sexta-feira, 3 de outubro de 2008

PELA CIDADE III - Macacos!

Enfim, adentrávamos em mais uma sexta-feira. Quem trabalhava na sexta-feira? O pessoal do setor de serviços externos sim. Sei porque por anos estive lá. Mas e o resto? Eu, por exemplo, já chegava ao escritório com a original pergunta – acho até que tenha sido eu o seu real criador – “Qual a boa de hoje?”.
- JAZZ BAR!
Gritava Cícero!
- Não! Às sextas-feiras não se pode nem falar por lá! Aquela chata da...
- Mônica Lisboa, Jorge!
- Isso aí. Que cantora nojenta. Quero ir a um lugar à altura da minha vontade de extravasar!
- Então vamos ao Lero-Lero. Quem sabe não arrumamos alguma garota por lá?
- Aquilo está infestado de crianças, Cícero, por favor! “Balada teen” não dá! Não para os nossos trinta anos!
- Opa, me tira dessa, Jorge. O velho aqui é você. Tenho vinte e seis.
- Não me faça lembrar disso, Cícero. Pensei que fosse meu amigo a ponto de dividir esse peso comigo.
- Sai fora! [Risos].

Durante o expediente nada fazíamos além de esperar ansiosamente pelo seu fim. Da grande janela eu avistava todo o Centro da cidade. Fazia sol, mas algumas nuvens cinzas começavam a mostrar suas forças por trás dos prédios. Como a cidade parecia tão mais linda vista do alto. Sem 70% do barulho que ela produzia dava vontade de ficar por ali o resto da vida. Mas a idiota da estagiária, a Aline, estragava o meu prazer levando uma daquelas gigantes folhas de vidro para o lado.
- Vou abrir, está bem? Vou fumar!
Dizia ela.
- Ora, por que não vai ao corredor fumar essa porcaria?
- Jorge!
- O quê?
- Não enche!
Eu me preparava para dar a resposta que aquela fedelha merecia, mas ela se debruçava no parapeito com tanta elegância e sensualidade que minha fala sumia. Eu que não seria o louco de arrancá-la de lá. Pensando bem, aquela zoeira que vinha lá de fora podia ser tolerada facilmente. A visão do traseiro de Aline me deixava surdo também. Ela tragava, soprava e olhava para mim com um sorriso que dizia “eu sei que você gosta, seu babaca”. Eu deixava.

Cinco horas.
- Vamos, Cícero!
- Calma. Deixe-me desligar essa carroça!
- Vamos!
- Já vou!
Eu estava desde nove horas esperando pelas cinco e Cícero esperando por uma autorização de um sistema inútil para desligar o seu computador. Eu enfiava o dedo no estabilizador e acabava com sua espera.
- Ora, Jorge! Sabe que não é bom desligá-lo assim!
- Desligou, não desligou? Agora vamos.
Tomávamos o elevador Cícero e eu.
- Já se decidiu para onde vamos?
Perguntava Cícero.
- Sim. Para um bar próximo ao teatro. O Anexo.
- Sei qual é. A bebida é cara por lá.
- E quem esquenta com isso?
- Eu! Estou juntando dinheiro, Jorge.
- Para quê? Vai casar?
- (...)
- Vai casar, homem?
- Vou!
- Meus pêsames! Mas quem é a azarenta?
- Por que não vai à merda?
- Estou brincando, Cícero. Quem será a sortuda?
- Minha namorada, ora! Não a conhece.
- Sei. E você querendo uma noite no Lero-Lero. Já começaste bem!
- Tenho que aproveitar a vida de solteiro, Jorge.
- Está certo.

