
Eu esperava por um telefonema daquela que, com seu jeito esperto de me convencer, guiava-me por caminhos de sua própria escolha. Eu só sabia gostar, querer, amar. O resto era com ela. Transformava meu “não” em “sim” e vice-versa. Passeava de salto alto sobre meu coração. Quando não o limpava tão pontiagudo da lama que trazia neles. Meu peito era seu tapete, seu chão, seu canto reservado para as mágoas. Eu só sabia gostar, querer, amar. Tudo era com ela.
Dez horas do dia 24. O telefone tocava e meu peito latejava como que num renascer da mais profunda idéia de solidão. Somente ela me ligava. Ninguém jamais discara meu número. A menos para as notícias ruins. A morte de minha mãe foi uma delas. Caminhava emocionado em direção ao aparelho que se esgoelava a me chamar.
- Alô – eu atendia.
- Oi. Sou eu. Não fica chateado, mas não nos veremos no Natal, OK?
Ela me esfaqueava sem dó. Uma frase cortante.
- Mas...
- Vou passar na casa de uns amigos. Amanhã à noite nos vemos. Está bem?
- Amigos? Entendi. Eu vou ficar por aqui mesmo.
- É bom mesmo. Aquele concurso que tentarás tem provas em janeiro, não é? Aproveite para estudar.
- Sim. É o que vou fazer.
- Bem, vou indo. Até amanhã.
- Feliz Natal, meu amor.
- Ah... Sim... Feliz Natal.
Nunca sentira tamanho desânimo. Na verdade sentira, mas é que somente naquele momento caía pesada ficha de que eu nada era para ela. Nada.
Sentia-me como um enfeite de Natal. Ela me pusera em sua árvore de mentiras, apagava as luzes e saía com suas luminosas verdades. Eu permaneceria ali até os Dia de Reis, quando me guardaria numa caixa até o próximo Natal...
Não estudei droga alguma. Peguei uma folha em branco, uma caneta e compus uma canção.
Age como a luz negra
Faz a confusão ser um bem pra si
Adiando o não de um fim
Vive a me dizer estrelas
Que de tanto alcançá-las diz:
Seja meu pra ser feliz
O que me resta é ser
O seu enfeite de Natal
E no Dia de Reis
Você vai me colocar numa caixa e então, guardar
Sem direito a ser ou não ser
Sem direito a lhe dizer
O que sinto ou não ao ver você
Mesmo sendo assim
Leve o meu coração com o seu feliz
Pois pra mim está tudo bem
Depois, fui dormir.
* * *
Ouça Luciano Freitas com “Enfeite de Natal”.
Foto da capa por Gabriel Andrade.
7 comentários:
Meu... sei lá, acho que é muita vontade mesmo de ser feito de capacho. Credo.
feliz ele, não? ....
depois, foi dormir!
Putzzzz...
Ki Natal o dele hein?
pelo menos caiu em si e ki bela canção, embora seja triste!
Adoreiiiii
P.S.: Andei sumida, Falta de tempo, mas to voltando aos poucos...
bjokss
poxa coitado :/
achei um belo conto, a música que ele fez me lembrou a uma do Nirvana.
Podia ter continuação =D
Bem, "coitado" em parte né...se é pra ficar com uma mulher assim, ele estaria bem melhor sozinho --'
Abraços.
='-'=
Continuação!
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