Dezembro já batera à porta. O casal Marcos e Patrícia, numa das raras folga no escritório, conversava sobre o que deveria fazer naquele Natal. Aquela família, que incluía ainda a jovem Luana, filha de Marcos, se acostumara a Natais sempre muito corridos por conta da administração dos negócios – dois supermercados. “Nessa época do ano, as coisas fervem”, dizia Marcos. Sendo assim, em casa, aquela data passava quase que “em branco”.
Marcos lembrava que no último Natal Luana passara com os tios e os primos, mas que não tinha sido uma boa ideia [vide O Natal de Luana e Gisele]. Mas Patrícia entendia que o Natal deste ano, pelo menos para Luana, deveria ser diferente. A menina perdera recentemente o primo-namorado de maneira trágica [vide Opus I], não poderia ser somada a mais tristeza, apesar de há poucos dias Luana ter demonstrado uma melhora considerável em seu estado emocional [vide A Última Despedida].
- Mesmo que trabalhemos no dia 24, Marcos. Neste Natal, deveríamos dar uma atenção especial à Luana. Essa época do ano é terrível para os sentimentos, sabia? Tive lendo que a tendência à depressão é enorme. Tenho medo da menina ter uma recaída, Marcos.
- Acho que você tem razão. Que tal começarmos de hoje, Patrícia? Uma árvore! Que tal? Compraremos uma árvore e a enfeitaremos os três juntos; Luana, você e eu. O que acha?
- Excelente ideia!
Durante a hora do almoço, Marcos e Patrícia saíram à busca de uma árvore de Natal. Compraram a maior que puderam, a fim de que o tempo preciso para enfeitá-la fosse o maior possível.
- Acho que essa está boa, Marcos! – dizia Patrícia entusiasmada.
- Será essa!
À noite, ao chegarem em casa, Luana e sua gatinha de estimação Mimi assistiam Celeste, a empregada, a preparar o jantar. Celeste, sempre muito bem-humorada, contava histórias de seu passado. Luana, como sempre, se divertia.
- Oi, gente! – dizia Marcos ao cruzar a porta.
- Oi, papai! Oi, Patrícia! – dizia Luana – Que caixa enorme é essa?
- Uma árvore de Natal, filha! Vamos montá-la depois do jantar?
- O que deu em vocês? O máximo que faziam eram colocar aquela arvorezinha na mesa de centro.
- Pois é – dizia Patrícia –, fazíamos. Esse Natal será diferente. Passaremos mais unidos. Que tal?
- Eu ia adorar.
- Pois será assim! – dizia Marcos.
Luana, embora recebesse bem a notícia, sorria, mas, talvez, não tanto quanto o esperado pelo casal. A verdade é que Luana se recuperava muito lentamente da perda de Rômulo. Já não permanecia na cama o dia inteiro, verdade, mas ainda se notava na menina uma saudade dolorida, que vez em quando se manifestava num fio de lágrima.
A ideia de Marcos e Patrícia com a árvore era a de descontrair Luana; fazer com que suas presenças, aos poucos, suprissem a falta de Rômulo naquele pedacinho de vida.
- Não me parece tão feliz, filha – dizia Marcos.
- Mas estou, papai. Pode ter certeza. – dizia Luana se soltando um pouco mais.
Após o jantar, como combinado entre os três, a montagem da árvore se iniciava. O mastro central, montado, media quase dois metros de altura. Luana se surpreendia ao imaginar a árvore completamente enfeitada. “Ela é enorme, papai”. Enquanto Marcos e Patrícia montavam o restante da base, Luana tratava de desembalar as bolas e todos os outros enfeites. Ao pegar uma bola de cor prata, se viu refletida. Maravilhada com a beleza do ornamento, soltou um suspiro: “Que linda...”. Marcos e Patrícia não podiam deixar de notar o comportamento de Luana, que mais parecia uma menina de cinco anos.
- Você se lembra, minha filha – dizia Marcos –, de quando você era bem pequena? Nós tínhamos uma árvore também. Mas foi um ano só que a montamos.
- Não, não me lembro, papai.
- Pois é. Você adorava.
Naquele momento, o telefone tocava. Marcos soltava as peças da árvore e pensava: “Aposto que é trabalho. Nem montar uma árvore de Natal com a minha família eu posso”.
- Alô. (...) Oi, Matheus, diga. (...) Ah! Sim, claro, eu já ia me esquecendo! (...) Pode, pode sim! Inclusive, eu tenho mesmo uns papéis aqui que eu quero que você leve junto. (...) OK! Estou te esperando. Anote o endereço...
