quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

UM NATAL PARA LUANA

Dezembro já batera à porta. O casal Marcos e Patrícia, numa das raras folga no escritório, conversava sobre o que deveria fazer naquele Natal. Aquela família, que incluía ainda a jovem Luana, filha de Marcos, se acostumara a Natais sempre muito corridos por conta da administração dos negócios – dois supermercados. “Nessa época do ano, as coisas fervem”, dizia Marcos. Sendo assim, em casa, aquela data passava quase que “em branco”.

Marcos lembrava que no último Natal Luana passara com os tios e os primos, mas que não tinha sido uma boa ideia [vide
O Natal de Luana e Gisele]. Mas Patrícia entendia que o Natal deste ano, pelo menos para Luana, deveria ser diferente. A menina perdera recentemente o primo-namorado de maneira trágica [vide Opus I], não poderia ser somada a mais tristeza, apesar de há poucos dias Luana ter demonstrado uma melhora considerável em seu estado emocional [vide A Última Despedida].

- Mesmo que trabalhemos no dia 24, Marcos. Neste Natal, deveríamos dar uma atenção especial à Luana. Essa época do ano é terrível para os sentimentos, sabia? Tive lendo que a tendência à depressão é enorme. Tenho medo da menina ter uma recaída, Marcos.

- Acho que você tem razão. Que tal começarmos de hoje, Patrícia? Uma árvore! Que tal? Compraremos uma árvore e a enfeitaremos os três juntos; Luana, você e eu. O que acha?

- Excelente ideia!

Durante a hora do almoço, Marcos e Patrícia saíram à busca de uma árvore de Natal. Compraram a maior que puderam, a fim de que o tempo preciso para enfeitá-la fosse o maior possível.

- Acho que essa está boa, Marcos! – dizia Patrícia entusiasmada.

- Será essa!

À noite, ao chegarem em casa, Luana e sua gatinha de estimação Mimi assistiam Celeste, a empregada, a preparar o jantar. Celeste, sempre muito bem-humorada, contava histórias de seu passado. Luana, como sempre, se divertia.

- Oi, gente! – dizia Marcos ao cruzar a porta.

- Oi, papai! Oi, Patrícia! – dizia Luana – Que caixa enorme é essa?

- Uma árvore de Natal, filha! Vamos montá-la depois do jantar?

- O que deu em vocês? O máximo que faziam eram colocar aquela arvorezinha na mesa de centro.

- Pois é – dizia Patrícia –, fazíamos. Esse Natal será diferente. Passaremos mais unidos. Que tal?

- Eu ia adorar.

- Pois será assim! – dizia Marcos.

Luana, embora recebesse bem a notícia, sorria, mas, talvez, não tanto quanto o esperado pelo casal. A verdade é que Luana se recuperava muito lentamente da perda de Rômulo. Já não permanecia na cama o dia inteiro, verdade, mas ainda se notava na menina uma saudade dolorida, que vez em quando se manifestava num fio de lágrima.

A ideia de Marcos e Patrícia com a árvore era a de descontrair Luana; fazer com que suas presenças, aos poucos, suprissem a falta de Rômulo naquele pedacinho de vida.

- Não me parece tão feliz, filha – dizia Marcos.

- Mas estou, papai. Pode ter certeza. – dizia Luana se soltando um pouco mais.

Após o jantar, como combinado entre os três, a montagem da árvore se iniciava. O mastro central, montado, media quase dois metros de altura. Luana se surpreendia ao imaginar a árvore completamente enfeitada. “Ela é enorme, papai”. Enquanto Marcos e Patrícia montavam o restante da base, Luana tratava de desembalar as bolas e todos os outros enfeites. Ao pegar uma bola de cor prata, se viu refletida. Maravilhada com a beleza do ornamento, soltou um suspiro: “Que linda...”. Marcos e Patrícia não podiam deixar de notar o comportamento de Luana, que mais parecia uma menina de cinco anos.

- Você se lembra, minha filha – dizia Marcos –, de quando você era bem pequena? Nós tínhamos uma árvore também. Mas foi um ano só que a montamos.

- Não, não me lembro, papai.

- Pois é. Você adorava.

Naquele momento, o telefone tocava. Marcos soltava as peças da árvore e pensava: “Aposto que é trabalho. Nem montar uma árvore de Natal com a minha família eu posso”.

- Alô. (...) Oi, Matheus, diga. (...) Ah! Sim, claro, eu já ia me esquecendo! (...) Pode, pode sim! Inclusive, eu tenho mesmo uns papéis aqui que eu quero que você leve junto. (...) OK! Estou te esperando. Anote o endereço...

Segundos depois:

- O que o Matheus queria, Marcos? – dizia Patrícia.

- É que amanhã, logo bem cedo, ele está indo ao litoral levar uns documentos. Sobre aquela mulher que processou o supermercado, lembra?

