Enquanto
eu fosse um zero à esquerda com os instrumentos musicais, o mais próximo que eu
poderia chegar daquilo tudo que eu sonhava fazer um dia era assistir aos
ensaios da Dark Side e, junto com os caras, curtir os shows das outras bandas
locais.
Da
Dark Side apenas o Rodrigo era de Niterói, o restante era de São Gonçalo. Eu
não sei dizer exatamente o porquê, mas na cidade deles sempre rolou mais espaço
para as bandas de rock que na nossa
Niterói. Sendo assim, era para lá que eu ia nos fins de semana, enquanto todos
os amigos da minha rua rumavam para o famoso Pagode da Telerj. Era final dos
anos 90, e coisas terríveis tomavam conta das rádios e dos eventos de música ao
vivo.
Havia
uma banda muito conhecida, tanto em Niterói quanto em São Gonçalo. A Eternal
Flame. Era engraçado ler os “nomes artísticos” de seus integrantes na K7 demo
deles, algo como Alan Hortz, Leonardo Packness, Douglas Mitchell... Mas o fato
é que eles eram bons! O Alan Hortz se virava no “embromation”? Sim, mas eles
eram bons! Eles se preocupavam mais com o visual do que com as músicas que
executavam? Sim, mas eles eram bons! Sabe por que eles eram tão bons? Porque
eles lotavam os espaços com gente que gritava “Flame! Flame! Flame!”. Entende?
Certa
vez, embarcamos eu, os caras da Dark Side e mais alguns amigos em um ônibus
lotado dessas pessoas que gritavam “Flame! Flame! Flame!” e seguimos até a uma
extinta casa de shows em Piratininga, Niterói, chamada Por do Sol, se não me
engano. A Eternal Flame estava entre os dez finalistas de um concurso de
bandas. Nelson Hortz (pai de Alan Hortz e empresário da banda) tratou, então,
de levar todo e qualquer ser que vestisse preto e fosse capaz de gritar “Flame!
Flame! Flame!” para uma espécie de torcida organizada.
Foi
bacana. Gritamos “Flame! Flame! Flame!” até não ouvirmos mais a nossa própria
voz, apesar de entre nós haver um outro favorito a levar o prêmio: a banda Out
Of Reality. Esses caras eram bons! Muito bons! Tocavam perfeitamente a complexa
“Holy Wars... The Punishment Due”, do Megadeth. E eles nem traziam pessoas gritando “Reality! Reality! Reality!”,
o que fazia deles, apenas por isso, muito melhores que a Eternal Flame.
Não
lembro quem venceu o concurso, mas lembro de sairmos de lá com o dia
amanhecendo, com fome (sim, porque éramos uns duros!) e com sono, muito sono. A
volta para casa mais parecia um velório. Nelson Hortz não aceitava ter perdido
aquele prêmio. Azar dele, mas sorte nossa, que tivemos a oportunidade de ver
que havia muito mais que a Eternal Flame por aí.
Nunca
mais soube da Out Of Reality. Exceto quando eles, meses depois, tocaram num
festival que rolou em uma rua fechada de São Gonçalo, próximo à lendária loja
de instrumentos Melody, junto com mais uma pá de bandas bacanas. A Eternal
Flame também estava no line up desse
festival, só que dessa vez com o Henrique em uma das guitarras! Bem, mas isso é
uma outra história, que contarei mais adiante.
A
Dark Side seguia com seus ensaios e, de acordo com os comentário de Renato na
escola, percebia que a coisa ia tomando mais forma, ficando mais séria. Os
caras evoluíam a cada semana e a inclusão de músicas como “Future World”, do
Helloween, no repertório era a prova disso. Os primos guitarristas Rodrigo e
Henrique estavam cada vez mais entrosados. Cada nota, cada bend, tudo era muito bem ensaiado e supervisionado pelo
perfeccionismo – e ouvido quase absoluto – de Rodrigo. Leonardo e Renato, a
cozinha da banda, ou seja, a bateria e o contrabaixo respectivamente, apesar
das frequentes divergências e discussões, também demonstravam evolução.
A
Dark Side chegou a ter um vocalista, mas este eu não cheguei a conhecer. Sendo
assim, Henrique improvisava nos vocais. Chegaram, inclusive, a se apresentar no
extinto Conexão do Chopp, no Barreto, Niterói, com essa formação. No início
desse show:
–
Boa noite, galera – dizia Henrique –, nós somos a Dark Side (...) E gostaria de
dizer que não sou o vocalista da
banda...
Lembro
de estar em uma mesa com amigos da banda, e um deles, não me lembro bem quem,
soltou entre nós: “Henrique tirando o dele da reta!”, para riso de todos.
Henrique
até que se saiu bem. E ele possui a gravação desse show histórico! Gravação
esta que se destaca pela famosa “pose estática” de Rodrigo.
– Se
contornarmos o Rodrigo com uma caneta na tela da TV, veremos que ele não saiu
do lugar! – dizia Renato às gargalhadas, todas as vezes em que assistíamos
aquela filmagem.
Mas
também não era para menos. O palco do Conexão do Chopp era tão minúsculo, mas
tão minúsculo, que quando a Sigma (uma das melhores bandas cover do Metallica
que já assisti) tocou por lá, só coube a bateria – um kit de dois bumbos, uma
réplica da Mapex usada por Lars Urich na época. Os outros músicos tocaram no
chão.
Ah!
E nessa gravação este que vos escreve também aparece, fechando o show cantando
“Breed”, do Nirvana. Com a cabeça raspada e dono de um “embromation” capaz de
colocar o mestre Alan Hortz no chinelo, eu mais parecia uma mistura bizarra de
punk com skin head.
Bons
tempos.
Bons
porque foi no Conexão do Chopp que eu pude conhecer um monte de banda legal,
como a já citada Sigma. Também conheci bandas divertidíssimas, como a Power
Guido (e seu hit “I Don’t Know”), e até bandas muito “inspiradoras”, como a
Yolk, formada por quatro meninas gatíssimas da Zona Sul de Niterói.
Eu
continuava sem saber fazer sequer um dó maior em instrumento algum. Mas a cada
dia mais envolvido com aquela coisa toda de bandas e shows, a vida de zero à
esquerda estava próxima, mas muito próxima do fim.
[Continua]
3 comentários:
Caraca!! A parte 2 me fez dar muitas risadas! Eu lembro bem do Por do Sol com a Eternal Flame. Foi histórico isso. E sair de lá já de manhã, cheio de fome e sono... caralho... nem lembro como cheguei em casa. hahahah
MUITO BOM seu texto!!!
E Henrique querendo tirar da reta, e eu igual a uma estátua, também causa bastante diversão em nós até hoje! hauhauhauahuahauhauahu
Fala Luciano, beleza? Nem sei se voce vai ler isso, ja que se passaram praticamente 13 anos desde a publicacao haha. Meu nome eh Felipe e sou (era, sei la) o baixista da Out Of Reality. Aqueles shows no Por do Sol foram muito bons (tocamos umas 3x naquele concurso de bandas). O concurso em si foi marmelada pura, tava armado ja (segundo disseram). Bateu moh saudade ao ler esse texto, putzzz, bons tempos!
Compusemos 8 musicas naquela epoca e tal... o link com as musicas vai logo abaixo, caso queira escutar. :)))
Grande abraco,
Felipe
https://www.reverbnation.com/outofreality/songs
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