segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A MINHA VEZ DE APRENDER

Todos me diziam que eu não tinha mais idade para aventuras amorosas. E quando digo aventuras amorosas eu me refiro a um homem quase sessentão apaixonar-se por uma mulher de vinte e seis anos. Mas esse tipo de afirmação é um tanto limitador. Então, quem tem mais de cinqüenta não mais pode se arriscar em lábios firmes ou em curvas livres de flacidez? Ora, eu estava velho? Podia até ser, mas não estava morto.

Ana Paula aparecia em minha vida de maneira um pouco confusa. Nem eu mesmo acreditava que poderia florescer um grande amor a partir de um episódio como aquele. Vou explicar. Eu lecionava economia numa universidade federal. Lá, conhecia Ana Paula, que era nova na instituição. Ingressara no curso de pós-graduação em economia da educação e vira a ser então a minha única aluna naquele semestre.

Eu jamais havia me envolvido com alguma aluna em toda a minha vida profissional. Nem no auge dos meus vinte e poucos anos. Sempre mantive uma distância da qual julgava correta para que o exercício de minha profissão fosse cumprido satisfatoriamente. Mas com Ana Paula foi totalmente diferente. Eu, no decair de minha vida, me via apaixonado pelos gestos daquela jovem.

Ana Paula era morena, tinha os cabelos negros e lisos, usava uma jóia na sobrancelha sem que aquilo causasse qualquer sentimento de rebeldia ou agressão visual. Muito pelo contrário, Ana Paula era tão doce que poderia tatuar o demônio nas costas que não faria a menor diferença. Inteligente que só, a jovem, depois de certa intimidade que me fugira o controle, passava a me trazer CDs de música clássica dos quais eu amava e só os tinha em velhos discos de vinil. Foi ela quem me apresentou o som digital e delicadamente arrancou de mim os preconceitos que eu tinha com tal evolução.

Certo dia, eu tive a impressão de que poderia ser correspondido pela jovem, o que me deixava feliz e ao mesmo tempo com muito medo das conseqüências. Era praticamente o último dia de aula do curso. Era um dia quente de dezembro.
- Bem, me resta dizer que foi um prazer enorme ser seu professor, Ana Paula. Espero que obtenha bastante sucesso na carreira escolhida e...
- Vamos à praia?
Interrompia-me Ana Paula.
- Como?
- À praia. O senhor dará mais aulas hoje?
- Bem, eu... Quero dizer... Não, não. Não darei mais aulas, mas...
- Então? Podemos ir à praia. Está um sol lindo lá fora.

Eu não sabia o que responder. Uma parte de mim queria ver Ana Paula de biquíni e compartilhar de uma tarde agradabilíssima ao lado dela sob um guarda-sol, mas minha outra parte parecia me dizer que aquilo era uma loucura. Quando uma menina naquela idade convidaria um velho para sentar-se numa areia lotada de jovens? Mas, mesmo assim, resolvia aceitar o convite.
- Bem, eu preciso ir à casa primeiro.
- OK. Eu já estou preparada para ir. Tem problema de eu ir até a sua casa com o senhor para de lá partirmos?
Oh céus. Eu pensava.
- Não. Claro que não. Vamos.

Conversávamos muito pelo caminho ao som de um de seus CDs do Dmitri Shostakovich. Ela já sabia que eu era um velho sozinho. Viúvo há mais de vinte anos e sem filhos, por isso se ofereceu a me acompanhar.

Chegando em casa, eu pedia para que me aguardasse na sala enquanto eu me aprontaria no meu quarto. Ela acenava com a cabeça de forma positiva, mas sem olhar nos meus olhos. Não tirava a vista de tudo o que havia ao seu redor.
- Sua casa é um espetáculo, professor.
- Professor não. Por aqui você pode me chamar de Cristóvão mesmo.
- Tudo bem.
Ela sorria como ninguém jamais sorrira para mim. Seus dentes extremamente brancos chegavam a combinar com algumas peças que vestia.