- Sim, lembro.

- Então. Eu esqueci de assinar a procuração. Ele vai passar aqui para que eu a assine.

- Quem é Matheus, papai? – dizia Luana.

- É um estagiário de Direito que eu admiti há alguns dias. Ele está ajudando na parte jurídica dos supermercados.

- Ah, sim.

Minutos depois, Matheus estava ao portão.

- Luana – dizia Marcos –, vai lá e abra o portão para o Matheus. Peça que ele entre e me espere aí na sala. Vou pegar uns papéis no escritório.

- OK.

Luana calçava as sandálias ao mesmo tempo em que, meio desengonçada, corria até o portão. De cabeça baixa, tentando ainda encaixar os pezinhos nas sandálias, sequer olhou o rapaz. Mas ao chegar ao portão, com os fios de cabelo embaraçados sobre o rosto, o viu.

- Calma, menina! – dizia Matheus rindo.

- Oi... – ela ria da situação – É que papai pediu que entrasse, e...

- Tu és filha do Marcos? Não sabia que ele tinha uma filha tão crescida. Ele sempre fala em “Luaninha”, “minha menininha”.

- Ora, o Papai... Entre, entre...

Matheus era um rapaz muito simpático. Ele vestia no momento um terno que lhe caía muito bem. Matheus então seguia Luana até a sala. Um pouco mais alto que Luana, o rapaz tinha os cabelos castanhos bem curtos, porém, cultivava os fios do alto, que, charmosamente, lhe caiam sobre os olhos esverdeados.

- Oi Matheus, tudo bom? – dizia Patrícia – Sente-se. O Marcos já vem.

- OK! Que árvore enorme, hein? – brincava Matheus.

- É mesmo. Vai ficar linda!

- Eu adoro montar árvores! Lá em casa, minha mãe deixa sob minha responsabilidade os enfeites natalinos.

- Hum... Que prendado! – brincava Patrícia.

Luana, já ajoelhada a separar os enfeites da árvore, sorriu, mas manteve os olhos nos enfeites.

Matheus, enquanto aguardava Marcos, acabou ajudando Luana a separar as bolas. “Essas bolinhas menores, você coloca na parte de cima da árvore...”. Luana aceitava a ajuda de Matheus com breves sorrisos.

- PATRÍCIA! – gritava Marcos do escritório – AJUDE-ME A PROCURAR ESSES DOCUMENTOS... VENHA CÁ!

- JÁ VOU! Já volto, Matheus – saía de cena Patrícia.

Na sala, Matheus continuava, mesmo ainda sentado no sofá, a ajudar Luana nos enfeites. O rapaz, na verdade, não tirava os olhos do rosto da menina, que por sua vez, não o olhava. Até que:

- Quantos anos você tem, Luana?

- Dezessete...

Matheus se assustava, pois a graciosidade rara de Luana não condizia com a sua idade. De fato o rapaz estava longe de, ali, naquele momento, constatar a maturidade daquela menina (que também não condizia com os dezessete anos), mas, diante do que tinha em vista, era apenas uma menina. Mas uma menina apaixonante.

- E você? – perguntava Luana.

- Tenho vinte e um.

- Está gostando de trabalhar com meu pai?

- Muito. Estou aprendendo bastante lá. Sou estagiário, sabe como é.

- Entendo...

Nessa conversa sem muitas pretensões – pelo menos naquele momento –, os dois jovens pareciam se conhecer um pouco mais. Muito pouco, é verdade, mas o suficiente para deixar Matheus em estado de encantamento. O rapaz sorria abobalhado ao ver Luana dando muito mais atenção àquela árvore que às suas frases.

Luana vestia um short jeans cuja bainha trazia “Ramones” escrito à caneta.

- Gosta dos Ramones? – perguntava Matheus.

- Sim! Muito!

- Eu também!

Pronto. O primeiro (e tão simples) ponto em comum fazia de Matheus o cara mais esperançoso do universo – seus olhos brilhavam.

Minutos depois:

- Aqui estão, Matheus – dizia Marcos –, os documentos. Deixe-me assinar a procuração.

- Aqui.

Terminadas as burocracias. Marcos acompanha Matheus até o portão.

- Bonitinho ele, não, Luana? – dizia Patrícia.

- Não reparei.

- Ih! Essa caneta aí no chão é do Matheus, não é?

Luana a pegava e constatava que sim, por conta de seu nome gravado.

- É dele mesmo! Vou lá entregar.

Da mesma forma que na primeira vez, Luana corria a tentar encaixar os pezinhos nas sandálias. Marcos já cruzava a porta da cozinha, quando Luana quase o atropela.

- Ele esqueceu a caneta, papai.

- Ah, sim, ele ainda deve estar na rua. Corre lá, faz favor.

