho! Ele é uma criança! Deixe só o pai dele saber que esteve com ele!
- Não enche! Não sou pedófilo! Escuta! Eu tenho uma novidade para vocês!
- E o que é?
- Surpresa, mamãe! No dia 24 a gente se vê. Vai preparando a família para a minha presença, OK?
- Não sei se aceitarão você aqui.
- É o que veremos. Tchau!
Cassandra não sabia o que fazer. A presença de um filho como o Roger na ceia de Natal seria um problema.

No dia seguinte, Cassandra ligava para Maria:
- Maria, aqui é a Cassandra. Tudo bem?
- Conheço sua voz, prima. Diga.
- Adivinhe quem me telefonou.
- Quem? Não me diga que...
- O Roger!
- Meu Deus! E o que ele queria?
- Quer vir passar o Natal conosco.
- Nossa!
- Eu tenho medo. Ele pode vir sob efeito daquelas porcarias que ele usa, sabe? Ele já sabe que a ceia será aqui em casa. Estou te ligando para perguntar se podemos transferi-la para a sua casa.
- Claro que sim, Cassandra. Sem problemas. Avise a todos.
- Está bem.

* * *
No dia 24, toda a família Lopes se reunia na casa de Maria. A felicidade reinava naquela casa. As crianças brincavam e os adultos conversavam e se divertiam com as histórias da mãe de Maria, D. Iolanda.

Batidas na porta.
- Eu atendo.
Prontificava-se Maria, que abria a porta.
- Oi prima!
Cumprimentava um Roger totalmente travestido de mulher.
- Minha nossa! Roger?
- Roger não, prima! Maria do Socorro! Operei!
- O quê?
- Dá licença, prima.
Roger invadia a casa de Maria do Carmo com um ecoante “feliz Natal”.

Todos permaneceram em silêncio. Não sabiam o que dizer a respeito da transformação de Roger.
- O que foi? Perderam a língua, foi? Ou deixaram cair na sacola da igreja? Operei!
- ESCUTE AQUI, ROGER!
Gritava Maria do Carmo.
- Roger não! Já falei! Agora sou Maria do Socorro. E a propósito, segundo a tradição familiar, acho que aquela imagem da Virgem Maria ali me pertence, não?
- NÃO FALE BESTEIRA! VOCÊ NÃO É MARIA! NUNCA SERÁ! NEM LOPES VOCÊ É MAIS! VOCÊ É ROGER! UM ROGER QUALQUER!
Berrava Maria do Carmo.
- É mesmo? Então vamos ver quem vai me impedir de levar esse toco de madeira portuguesa!

Naquele instante, começava uma briga onde eram todos contra Roger, que tentava chegar até a imagem a todo custo. Vendo-se na desvantagem, o travesti puxava uma navalha de dentro da bolsa e ameaçava toda a família.
- QUEM VAI QUERER ABRIR UMA BUCETA NA CARA? QUEM?
Gritava Roger. Todos permaneciam distantes e quietos, porém, revoltados.

Roger, andando para trás, chegava até a imagem. Pegava a Virgem Maria quase a deixando cair, para susto de todos.
- Calma gente! Vocês acham que eu vou dar um mole de quebrar essa grana? Isso deve dar para um fim de semana coberto de neve, se é que vocês me entendem.

Roger ensaiava uma fuga ameaçando a todos. Ao chegar de Roger à porta, Maria era tomada por uma ira jamais vista. Num salto, alcançava a imagem nas mãos de Roger e a puxava com força. Roger, num reflexo, rasgava-lhe o rosto com sua lâmina. Maria gritava de dor, levava as mãos à bochecha ensangüentada e largava a imagem, que se quebrava ao chão. O filho da Virgem Maria, menino Jesus, não mais fazia parte da obra. Separavam-se na queda. Como Roger do colo dos Lopes.

Roger saía correndo e deixava apenas os pedaços. Pedaços da carne facial de Maria do Carmo, pedaços de uma tradição e pedaços de uma ceia natalina.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

SEGUNDO TEMPO II (Final)

Atendendo a pedidos, posto hoje, dentro de Contos de Natal, a continuação de "Segundo Tempo". Espero que curtam!

