segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

IRA

João teve a ira de todos os demônios ao ver aquela que lhe dissera ser o amor eterno em forma de esposa aos beijos com Arlindo, seu vizinho. Por mais real que fosse sua vontade de arrancar com as próprias mãos os olhos de Cassandra, tal cena lhe parecia ficção, pegadinha. João passou a mão no rosto como se quisesse acordar de um sonho ruim, mas o beijo entre Cassandra e Arlindo se tornava ainda mais impactante.

Talvez o fato de tal beijo se dar na varanda de sua própria casa tenha sido o causador maior de tamanha raiva – não admitiria uma coisa dessas de forma alguma, na vida ou na morte. João quis se aproximar, mas sentia suas pernas trêmulas travarem. Chegou a perceber os rostos de vizinhos sumirem rapidamente de suas janelas, embora alguns se mantivessem firme numa previsão de caos familiar, de entretenimento.

João venceu as pernas e foi até seu portão. O cansaço de um dia inteiro no canteiro de obras? Nem lembrava mais. Puxou forças do solo seco que pisava com a ira que já descrevi. A poeira que levantava no arrastar de suas sandálias gastas turvava um pouco a visão de traição tão descarada. Mas João manteve as vistas – o que ele tinha de melhor – bem focadas no flagrante.

João abriu o portão como uma flecha e:

- Que porra é essa?

Num susto sincronizado, Arlindo e Cassandra arregalaram enormes pares de olhos. João concluía rapidamente que tamanho descaramento não condizia com tal susto. Aquele casal de amantes parecia não dever satisfação nenhuma a ninguém. A vizinhança toda era testemunha daquela pouca vergonha e, consequentemente, da dor de João também.

Sem que houvesse resposta do casal, João acertou um soco na face de Arlindo. Cassandra, achando ingenuamente estar livre do monstro que tomava o marido, tinha seus cabelos puxados e seu corpo lançado ao chão. O quadril ossudo de Cassandra batia com força no piso vermelhão, emitindo assustador barulho.

Enquanto Cassandra se retorcia de dores, Arlindo, sem chances de reação, recebia uma série de socos de um João já fora de controle. Um sangre grosso escorria de Arlindo e se misturava ao tom daquele piso. As mãos de João também sangravam muito.

Cansado de tanto bater, João se distanciou dos dois. O que ele viu foi um Arlindo com o rosto totalmente deformado cuspindo dentes. Viu também Cassandra, que berrava de dores.

Ainda tomado pela cólera, João foi até Cassandra, levantou seu rosto pelos cabelos e:

- Por que fez isso comigo, mulher? Por quê? E Maria, Cassandra? Não pensou em nossa filha? Ela vai crescer e vai saber disso tudo!

Cassandra, com o rosto banhado pelo sangue de Arlindo, com muita dificuldade, disse:

- Quero mais é que ela saiba! Você não sabe o quanto me sinto feliz, João, em te dizer, enfim, que Maria não filha sua! É de Arlindo!

8 comentários:

Nathalia disse...

SA-FA-DA!

tomara que tenha arriado o quadril e a cara do outro fique deformada pro resto da vida!
sou logo radical! ahahahaha

safia que tinha sangue - título e capa ajudaram...

Vanessa Sagossi disse...

Nossa que coisa, não!
Eita.
Que violência!

Unknown disse...

vixe...
tsc tsc tsc...

Anônimo disse...

tava sumida daqui...

Nossa, que horror!
Fico apenas com pena do marido traído e da filha que 'nada' tem a ver com isso.

Unknown disse...

Tava sumida mesmo, hein, Aninha!

Lucas disse...

Não sei de que lado fico.

A capa tá incrível e as descrições maravilhosas.

Abraço Luciano.

Yara Lopes disse...

nossa, o marido foi errado em bater, mas...
que mulherzinha hein

CAMILA de Araujo disse...

Um texto completamente diferente dos outros seus que eu li por aqui, em sua construção literal...
Mas caaaaara, MATAVA uma mulher dessas se fosse o João, tanto ódio que senti a Irá de joão em mim!