terça-feira, 24 de agosto de 2010

GABRIELA - O Labirinto Particular de Lysa - Parte 1

Na linha do tempo, esta série deve ser considerada antecessora à série Lysa23, publicada em junho de 2010. A leitura de Lysa23 não é pré-requisito para o entendimento desta série. Boa leitura.

- Ainda mato essa garota!

A voz tomada pela ira vem de Marly, uma mulher entregue ao alcoolismo e à falta de perspectiva. Quando soube da gravidez, aos dezesseis anos, Marly era a mais pura inocência, capaz de acreditar que o pai de sua filha as assumiria num ápice de felicidade. Seu mundo cor-de-rosa desabou quando viu virar as costas o namorado e, pior ainda, seu próprio pai.

Demorou alguns meses, mas, aos poucos, a visão encantada de Marly foi dando lugar a um entendimento forçado sobre o que de fato era a vida: dura e cruel. Sua sorte – se é que tal palavra pode ser de fato relacionada a esta fase de Marly –, estava em sua beleza física. Marly era uma jovem linda, que, apesar de ter apenas dezesseis anos, desenvolveu um poder de sedução ausente em muita mulher madura.

E foi através deste seu lado sedutor que Marly conseguiu um lugar sob o teto de Carlão – um cafetão do Centro da cidade que se dizia “perdidamente apaixonado” pelos olhos da jovem. Carlão, que já beirava os cinquenta, prometera à Marly que ninguém jamais tocaria num fio de cabelo seu. A promessa foi cumprida, mas só até Marly completar dezoito anos.

Obrigada a se prostituir (muitas vezes na presença da filha, a pequena Gabriela), Marly logo arruma um jeito de fugir e voltar à casa de seu pai, que, diante da neta e de todo o sofrimento vivido por Marly até então, resolve acolhê-las. A pequena Gabriela estava salva; cresceria num lar de verdade – pelo menos esse era o esperado.

A verdade é que Gabriela cresceu em meio a uma relação familiar bastante conturbada. Sua mãe nunca quis saber de trabalho – vivia às custas do pai desde que naquela casa aterrissou. O entra e sai de homens por conta de sua mãe era constante – cada um mais “promissor” que o outro – e muito embaraçoso também, já que algumas das cantadas e insinuações mais nojentas que Gabriela recebera na vida partiram deles.

Depois que o avô de Gabriela faleceu – quando esta tinha seus dezessete anos –, a desordem tomou conta de vez na casa e na vida de Gabriela. A solução era permanecer na rua o maior tempo possível e, dessa forma, se livrar das frequentes e constrangedoras situações causadas por uma mãe (constantemente bêbada).

- Ainda mato essa garota! – dizia a si mesma Marly sobre Gabriela.

Gabriela batia a porta com lágrimas nos olhos. É que a jovem, momentos antes, recebera de sua mãe a proposta mais asquerosa de toda a sua vida.

- Gabriela, esse cara me prometeu um ano de uísque se você... Uma noite, só isso! Sem penetração, sem nada! É um velho broxa – disse Marly.

Diante de situações como essa, o destino de Gabriela era um só: o apartamento de Lysa, sua melhor amiga.

Lysa era uma menina vinda do interior do estado; morava na capital – às custas dos pais – para estudar Administração de Empresas. As duas jovens se conheceram por acaso numa boate e, como Lysa não conhecia absolutamente ninguém no Rio de Janeiro, se tornaram rapidamente “unha e carne”.

Mas o que motivou a aproximação de Gabriela estava de fato na beleza estonteante de Lysa.

Sim. Gabriela, desde que se entende por gente, se denomina – até então não totalmente assumida – lésbica. Aventurava-se com alguns meninos, sim – e por isso, às vezes, se considerava bissexual –, mas tinha a convicção de que o sexo masculino só era capaz de lhe proporcionar diversão, nada mais que isso – talvez por conta dos péssimos exemplos que teve ao longo da vida.

Mas quem não se sentiria atraído por Lysa? Uma morena dona de um corpo capaz de enlouquecer até o Papa! Lysa era a mais interessante definição de sedução involuntária; digamos que mal vestida – pronta para dar “um jeitinho” na casa, por exemplo –, mesmo assim, Lysa faria com que o sujeito se masturbasse pelas próximas duas semanas sem parar. As pernas torneadas, os seios delicados... Enfim, uma verdadeira “princesa do campo” recém-instalada na cidade.

Gabriela também não ficava atrás, e, assim como sua mãe, sua sedução estava também presente no olhar. Mais ainda que no olhar, seu poder de atração estava na personalidade forte e na atitude sexy de se insinuar.

- Você não acredita na proposta que minha mãe acabou de me fazer, Lysa! – dizia Gabriela.

- Diga, Gabriela! Você está chorando?

- Porra! Ela quer que eu me deite com um velho em troca de bebida! Você tem noção?

- O velho é gato, pelo menos? – descontraía Lysa.

- Lysa?! Para uma menina “da roça” você está bem saída!

- Influência sua, amiga!

- Não é brincadeira, Lysa! Não posso mais com minha mãe! Não posso!

- Poxa, Gabriela, juro que se desse te oferecia um lugar aqui no apartamento, mas meus pais não me mandam tanto dinheiro e...

- Tudo bem, Lysa. Não se esquente! Você é uma fofa, viu? Eu vou dar o meu jeito, pode deixar.

- Sei que vai...

Bastavam alguns minutos na companhia de Lysa para Gabriela esquecer de seus problemas.

- Quero sair! – dizia Gabriela após enxugar as lágrimas.

- Hoje é sexta! – empolgava-se Lysa – Para onde vamos?

- Hummm... Já sei! Vamos numa festa foda, lá na boate daquele meu amigo, o Maurício?

- Pode ser! Vai ter muito homem por lá? Capricho no decote? – dizia Lysa fazendo gestos; quase mostrando os seios.

- Boa, Lysa! Capricha! – dizia Gabriela morrendo de vontade de abrir o jogo com a amiga.

A diversão estava garantida para as duas.

[Continua]

3 comentários:

CAMILA de Araujo disse...

AAAAAADOREI! ADORO A GABRIELA! MULHER DE PERSONALIDADE, AUTENTICA!

Muito triste a história da Gabriela, mas isso contribuiu para ela criar sua personalidade forte.

DL ;* disse...

agora dá pra entender porque a Gabriela é assim.. rs

;*

Vanessa Sagossi disse...

Ah, agora dá pra entender porque a Gabriela é assim, né?
Mas é triste mesmo assim.
Beijos