Saíamos do prédio e:
- PUTA QUE O PARIU, JORGE! QUE MERDA DE CHUVA É ESSA?
- Culpa de sua demora com o computador.
- Ah! Essa foi ótima.
- Eu não vi sequer uma gota quando saímos da sala. Somente as nuvens.
- Pois é. Tem alguma outra idéia agora?
- Não. Mas o Anexo é coberto, Cícero.
- Eu sei, mas como chegaremos lá sem parecer uma cueca molhada na corda?
- De carro.
- Que carro? Nem eu nem você temos carro! Um táxi, você quer dizer?
- Não. O carro da empresa. Ele fica comigo de segunda à sexta para eventualidades.
- Disse bem. Segunda à SEXTA!
- E que dia é hoje, meu caro?
- Sexta. Mas pelo que sei não tens o direito de levar o carro para casa na sexta. Estou certo?
- Certíssimo! Mas não o levarei para casa. Levarei-o para o Anexo!
- Como você é brilhante, Jorge! Eu não vou entrar nessa. Não mesmo.
- Quer ser a cueca molhada do bar?
- Não! Irei de táxi.
- Medroso. Irei com você.
- Faz bem, Jorge. Faz bem.

A chuva parava logo que o táxi dava partida. Eu ficava com cara de otário e Cícero... Bem, ele já tinha cara de otário normalmente. Poderíamos ter ido a pé mesmo. Fora uma chuva dessas como no verão.
- Veja você, a chuva se foi.
- Eu posso perceber, Jorge. Não sou cego.
- OK. Pague o táxi e vamos beber.
- Opa! Eu? Vamos rachar, não?
- Claro, claro.
Pagávamos o táxi e seguíamos até uma mesa.
- Aquela mesa ali, Jorge.
- Não. Não venho aqui para ficar no meio de um bando de homens. Ficaremos nesta aqui. Parece-me mais “florida”.
- Como quiser, Jorge. Só preciso de uma cerveja. Estou seco.
- Também estou. DUAS AQUI, POR FAVOR!

Cícero e eu aparentemente éramos homens bastante diferentes, mas quando se tratava de observar o balanço da cidade éramos como irmãos. Eu sabia onde as coisas estavam acontecendo, tinha essa visão. Cícero, embora estivesse próximo à forca do matrimônio, também sabia dar os seus pulos certeiros. Cícero trabalhava na parte administrativa daquela empresa há mais tempo que eu. Ele se formara numa boa universidade e caiu ali sem muito vagar. Eu marchei bastante antes de ocupar uma cadeira daquela. Eu nunca estudara administração na minha vida, mas de tanto “quebrar galhos” para os graduados ali atuantes, adquiri o conceito necessário para tal função. Fácil. Tudo o que eu tinha de fazer era avaliar os custos de uma obra e dar um parecer à gerência. Sendo que eu ainda dividia esse trabalho com o Cícero, a Aline e um senhor que ficava calado no canto da sala. Não lembro o nome dele.

- Jorge.
- Diga, garoto.
- Você devia andar muito quando fazia parte do setor de entregas, não?
- O quanto você imaginar ainda será pouco.
- Conhece cada canto dessa cidade, não é mesmo?
- Sim. Mas com uma diferença.
- Qual.
- Os melhores cantos da cidade eu só conhecia pelo lado de fora.
- Como assim?
- Acha que aquele salário de entregador me dava o luxo de poder fazer o que estamos fazendo aqui? Até dava. Uma vez por mês, sei lá.
- Não é um administrador formado?
- Não. Sabe disso.
- E como conseguiu o cargo atual?
- Posso lhe assegurar que não foi pelo meu rostinho lindo, meu caro.
- Ô...
- Macacos seriam capazes de levar aquela repartição nas costas.
- Assim me ofende, Jorge.
- Mas é sério. Tudo o que a Aline faz é empinar aquele bunda ao fumar na janela. Uma macaca não seria atraente o bastante para tirar a atenção de nós dois. Correto?
- Mas seríamos macacos também, não?
- É... Deixa.
- E outra. Macacos não sabem administrar, Jorge.
- Você é quem pensa. Acha que eles passam fome? Eles racionam bananas, meu caro Cícero. Ainda que nós, seres “pensantes”, acabemos com todas as bananeiras do planeta, os macacos sobreviverão!
- Que profundo. Pensando bem...
- Caia na real. A empresa precisa de mão-de-obra para produzir. Nós precisamos daquele emprego para beber, comer, pegar umas mulheres, você sabe. É simples assim.
- Mas você não respondeu a minha pergunta, Jorge. Como conseguiu chegar até lá?
- Ih! Olhe quem acaba de chegar! Não creio! Catarina!
Eu me assustava num bom momento.
- É mesmo! E com outro cara. Pelo visto gosta dos velhotes. Naquele dia foi um careca, agora um grisalho pançudo.
- Não quero que ela me veja, Cícero.
- De novo? Deixe ela te ver, ora.
- JORGE!
Ela me avistava, pedia licença ao grisalho pançudo e vinha em minha direção.
- Não saia daqui, Cícero. Não me deixe sozinha com essa hipnotizadora.
- OK.

