Não adianta. Não me vem à cabeça o nome de nenhum dos professores que tive na vida – meus cinquenta e sete anos não deixam; exceto o de Valéria. Professora Valéria! Como poderia me esquecer deste que é o nome da promessa mais antiga de felicidade que tive? Promessa esta que nunca foi cumprida. E que é, talvez, a causa de meu único sofrimento.
Fui casado. Quatro vezes. Tenho cinco filhos e duas netas lindas! Mas se me perguntas sobre o amor, ah!, aí eu só tenho respostas que levam ao nome de Valéria, minha professora de violino na faculdade de Música. Como fui capaz de me casar quatro vezes? Ora, a vida colocou algumas pessoas em meu caminho, e, quando me dava conta, lá estava eu casando novamente. Casamentos não passam de contratos movidos à paixão; amor mesmo não gera nada, só sofrimento.
Eu digo isso em relação ao amor porque acredito que amores nunca se encontram de verdade. Numa relação a dois, no máximo um ama! Nunca os dois amam! Talvez, meus últimos três casamentos tenham fracassado pelo fato de eu não saber esconder o amor que eu não sinto. Estas mulheres me amaram, e disso eu sei, mas nunca as amei; eis o problema. No meu quarto e atual casamento venho melhorando na arte de interpretar o bom amante; isso já dura sete anos.
Valéria, a professora, nunca me amou. Eu a amei. E como acredito, desde a minha adolescência, na “minha teoria sobre o amor” – aquela dita há pouco –, ao perceber naquela época o meu sentimento por Valéria, sabia que este não teria futuro algum.
Em minha última aula com Valéria, antes desta viajar para a Inglaterra, toquei um dos caprichos de Paganini; não me recordo qual exatamente, mas sei que foi o mais melancólico dos vinte e quatro. Os olhos daquela professora se encheram de lágrimas. Assistindo sua fragilidade, ali, bem na minha frente, resolvi então me declarar:
- Não vá para a Europa, professora!
- Não há mais o que fazer aqui, Augusto! – disse Valéria – O meu futuro está lá. Há uma orquestra me esperando, entende?
- Há muito mais aqui para você do que uma simples orquestra, professora!
- E o que há?
- Eu! Eu te amo, Valéria!
Valéria foi tomada por um silêncio de cinquenta e quatro segundos.
Até que:
- Fico feliz que ame o meu trabalho, Augusto!
- Surda? Estás surda? Eu disse que te amo! Quero você!
Depois daquela frase, observei cada linha de seu semblante, cada característica física, e concluía que, naquele momento, ela já não estava mais no Brasil; sua pele alva, seus olhos verdes, seus cabelos louros sob um lenço azul; ela já parecia européia, o que me fez sentir sua ausência antecipadamente.
- Adeus, Augusto. Se cuide – disse Valéria friamente.
Foi a última vez em que a vi.
Anos mais tarde, um primo meu também foi morar na Inglaterra. Dei a ele a missão de me mandar notícias de alguma “violinista famosa chamada Valéria”.
- Não é tão fácil achar alguém por aqui, Augusto – dizia meu primo pelo telefone.
- Mas ela não é simplesmente “alguém”! Ela foi para aí tocar numa grande orquestra! Procure nas orquestras! Nas grandes!
- Augusto, a única violinista chamada Valéria que, por acaso, eu encontrei, tocava numa esquina, aqui em Londres, em troca de moedas. Mas não deve ser a mesma que procuras, não é?
- ...
- Augusto?
- ...
- Augusto? Você está me ouvindo?
- Esqueça, primo. Obrigado.
Covardia? Talvez. Mas a verdade é que nunca mais, apesar de todo o amor que ainda me arde o peito, tive coragem de ir atrás dela. Eu a amei, ela não me amou. Ela amou a música, mas parece que a música não a amou. Minha “teoria sobre o amor” se mantém firme.
Fui casado. Quatro vezes. Tenho cinco filhos e duas netas lindas! Mas se me perguntas sobre o amor, ah!, aí eu só tenho respostas que levam ao nome de Valéria, minha professora de violino na faculdade de Música. Como fui capaz de me casar quatro vezes? Ora, a vida colocou algumas pessoas em meu caminho, e, quando me dava conta, lá estava eu casando novamente. Casamentos não passam de contratos movidos à paixão; amor mesmo não gera nada, só sofrimento.
Eu digo isso em relação ao amor porque acredito que amores nunca se encontram de verdade. Numa relação a dois, no máximo um ama! Nunca os dois amam! Talvez, meus últimos três casamentos tenham fracassado pelo fato de eu não saber esconder o amor que eu não sinto. Estas mulheres me amaram, e disso eu sei, mas nunca as amei; eis o problema. No meu quarto e atual casamento venho melhorando na arte de interpretar o bom amante; isso já dura sete anos.
Valéria, a professora, nunca me amou. Eu a amei. E como acredito, desde a minha adolescência, na “minha teoria sobre o amor” – aquela dita há pouco –, ao perceber naquela época o meu sentimento por Valéria, sabia que este não teria futuro algum.
Em minha última aula com Valéria, antes desta viajar para a Inglaterra, toquei um dos caprichos de Paganini; não me recordo qual exatamente, mas sei que foi o mais melancólico dos vinte e quatro. Os olhos daquela professora se encheram de lágrimas. Assistindo sua fragilidade, ali, bem na minha frente, resolvi então me declarar:
- Não vá para a Europa, professora!
- Não há mais o que fazer aqui, Augusto! – disse Valéria – O meu futuro está lá. Há uma orquestra me esperando, entende?
- Há muito mais aqui para você do que uma simples orquestra, professora!
- E o que há?
- Eu! Eu te amo, Valéria!
Valéria foi tomada por um silêncio de cinquenta e quatro segundos.
Até que:
- Fico feliz que ame o meu trabalho, Augusto!
- Surda? Estás surda? Eu disse que te amo! Quero você!
Depois daquela frase, observei cada linha de seu semblante, cada característica física, e concluía que, naquele momento, ela já não estava mais no Brasil; sua pele alva, seus olhos verdes, seus cabelos louros sob um lenço azul; ela já parecia européia, o que me fez sentir sua ausência antecipadamente.
- Adeus, Augusto. Se cuide – disse Valéria friamente.
Foi a última vez em que a vi.
Anos mais tarde, um primo meu também foi morar na Inglaterra. Dei a ele a missão de me mandar notícias de alguma “violinista famosa chamada Valéria”.
- Não é tão fácil achar alguém por aqui, Augusto – dizia meu primo pelo telefone.
- Mas ela não é simplesmente “alguém”! Ela foi para aí tocar numa grande orquestra! Procure nas orquestras! Nas grandes!
- Augusto, a única violinista chamada Valéria que, por acaso, eu encontrei, tocava numa esquina, aqui em Londres, em troca de moedas. Mas não deve ser a mesma que procuras, não é?
- ...
- Augusto?
- ...
- Augusto? Você está me ouvindo?
- Esqueça, primo. Obrigado.
Covardia? Talvez. Mas a verdade é que nunca mais, apesar de todo o amor que ainda me arde o peito, tive coragem de ir atrás dela. Eu a amei, ela não me amou. Ela amou a música, mas parece que a música não a amou. Minha “teoria sobre o amor” se mantém firme.