sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A MINHA VEZ DE APRENDER III (Final)

Os meses se passavam e com muita dificuldade eu ia tirando a imagem de Ana Paula da cabeça. Dá para imaginar o estrago que uma jovem linda como aquela causara num velho como eu, não? Mas à medida que meus afazeres tomavam conta de minha vida novamente, a cura para aquela escara enorme que Ana Paula me deixara se apresentava com mais vigor. A curiosidade infinita pela economia por parte dos alunos daquele primeiro semestre de 2008 me ajudava muito a esquecer aquele episódio triste. Eu tinha a sorte de ver em meu trabalho uma espécie de bengala, ou melhor, um energético sentimental. Eu amava lecionar. Muito mais do que amei Ana Paula.

No fim de julho, eu recebia um e-mail daquela que nem mais me lembrava o tom de voz ou outros detalhes. Ana Paula intitulava sua mensagem com um “me ajude” em letras maiúsculas e diversos pontos de exclamação. A princípio, pensava em excluí-la sem sequer abri-la. Mas embora eu não mais a tivesse no pensamento ou no coração, o meu lado curioso falava mais alto. Lia.

Cristóvão,

Estou para lhe escrever há mais de um mês, mas faltava-me coragem. Só que a situação aqui no Canadá chegou a um extremo em que não sei mais o que fazer. Você não deve estar entendendo nada, por isso, vou explicar.

O Leonardo, meu namorado, mudou muito o seu comportamento de uns meses para cá. Está me agredindo muito e me mantendo praticamente em cativeiro, já que cheguei a ficar trancada dentro de casa por três semanas.

Ontem, Leonardo e eu fizemos as pazes novamente, mas eu na verdade só estou fingindo um bem-estar. O que quero é ir embora daqui o mais rápido possível, Cris.

Sei que você deveria ser a última pessoa a quem eu deveria pedir qualquer tipo de ajuda, mas entenda que eu só tenho você para me ajudar. Por conta de meu sumiço, minha família não quer mais saber de minha existência. Preciso fugir daqui, Cris. Preciso de você!

Fico no aguardo.

Ana Paula.

Confesso que, após ler por várias vezes a mensagem de Ana Paula, eu não sabia o que fazer. Não sabia nem até que ponto eu deveria confiar nas palavras dela novamente. Uma pessoa que mentira para mim daquela forma, em dezembro, não era merecedora de créditos futuros. Mas eu estava ali apontado como único capaz de ajudá-la e tudo aquilo poderia ser, sim, a mais pura verdade. Mas e se não fosse? A confusão tomava minha mente por vários minutos.

Ao fim da mensagem, Ana Paula informava o número de seu telefone celular. Depois de duas horas de indecisão, resolvia ligar, mas de um aparelho que restringia o meu número.

O telefone chamava umas quatro vezes quando:
- Hello!
A voz de um homem aparentemente irritado me atendia. Para que ele não suspeitasse de mim, afinal, eu acreditava que o tal Leonardo tinha total conhecimento de minha existência, a existência de um idiota que bancara a felicidade de Ana Paula, eu tinha de falar em inglês com o sujeito.
- [Alô! Eu poderia falar com a Ana Paula?]
- [Ana Paula? Quem gostaria?]
Precisava inventar um nome, sei lá.
- [Aqui quem fala é o Steve.]
- [Que Steve?]
- [É a respeito de um emprego. Ela está?]
- [Emprego?] Não está falando do Brasil, está?
Encrencava-me.

No mesmo instante, a voz de Ana Paula vinha à mente ao ouvi-la tomar, aos berros, o telefone das mãos de Leonardo.
- VOCÊ DISSE QUE NÃO IRIA MAIS SE METER COM AS MINHAS LIGAÇÕES, LEONARDO!
Ela dizia.
- OK. Tome. Mas vou querer saber quem é esse tal de Steve!

- Hello!
Ana Paula me atendia ofegante.
- [Quem fala?]
- Poupe seu inglês, Ana. Aqui é o Cristóvão.
- [Olá, Sr. Steve!]
Ana Paula disfarçava.
- OK. Agora me diga o dia e a hora em que poderá pegar um avião de volta ao Brasil. Finja que se refere à data em que poderia começar num novo emprego. OK?
- [Oh, Sr. Steve! Por mim, posso começar a partir do dia 11 de agosto. Às 8h, não é?]
- OK. Estarei aí e lhe esperarei no aeroporto. Eu voltarei a lhe telefonar para marcarmos tudo certo. Espero poder confiar em você dessa vez, Ana!
- [Pode ter certeza disso, Sr. Steve.]

Eu não tinha noção da merda em que arriscava me enfiar. Ana Paula não merecia sequer o valor daquela ligação ou o preço daquelas passagens, muito menos a minha confiança. Mas lá estava eu novamente a ajudar aquela jovem. Céus.