Segundos depois:
- O que o Matheus queria, Marcos? – dizia Patrícia.
- É que amanhã, logo bem cedo, ele está indo ao litoral levar uns documentos. Sobre aquela mulher que processou o supermercado, lembra?
- Sim, lembro.
- Então. Eu esqueci de assinar a procuração. Ele vai passar aqui para que eu a assine.
- Quem é Matheus, papai? – dizia Luana.
- É um estagiário de Direito que eu admiti há alguns dias. Ele está ajudando na parte jurídica dos supermercados.
- Ah, sim.
Minutos depois, Matheus estava ao portão.
- Luana – dizia Marcos –, vai lá e abra o portão para o Matheus. Peça que ele entre e me espere aí na sala. Vou pegar uns papéis no escritório.
- OK.
Luana calçava as sandálias ao mesmo tempo em que, meio desengonçada, corria até o portão. De cabeça baixa, tentando ainda encaixar os pezinhos nas sandálias, sequer olhou o rapaz. Mas ao chegar ao portão, com os fios de cabelo embaraçados sobre o rosto, o viu.
- Calma, menina! – dizia Matheus rindo.
- Oi... – ela ria da situação – É que papai pediu que entrasse, e...
- Tu és filha do Marcos? Não sabia que ele tinha uma filha tão crescida. Ele sempre fala em “Luaninha”, “minha menininha”.
- Ora, o Papai... Entre, entre...
Matheus era um rapaz muito simpático. Ele vestia no momento um terno que lhe caía muito bem. Matheus então seguia Luana até a sala. Um pouco mais alto que Luana, o rapaz tinha os cabelos castanhos bem curtos, porém, cultivava os fios do alto, que, charmosamente, lhe caiam sobre os olhos esverdeados.
- Oi Matheus, tudo bom? – dizia Patrícia – Sente-se. O Marcos já vem.
- OK! Que árvore enorme, hein? – brincava Matheus.
- É mesmo. Vai ficar linda!
- Eu adoro montar árvores! Lá em casa, minha mãe deixa sob minha responsabilidade os enfeites natalinos.
- Hum... Que prendado! – brincava Patrícia.
Luana, já ajoelhada a separar os enfeites da árvore, sorriu, mas manteve os olhos nos enfeites.
Matheus, enquanto aguardava Marcos, acabou ajudando Luana a separar as bolas. “Essas bolinhas menores, você coloca na parte de cima da árvore...”. Luana aceitava a ajuda de Matheus com breves sorrisos.
- PATRÍCIA! – gritava Marcos do escritório – AJUDE-ME A PROCURAR ESSES DOCUMENTOS... VENHA CÁ!
- JÁ VOU! Já volto, Matheus – saía de cena Patrícia.
Na sala, Matheus continuava, mesmo ainda sentado no sofá, a ajudar Luana nos enfeites. O rapaz, na verdade, não tirava os olhos do rosto da menina, que por sua vez, não o olhava. Até que:
- Quantos anos você tem, Luana?
- Dezessete...
Matheus se assustava, pois a graciosidade rara de Luana não condizia com a sua idade. De fato o rapaz estava longe de, ali, naquele momento, constatar a maturidade daquela menina (que também não condizia com os dezessete anos), mas, diante do que tinha em vista, era apenas uma menina. Mas uma menina apaixonante.
- E você? – perguntava Luana.
- Tenho vinte e um.
- Está gostando de trabalhar com meu pai?
- Muito. Estou aprendendo bastante lá. Sou estagiário, sabe como é.
- Entendo...
Nessa conversa sem muitas pretensões – pelo menos naquele momento –, os dois jovens pareciam se conhecer um pouco mais. Muito pouco, é verdade, mas o suficiente para deixar Matheus em estado de encantamento. O rapaz sorria abobalhado ao ver Luana dando muito mais atenção àquela árvore que às suas frases.
Luana vestia um short jeans cuja bainha trazia “Ramones” escrito à caneta.
- Gosta dos Ramones? – perguntava Matheus.
- Sim! Muito!
- Eu também!
Pronto. O primeiro (e tão simples) ponto em comum fazia de Matheus o cara mais esperançoso do universo – seus olhos brilhavam.
Minutos depois:
- Aqui estão, Matheus – dizia Marcos –, os documentos. Deixe-me assinar a procuração.
- Aqui.
Terminadas as burocracias. Marcos acompanha Matheus até o portão.
- Bonitinho ele, não, Luana? – dizia Patrícia.
- Não reparei.