Luana chegava até o portão e: “MATHEUS”. Mas o rapaz já a esperava próximo à caixinha de correspondências.

- Minha caneta, não é?

- Sim... Mas... Você já estava esperando?

- Sim. Eu a esqueci de propósito, Luana.

- Ah?

Matheus pousava suas mãos sobre as de Luana e:

- Bem, eu não tive como dizer lá dentro... Eu poderia lhe roubar um beijo, se fosse um louco e não merecesse um simples olhar de sua parte, mas prefiro, pelo menos nesse nosso primeiro contato, lhe dizer que você é a coisa mais linda que eu já vi. Espero, do fundo do meu coração, que possamos nos ver mais vezes.

- ...

- Um “Feliz Natal” seu, no dia 24, me dirá tudo. Ou nada. Beijo.

Matheus lhe entregava um papel com o número de seu celular e sumia em direção à rua principal. Luana, anestesiada num misto de constatações e conflitos, apenas sorria de forma discreta.

* * *
Durante todo o dia 24 de dezembro, Marcos, Patrícia e Luana, conforme combinado, permaneceram juntos e felizes. A enorme árvore enfeitava a sala e, de certa forma, contribuía para a união daquela família. Luana se mostrava muito feliz com a presença do pai, da madrasta e de sua gatinha.

Próximo à meia-noite, Luana, que durante semanas sentia que as palavras de Matheus não lhe deixavam em “paz”, corria para o seu quarto atrás do celular para de escrever uma mensagem de Natal à Giovanna, sua melhor amiga. Ao fim, resolvia mandar mais outra mensagem.

Feliz Natal, Matheus.

Luana, ainda sem saber o que realmente acabara de fazer, abria sua janela e sorria, mas sem que nenhum vento se manifestasse em seu semblante.

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais contos sobre Luana em
LUANA, DUAS, O NATAL DE LUANA, GISELE, JANEIRO MEU, VERDADES DE LUANA, MINHA PRIMA LUANA, OPUS I e A ÚLTIMA DESPEDIDA.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

AS LEMBRANÇAS DE KARINA

Enquanto a árvore de Natal era montada, Karina sentia o fio de lágrima rolar sobre a bochecha. Procurava disfarçar o pranto mudo com sorrisos tímidos. Seus olhares ficavam voltados para os ornamentos que lotavam a pequena sala de sua casa. D. Laura, mãe de Karina, já percebera o sentimento da filha, mas ficava calada, preferia não tocar no assunto motivo de tal cena.

É que sete anos antes, Karina perdia seu pai num acidente de automóvel. Ainda uma criança, a menina recebeu a trágica notícia no momento em que ajudava a família a enfeitar um enorme pinheiro no quintal. É que Karina percebeu a correria desesperada de sua mãe e de seus irmãos mais velhos. A pequena, que segurava uma bola vermelha brilhante, assistia a tudo atônita. A alegria contagiante da família dava lugar a uma gritaria assustadora. Uma gota caía sobre o reflexo de seu rosto na bola.

De lá para cá, Karina, agora com treze anos, passa a chorar toda vez que monta uma árvore de Natal. Era impossível não lembrar dos momentos, embora poucos, que passara com o pai. Karina lembrava dos Natais anteriores à tragédia, nos quais recebia presentes de um Papai Noel falante e brincalhão – que era seu pai.

Separando as bolinhas para a árvore, Karina resolvia falar.

- Sete anos, não é, mamãe?

- Minha filha, esqueça isso. É Natal, tempo de alegria...

- Eu sei, eu me lembro de papai e...

- Eu também me lembro muito de seu pai, Karina. É inevitável. Mas pense o quão brincalhão ele era. Você acha que ele gostaria de te ver assim?

- Eu...

- Então? Dê-me uma bolinha azul, anda.

- Aqui.

Karina enxugava as lágrimas. D. Laura. sorria ao ver os dentes alvíssimos da filha.

- Está tão bonita a minha filha! – dizia D. Laura a fim de quebrar logo aquele clima.

E aquela mãe, apesar de levar a fama de coruja, não mentia. Karina tinha os cabelos loiros na altura do meio das costas. Eles eram tão lisos que para qualquer enfeite se manter sobre eles era um custo. Quando D. Laura lhe fazia tranças, a menina virava uma sensação; não tinha quem não comentasse. “Que menina mais linda!”, diziam. E quando sorria? Era angelical a forma como seus olhos verdes evidenciavam o brilho de sua dentição perfeita. Quando de costas, devido à sua estatura elevada em relação à idade, Karina mais parecia uma moça. Mas bastava ela mostrar o rostinho de anjo para se constatar estar frente a uma criança, na verdade. Enfim, uma menina “de comercial de TV”. Os três irmãos de Karina, todos já casados, morriam de ciúmes da pequena, que sequer beijara alguém, coitadinha. Tudo o que ela fazia era estudar, ajudar a mãe em alguns afazeres e ler. Karina lia bastante, cerca de um livro por semana, desde que se alfabetizou.

