segunda-feira, 30 de julho de 2012

OS BASTIDORES DOS BASTIDORES: A minha história numa banda de Heavy Metal – Parte II


Enquanto eu fosse um zero à esquerda com os instrumentos musicais, o mais próximo que eu poderia chegar daquilo tudo que eu sonhava fazer um dia era assistir aos ensaios da Dark Side e, junto com os caras, curtir os shows das outras bandas locais.

Da Dark Side apenas o Rodrigo era de Niterói, o restante era de São Gonçalo. Eu não sei dizer exatamente o porquê, mas na cidade deles sempre rolou mais espaço para as bandas de rock que na nossa Niterói. Sendo assim, era para lá que eu ia nos fins de semana, enquanto todos os amigos da minha rua rumavam para o famoso Pagode da Telerj. Era final dos anos 90, e coisas terríveis tomavam conta das rádios e dos eventos de música ao vivo.

Havia uma banda muito conhecida, tanto em Niterói quanto em São Gonçalo. A Eternal Flame. Era engraçado ler os “nomes artísticos” de seus integrantes na K7 demo deles, algo como Alan Hortz, Leonardo Packness, Douglas Mitchell... Mas o fato é que eles eram bons! O Alan Hortz se virava no “embromation”? Sim, mas eles eram bons! Eles se preocupavam mais com o visual do que com as músicas que executavam? Sim, mas eles eram bons! Sabe por que eles eram tão bons? Porque eles lotavam os espaços com gente que gritava “Flame! Flame! Flame!”. Entende?

Certa vez, embarcamos eu, os caras da Dark Side e mais alguns amigos em um ônibus lotado dessas pessoas que gritavam “Flame! Flame! Flame!” e seguimos até a uma extinta casa de shows em Piratininga, Niterói, chamada Por do Sol, se não me engano. A Eternal Flame estava entre os dez finalistas de um concurso de bandas. Nelson Hortz (pai de Alan Hortz e empresário da banda) tratou, então, de levar todo e qualquer ser que vestisse preto e fosse capaz de gritar “Flame! Flame! Flame!” para uma espécie de torcida organizada.

Foi bacana. Gritamos “Flame! Flame! Flame!” até não ouvirmos mais a nossa própria voz, apesar de entre nós haver um outro favorito a levar o prêmio: a banda Out Of Reality. Esses caras eram bons! Muito bons! Tocavam perfeitamente a complexa “Holy Wars... The Punishment Due”, do Megadeth. E eles nem traziam pessoas gritando “Reality! Reality! Reality!”, o que fazia deles, apenas por isso, muito melhores que a Eternal Flame.

Não lembro quem venceu o concurso, mas lembro de sairmos de lá com o dia amanhecendo, com fome (sim, porque éramos uns duros!) e com sono, muito sono. A volta para casa mais parecia um velório. Nelson Hortz não aceitava ter perdido aquele prêmio. Azar dele, mas sorte nossa, que tivemos a oportunidade de ver que havia muito mais que a Eternal Flame por aí.

Nunca mais soube da Out Of Reality. Exceto quando eles, meses depois, tocaram num festival que rolou em uma rua fechada de São Gonçalo, próximo à lendária loja de instrumentos Melody, junto com mais uma pá de bandas bacanas. A Eternal Flame também estava no line up desse festival, só que dessa vez com o Henrique em uma das guitarras! Bem, mas isso é uma outra história, que contarei mais adiante.

A Dark Side seguia com seus ensaios e, de acordo com os comentário de Renato na escola, percebia que a coisa ia tomando mais forma, ficando mais séria. Os caras evoluíam a cada semana e a inclusão de músicas como “Future World”, do Helloween, no repertório era a prova disso. Os primos guitarristas Rodrigo e Henrique estavam cada vez mais entrosados. Cada nota, cada bend, tudo era muito bem ensaiado e supervisionado pelo perfeccionismo – e ouvido quase absoluto – de Rodrigo. Leonardo e Renato, a cozinha da banda, ou seja, a bateria e o contrabaixo respectivamente, apesar das frequentes divergências e discussões, também demonstravam evolução.

A Dark Side chegou a ter um vocalista, mas este eu não cheguei a conhecer. Sendo assim, Henrique improvisava nos vocais. Chegaram, inclusive, a se apresentar no extinto Conexão do Chopp, no Barreto, Niterói, com essa formação. No início desse show:

– Boa noite, galera – dizia Henrique –, nós somos a Dark Side (...) E gostaria de dizer que não sou o vocalista da banda...

Lembro de estar em uma mesa com amigos da banda, e um deles, não me lembro bem quem, soltou entre nós: “Henrique tirando o dele da reta!”, para riso de todos.

Henrique até que se saiu bem. E ele possui a gravação desse show histórico! Gravação esta que se destaca pela famosa “pose estática” de Rodrigo.

– Se contornarmos o Rodrigo com uma caneta na tela da TV, veremos que ele não saiu do lugar! – dizia Renato às gargalhadas, todas as vezes em que assistíamos aquela filmagem.

Mas também não era para menos. O palco do Conexão do Chopp era tão minúsculo, mas tão minúsculo, que quando a Sigma (uma das melhores bandas cover do Metallica que já assisti) tocou por lá, só coube a bateria – um kit de dois bumbos, uma réplica da Mapex usada por Lars Urich na época. Os outros músicos tocaram no chão.

Ah! E nessa gravação este que vos escreve também aparece, fechando o show cantando “Breed”, do Nirvana. Com a cabeça raspada e dono de um “embromation” capaz de colocar o mestre Alan Hortz no chinelo, eu mais parecia uma mistura bizarra de punk com skin head.

Bons tempos.

Bons porque foi no Conexão do Chopp que eu pude conhecer um monte de banda legal, como a já citada Sigma. Também conheci bandas divertidíssimas, como a Power Guido (e seu hit “I Don’t Know”), e até bandas muito “inspiradoras”, como a Yolk, formada por quatro meninas gatíssimas da Zona Sul de Niterói.

Eu continuava sem saber fazer sequer um dó maior em instrumento algum. Mas a cada dia mais envolvido com aquela coisa toda de bandas e shows, a vida de zero à esquerda estava próxima, mas muito próxima do fim.

[Continua]

2 comentários:

Rodrigo disse...

Caraca!! A parte 2 me fez dar muitas risadas! Eu lembro bem do Por do Sol com a Eternal Flame. Foi histórico isso. E sair de lá já de manhã, cheio de fome e sono... caralho... nem lembro como cheguei em casa. hahahah
MUITO BOM seu texto!!!

Rodrigo disse...

E Henrique querendo tirar da reta, e eu igual a uma estátua, também causa bastante diversão em nós até hoje! hauhauhauahuahauhauahu