- Ih! Essa caneta aí no chão é do Matheus, não é?
Luana a pegava e constatava que sim, por conta de seu nome gravado.
- É dele mesmo! Vou lá entregar.
Da mesma forma que na primeira vez, Luana corria a tentar encaixar os pezinhos nas sandálias. Marcos já cruzava a porta da cozinha, quando Luana quase o atropela.
- Ele esqueceu a caneta, papai.
- Ah, sim, ele ainda deve estar na rua. Corre lá, faz favor.
Luana chegava até o portão e: “MATHEUS”. Mas o rapaz já a esperava próximo à caixinha de correspondências.
- Minha caneta, não é?
- Sim... Mas... Você já estava esperando?
- Sim. Eu a esqueci de propósito, Luana.
- Ah?
Matheus pousava suas mãos sobre as de Luana e:
- Bem, eu não tive como dizer lá dentro... Eu poderia lhe roubar um beijo, se fosse um louco e não merecesse um simples olhar de sua parte, mas prefiro, pelo menos nesse nosso primeiro contato, lhe dizer que você é a coisa mais linda que eu já vi. Espero, do fundo do meu coração, que possamos nos ver mais vezes.
- ...
- Um “Feliz Natal” seu, no dia 24, me dirá tudo. Ou nada. Beijo.
Matheus lhe entregava um papel com o número de seu celular e sumia em direção à rua principal. Luana, anestesiada num misto de constatações e conflitos, apenas sorria de forma discreta.
* * *
Durante todo o dia 24 de dezembro, Marcos, Patrícia e Luana, conforme combinado, permaneceram juntos e felizes. A enorme árvore enfeitava a sala e, de certa forma, contribuía para a união daquela família. Luana se mostrava muito feliz com a presença do pai, da madrasta e de sua gatinha.
Próximo à meia-noite, Luana, que durante semanas sentia que as palavras de Matheus não lhe deixavam em “paz”, corria para o seu quarto atrás do celular para de escrever uma mensagem de Natal à Giovanna, sua melhor amiga. Ao fim, resolvia mandar mais outra mensagem.
Feliz Natal, Matheus.
Luana, ainda sem saber o que realmente acabara de fazer, abria sua janela e sorria, mas sem que nenhum vento se manifestasse em seu semblante.
* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais contos sobre Luana em LUANA, DUAS, O NATAL DE LUANA, GISELE, JANEIRO MEU, VERDADES DE LUANA, MINHA PRIMA LUANA, OPUS I e A ÚLTIMA DESPEDIDA.
Marcos lembrava que no último Natal Luana passara com os tios e os primos, mas que não tinha sido uma boa ideia [vide O Natal de Luana e Gisele]. Mas Patrícia entendia que o Natal deste ano, pelo menos para Luana, deveria ser diferente. A menina perdera recentemente o primo-namorado de maneira trágica [vide Opus I], não poderia ser somada a mais tristeza, apesar de há poucos dias Luana ter demonstrado uma melhora considerável em seu estado emocional [vide A Última Despedida].
- Mesmo que trabalhemos no dia 24, Marcos. Neste Natal, deveríamos dar uma atenção especial à Luana. Essa época do ano é terrível para os sentimentos, sabia? Tive lendo que a tendência à depressão é enorme. Tenho medo da menina ter uma recaída, Marcos.
- Acho que você tem razão. Que tal começarmos de hoje, Patrícia? Uma árvore! Que tal? Compraremos uma árvore e a enfeitaremos os três juntos; Luana, você e eu. O que acha?
- Excelente ideia!
Durante a hora do almoço, Marcos e Patrícia saíram à busca de uma árvore de Natal. Compraram a maior que puderam, a fim de que o tempo preciso para enfeitá-la fosse o maior possível.
- Acho que essa está boa, Marcos! – dizia Patrícia entusiasmada.
- Será essa!
À noite, ao chegarem em casa, Luana e sua gatinha de estimação Mimi assistiam Celeste, a empregada, a preparar o jantar. Celeste, sempre muito bem-humorada, contava histórias de seu passado. Luana, como sempre, se divertia.
- Oi, gente! – dizia Marcos ao cruzar a porta.
- Oi, papai! Oi, Patrícia! – dizia Luana – Que caixa enorme é essa?
- Uma árvore de Natal, filha! Vamos montá-la depois do jantar?
- O que deu em vocês? O máximo que faziam eram colocar aquela arvorezinha na mesa de centro.
- Pois é – dizia Patrícia –, fazíamos. Esse Natal será diferente. Passaremos mais unidos. Que tal?