Naquele instante, um desses irmãos de Karina, o Paulo, o mais novo dos três, telefonava para a mãe.

- Mãe?

- Oi, Paulo, tudo bom?

- Sim, tudo ótimo. E vocês, tudo bem?

- Sim, tudo bem. Karina está aqui me ajudando com a árvore de Natal.

- Hum... Chorou?

- Um pouquinho, não é, Paulo? Como sempre. Mas já passou.

- Que bom. Pergunte se ela não quer ir ao shopping comigo e com Daniele. Eu passo aí em vinte minutos.

Daniele era a esposa de Paulo.

- Karina, minha filha – dizia D. Laura –, quer ir ao shopping com Paulo e Daniele?

- Que horas?

- Em vinte minutos.

- Você termina a árvore sozinha, mamãe?

- Claro. Deixe comigo.

* * *
Conforme o combinado, Paulo e a esposa buscavam Karina. Pelo caminho, o casal elogiava a roupa da menina, que se encabulava. Paulo era um irmão muito divertido, assim como fora o pai. Dos irmãos, Paulo era o que mais atenção cedia à Karina, que, logicamente, adorava sua companhia.

Nos corredores iluminados do shopping, os três conversavam, faziam compras e tomavam sorvetes. Foi quando Paulo, em meio aquela alegria toda, disse:

- Está feliz, não é, Karina?

- Sim! Adoro vocês! Adoro a companhia de vocês!

- Minha mãe me disse que você estava triste...

- Não estava triste, Paulo. Ela te disse isso?

- Sim. Disse que você chorou na montagem da árvore, como em todos os anos. Não foi?

Karina cessou o caminhar, respirou fundo, lambeu o sorvete de forma despreocupada e:

- Sim, chorei, irmão. Mas se você me trouxe ao shopping a fim de que eu esquecesse o papai, cometeu um grande erro. Para mim, é muito prazeroso lembrar dele. Ao contrário do que pensam você e mamãe, eu adoro montar a árvore de Natal.

- ...

- Olha! Que vestido lindo, irmão! Ali, naquela loja!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

PAPAI NOEL ME DEU UM QUEBRA-CABEÇA

Dezembro já se encontrava pela metade, o que significava que pelo menos boa parte dos jovens e crianças já estava de férias. Possuída por todos aqueles sentimentos de final de ano, a mocidade enfeitava as praças, as ruas, os shoppings. Os sorrisos, os cabelos a voar, as roupas coloridas, tudo se movia numa harmonia que até nós adultos, que ainda estávamos trabalhando a todo vapor, nos sentíamos contagiados.

Pode parecer pequeno, mas o mais bacana dessa época, para mim, é poder abrir a janela do escritório e observar como tudo parece estar mais vivo que nos outros onze meses. Sim, nós temos o carnaval, mas não é a mesma coisa. Embora os outdoors apelem por estéticas de um Natal que não é o nosso, fazendo sempre o uso de figuras que remetem ao frio e de pessoas com a pele tão branca quanto os flocos de neve também explorados, o bronzeado das pessoas que passam apressadas e as pernas e costas nuas são o que predominam e o que fazem todo esse clima me tomar o peito.

Em minha hora de almoço, fui até a uma praça, aqui no Centro mesmo, assistir a uma cantata de Natal. As cadeiras enfileiradas acomodavam algumas poucas pessoas, que como eu estavam ansiosas pela pequena apresentação. Fazia um calor absurdo. As roupas brancas das crianças refletiam como espelhos. O suor que escorria daquelas testas causavam um estranho contraste ao tentarmos comparar tal cena àquelas tantas vezes vistas nos filmes americanos. Um menino chorava e reclamava.

- Essa roupa pinica! – dizia ele aos prantos.

Uma das professoras ria e ao mesmo tempo tentava acalmá-lo. Era uma mulher linda. Apesar do par de óculos e do aparelho nos dentes, aquela professora foi capaz de me chamar muito a atenção. O jeito como ela tratava as crianças, sempre com um bom humor invejável, fez com que eu sentisse vontade de ser um de seus alunos, pelo menos por alguns minutos. Foi quando avistei em meio às crianças o meu afilhado, o Lucas. Virei a cabeça e logo avistei Valéria, minha irmã.

- Valéria! Não sabia que o Lucas cantaria!

- Não? Achei que ele tivesse te avisado, Vladimir!

- Não. Vim aqui por acaso.

- Esse menino...

Nos acomodamos e conversamos um pouco sobre aquelas coisas que os irmãos conversam quando se encontram: a saúde dos pais etc.

- Valéria, aquela moça ali de vermelho é a professora do Lucas?

- É sim, a Paulinha. Ela é um amor!

