terça-feira, 7 de outubro de 2008

PELA CIDADE V - O Choro dos Seis (Final)

No Bar Chorado eu encontrava meus amigos. Jovens, velhos, mancos, pobres, ricos. Não havia distinção de classes naquele recinto de azulejos raros. Todos estavam ali para apreciar um quinteto de choro, papear, beber e fumar. As mulheres ali eram conseqüência. Quase ninguém ia ali para pescar um bom peixe. Como eu já tinha pescado o meu, nada me restava a não ser curtir as cordas vibrantes de Sasá do Bandolim. Aquele ali era demais. Ah! A Carol, flautista, também dava um show.
- É samba, é o quê?
Perguntava-me Claudinha.
- Choro. Já disse.
- Isso que é choro?
- Ora, Claudinha, nunca ouviu um choro na vida?
- Só de criança.
- TEM FILHOS?
- Calma! Não tenho não.
- (Ufa!) Desculpe o susto.
- Tudo bem.
- Mas e então? Gosta do que ouve?
- Sim. É agradável. É bem diferente dos DJ’s.
- Mas claro que é! Sinta a vida desses músicos!
- E aqui? Eu encontraria alguém que valesse a pena?
- Ei. Acabamos de transar, Claudinha. Ainda procuras alguém?
- É que você me pareceu tão...
- Viril?
- Não. Fácil.
- Fácil? O que queria que eu fizesse? Que eu a jogasse naquele lixo e fugisse? Por favor.
- Não sei se você é o que procuro.
- Procuras alguém, não é? Que valha a pena! Eu sou alguém que vale a pena! Eu...
- Jorge?
Pai do céu. Catarina!

- Oi Catarina. Você por aqui? Não estava no Anexo?
- Pois é. Você também estava lá e agora está aqui!
- É. Bem, essa aqui é a Cláudia.
Apresentava uma a outra.
- Não quer sentar conosco, Catarina?
Convidava-a Claudinha.
- Sim. Posso?
- Claro. Sente-se.
Ali, as duas começavam um papo interminável sobre todas as coisas do universo. Parecia até que já se conheciam. Eu apenas bebia. O celular tocava. Pedia licença para as duas e atendia ao telefone na calçada.

- Alô.
- É o Cícero. Beleza?
- Sim. Digamos que sim.
- E a Claudinha? Vocês saíram daqui do nada. Eu...
- Está aqui comigo. Estamos no Bar Chorado. Você não vai acreditar.
- O que houve?
- A Catarina está aqui também e de papo com a Claudinha. Acredita nisso? Ela me persegue!
- Você já traçou a Claudinha?
- Já! E no melhor estilo. Depois lhe conto.
- Bem, eu já me perdi da Elaine por aqui. Despistei-me. Estou indo até aí. Segura essa Catarina na mesa que eu vou pegar.
- Naquele dia do restaurante ela nem lhe deu bola, Cícero, mas tudo bem. Venha logo.

Da calçada eu ficava alguns minutos observando as duas. Como conseguiam rir e conversar com tanta afinidade logo após se conhecerem? De um lado da mesa, a brancura coberta de pintinhas e um par de olhos verdes. Do outro, uma verdadeira índia urbana vestida para matar. Elas riam bastante. Pelos gestos que faziam estavam conversando sobre o tamanho dos seios de cada uma. Ambas pareciam estar insatisfeitas, veja só, com suas respectivas medidas. Uma parecia elogiar o formato do da outra. Cícero chegava.
- Demorei?
- Não. Veio correndo?
- Quase.
Cícero respondia ofegante.
- E então? Vamos?
Eu o chamava.
- Vamos.
Virávamos para o bar e iniciávamos uma entrada triunfal rumo a vitória. A mais bela vitória de todas as nossas noites. Eu possuiria de novo aquele corpo dourado pela natureza. Cícero tentaria a sorte antes que fosse hipnotizado pelas bolas verdes – ou as pintadas – de Catarina.

