segunda-feira, 27 de julho de 2009

MALA DE PAPELÃO SEM ALÇA NA CHUVA

Nunca foi muito fácil para mim aguentar uma roda de amigos. Principalmente se nela estivessem aqueles cuja boa situação financeira era posta à mesa em todo e qualquer papo que se jogasse por ali. Isso me deixa extremamente sem assunto, já que de tal situação eu não conheço sequer o cheiro.

Olhar nos rostos de todos ali e acreditar que tivemos a mesma oportunidade, porém, cada um soube aproveitá-la à sua maneira, é duro. “Ele fez por merecer” é o que devemos pensar todas as vezes que esses assuntos são jogados à mesa? Eu já pensei muito dessa forma. Mas isso me fazia mal, porque eu começava a pensar no que eu não havia feito para merecer a falta de assunto, a mudez diante do sucesso alheio.

Não que eu seja invejoso; muito pelo contrário: eu quero mais é ver todo mundo bem. Mas todo mundo mesmo! Mas a vida não é assim. Sendo dessa forma, sou obrigado a pensar que para alguns se darem bem outros precisam se dar mal. O que seria do bolso dos patrões sem o lamento mensal de seus operários sobre seus míseros salários de fome? Eu, infelizmente, concluo que faço parte desses lamentadores, porém, que bebe cerveja com os patrões de outros também lamentadores.

Certa vez, num bar, numa dessas torturantes rodas, um amigo me perguntou:

- E aí Felipe, o que tem feito?

Aquele sorriso que vinha junto à frase me fazia mais mal que a própria pergunta.

- O de sempre, ora – eu me referia ao meu velho emprego de contínuo.
- E quando vai mudar, cara? Está na hora, não?
- Estou correndo atrás disso, Guilherme. Terminei agora o meu curso de montagem e manutenção de PC. Vamos ver se isso me ajuda.
- Tem chances de crescer na empresa onde trabalha? – de novo aquele sorrisinho.
- Não. Lá eu não quero ficar. Pretendo sair de lá o mais breve possível.
- Isso aí. Vou te ajudar nessa. Como trabalho nesse ramo – ele se referia ao seu excelente emprego de chefia numa produtora multinacional de softwares –, vou te passar uns endereços para que possa enviar seus currículos. Prepare bastante deles, OK?
- Poxa! Obrigado, Guilherme! Mesmo!

Alguns dias depois, Guilherme me encontrava no mesmo bar. Ele trazia em sua pasta cerca de dez folhas repletas de endereços.

- Aqui, Felipe! Os endereços que lhe falei!
- Nossa! São muitos! Nem sei como agradecer! Não conseguiria levantar todas essas empresas, cara.
- Tudo bem... Só peço que mande seus currículos pelo correio, sim? É mais profissional! Os nomes das pessoas para as quais deve endereçar estão abaixo de cada endereço.
- OK! Farei isso! Muito obrigado, Guilherme!

Pedi para um amigo meu, que trabalha numa gráfica, imprimir cerca de cem currículos. Tive que comprar envelopes, caneta, e dedicar boa parte dos meus dias a preencher destinatários. Eram muitos.

Enviei cinquenta e sete currículos de uma vez só. Foram trinta e sete reais e cinco centavos gastos nos correios; uma boa fatia de meu salário, diga-se de passagem.

Alguns dias se passaram e as primeiras ligações começaram a surgir.

Uma:

- Alô!
- É o Felipe? – perguntava-me um homem de voz afeminada.
- Sim!
- Olha, recebi o seu currículo, mas você não mencionou aqui qual a sua experiência no “babado”, meu amor!
- O quê? “Babado”?
- É!

A pessoa desligava.

Outra:

- Alô!
- É o Felipe? – perguntava-me uma senhora.
- Sim!
- Só aceitamos meninas, OK? Mas se você quiser se divertir conosco...
- O quê? Como assim?

Desligava.

Mais outra:

- Alô!
- Felipe? Do currículo? – perguntava-me uma mulher de voz atraente.
- Sim, sou eu!
- Na foto você está uma gracinha, mas será que serve para o emprego? Tem que saber ceder, meu bem! Você sabe?
- Ah?!

Desligava aos risos.

Intrigado com tal situação, eu fui até um dos endereços que Guilherme me passara. Ao chegar à porta do “escritório”, li uma placa com letras enormes que dizia “Clube 745”. Não precisei entrar para entender que se tratava de uma casa de prostíbulo.

De lá, passei em mais dois endereços dados por Guilherme; mais duas casas de prostituição.

Pensei no tempo e no dinheiro que perdi entrando na dica de Guilherme. Liguei imediatamente para ele.

- Guilherme! Que história foi aquela dos endereços?
- Hahahaha... Já foi chamado para alguma entrevista?
- Não teve graça, cara! Nenhuma!
- Ah, relaxa, Felipe! Foi só uma brincadeira! Eu te achei tão tenso naquele dia no bar! Você precisa relaxar mais!

Desliguei o telefone na cara dele. Lógico.

É impressionante como o bom humor, o astral elevado e o espírito esportivo parecem ser virtudes apenas daqueles dispostos de tempo para praticá-las. Eu, que já não possuo tempo nem para o mau humor, preciso mesmo de alguém para atrapalhar o que já anda difícil?

O ânimo de outrora se transformara num ódio ainda mais perturbador. Pior: ele me consome ainda hoje.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro amigo,

ao conhecer sua música no recanto das letras lhe escrevo solicitando que forneça-nos um link para download,

é um muito bom trabalho,

Júlio

Luciano Freitas disse...

Caro Júlio,

Te procurei lá pelo recanto das letras, mas não há sequer um link que me levasse até você rs.

Bem, segue os links para download de alguns de meus trabalhos musicais:

www.myspace.com/lucianofreitas
www.palcomp3.com.br/lucianofreitas

Espero que volte aqui para ler os links..rs.

Livia Queiroz disse...

tadinho dele...moh sacana esse Guilherme rsrsrs