- Estou vendo.

Eu a respondi de forma tão tola que:

- Ih... Já sei! Achou ela “uma gracinha”, não foi?

- Ah... E não é?

- Verdade. Ela é uma gracinha mesmo. Mas está noiva, meu irmão.

- Uma pena.

Lógico! Uma professorinha como a “Paulinha” iria estar sozinha por quê? Dos óculos e do aparelho eu já disse, mas não descrevi o restante. A Paulinha tinha os cabelos na altura do pescoço, negros, e que brilhavam como espelhos, diga-se de passagem. A pele estava levemente bronzeada, o que gerava uma combinação perfeita com as cores de sua roupa – uma calça jeans escura bem justa, uma blusa vermelha de botões e uma sandália na mesma cor da blusa.

Pouco antes das crianças subirem para o pequeno palanque montado ao centro da praça, a professorinha veio até Valéria.

- Ih, ela está vindo até nós – eu dizia.

- Comporte-se, Vladimir, deve ser para falar algo sobre o Lucas, ora.

- Espero que não.

- Palhaço!

A Paulinha chegava até nós. Devo dizer que quanto mais ela se aproximava, mais admirado eu ficava. É que eu tinha sempre o receio de que minha miopia me enganasse em relação à beleza das mulheres. Mas não tinha engano. Ela era realmente linda. O seu falar adocicado a deixava ainda mais atraente.

- Valéria! Tudo bom? – disse a professorinha.

- Tudo ótimo! Como está o Lucas? Nervoso?

- Um pouco, mas é normal.

- É, ele nem dormiu essa noite, coitadinho.

- Imagino.

- Ah! Esse aqui é o meu irmão. Vladimir, Paulinha. Paulinha, Vladimir.

- Encantado! – eu disse mais que encantado.

- Prazer – disse ela sem demonstrar o mesmo.

Apertamos nossas mãos.

- Valéria – continuava Paulinha –, queria lhe entregar o convite de meu casamento. Será dia 15 de janeiro.

- Ah! Que maravilha, Paulinha! Estarei lá, com certeza!

Elas conversaram mais um pouco e logo Paulinha voltava para o seu trabalho com as crianças.

- Posso te perguntar uma coisa, irmã? – eu disse.

- Pode, irmão.

- Você acha que um dia encontrarei um grande amor?

- Ora, por que não?

- É que quando eu acho que encontrei, descubro que alguém o encontrou primeiro. É sempre assim.

Valéria me olhou como quem pensa: “Meu irmão já está beirando os quarenta e cinco anos. Acho que não tem mais jeito. A ingenuidade o atrapalha tanto”.

Naquele dia, fui para casa carregando Paulinha no pensamento. É como se eu tivesse posse de somente duas peças daquele quebra-cabeça, que eram o visual e o falar de Paulinha. Todas as outras peças, segundo minha irmã, eu só teria acesso depois de a conhecer melhor.

Besteira minha tentar buscar as outras peças. Farei como sempre faço: num cantinho especial do coração, guardarei as duas peças junto às outras tantas encontradas.

No Natal, tive o prazer de, na casa de minha irmã, atender um telefonema de Paulinha.

- A Valéria está? – dizia-me ela com aquela voz inconfundível.

- Não, ela deu uma saída, mas já volta. Eu sou o irmão dela, Paulinha. Tudo bom?

- Ah, sim! Tudo! Bom, eu ligo mais tarde se der. É que tomarei um avião em instantes. Mas de qualquer forma, um feliz Natal para vocês, OK?

- Para você também, Paulinha.

E foi só.

domingo, 6 de dezembro de 2009

O DIA DO NASCIMENTO

Naquele ano, eu passaria o Natal sozinho. É que eu estava em São Paulo a trabalho, e minha família é toda do Rio. Não tive escolha. Estava fotografando umas modelos para uma revista que já deveria estar pronta em meado de dezembro. Mas estava sendo bom para mim, já que eu estava recém separado de minha esposa, e esse clima todo de fim de ano costuma abalar minhas estruturas sentimentais – a distância veio bem a calhar.

No dia 24, fiz algumas fotos durante a manhã, mas às onze horas dispensei toda a equipe e fui direto para o hotel. Diferentemente do Rio, eu acho, em São Paulo choveu e fez até frio. Por isso, passei a tarde assistindo TV e dando goladas num vinho que comprara pelo caminho. A TV, claro, estava um porre. Desenhos bíblicos, filmes com temas natalinos, programas de auditório em versões especiais... Senti falta foi do cheiro de rabanada, que sempre tomava minha casa nos tempos em que morava com mamãe.

Anoiteceu. Como eu não estava a fim de passar o Natal na cama de um hotel, fui para a rua em busca de alguma alma solitária como a minha. Uma das modelos chegou a me convidar para dar um pulo na casa dos pais dela, mas achei que seria mais xarope ainda; inventei uma enxaqueca.