Leia AQUI a Parte I

Depois de ver que sua amiga Pâmela não havia dado a mínima para as provas que tinha contra seu noivo, o Glauber, Adalberto resolvia distanciar-se. Que papelão. Com fotos comprometedoras da traição de Glauber nas mãos, teve de se contentar com a silhueta sensual do casal pela janela. Não estava certo. Glauber tinha uma amante e Pâmela sabia disso. Porém, a moça parecia não querer enxergar tal punhalada. Ou não se incomodava com a dor que esta causava. Punhalada? Dor? Na verdade não havia dor alguma! Ela aceitava e pronto!

Adalberto não via Pâmela há dois dias. Pâmela sabia o motivo de seu sumiço, mas mesmo assim resolvia ligar para o amigo a fim de explicações.
- Adalberto?
- Oi. O que quer?
- Calma! Apenas conversar.
- Comigo não, Pâmela, por favor.
- Quer dizer que o ocorrido vai prejudicar a nossa amizade, Adalberto?
- Esse “ocorrido” foi a maior vergonha e decepção de minha vida, Pâmela. Fique sabendo disso.
- Decepção por quê? A traída não sou eu? O cafajeste não é o Glauber? Você é apenas o meu amigo. Não tem motivos para se envergonhar ou se decepcionar.
- Ah! Eu não acredito no que estou ouvindo. Você chama o seu próprio noivo de cafajeste e se chama de traída assim, na maior naturalidade?
- Ora, Adalberto, eu...
- Não diga mais nada, Pâmela. Se você acha que merece tal destino, siga em frente. Case-se com esse cara.
- Está falando como alguém que tem ciúmes.
- Estou falando como alguém que lhe ama!
- Como é?
- Isso mesmo que você ouviu! Eu te amo, Pâmela!
- Você só pode estar brincando.
- Eu? Brincando? Não! Não mesmo! Você é quem brinca o tempo todo, Pâmela. Está brincando inclusive com a sua felicidade.
- Espere aí. Se você me ama, por que nunca me disse?
- Porque nunca tive a oportunidade de estar junto a ti sem que você tocasse no nome de seu noivo. Além disso, nossa amizade estava correndo por caminhos que tornariam cada vez mais difíceis tal declaração.
- E por que escolheu esse momento para dizer?
- Acho que um dia você precisaria saber.
Pâmela ficava em silêncio. Foram exatos trinta segundos de silêncio total.
- Não vai falar nada?
- A gente se fala, Adalberto.
Ela desligava.

Adalberto não sabia o que pensar. Não sabia o que Pâmela tinha achado de sua declaração. Poderia ter findado uma amizade ali mesmo, naquele telefonema, naquela frase. Dizer “eu te amo” nunca é normal. Ou é bom ou é ruim. Depende de quem ouve. Mas essa resposta Adalberto não tinha. Tinha apenas o silêncio de Pâmela na lembrança. “Dane-se também”, pensava Adalberto.

* * *
Dias depois, Pâmela ligava novamente para Adalberto:
- Adalberto?
- Diga.
- Nossa, que frio você.
- Diga.
- Dizer o quê, Adalberto?
- Ora, só se telefona para alguém quando há a intenção de dizer algo, não?
- É que eu quero saber se vai passar aqui amanhã. Para a ceia de Natal. Como sempre faz.
- Não creio.
- Não crê em quê? Não crê que venha ou não crê no nascimento de Jesus Cristo?
- Não creio que esteja me convidando, Pâmela.
- Não creio que vá negar, Adalberto!
- Pois creia.
- Não creio!
- O Glauber estará aí?
- Não.
- Nisso eu creio.
- Por quê?
- Porque ele nunca está aí! A menos que queira satisfazer suas necessidades sexuais.
- ADALBERTO! ISSO É JEITO DE SE FALAR?
- Não. Mas também não é jeito de se agir com a própria noiva.
- Olha, o convite está feito. Caso queira aparecer, apesar de tudo, será bem vindo.
- Passará sozinha?
- Sim.
- E por que o Glauber não estará contigo?
- Passará com a família dele.
- Sua futura família, não?
- Não mais. Eu não queria lhe dizer, mas nós terminamos.
- Sério?
- Sim.
- E por que não queria me dizer?
- Eu queria, mas não com palavras.
- E queria com o quê?

