Como
adiantei no capítulo anterior, a gente já vinha compondo material para um
próximo EP, e nesse lance a banda contava com duas frentes de ação: uma era eu,
com a ideia fixa de compor um disco inteiro tratando do mesmo tema – influência
clara dos discos do King Diamond –, e a outra era Rodrigo e seu primo Wagner.
Durante
esse período a banda passou a ensaiar com menos frequência e as discussões
sobre o futuro da Over Action estavam sempre na pauta das conversas que eu
tinha com Rodrigo ao telefone – Rodrigo e eu costumávamos passar horas ao
telefone conversando sobre diversos assuntos, mas quase sempre era sobre a
banda mesmo.
A
gente vinha recebendo algumas críticas sobre o vocal de Rodrigo, mas também, no
fundo, achava que tal estranhamento por parte das críticas era bobagem; que
Rodrigo tinha, sim, o que melhorar, mas que estava no caminho certo, assim como
todo o restante da Over Action. Mas, com esse assunto de “um novo vocalista”
nos rondando tanto, creio que chegou um momento em que o próprio Rodrigo
começou a questionar-se como vocalista. É aquela velha história: água mole em
pedra dura...
Nesse
mesmo tempo, sabe-se lá o porquê – na verdade eu sei, mas deixa pra lá –,
Andrea deixava os vocais da Awake. A notícia chegou até nós pelo Flávio, dono
do estúdio onde a Over Action e a Awake ensaiavam. Acho que todos nós pensamos
a mesma coisa: e se a Andrea viesse para a nossa banda?
Sinceramente,
eu não me recordo de quem chegou em quem, ou seja, se nós fizemos o convite, se
ela se ofereceu para o cargo ou se o próprio Flávio tratou de nos unir. Só sei
que num belo dia a Andrea apareceu em um de nossos ensaios para conhecer melhor
a nossa proposta.
Tocamos
nossas músicas, batemos um papo e parece que a vocalista de pele alva e cabelos
artificialmente ruivos curtiu bastante. Até que um trato se fez presente:
–
OK! Façamos o seguinte – disse-nos Andrea –, no próximo ensaio, vocês tocam “On Must Surfaces”, do The Gathering, e eu canto uma do repertório de vocês.
Ótimo!
Mas que diabo era The Gathering? Acho que ali no estúdio só o Leo conhecia,
porque curtia esse lance de Doom Metal. Enfim, tivemos que conhecer a banda
holandesa, afinar a sexta corda de nossas guitarras em ré e tirar, nota por
nota, todo o arranjo de “On Must Surfaces” – ótima música, diga-se de passagem!
Fizemos
então um ensaio anterior ao que faríamos com Andrea SÓ para essa música. Lembro
que curtimos muito executá-la, pois tinha uma levada diferente do que
costumávamos compor e tocar. Serviu-nos como um desafio.
No
dia marcado, lá estava Andrea para o nosso teste. Nosso, sim, porque também
estávamos sendo testados. Afinal, Andrea queria saber se estávamos à altura da
Awake – e dela também, talvez.
Primeiro
resolvemos tocar a música do The Gathering. A gente estava muito afiado.
Lembro-me do semblante surpreso de Andrea ao executarmos de forma idêntica os
primeiros acordes de “On Must Surfaces”. Bastante empolgada com a situação, a
ruiva soltou seu vozeirão e, claro, se saiu muito bem.
OK!
Missão cumprida! Mas faltava a parte dela no trato. Era chegada a hora de
Andrea cantar uma música nossa. Se não me engano, a escolhida fora “The Winner”
ou “The Last Dance”. E adivinha só o que aconteceu! Um fiasco...
A
gente não ouvia a voz dela e ela esquecia a letra com facilidade. Acho que
alguém ali não fizera o dever de casa. Na certa Andrea nem esperava que
cumpríssemos o trato com tanto afinco e acabou relaxando.
No
balanço final, acabamos achando que era um problema de tonalidade; afinal, a
música havia sido composta para uma voz grave, masculina, e não o oposto.
Perdoamos a falha e Andrea fazia agora, oficialmente, parte da Over Action. Não
sei como a Awake encarou tal notícia, mas não recebemos nenhum tipo de
comunicado por parte deles.
Com
isso, as composições de Rodrigo e Wagner começavam a rumar para algo que ia de
encontro ao estilo vocal de Andrea. Riffs
mais pesados e cadências mais lentas eram o foco dos dois primos. Eu continuava
na minha obsessão em dar continuidade à história contada em “Spiritual Hole”,
mas sem muito sucesso.
Confesso
que, mesmo diante de uma mudança bacana na estrutura da banda, o cansaço e a
urgência de tomar um rumo mais sério para a minha vida me pegavam de jeito. Eu
sofria – e sofri até meus últimos ensaios com bandas, em 2008 – de um mal que
apelidei de “depressão pós-ensaio”. Logo após os encontros semanais, a minha
vontade era sempre a de sair, largar tudo. O que me manteve nessas bandas foi mesmo
o meu autocontrole.
Nesse
período de incertezas, acabei me aproximando mais de uma paixão antiga: o
violão clássico. Paralelamente à Over Action, eu compunha algumas peças para
uma suíte chamada “Vale das Flores”, uma espécie de trilha sonora para um
pequeno texto que havia escrito. Eu também já tocava em algumas bandas de Pop e
meus ouvidos já entravam num processo de enjoo de distorções muito pesadas.
Dos
ensaios com Andrea me recordo muito pouco – talvez, por eu já não estar mais
tão presente. Mas me lembro das situações embaraçosas, como quando Andrea não
conseguia assimilar as (complexas) linhas vocais das novas canções compostas
por Rodrigo. Era o início de uma pequena guerra entre os dois.
[Continua]
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