Passei por um bar pouco movimentado. Havia alguns casais e algumas pessoas sozinhas também. Eu entrei e logo avistei um bumbum pequenino a rebolar. A menina caminhava em minha direção; vinha do balcão com duas cervejas nas mãos.

- Chegou na hora certa, cara – ela dizia.

- Hora certa para quê?

- Para me ajudar com isso aqui – ela se referia às bebidas.

- OK.

Sentamos então em uma mesa que acabava de esvaziar. Numa noite de Natal, o que eu perguntaria àquela menina, a fim de começar um papo? O óbvio, claro:

- Por que passas o Natal sozinha?

- Porque sou sozinha. E na verdade prefiro assim.

- Então, deixe eu me retirar...

- Não, fique aí, cara. Eu me refiro à família. Bando de hipócritas.

- Algo de errado com sua família?

- Com todas as famílias, não? Elas ficam alienadas com todo esse comércio do Natal, se sentem forçadas a agirem de forma “agradável” com você. Como se nós devêssemos ser bons uns com os outros somente em dezembro.

- A minha família não é assim. Não estou com eles porque estou aqui a trabalho, mas...

- Carioca?

- Sim. Como soube?

- O excesso de “S”.

Começava então ali uma discussão na qual, de um lado, eu lutava para prová-la de que ainda existia amor entre os seres humanos, e, do outro lado, ela insistia em dizer que o mundo estava destinado a sumir em meio à guerra.

A conversa foi ficando cada vez mais fervorosa. Ela não aceitava o meu ponto de vista e, entre um cigarro e outro, me chamava de alienado.

- O que você faz da vida? – ela perguntava.

- Sou fotógrafo.

- Sabia! Você contribui para toda essa mentira natalina!

- Sim, talvez, mas é o meu trabalho, ora! Fotografo modelos lindas! Inclusive, você poderia ingressar nessa carreira!

- De fotógrafa?

- Não! De modelo!

Ela era uma menina linda! Magra, alta, uns vinte e três anos, no máximo. Cabelos maltratados e pintados de vinho, sim, mas isso tinha até como corrigir. Suas pernas eram longas e bem torneadas; estavam escondidas numa calça jeans bem justa, mas consigo perceber uma estrela até coberta em chamas. Ela ainda calçava um tênis e vestia uma simples blusa de malha.

- Você está me chamando de... – ela dizia com raiva.

- De linda, ora!

Ela então segurou a garrafa no intuito de me acertar a cabeça. Segurei sua mão a tempo e lhe disse:

- Olha, você pode me acertar essa garrafa na testa e continuar com a sua teoria de guerra entre os povos. Mas se preferir, você pode me dar um beijo e, dessa forma, concordar comigo que ainda exista amor no fim do frasco.

Ela me olhou com olhos de... Ah, se eu tivesse com a câmera! Olhou-me com olhos de paixão! Aquela menina de semblante de poucos amigos não ouvia um pedido daquele havia anos, no mínimo. Convidou-me para conversar porque viu na minha blusa da Lacoste um distintivo de alienação. Mas suas palavras de ódio não foram suficientes.

No dia 25 de dezembro daquele ano, nua em minha cama, nascia uma nova menina; não uma salvadora, como Jesus, mas uma salva!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

TEMPORADA DE DEZEMBRO

Durante todo o ano, eu fico cercado por um volume enorme de notas fiscais, telefones frenéticos... É que na empresa de transportes na qual trabalho as tarefas são mal divididas. Dessa forma, o que seria prático para duas pessoas resolverem se torna extremamente difícil para apenas uma. É um trabalho que me consome muito, de janeiro a novembro.

Sempre no mês de dezembro, mais precisamente a partir do dia 2, entro de férias. Mas como nunca gostei de ficar sem ter o que fazer, me junto a dois amigos, o Beto e o Jonas, que, coincidentemente, também tiram férias no último mês do ano, formamos uma banda, a Jazz Christmas, e entramos numa curta temporada num bar de um terceiro amigo meu, o Luizão. Há uns seis anos que fazemos isso.

Eu poderia falar aqui da qualidade de nosso repertório – que procura apresentar temas natalinos no formato jazz –, da quantidade de whisky que ingerimos durante todo o mês doze, ou até mesmo das gargalhadas que damos sempre que erramos algum tema. Mas preciso contar sobre uma pessoa muito especial, que durante os seis anos em que a Jazz Christmas se apresenta não perde uma nota sequer. O nome dela é Mônica Lisboa.

Mônica, quando começou a frequentar os nossos shows, era ainda uma menina, tinha seus dezessete anos, talvez. Sempre acompanhada de uma amiga que carregava o tédio nos olhos, Mônica se sentava na primeira mesa; e ali ficava a cantarolar todos os temas – eu podia notar seus lábios se mexendo em sincronia com minha guitarra.