- Eu ia adorar.
- Pois será assim! – dizia Marcos.
Luana, embora recebesse bem a notícia, sorria, mas, talvez, não tanto quanto o esperado pelo casal. A verdade é que Luana se recuperava muito lentamente da perda de Rômulo. Já não permanecia na cama o dia inteiro, verdade, mas ainda se notava na menina uma saudade dolorida, que vez em quando se manifestava num fio de lágrima.
A ideia de Marcos e Patrícia com a árvore era a de descontrair Luana; fazer com que suas presenças, aos poucos, suprissem a falta de Rômulo naquele pedacinho de vida.
- Não me parece tão feliz, filha – dizia Marcos.
- Mas estou, papai. Pode ter certeza. – dizia Luana se soltando um pouco mais.
Após o jantar, como combinado entre os três, a montagem da árvore se iniciava. O mastro central, montado, media quase dois metros de altura. Luana se surpreendia ao imaginar a árvore completamente enfeitada. “Ela é enorme, papai”. Enquanto Marcos e Patrícia montavam o restante da base, Luana tratava de desembalar as bolas e todos os outros enfeites. Ao pegar uma bola de cor prata, se viu refletida. Maravilhada com a beleza do ornamento, soltou um suspiro: “Que linda...”. Marcos e Patrícia não podiam deixar de notar o comportamento de Luana, que mais parecia uma menina de cinco anos.
- Você se lembra, minha filha – dizia Marcos –, de quando você era bem pequena? Nós tínhamos uma árvore também. Mas foi um ano só que a montamos.
- Não, não me lembro, papai.
- Pois é. Você adorava.
Naquele momento, o telefone tocava. Marcos soltava as peças da árvore e pensava: “Aposto que é trabalho. Nem montar uma árvore de Natal com a minha família eu posso”.
- Alô. (...) Oi, Matheus, diga. (...) Ah! Sim, claro, eu já ia me esquecendo! (...) Pode, pode sim! Inclusive, eu tenho mesmo uns papéis aqui que eu quero que você leve junto. (...) OK! Estou te esperando. Anote o endereço...
Segundos depois:
- O que o Matheus queria, Marcos? – dizia Patrícia.
- É que amanhã, logo bem cedo, ele está indo ao litoral levar uns documentos. Sobre aquela mulher que processou o supermercado, lembra?
- Sim, lembro.
- Então. Eu esqueci de assinar a procuração. Ele vai passar aqui para que eu a assine.
- Quem é Matheus, papai? – dizia Luana.
- É um estagiário de Direito que eu admiti há alguns dias. Ele está ajudando na parte jurídica dos supermercados.
- Ah, sim.
Minutos depois, Matheus estava ao portão.
- Luana – dizia Marcos –, vai lá e abra o portão para o Matheus. Peça que ele entre e me espere aí na sala. Vou pegar uns papéis no escritório.
- OK.
Luana calçava as sandálias ao mesmo tempo em que, meio desengonçada, corria até o portão. De cabeça baixa, tentando ainda encaixar os pezinhos nas sandálias, sequer olhou o rapaz. Mas ao chegar ao portão, com os fios de cabelo embaraçados sobre o rosto, o viu.
- Calma, menina! – dizia Matheus rindo.
- Oi... – ela ria da situação – É que papai pediu que entrasse, e...
- Tu és filha do Marcos? Não sabia que ele tinha uma filha tão crescida. Ele sempre fala em “Luaninha”, “minha menininha”.
- Ora, o Papai... Entre, entre...
Matheus era um rapaz muito simpático. Ele vestia no momento um terno que lhe caía muito bem. Matheus então seguia Luana até a sala. Um pouco mais alto que Luana, o rapaz tinha os cabelos castanhos bem curtos, porém, cultivava os fios do alto, que, charmosamente, lhe caiam sobre os olhos esverdeados.
- Oi Matheus, tudo bom? – dizia Patrícia – Sente-se. O Marcos já vem.
- OK! Que árvore enorme, hein? – brincava Matheus.
- É mesmo. Vai ficar linda!
- Eu adoro montar árvores! Lá em casa, minha mãe deixa sob minha responsabilidade os enfeites natalinos.
- Hum... Que prendado! – brincava Patrícia.
Luana, já ajoelhada a separar os enfeites da árvore, sorriu, mas manteve os olhos nos enfeites.
Matheus, enquanto aguardava Marcos, acabou ajudando Luana a separar as bolas. “Essas bolinhas menores, você coloca na parte de cima da árvore...”. Luana aceitava a ajuda de Matheus com breves sorrisos.