* * *
No dia 24 de dezembro, Adalberto, ofegante, tocava sua campainha de Pâmela. Pâmela abria a porta e o olhava com olhos arregalados e com um sorriso surpreso no rosto! No aparelho de som: A Charlie Brown Christmas do Vince Guaraldi.
- Mas esse CD é aquele da trilha sonora do especial natalino do Snoopy! Que nós amamos!
Dizia Adalberto assim que a porta se abria.
- É SIM! VOCÊ VEIO!
Dizia uma Pâmela transbordando de felicidade.
- Sim! Agora me diga que não há mais Glauber na sua vida, mas não com palavras. Diga-me como pensara dizer!
- OK!
Pâmela puxava Adalberto pela blusa para dentro de sua sala. Laçava-o com as pernas, como fazia com o ex-noivo e o beijava com desejo voraz. Ao caírem no sofá, o cotovelo de Adalberto esbarrava na árvore de natal de Pâmela. Bolas e lâmpadas natalinas espalhavam-se pelo chão a enfeitar uma cena de amor inédita aos dois.

* * *
- Não entendi, Pâmela. Éramos amigos até eu dizer que lhe amava.
- Pois é.
- E o que a levou a terminar tudo com o Glauber? Repensou nas fotos que eu tirei?
- Não! Pensei nas palavras que me disse. Com Glauber eu tinha um bom sexo, carinho e a promessa de uma vida estável. O que me fazia relevar os seus deslizes. Porém, eu não ouvia um “eu te amo” desde que noivei. Você me fez dar conta disso. Agora me beija, anda!

Adalberto e Pâmela amavam-se ao som de temas que os remetiam a lugares mágicos. Era como se lembranças de uma antiga e bela amizade fossem levemente apimentadas pelo tesão mútuo.

[Fim]

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

NADA MAU PARA UM NATAL

23 de dezembro. Jorge e Cícero preparavam-se para o recesso de fim de ano da empresa onde trabalhavam. Todo o setor administrativo somente estaria de volta ao trabalho no mês de janeiro. Jorge já não pegava em serviço algum desde meados do mês corrente. Já Cícero, cumpria alguns trâmites a fim de se manter ocupado às vistas de seus superiores.
- Cícero, meu caro, o que está fazendo em pleno último dia de expediente do ano?
- Cumprindo o expediente, logicamente, Jorge.
- Você é um prego mesmo. As outras salas trocando presentes de amigo oculto e nós aqui tendo que aturar o barulho de seu teclado infernal.
- Jorge, eu não posso trabalhar sem usar o teclado. Ainda não inventaram silenciadores de teclas. Então, sugiro que arrume algo para fazer.
- Já arrumei.
Jorge ia até sua mesa, esticava as pernas sobre ela e ficava a apreciar o traseiro de Aline, a estagiária, que se encontrava à janela.
- Jorge, eu me referia a trabalho.
- E observar essa gostosura que é a Aline não dá um trabalho danado, Cícero? Procure uma imperfeição nesse corpinho. É trabalhoso, meu caro.
- Faça o que você quiser.