Quando ela apareceu pela primeira vez, eu já tinha os meus vinte e sete anos. Beto e Jonas me colocavam certa “pilha” para que eu me aproximasse da jovem. Não podia! Embora solteiro, via nos nossos dez anos de diferença um abismo enorme. Sentia-me mal com os conselhos dos rapazes. Como já dito, eu calculava uns dezessete anos para ela, mas Mônica poderia ter ainda menos.

- Gente, ela gosta de jazz! Só isso! – eu dizia.

- Não! – dizia-me Beto – Ela gosta é de você!

- Besteira! Uma menina!

- Meninas viram mulheres, Rodrigo, sabia disso? – dizia-me agora o Jonas.

- OK! Quando ela virar uma mulher, eu penso no assunto! Agora, vamos tocar!

A verdade é que, todo ano, quando me deparava com aquele bar totalmente decorado com enfeites de Natal, antes mesmo dos temas que tocaríamos mais tarde, os olhos de Mônica se faziam presentes em meus pensamentos. Eu só sabia o nome dela porque, na primeira noite do Jazz Christmas, há seis anos, ela veio até a mim e se apresentou. Depois disso, apenas sorrisos e olhares; ela na mesa e eu no palco.

No ano passado, a Mônica, já com seus 22 anos, estava em sua mesa a nos assistir, como sempre. A diferença é que, ao invés de uma menina – que de certa forma já me criava certo desconforto –, havia ali uma linda mulher. Seus olhares já não vinham mais seguidos daqueles sorrisos infantis e nem daquela mão a apoiar o queixo abobalhado. Seus olhares tinham objetivos; eram penetrantes e convidativos.

Quando eu me preparava para tocar “Here Comes Santa Claus”, o Beto saltou da bateria e foi até o microfone que ficava ao centro do palco.

- Gente, gente! Para o próximo tema, “Here Comes Santa Claus”, gostaríamos de chamar ao palco Mônica Lisboa!

A menina, assustada, levou a mão à boca; não esperava pelo convite. Na verdade ninguém ali esperava.

- Ficou louco? – eu disse ao Beto.

- Louco você vai ficar quando ouvir a voz dessa mulher, Rodrigo! Vai por mim!

Mônica, ainda sem entender, subiu ao palco.

A verdade é que Mônica Lisboa já era considerada um fenômeno no bairro, e eu nem sabia. Ela já se apresentava inclusive no Jazz Bar, acompanhada pelo excelentíssimo guitarrista Alfredo Ramos. O excesso de trabalho por várias vezes nos distancia das coisas boas que acontecem ao nosso redor.

Preciso dizer que Mônica cantou “Here Comes Santa Claus” divinamente? Eu, boquiaberto, parei de tocar na metade da música; deixei a harmonia por conta do órgão de Jonas. Ela conseguiu arrancar pelo menos dois minutos ininterruptos de aplausos – sem contar os litros de saliva que de mim escorreram.

Depois disso, ela voltou à sua mesa e assistiu ao restante do show. Mas a bagunça já fora feita; minha concentração fora para o brejo. Eu estava ali completamente apaixonado pela voz e pela alma de Mônica, mas segui a apresentação.

* * *
Ao fim, fui até Mônica, antes que ela se retirasse do bar.

- Mônica!

- Sim!

- Obrigado pela “canja”. Foi magnífica!

- Eu que agradeço! Realizei um sonho!

- Que sonho? Sonhava em tocar com a gente?

- Sonhava em tocar com você!

A frase me vinha como uma flecha, bem no peito.

- Fico feliz de... – eu gaguejava.

Mônica me interrompeu tocando meus lábios com os seus.

- Para onde você vai? É Natal, e... – eu dizia depois do beijo.

- Para minha casa, ora! Meus pais me esperam.

- Mas... Eu te esperei por seis anos...

- Não! EU te esperei por seis anos!

- Amanhã, se não estiver em família, podemos almoçar, que tal?

- Claro!

- Pode ser aqui mesmo?

- Claro!

- Às 12h, então!

- Às 12h!

- Feliz Natal, então!

- Já está sendo... Feliz Natal para você também – ela dizia a sumir pela porta do bar.

Naquela noite, diante de tantas emoções, não dormi. Fiquei, talvez, a esperar a chegada de Papai Noel. Porque voltei ali a ser criança com o beijo de Mônica. E ela cantando “Here Comes Santa Claus”, meu Deus!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PRESENTE

- E onde eles moram? – eu perguntava à Ana com lágrimas nos olhos.

Ana passaria o Natal na casa de seus avós, em Minas Gerais. Tudo bem, se nosso namoro não estivesse num misto de paixão incendiária e tesão adolescente. Eu só via Ana ao meu redor; da chaminé da fábrica à flor do meu jardim, tudo era Ana. Eu não conseguia me concentrar em absolutamente nada. E saber que passaria duas semanas sem os beijos de Ana me fazia preferir a morte. Juro!

