quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A MINHA VEZ DE APRENDER II

Ana Paula e eu passávamos aquele final de 2007 nos vendo praticamente todos os dias. Com certeza o melhor mês de dezembro da minha vida. A cada dia que passava eu me sentia mais dela e vice-versa. Quanto à sua família, eu só conhecia o irmão dela, aquele que me apresentara na praia, o qual também jamais vi novamente. Eu queria conhecer os pais dela, mas acreditava que seria um choque. Eu não sei o que faria se tivesse uma filha de vinte e seis anos que me apresentasse um namorado de cinqüenta e poucos. Então eu preferia deixar que ela determinasse a hora certa para tal.

Alguns alunos e amigos, quando me encontravam pela rua, com ou sem Ana Paula, me diziam que eu estava aparentando menos idade do que possuía. É que na verdade meu semblante carregava então um sorriso que parecia me rejuvenescer. Era a alegria de um coração expresso em olhares e gestos joviais. Eu estava feliz e todos ao meu redor notavam isso.

- Você não sabe o bem que estás a fazer a um cara como eu, Ana Paula.
- Eu posso imaginar. Acha que são apenas os seus amigos que notam tal mudança?
- Você também nota?
- Claro que sim, meu amor.
- Eu estou muito feliz, sabia?
- Eu também estou, Cristóvão. Acreditas em mim?
- em você!
- Que bom, pois precisava que acreditasse em mim mais do que nunca agora.
- Por quê?
- Escute, Cristóvão. Eu preciso passar uma semana no Canadá.
- No Canadá? Para quê?
- Uns problemas de família. Possuo umas tias por lá e aconteceu uma coisa meio chata...
Ana Paula se entristecia e ensaiava um choro.
- Não chore. Olha, não precisa me contar o que houve se não quiser. OK?
- São coisas de família, Cristóvão. Só isso.
- Eu entendo. E quando vai?
- Preciso partir em no máximo duas semanas, mas preciso levantar um dinheiro. Meus pais estão desempregados, e...
- Se quiser eu posso ir com você.
- Não. Melhor não. Não será um passeio nada agradável, Cristóvão.
- Bom. E em que eu posso ajudar?
- Não sei se pode.
- Precisa de dinheiro, não é?
- Sim, mas...
- Olha. Eu pago as passagens para você.
- Mas não é justo, Cristóvão.
- Não é hora de falarmos em justiça. Você aceita, não é?
- Ora, Cristóvão. Aceito, vai. Mas eu vou lhe pagar. Eu prometo.
Ela me abraçava.

Uma semana depois, Ana Paula partia para o Canadá. Eu achava estranho estar apenas eu naquele aeroporto.
- Onde está a sua família, Ana Paula?
- Eles preferiram não vir. Detestam despedidas.
- Seja como for... Bem, espero que faça boa viagem. Mantenha-me informado sobre ti, OK? Mande e-mails. Tome isso.
Eu a presenteava com um laptop.
- Você é um amor, sabia?
Ela me dizia.
- Seu avião. Vá. Eu te amo, viu?
- Eu também te amo!
Ela partia.

Nos primeiros dias, Ana Paula me mandava e-mails contando tudo desde o momento em que chegara no Canadá. Eu sentia uma saudade enorme. Não pensava que aquele amor fosse tão forte.

No quinto dia, Ana Paula não mais se comunicava. Eu mandava várias mensagens, mas ela não respondia. Começava então a pensar que algo de ruim poderia ter acontecido com ela. Pensava em entrar em contato com os pais dela, mas me lembrava que sequer sabia onde Ana Paula morava exatamente. Só sabia o nome do bairro. A empolgação realmente me fazia não ter muitos cuidados com os detalhes. Sentia-me solitário numa ilha.

Oito dias se passavam e nada de notícias de Ana Paula. Eu já não dormia mais. Meus compromissos de início de ano foram ficando cada vez mais tumultuados, pois eu não conseguia me concentrar em mais nada a não ser no real estado de Ana Paula. Eu chegava a cogitar a hipótese de pegar um vôo para o Canadá, mas eu não tinha o endereço de suas tias naquele país. Seria loucura.

No décimo dia, Ana Paula finalmente me dava notícias suas. Não conseguia me conter ao ver uma mensagem dela na caixa de entrada. Mas a euforia durava muito pouco.

Cristóvão,

Primeiramente, me desculpe pelos dias sem me comunicar. Bem, venho através desta lhe dizer que não mais voltarei para o Brasil. Esta viagem estava planejada há anos e somente através de ti pude realizá-la. É que o grande amor da minha vida vive aqui há quatro anos e o meu sonho sempre foi o de me casar e viver com ele.

A história que lhe contei sobre o motivo de minha vinda, minhas tias etc., foi tudo mentira. E em relação aos meus pais, na verdade eles nem sabem que estou aqui. Ainda estou criando coragem para contar a eles. Espero que não esteja com vontade de me matar e que me entenda.

Tu foste muito útil a mim, Cris.

Segue anexa uma foto.

Beijos. Fique bem.


Ali eu tinha real noção do quanto eu não conhecia Ana Paula. Ela foi fria durante todo o tempo. Enganou-me. Todos aqueles beijos, aquelas noites. Tudo mentira. Ela em si era uma mentira. E eu a mais pura verdade. Era a minha vez de aprender com aquele erro imbecil. Meu coração ficava em pedaços quando resolvia abrir a foto anexa ao e-mail: Ana Paula abraçada ao namorado. Ambos sorrindo. Ao fundo, diferente do nosso pôr do sol, um céu cinza e uma rua coberta de neve. Um clima frio como Ana Paula fora comigo.

[Continua]

10 comentários:

Kayo Medeiros disse...

Premeeeeeero!

Cara, esses teus caras só se lascam... O.o

Mó deprê, brow... XP

Anônimo disse...

:O
to bege!

Unknown disse...

ana paula é uma menina MÁ!
rs

Erich Pontoldio disse...

O nome dela pelomenos é Ana Paula mesmo?

Janaina W Muller disse...

Por essa eu não esperava. Eu adorei! Eu to achando mesmo que eu tenho alguma coisa de cruél dentro de mim, pq eu to amando esse finais não felizes...deixa tudo mais interessante :D E a curiosidade continua!

Abraços.
='-'=

Marcelo disse...

Meu irmão, seus textos são demais.

http://tchannannan.blogspot.com/

Livia Queiroz disse...

A Ana P. Pegou pesado com o coitado do Crist´vão...
aff Usou mesmo!!!

Adoro seus contos!!

bjoks

Bravo disse...

Os caras derrotados sempre são personagens interessantes. As prostitutas, tb!
Ótima a idéia de criar capas para as histórias,
PARABÉNS,

olheasnuvens.zip.net

Anônimo disse...

coitado do velho. huahuahua
Tudo bem que ela fez isso por amor mas se aproveitou demais do tiozinho.
aguardo a continuação :*

Vanessa Sagossi disse...

Ah, tadinho...
Mas o que ele esperava? Devoção eterna?
Pelo menos o dinheiro que ele investiu, rendeu antes, se é que me entende.. heheh