Aline acendia um cigarro e olhava para trás. Sabia que Jorge estaria a observá-la, como sempre.
- Está sabendo do sorteio, Jorge?
Perguntava Aline.
- Que diabo de sorteio?
- Parece que vai rolar um sorteio para decidir quem se vestirá de Papai Noel no dia 25. Só para os homens, é claro.
- Papai Noel? Dia 25?
- Deixe que o explique, Aline – Cícero interrompia – Todo final de ano, a empresa faz uma caridade a um orfanato aqui de perto. Um funcionário, devidamente sorteado, se veste de Papai Noel e distribui alguns presentes às criancinhas de lá.
- Ora, Cícero, não é mais fácil escolher o mais gordo? Aqui ao lado tem um que deve pesar uns duzentos quilos. O Wilson.
- Pois é, Jorge, mas seria injusto o Wilson ser o Papai Noel todo ano. E além do mais, a fantasia de Papai Noel possui enchimentos o suficiente. Dessa forma, até o magricelo de Sandro, do RH, pode facilmente ser o sorteado.
- Quando eu trabalhava no setor de entregas, não ouvia nem falar dessa tradição.
- É que somente uma determinada camada da empresa participa dessa tradição, Jorge.
- Entendi. O fato é que eu odeio criancinhas. Mais ainda nessa época do ano. São pidonas demais.
- Eu adoraria vê-lo de Papai Noel, Jorge.
- Dizia Aline.
- Algum tipo de fetiche, Aline?
Perguntava Jorge imaginando a estagiária vestida sensualmente de Mamãe Noel. Uma Mamãe Noel avassaladora.
- Não. Apenas uma vontade louca de...
- De?
- De dar umas boas risadas.
- Aline, fique sabendo que... Deixa.

O sorteio estava marcado para o fim do expediente, às cinco da tarde. Jorge almoçara pensando o quanto seria incômodo vestir-se com aquela roupa quente naquele calor que fazia. Os enchimentos deviam ser de espuma. Isso! Poderia inventar uma alergia à espuma ou ao tecido da fantasia. Cetim, provavelmente. Pronto! Resolvido.
- Pronto! Resolvido, Cícero!
- O que foi?
- Caso eu seja sorteado, eu posso inventar algum tipo de alergia, e...
- Todos dizem o mesmo, Jorge. Não seja tolo. Além do mais, acho que você não vai querer se queimar diante da diretoria da empresa. Caso seja sorteado, simplesmente cumpra o seu papel. Papel de Papai Noel. Viu? Até rimou.
- Vai para o inferno, Cícero. As chances são mínimas. Não vou me preocupar.
- Não precisa mesmo, Jorge.

* * *
Findado o expediente, todos se reuniam na recepção do edifício para o tão temido sorteio. O diretor da empresa mencionava algumas palavras:
- Caros funcionários. Como em todos os anos, estamos aqui reunidos a fim de, por intermédio de sorteio, escolher a pessoa que terá o prazer de entregar presentes, no dia 25, às crianças do orfanato São Sebastião. É preciso lembrar que essas crianças não têm o mesmo carinho e a atenção que seus filhos. Sendo assim, espero que o sorteado deste ano, assim como em todos os outros, aceite com muito amor a tarefa que lhe será entregue. OK? Vamos ao sorteio.

O diretor tinha em mãos um saco no qual depositava papéis com os nomes de cada um dos funcionários.
- Bem, pelo menos o sorteio é bem justo. Os nomes dos diretores também estão no saco.
Dizia Jorge a Cícero.
- É.
-
E O SORTEADO DESTE ANO FOI...
Dizia o diretor.
- Deus...
Rezava Jorge.
-
JORGE SILVA! Onde está o Jorge Silva?
- Aqui!
Lamentava o pobre Jorge.
- Que delícia, Jorge! Estou pensando seriamente em ir lhe ver vestido de bom velhinho.
Aline o provocava.
- Para o inferno, Aline!
- Vai ser bom, Sr. Jorge. Parabéns.
Dizia Wilson ao seu lado.
- Obrigado.
Jorge tinha vontade de surrá-lo. Cícero ria da cena.

* * *
Na manhã do dia 25 de dezembro, Jorge chegava ao orfanato se coçando horrores. Ele descobrira que realmente era alérgico ao tecido da fantasia. Cetim. Um calor infernal e um Jorge que, por conta da tarefa, não bebera quase nada no dia anterior. Jorge só pensava o quanto seria bom se as provocações de Aline tivessem um fundo de verdade. Aquela delícia num uniforme sexy-natalino seria demais.

- PAPAI NOEL!
Gritavam as crianças.
Jorge permanecia calado. Até que um menino chegava até o “Papai Noel” e resolvia apalpar-lhe.
- Ele sempre faz isso. Ele nos pergunta se Papai Noel é realmente gordinho.
Explicava uma das funcionárias do orfanato.