- Andamos nos vendo demais ultimamente, não?
Dizia Catarina com um sorriso que... Deixa.
- Pois é. Essa cidade é um ovo mesmo. Esse é meu amigo, o Cícero.
- Vem sempre aqui, Jorge?
Ela nem ligara para Cícero. Nem mesmo olhara para ele.
- Sempre não. De vez em quando. E você?
- Primeira vez. Parece agradável.
- É sim. Vai gostar daqui.
- E então? Não vai me perguntar?
- Perguntar o quê?
- Sobre o homem que me acompanha.
- Não. Não vou.
- Por que não?
- Porque não quero saber.
- Mas se eu lhe disser você vai gostar de saber.
- Por quê? Quem ele é?
- Curioso!
- (!!!) Cícero. Vamos embora!
- Mas já?
- Apenas vamos, Cícero.
- OK.
Dizia Cícero sem saber se olhava para a minha cara de babaca ou para o decote que mostrara um par de seios cheio de pintinhas. Eu também o olhava controlando as mãos.

- Jorge!
Chamava-me Cícero pelo caminho.
- Diga.
- Macacos podem ser hipnotizados?
- Não enche!

[Continua]

* * *
Foto da Capa por: Isabel Cruz [wind].

14 comentários:

Anônimo disse...

que odinho...
ô mulherzinha dificilll meu Deus..
mas é bom que a gente aprende!
rsrsrs

ta ótimo!
beijão

Livia Queiroz disse...

Aiiiiiiiiiii ki malvada essa Catarina!!

To m pipocando de rir aqui imaginando a cara do pobre Jorge...
Tadinhooooooooooooooooooo

Aff Lucino, acaba logo c esse mistériooooo!!!

Macacos podem ser hipnotizados... essa foi ótima!!!


aguardo anciosa os proximos capitulos!


bjaum

Erich Pontoldio disse...

Ela é triste heim???

Danilo Cruz disse...

Ô mulher...

esperando a continuação!

Anônimo disse...

OPA essa dai é das minhas,hahha
Um pouco de charme nao faz mal a ninguem ne e no final ela vai acabar contando que o careca era irmao dela e esse velhote é pai,rsrsrs
to brincando,no final ela conta a verdade e ainda tasca um beijo bem caliente em Jorge...

Anônimo disse...

"complicada e perfeitinha"

rs

Anônimo disse...

Massa o blog fera...tu escreve mtoooooo
pqp... mas ta mto foda...
abçs

Anônimo disse...

a Catarina é um saco! O Jorge merece coisa, melhor.
odeio esse joguinho que ela ta fazendo com ele, da nervoso!!
agora fiquei CURIOSA pra saber o que vai acontecer :P

bjoks.

Janaína Moraes disse...

Pra que tanto charme, tanta perfeiçao e rebeldia?
Meu deus, adorei esse seu jogo de palavras e mistura de sentimentos.
Passarei mais vezes po aqui para ler os outros.

Marcio Sarge disse...

Porra! Conto fácil de ser lido, garota difícil de ser pega, talvez esteja ai o segredo rsr.

Gostei muito daqui, bela surpresa.

Anônimo disse...

Nossa, gostei muito do seu blog!!! Adorei os contos!!! Vo volta ak mais vezes!

Yara Lopes disse...

Muito bom como sempre Luciano
Parabéns

Janaina W Muller disse...

Mas essa Catarina não dá folga! Pobre Jorge...e pobres de nós, que estamos sofrendo com esse mistério HAUHuhauHAUhau :D

Abraços.
='-'=

jakared disse...

aguardo a proxima parte!!!