terça-feira, 21 de outubro de 2008

ACREDITE!

Eu quase não parava em casa. Trabalhava feito um escravo mesmo. Mas eu devia ser grato por tudo o que o meu emprego no ramo do comércio me havia dado: Varizes, dores na coluna, perda de memória, de audição e outras coisas. Minha esposa, Betina, ficava em casa cuidando da casa e de nossos dois filhos, o Pedrinho e a Priscila.

Eu devia ser muito grato por minha família – dessa vez falando sério –, pois Betina, além de ser uma companheira maravilhosa, educava os nossos filhos de maneira exemplar. Nunca tive queixas das crianças no colégio ou em qualquer outro lugar. Que criaturinhas divinas! Só me davam alegria. O Pedrinho era o artilheiro do meu coração. Batia um bolão. A Priscila, puxando o lado da mãe, tocava piano como uma concertista profissional. Tirava-me água dos olhos. Pena que às vezes eu parecia não lhes dar o merecido valor.

A minha cabeça vivia cheia de problemas no trabalho. O cargo de gerente de uma loja de eletrodomésticos do porte da qual eu trabalhava gerava “pepinos” enormes. Betina evitava me telefonar durante o expediente, porque, de cabeça quente, quase sempre eu acabava a tratando mal. Quase não, acho que sempre. Eu tinha noção do quão troglodita eu era naqueles momentos. Mas um certo dia, pela manhã, Betina não podia esperar eu chegar em casa.
- Emerson?
- Oi Betina, tudo bom?
- Mais ou menos.
- Não me telefonou para me trazer problemas, foi? Já me bastam os meus por aqui e...
- Mas é sério, Emerson.
- OK. Um instante. NÃO! MAIS QUE 10% DE DESCONTO EU NÃO TENHO COMO! Pode dizer, Betina.
- Está muito ocupado, amor?
- Sempre, Betina, mas pode falar.
- Acabei de receber um telefonema esquisito.
- Esquisito? Como assim?
- Um homem de voz rouca disse que vai matar você, Emerson. Estou muito nervosa.
- BETINA! VOCÊ ME LIGA PARA ISSO?
- Emerson, por favor! Eu fiquei preocupada com você!
- ESTÁ PREOCUPADA COMIGO? QUER ME AJUDAR? ENTÃO PARE DE LEVAR ESSES TROTES A SÉRIO! OK?
- Como quiser, seu monstro.
Emerson pensava no seu descontrole e se desculpava.
- Desculpe-me, Betina. Desculpe-me. Olha. Fica tranqüila, OK? Isso não passa de um trote de mau gosto. À noite conversamos. Beijos.
- Beijos.

À tarde, o telefone voltava a tocar em minha mesa.
- Sua esposa. Posso passar?
- Deus. Passa, vai.
- Emerson?
- Não, o Raul Gil. Ora, Betina.
- Pára de brincadeira, Emerson. É sério. Ele voltou a ligar.
- Ele quem?
Eu já havia até me esquecido, o que deixava Betina furiosa.
- Quem, Emerson? Você não se preocupa mesmo, não é? O tal homem da voz rouca.
- Ah sim. Perdão. E o que o engraçadinho disse dessa vez?
- Disse que vai seqüestrar as crianças.
- E você acreditou?
- Emerson, ele disse com riqueza de detalhes sobre o horário de entrada e saída das crianças, no colégio, no futebol, na aula de piano. Ele sabe de tudo, Emerson!
- Acalme-se, Betina. Isso é alguém que nos conhece e está a fim de curtir com sua cara. Aposto.
- Eu não penso dessa forma. Estou ficando com medo.
- Não precisa ficar com medo, Betina. Onde estão as crianças?
- No colégio.
- OK. Logo a rota os trará de volta. Foi só um trote. Acredite.
- OK, mas chegue um pouco mais cedo, por favor.
- Pode deixar. Chegarei mais cedo. Prometo.

À noite, como prometido, eu chegava em casa duas horas mais cedo que de costume e encontrava sua casa com todas as luzes apagadas. Coisa não muito normal àquela hora. Eu abria a porta devagar. Passava a acreditar na voz rouca que falara com Betina. Colocava as chaves com cuidado sobre a mesa da cozinha e chamava por Betina e as crianças.
- Betina. Você está em casa? Pedrinho? Priscila? Onde estão vocês?
Ninguém respondia. Eu passava a tremer.
- BETINA! TEM ALGUÉM EM CASA?
Eu acendia a luz da sala e...

- SURPRESA! Parabéns pra você...
Betina, Pedrinho, Priscila e outros familiares e amigos haviam me preparado uma festa de aniversário surpresa. Eu não lembrava daquela data. Caía feito um pato.
- Betina, por que me enganou dessa forma? Podia ter me matado do coração. Fiquei preocupado, sabia?
- Preocupado? Com o quê? Foi só um trote, Emerson. Come um bolinho, vai!

Que família maravilhosa eu tenho.

* * *
Foto da capa: Fabiana Romeo.

13 comentários:

Unknown disse...

asuhsauhshua adorei essa
me matei de rir
ja to acompanhando esse blog a um tempinho

Anônimo disse...

hehe !!! bom que teve um final feliz !!!!

Anônimo disse...

aaaaaaaaaahhh!! esse foi muito legal!
hahahahaa
adorei a resposta da betina no final.. rsrss

Anônimo disse...

ahahahahahahahahahahaho o selo "esse blog é MARA" foi O melhor. rsrs

Anônimo disse...

eu tava acreditando na Betina
uhauhauha;
gotei ;)

Livia Queiroz disse...

aaaaaaaaaaah

ufa!!

ki bom q tudo terminou bem..
Eu ja tava até com medo, e acreditando no tal voz rouca!

bjaum

Luciano Freitas disse...

hauuhuhauha

"Acreditem" ...rs

Anônimo disse...

"Foi só um trote, Emerson. Come um bolinho, vai!"

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

mas que surpresa de conto!


lu... não sei se elo o conto, ou se MORRODERIR com o selo MAARAA!!

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH

beijocas.

Yara Lopes disse...

Nossa eu tava aqui me roendo de medo e você me vem com isso
vai matar a todos de coração

ótimo conto

Marcio Sarge disse...

Ótimo texto! A tensão é tanta que o final é um alívio rs.

Kacau disse...

a calma da Betina no final foi fenomenal kkkkkkkk se ele não morreu do coração não morre mais bem feito, ri muito blog muito legal

http://messnatural.blogspot.com/

Janaina W Muller disse...

Eu já tava achando que um novo final trágico estava por vir...quando eu li o "eu passava a tremer" já imaginei que ia ter uma carnificina ao estilo "Jogos Mortais" na frente dele. hAUhauhUAHuhauHAUha, isso que dá assistir muito filme de terror :x

Mas agora, o" Que família maravilhosa eu tenho." foi ironico ou não? HAUHuahUH

Abraços.
='-'=

Vanessa Sagossi disse...

Huauua..
Eu também estava acreditando nela.. Mas estava pensando, se for verdade ia precisar de continuação, mas só tem um conto..
Muito bom isso!