Jorge vira no menino coisa que jamais prestara atenção. A solidão que aquela criança carregava transformava-se em uma alegria contagiante ao apalpar a pança do Papai Noel.
- Ele é gorducho!
Dizia o menino.
- Sim... Eu sou...
- Dá um abraço, Papai Noel?
Jorge agachava-se e abraçava o menino que o tateava a todo instante.
- Você trouxe meu presente?
- O... O que foi que você pediu mesmo?
- Eu lhe pedi uma bola, Papai Noel.
- Ah sim! Uma bola.
Jorge entregava-lhe a única bola do saco, mas percebia que o menino simplesmente abraçava o presente ao invés de chutá-lo, como faria qualquer menino.
- Esse... Esse vai ser goleiro.
Brincava Jorge.
- O Paulinho é cego, senhor.
Explicava a funcionária do orfanato.
- (...)
Jorge entregava suas tímidas lágrimas de vez.

* * *
Na volta para casa, o celular de Jorge tocava. Era Aline.
- Como foi no orfanato, Papai Noel?
- Aline, se não estiver disposta a realizar uma fantasia sexual de um senhor exausto, pode desligar.
- Então, OK! Tchau, Papai Noel. Até janeiro.
Aline desligava sem perder o bom humor.
- Dane-se.
Dizia Jorge a si mesmo.

* * *
Já no andar de seu apartamento, Jorge se deparava com Aline à sua porta. Ela carregava uma bolsa enorme nas mãos.
- Que diabos faz aqui, Aline? Você...
- Ah! É assim? Então eu vou embora!
- Não! Fique! Como sabia onde eu morava?
- Não é difícil quando se trabalha na mesma empresa, Jorge.
- Ah sim! Claro!
- Trouxe um bom vinho. Você deve estar seco, não?
- De tudo que você possa imaginar. Seco de tudo. Mas não estaria disposta a matar todas as minhas securas. Então, eu aceito apenas o vinho.
- Apenas o vinho? Eu venho disposta a ser uma Mamãe Noel e você vai aceitar apenas o vinho?
- O quê?
- Convide-me para entrar, Jorge, e eu lhe mostro o seu presente.

Que belo Natal o de Jorge. Aline, a estagiária mais gostosa que já passara naquela empresa, lhe proporcionara prazeres que nem Sheila e Laura juntas [vide “Quem Você Quiser” I e II] seriam capazes. A sua manhã no orfanato o libertava da implicância que tinha com crianças. Ele estava inclusive disposto a adotar o Paulinho.

O sorteio, as gozações, o calor, o cetim, a alergia. Tudo correra bem e estivera a seu favor naquele Natal. Ele refletia.

* * *
Mais histórias de Jorge Silva nas séries “Quem Você Quiser” e “Pela Cidade”.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

100.º POST

Hoje, tenho o orgulho de postar pela centésima vez por aqui. Esse post não poderia ser um post qualquer. Então, deixo vocês com um pouco da história do Muitos em Um. Espero que curtam!

Como tudo começou

Há alguns anos, existia um blog chamado
Verbalize Já. Nele, escreviam alguns amigos meus e mais alguns outros colunistas. Ao todo eram cinco pessoas, revezando de segunda à sexta, cada um com um respectivo assunto. Nas quintas-feiras, era a vez de Clarissa Marinho. Ela escrevia contos. E que contos! Lembro ainda do primeiro conto que ela publicou no VJ: “O Assalto”. Eu ainda não a conhecia, mas, devido a minha paixão pelos seus escritos semanais, passei a conhecê-la. Transformei em versos e musiquei um de seus contos, “A Lua”. Daí surgia uma amizade baseada na troca de experiências, já que Clarissa curtia minhas músicas e eu, como já disse, os seus contos.

Com o fim do VJ e inspirado na arte de Clarissa, passava então a escrever meus próprios contos. Eram ruins demais, creio eu, mas continuava mesmo assim, por exercício mesmo. Em 17 de março de 2007, eu publicava o meu primeiro conto,
“Seis Dias Depois”, em meu fotolog. Como capa, usava simplesmente a foto de um revólver. A idéia de fazer capas para os contos só viria um pouco mais tarde.