- PATRÍCIA! – gritava Marcos do escritório – AJUDE-ME A PROCURAR ESSES DOCUMENTOS... VENHA CÁ!
- JÁ VOU! Já volto, Matheus – saía de cena Patrícia.
Na sala, Matheus continuava, mesmo ainda sentado no sofá, a ajudar Luana nos enfeites. O rapaz, na verdade, não tirava os olhos do rosto da menina, que por sua vez, não o olhava. Até que:
- Quantos anos você tem, Luana?
- Dezessete...
Matheus se assustava, pois a graciosidade rara de Luana não condizia com a sua idade. De fato o rapaz estava longe de, ali, naquele momento, constatar a maturidade daquela menina (que também não condizia com os dezessete anos), mas, diante do que tinha em vista, era apenas uma menina. Mas uma menina apaixonante.
- E você? – perguntava Luana.
- Tenho vinte e um.
- Está gostando de trabalhar com meu pai?
- Muito. Estou aprendendo bastante lá. Sou estagiário, sabe como é.
- Entendo...
Nessa conversa sem muitas pretensões – pelo menos naquele momento –, os dois jovens pareciam se conhecer um pouco mais. Muito pouco, é verdade, mas o suficiente para deixar Matheus em estado de encantamento. O rapaz sorria abobalhado ao ver Luana dando muito mais atenção àquela árvore que às suas frases.
Luana vestia um short jeans cuja bainha trazia “Ramones” escrito à caneta.
- Gosta dos Ramones? – perguntava Matheus.
- Sim! Muito!
- Eu também!
Pronto. O primeiro (e tão simples) ponto em comum fazia de Matheus o cara mais esperançoso do universo – seus olhos brilhavam.
Minutos depois:
- Aqui estão, Matheus – dizia Marcos –, os documentos. Deixe-me assinar a procuração.
- Aqui.
Terminadas as burocracias. Marcos acompanha Matheus até o portão.
- Bonitinho ele, não, Luana? – dizia Patrícia.
- Não reparei.
- Ih! Essa caneta aí no chão é do Matheus, não é?
Luana a pegava e constatava que sim, por conta de seu nome gravado.
- É dele mesmo! Vou lá entregar.
Da mesma forma que na primeira vez, Luana corria a tentar encaixar os pezinhos nas sandálias. Marcos já cruzava a porta da cozinha, quando Luana quase o atropela.
- Ele esqueceu a caneta, papai.
- Ah, sim, ele ainda deve estar na rua. Corre lá, faz favor.
Luana chegava até o portão e: “MATHEUS”. Mas o rapaz já a esperava próximo à caixinha de correspondências.
- Minha caneta, não é?
- Sim... Mas... Você já estava esperando?
- Sim. Eu a esqueci de propósito, Luana.
- Ah?
Matheus pousava suas mãos sobre as de Luana e:
- Bem, eu não tive como dizer lá dentro... Eu poderia lhe roubar um beijo, se fosse um louco e não merecesse um simples olhar de sua parte, mas prefiro, pelo menos nesse nosso primeiro contato, lhe dizer que você é a coisa mais linda que eu já vi. Espero, do fundo do meu coração, que possamos nos ver mais vezes.
- ...
- Um “Feliz Natal” seu, no dia 24, me dirá tudo. Ou nada. Beijo.
Matheus lhe entregava um papel com o número de seu celular e sumia em direção à rua principal. Luana, anestesiada num misto de constatações e conflitos, apenas sorria de forma discreta.
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Durante todo o dia 24 de dezembro, Marcos, Patrícia e Luana, conforme combinado, permaneceram juntos e felizes. A enorme árvore enfeitava a sala e, de certa forma, contribuía para a união daquela família. Luana se mostrava muito feliz com a presença do pai, da madrasta e de sua gatinha.
Próximo à meia-noite, Luana, que durante semanas sentia que as palavras de Matheus não lhe deixavam em “paz”, corria para o seu quarto atrás do celular para de escrever uma mensagem de Natal à Giovanna, sua melhor amiga. Ao fim, resolvia mandar mais outra mensagem.
Feliz Natal, Matheus.
Luana, ainda sem saber o que realmente acabara de fazer, abria sua janela e sorria, mas sem que nenhum vento se manifestasse em seu semblante.
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Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais contos sobre Luana em LUANA, DUAS, O NATAL DE LUANA, GISELE, JANEIRO MEU, VERDADES DE LUANA, MINHA PRIMA LUANA, OPUS I e A ÚLTIMA DESPEDIDA.