Entrávamos.
- PUTA QUE O PARIU, JORGE! QUE PORRA É ESSA?
Catarina e Claudinha beijavam-se como duas loucas.
- Eu não posso acreditar, Cícero!
- Que merda!
Dizia Cícero com a mão no queixo.
- Que merda? Você acha?
- Você não?
- Não! Vamos levá-las à minha casa. Agora!
- Cara, você pirou?
- Pirei. E como pirei!
- Elas são lésbicas!
- Claudinha é bi. No mínimo!
- Eu não sei mais de nada, Jorge.
- Mas eu sei.
Eu chegava até a mesa com uma naturalidade disfarçada:
- Meninas! Vamos acabar com essa festinha? Ou melhor, vamos começá-la de vez lá em casa?
- Jorge! Você está certo!
Dizia-me Claudinha.
- Viu só, Cícero?
Eu dizia.
- Esse lugar realmente tem gente que vale a pena! Essa garota é demais! Vamos sair daqui, Catarina?
Dizia Claudinha ao levantar-se de mãos dadas com aquele par de olhos verdes.

* * *
Cícero e eu ficávamos no Bar Chorado lamentando a opção sexual daquelas mulheres. Na minha cabeça, Catarina havia hipnotizado Claudinha e a tornado uma homossexual. Cícero me chamava de idiota diante de meus argumentos. Mas para mim, só havia essa possibilidade para Claudinha, depois de uma transa animal como aquela, sair com Catarina.

De repente, um grupo de quatro caras sobe ao pequeno palco do bar. Cícero e eu reconhecemos dois deles; o careca do restaurante e o grisalho pançudo do Anexo. Eles acompanhavam Catarina naquelas ocasiões.
- Veja, Cícero. Olhe quem está no palco!
- Ih! Aqueles coroas que comiam, ou melhor, queriam comer a Catarina!
Os quatro homens pediam um sol maior ao violonista e, juntos, ao microfone, cantavam completamente bêbados uma música esquisita na qual só se entendia o verso “Catarina não se vá”.

Depois daquele “show” deprimente, eu me dirigia até o careca:
- Escute. Conheceram a Catarina? Vocês quatro?
- Sim. Você também, cara?
Perguntava-me o careca.
- Digamos que sim. Mas como foi com vocês?
- Ora, rapaz. Tudo começou quando ela me deu a notinha dos correios. Então...

Eu entendia tudo. Estávamos todos hipnotizados pelas bolas verdes. Lamentávamos os seis. Cícero, o careca, o grisalho pançudo, os dois desconhecidos e eu.

[Fim]

* * *
Foto da Capa por: Mike Vlcek.

9 comentários:

Yara Lopes disse...

Final surpreendente
Adorei

Marcio Sarge disse...

O cara mandou tão mau com a catarina que ela mudou de time rsrs

Neuro-Musical disse...

Nossa!
Ela fikou em depreee!
Que finaal lokoo kraa

www.curiosomundodoscuriosos.blogspot.com

Buscando parcerias...

Anônimo disse...

caraaaaaaaaaaaaaaaaaaaca!
:O
superou hein...
a mulher é macabraaa.. hahahahahahaha

parabénsss!
adoreeiii

Anônimo disse...

Hãhãhã,Galerinha to de boca aberta :O
realmente esse final foi surpreendente msm...

Meus parabéns Luciano.

Livia Queiroz disse...

Adoreeeeeeeeeeeeeei esse final...
sinceramente n esperava, mas..

Enfim!
rsrs

mto bom mto bom mesmo!

bjaum

Janaina W Muller disse...

hUAHuhauHAUhauHA
Por essa eu tb não esperava! HAUhauA
Será que realmente foi tão ruim que a garota resolveu mudar tudo? Será que esse ato sexual foi a gota final em um copo já transbordante de decepções? Noossa, texto maravilhoso!

Abraços.
='-'=

Veiga disse...

HUAHSuHASuhAS

legal.

Vanessa Sagossi disse...

Hauhauhau...
Perdeu. Quer dizer, os 6 perderam...
Realmente podia esperar muitas coisas, mas isso me surpreendeu.

Legal o final.

Bjs