Com o tempo, o fotolog passou a limitar minhas idéias, tendo apenas quinhentos caracteres disponíveis para postar contos que ultrapassavam o setecentos. Surgia assim a idéia de um blog.

Muitos em um?

Os contos, hoje vejo, mesmo com grotescos erros de português, acabaram fazendo certo sucesso entre os amigos. Tudo bem, amigos são suspeitos, mas eles liam até o fim, além de comentarem. Até uma série de cinco capítulos,
“Quatro Mais Um”, em pleno feriado prolongado. Foi quando eu percebi que precisava apenas melhorar (está bem, melhorar e muito) para que a coisa ficasse pelo menos um pouco mais séria.

Precisava de um nome para isso aqui. Eu pensava em vários. Até que me atentei a algumas críticas que recebia no fotolog. Alguns diziam que eu escrevia muito diferente entre um conto e outro. Como se fossem escritores diferentes. Eu não sabia como sanar isso, e acho que até hoje não sei. Então, se pareço ser muitos em um só: Muitos em um!

O primeiro conto a ser publicado no blog foi
“O Incapaz”, em 04 de março de 2008. Eu me empolgava com o novo formato de publicação. Começava então a produzir cada vez mais.

Idéias, textos, tempo...

Trabalhando e fazendo faculdade, eu preciso confessar que, às vezes, é difícil manter o blog atualizado. Mas quanto mais coisas eu faço, mais contato com o mundo eu tenho e, conseqüentemente, mais idéias para criar me vêm. Uma frase dita no vento, uma história contada por algum amigo, uma música. Tudo me vem como “frutas”. Junto tudo e faço uma vitamina, que costumo chamar de conto.

Sinto-me pressionado a escrever. Eu não possuo chefe no blog. Então, de onde vem tal pressão para escrever cada vez mais e mais? De mim mesmo. Às vezes, me pego escrevendo entre garfadas, na hora do almoço. Por quê? Porque gosto, ora! Apenas isso. O meu dia tem apenas vinte e quatro horas, como o de qualquer um, porém, uso cada minuto de maneira correta, acredito eu, a fim de usar apenas o “resto” que me sobra para o sono. Coisa que faço muito pouco.

Foto da capa por:

Eu não sou fotógrafo e muito menos fotogênico. Então, possuo amigos que, gentilmente, cedem suas fotos para ilustrarem alguns contos. Amigos que fotografam bem e acabam virando leitores do blog também. É sempre uma troca. Sempre! A Fabiana Romeo e o Gabriel Andrade são um dos que mais fotografaram para esse blog. Aninha Shinoda contribuiu bastante também, porém, de uma maneira diferente. A Aninha incorporou, a pedido meu, a personagem mais fofa desse blog, a Luana.

O que aconteceu nas séries
“Luana” e “Duas” foi algo que me deixou muito feliz. Os leitores praticamente “adotaram” a Luana e sua gatinha Mimi com comentários que me deixavam cada dia com mais vontade de escrever. O carinho demonstrado pelos leitores me motiva muito! Mesmo!

Enfim, devo um agradecimento especial a todos que me cedem suas belíssimas fotos!

Discos e livros

Os discos e livros do meu momento ficam sempre expostos na coluna da esquerda para, não só divulgar os trabalhos alheios, mas levar ao leitor um pouco da atmosfera que me ronda. Assim, às vezes fica claro de onde veio tal idéia ou fase pela qual minha escrita passa. Sempre me sinto influenciado pelas coisas que leio ou escuto. É isso.

Muito obrigado pela leitura de sempre

É mais ou menos assim que agradeço aos scraps, e-mails e comentários que recebo referentes aos contos. Não é muito fácil manter, mesmo que num número pequeno, leitores atentos num blog de textos não muito curtos como o Muitos em um. Agradecer é o mínimo que devo fazer pelos minutos que me cedem de suas vidas. Ver filmes no youtube é muito mais fácil, não?

E por falar em video...

Segue um video comemorativo do centésimo post do Muitos em um!



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Um grande abraço!!!