* * *
No dia 11 de agosto, como combinado com Ana Paula através de mais dois telefonemas, encontrava-me no Aeroporto Internacional Toronto Pearson à espera de Ana Paula, que não demorava muito para aparecer bem na minha frente com o sorriso mais sem graça que já pude presenciar.
- Oi Cris. Eu...
- Não diga nada, Ana. Vamos. Nosso avião partirá logo. Ele desconfiou de algo?
- Não. Escolhi o dia de hoje, pois sabia que Leonardo tinha um compromisso inadiável. Uma reunião em Montreal.
- Bem, você vai voltar mesmo ao Brasil, não?
- Claro! Para isso pedi sua ajuda, Cris.
- OK! Então, a partir de agora, cale essa boca e vamos.
Naquela hora eu tentava ser o mais rude possível. Ela aceitava minha condição sem pestanejar.

Durante a viagem, não perguntava nada à Ana Paula. Nem sequer dirigia meu olhar àquele semblante coberto de hematomas em fase de cura. Foi o silêncio mais difícil de minha vida. Mas seguia firme.

* * *
Ao desembarcarmos no Brasil, tomávamos um táxi ainda em silêncio total. Eu percebia algumas lágrimas querendo descer dos olhos castanhos de Ana Paula, mas fingia não notar. Eu agia com uma frieza que nem mesmo tinha conhecimento da existência. Estava mais frio que aquela foto que Ana Paula me mandara. Eu saltava em minha casa e dava ordens ao taxista que a deixasse em sua residência, a qual então eu fazia questão de não saber endereço.

No dia seguinte, Ana Paula batia à minha porta.
- O que você quer, garota?
- Conversar. Acho que merece explicações.
- Mereço descanso, isso sim, Ana.
- Eu preciso do seu perdão, Cris. Por favor.
- Não sou Deus para perdoar ninguém. Agora me dê licença, pois estou cheio de provas para corrigir e...
Ana Paula pulava no meu pescoço e alcançava meus lábios como na primeira vez.
- PARE!
Eu a tirava de mim.
- EU NÃO MEREÇO VOCÊ, CRIS! NÃO É MESMO? EU FUI A PIOR PESSOA QUE JÁ PASSOU EM SUA VIDA! NA VERDADE EU FUI A PIOR PESSOA DA VIDA DE TODOS A QUEM CONHECI. EU ME ODEIO! EU ESTOU ME ODIANDO AINDA MAIS POR TUDO O QUE FIZ COM VOCÊ, CRIS. SABE O PORQUÊ? PORQUE EU DESCOBRI QUE TE AMO! DESCOBRI QUE VOCÊ, SIM, É O AMOR DA MINHA VIDA. O DESTINO LHE COLOCOU NO MEU CAMINHO NÃO FOI EM VÃO, CRIS. FICA COMIGO! EU NÃO TENHO NINGUÉM! NEM O MEU IRMÃO QUER VER A MINHA CARA NOVAMENTE!

Diante do ser ajoelhado à minha porta, em total descontrole emocional e contrastando com um belíssimo céu azul à suas costas, eu não tinha outra escolha a não ser observar o quão linda Ana Paula ainda era, mesmo com os hematomas pelo corpo. Suas lágrimas tomavam minha varanda e algumas gotas até molhavam os meus pés.

- Ana! Levante-se, por favor.
Ela se erguia ainda aos soluços.
- Vai me perdoar?
- Sim. Como quiser. Está perdoada.
- Então me quer de volta? Seremos felizes, Cris. Você vai ver. Amanhã mesmo eu...
- Claro que não, Ana! Tenha uma boa tarde!
Eu fechava a porta e voltava às minhas provas. Acho que eu havia, enfim, aprendido.

[Fim]

7 comentários:

Anônimo disse...

aeeeeeeeeeeeee!
cris! tan nã nã
cris! tan nã nã!
mto bommmmmmmmmmmm! adoreiii!
parabéns mais uma vez!

Janaina W Muller disse...

Aah...minha parte cruél se foi; fiquei com pena da Ana Paula. Bem, sei lá se ela tava falando a verdade né. Acho que não...bem, não sei. Mas que fiquei com pena, fiquei. hAUHuahU --'
Mais um fim que eu nem podia imaginar! Como sempre, maravilhoso \o/

Abraços.
='-'=

Kayo Medeiros disse...

Rá! aewwwwww, tomou na cara... Oo

Na boa, o cara já é mó coroa, e se deixar enganar uma vez tudo bem, agora duas num vai, né? Acho que o tanto de sentimento que ela merecia no final, se é que merecia, foi demonstrado por ele no momento em que se propôs ir pegar ela lááááá no raio que o parta... tá certo!

=)

Unknown disse...

"se ferrou no dominó"

rs







será que ele aprendeu mesmo?
e ela?! nunca mais o procurou, é?!
vixe...............................

Livia Queiroz disse...

Fikei c pena dela, mas ela mereceu...
Não me refiro às agressões (pq nenhum ser humano merece passar por isso), me refiro à atitude de Cristóvão.


Nobreza de Barão!!!

adoreiiiii

Anônimo disse...

Uhuuulllll! é isso aí!
adoreei :)
ele a ter perdoado já é muito, agora quem tem que aprender é ela!

Vanessa Sagossi disse...

Nossa, como ele é fofo.. Foi buscar alguém que não merecia lá no raio que o parta... Eu não sei se ajudaria dessa forma.
Mas pelo menos não caiu de novo.

Muito bom!
(:
beijos!