A Ana possuía uma presença em minha alma que era possível senti-la à distância. Mas eu tinha certeza de que não estava disposto a sentir tal presença estando ela em Minas Gerais, mesmo que por míseros quinze dias; eu não aguentaria.

Os seus cabelos, sempre soltos, eram negros, lisos e escorriam até a altura dos ombros, que por sua vez mostravam uma pele morena clara e coberta de pintinhas. O rosto de Ana possuía beleza rara. Não que ela fosse uma miss, mas suas expressões faciais demonstravam uma personalidade tão apaixonante, que a busca pelo desvendamento de seu íntimo se tornava um objetivo cego dos seres que a conhecia.

Pode parecer exagero toda essa descrição sobre Ana, mas, acredite, as palavras se tornam falhas diante de tantas qualidades. Sentia que meu coração só batia de verdade ao lado dela. Enfim, eu estava perdidamente apaixonado e louco por Ana – o auge de tudo de mais belo que já sentira em minha vida.

- Quinze dias, Ana? – eu perguntava.

- Infelizmente... – respondia-me Ana com seu lábio inferior à frente do superior; uma espécie de “biquinho”.

Era incrível como seus dezoito anos se dividiam perfeitamente entre a inocência bela de uma menina e a sensualidade avassaladora de uma mulher. Eu estava em suas mãos. Essa era a verdade.

- Seus pais pensariam na hipótese de eu... ir junto?

- Jamais, Gabriel. Você sabe que nem a favor de nosso namoro eles são!

- Entendi... Na certa querem mais é que você se apaixone por um mineiro rico.

- Isso é verdade...

- Ah?!

O quê? Ela acabava de concordar com o fato de seus pais estarem lutando para a nossa separação. O reconhecimento aparentemente ingênuo de Ana me fez parar e pensar por alguns segundos. Até que:

- E você acha isso provável? – eu perguntava – Você se apaixonando por outro homem?

- A gente nunca sabe, não é? Eu não quero, mas... – respondia-me fria, mas não menos doce.

- Tudo bem. Eu confio em você! – eu dizia.

- Que bom, Gabriel!

- E quando irão?

- Amanhã à noite.

- OK.

* * *
Como combinado, Ana viajava com os pais para Minas Gerais. Deixava-me com a certeza de somente vê-la no dia 2 de janeiro. Seriam os piores quinze dias de minha vida, mas eu estava disposto a aguentar. Aguentaria porque a amava da forma mais louca e cega possível.

Durante os quatro primeiros dias de sua ausência nós nos falamos bastante, sempre pela manhã, ao telefone. Ela me dizia o quanto estava sendo difícil aguentar nossa distância; chegou até a chorar, no terceiro dia, me lembro.

No quinto dia, estranhamente, Ana não me telefonara. No sexto dia, completamente sem saber o que fazer – tamanha doença romântica que tomava meu peito –, apenas esperei. À noite, o telefone tocava. Era o pai de Ana.

- Gabriel? Podemos falar com a nossa filha? Sabemos que ela está aí!

- Como? Não estou entendendo!

- Não se faça de imbecil, Gabriel! Quero falar com minha filha, chame-a!

- Senhor, ela não está aqui! Ontem, inclusive, ela não me telefonou.

- Rapaz, você me escute bem! A Ana sumiu daqui, creio que na noite de ontem! Deixou um bilhete dizendo que não aguentava mais de saudades suas e que estava voltando para o Rio. Que história é essa, rapaz?

- Eu não sei de nada, senhor! Acredite em mim! Ela não me falou nada sobre voltar para o Rio!

Um silêncio terrível tomou a conversa de repente.

- OK! – ele desligava o telefone na minha cara.

Os dias foram passando e eu não obtinha notícias de Ana. Não tinha noção do que estava acontecendo, mas algo me dizia que não era nada bom. O jeito foi chorar e esquecer que o mundo existia. Pelo menos até o dia 2 de janeiro, quando procuraria os pais de Ana na casa deles.

No dia 2, chegando lá, encontro uma família tomada por um luto furioso. Isso porque Ana teria tomado um ônibus para o Rio, mas o mesmo se envolvera num terrível acidente, deixando ela e mais dez vítimas fatais. Os pais de Ana já estavam no Rio antes mesmo do Ano Novo. O corpo de Ana, já cremado – conforme ela mesma vivia pedindo –, sequer pude ver.

Por conta disso, Natal e Ano Novo, para mim, não se comemora mais. Nessa época do ano, é como se eu voltasse àquele ano e vivesse todo aquele sofrimento novamente. Mas uma coisa eu nunca deixei de sentir, um minuto sequer: sua presença em minha alma.