* * *
Já na praia, ficávamos debaixo do guarda-som e não parávamos nem um segundo de conversar. Confesso que me sentia um pouco ridículo naquela situação, já que, ao olharem para nós, era impossível não imaginar pai e filha. Mas a simpatia e o carinho de Ana Paula me faziam esquecer até mesmo de minha idade.

Os garotos que passavam não tinham escolha. Ana Paula era a menina mais vistosa num raio de centenas de metros naquela areia. Quando ia à água, eu perderia a conta se resolvesse contar quantos rapazes se chegavam a fim de um mínimo de atenção de Ana Paula, que com um gesto muito educado dizia “não”. Enquanto isso, eu pensava no que realmente aquilo tudo significava. Teria eu alguma chance?

Eu notava que Ana Paula repetidamente conferia a hora em seu celular. Não sei o porquê, mas de certa forma aquilo me incomodava.
- Está preocupada com a hora, Ana Paula?
- Não. É que estou esperando uma pessoa.
- Ah... Uma pessoa... Entendi.
- AH! ELE CHEGOU!
- Ele?
Ana Paula se levantava como um raio. Um raio de corpo perfeito, mas um raio. Corria em direção a um rapaz bonito com uma prancha de surf debaixo do braço e o abraçava forte.

Eu nem sei explicar o que eu sentia naquele momento. Um misto de ciúme e impotência. A idade que se distanciava de mim enquanto conversava com Ana Paula voltava naquele instante com mais força. Sentia-me com uns cento e vinte anos. Ela puxava o rapaz pela mão até a mim.
- Glauber, eu preciso lhe apresentar uma pessoa.
Dizia Ana Paula ao rapaz.
- Esse é o meu professor. Um dos melhores que já tive.
- Por favor, Ana Paula...
Eu dizia tentando encurtar o meu processo de fracasso total.
- Glauber, esse é o professor Cristóvão. Professor Cristóvão, esse é o Glauber, meu irmão que tanto amo.
- Ah! Irmão! Quer dizer que ele é seu irmão?
- Sim, professor. Por quê? Não nos parecemos?
De fato não se pareciam nem um pouquinho.
- Ah sim, claro! São muito parecidos. Prazer, Glauber.
Eu apertava a mão do Glauber, que logo se despedia rumo às ondas.

* * *
O sol começava a se pôr quando Ana Paula se dirigia a mim de forma diferente.
- O que achou do dia, Cristóvão?
- Um dos melhores da minha vida.
- Por quê?
- Precisa explicar, Ana Paula?
- Ah precisa.
- Então está bem. Some um dia sem aulas na parte da tarde a uma praia maravilhosa a um sol como esse a uma companhia como a sua...
- Falta alguma coisa?
Claro que faltava, mas eu não sabia como dizer.
- Você acha que falta, Ana Paula?
- Eu acho.
- O que falta?
- Isso.
Ana Paula colava seus lábios nos meus me fazendo rejuvenescer uns quarenta anos. Sentia-me um menino na posse daquela boca.
- Ana Paula. Não sei se isso está certo. Afinal, eu sou seu professor.
- Não. O senhor foi o meu professor até a aula de hoje. Não és mais.
Dizia ela com malícia.
- Pensando dessa forma... Acho que só me resta deixar que você me ensine algumas coisas. Você sabe...
- Também acho!
Ela confirmava com os olhos brilhantes tendo um lindo pôr do sol ao fundo. Seria uma noite ainda mais agradável que aquela tarde.

[Continua]

6 comentários:

Anônimo disse...

aeeeeeeeeeeeeee!
mais uma vez você conseguiu me deixar curiosa! hahaha
ainda bem que o amanhã esxiste.

adoreeeeeeeeeeeeei!

Unknown disse...

ih... ela gostou do professor, ó...

conto com cara de cap. II

Janaina W Muller disse...

É isso ai, amor não tem idade. Agora eu tb to curiosa! HAUhauH :D

Livia Queiroz disse...

êta Ana Paulaaaaa rsrsrs

Aguardo a continuação
e adorei esse!

Anônimo disse...

adoreei, e agora fiquei curiosa!
aguardo a continuação :)

bjos.

Vanessa Sagossi disse...

O que será que ele aprendeu com isso tudo?