quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

AS BUSCAS DO MÊS DOZE

Calor. Muito calor. Era assim durante todo aquele dezembro. Eu, de férias, durante o dia, aproveitava o máximo da praia. Durante a noite, caminhava sem rumo a observar o comportamento alheio. O calçadão ficava entupido de gente, que caminhava, assim como eu, sem destino. As noites quentes e o clima de final de ano me traziam certo desconforto, mas ao mesmo tempo uma sensação de estar começando uma nova fase. Não sei dizer o porquê. Na verdade eu esperava sempre por um novo amor. É verdade! Um novo amor ao fim de cada ano.

Eu, com meus 26 anos e uma bem sucedida carreira de arquiteto, objetivava para aquele dezembro encontrar uma mulher especial. Uma mulher que me fizesse esquecer de todos os meses de dezembro passados. Uma mulher que me fizesse prever todos os próximos meses ao seu lado. Uma mulher para a minha vida.

Sabia que um mês seria muito pouco para constatar tanta qualidade em uma mulher. Não se procura uma mulher para a sua vida, e sim, é a vida que coloca no seu caminho a mulher que jamais procurou. Eu tinha isso em mente. Como eu trabalhava muito, acho não tinha mesmo tempo para procurar mulheres. Pelo menos de janeiro a novembro. Porém, também não tinha tempo para que a vida me mostrasse uma. Então, dezembro era o mês escolhido, por conta de minhas férias, para que eu ou a vida chegasse a alguém especial.

No dia 23 daquele mês, eu trocava a praia pelo shopping. Embora eu detestasse tal programa em épocas de loucuras consumistas, precisava comprar alguns presentes para minha família. Não podia chegar na casa de meus pais, no Natal, com as mãos abanando.

Eu chegava ao shopping ao abrir de suas portas. Com as lojas ainda vazias, a tortura era pouco mais tolerável. Já tinha em mente tudo o que compraria. Por isso, não levaria nem duas horas dentro daquele inferno. Mas passando por uma loja de camisas, onde eu costumava comprar, uns novos modelos na vitrine me chamavam à atenção. Eu entrava na loja e logo era atendido por uma lojista que nunca tinha visto por ali.
- Bom dia! Meu nome é Natalia! Posso ajudar?
O sorriso estampado era de deixar qualquer pão-duro com a mão mais aberta. Aquela menina possuía uma áurea de simpatia impressionante.
- Bo-Bo-Bom dia – eu dizia. – Pode sim! Eu...
- Thiago!
Chamava-me Adriana, a lojista que costumava me atender.
- Oi Adriana. Tudo bom?
Eu respondia.
- Tudo bom também, Thiago. Natalia, o Thiago é meu cliente. Pode deixar comigo, sim?
Adriana tirava a Natalia de cena.
- Adriana, eu acho que não tem problema da Natalia me atender. Ela é nova aqui, não?
- Extra de Natal.
Respondia Adriana.
- Então. Eu já compro com você o ano todo, Adriana. Se não se incomodar, gostaria de ser atendido por ela, pode ser?
- Claro, claro. Fique à vontade.
Adriana dava meia-volta com nítida vontade de me mandar ir à merda.
- Olha, senhor... – dizia Natalia.
- Opa! Senhor? Eu tenho 26 anos, Natalia. Por favor.
- Desculpe.
- Diga. O que iria dizer?
- É que não quero causar situações chatas. Se a Adriana costuma lhe atender, pode ser atendido por ela. Não há problema.
- Não! Fui recebido por você e é você quem vai me atender, OK?
- Como quiser. O que deseja?

Natalia era muito atenciosa. Embora eu saiba que o que move a simpatia de um vendedor é a comissão que ele receberá com a venda, digo que nunca havia sido tão bem tratado em uma loja antes. Sem contar na beleza de Natalia, que tinha a pele bem branquinha e olhos que hipnotizavam. Os cabelos eram brilhosos e enormes, cortados de maneira cuidadosa. Um charme! Seu corpo fazia o uniforme de vendedora parecer um traje de festa. Era sem dúvida a mais bela naquela loja. E, talvez, a mais talentosa também.

Eu comprava cinco camisas com a Natalia e deixava consigo os meus sinceros votos para sua permanência na loja.
- É o que deseja? Ficar na loja?
Eu perguntava.
- Por enquanto sim. Tomara que eu fique. Preciso muito desse emprego.
- Cá entre nós...
- Diga.
- Essa loja também precisa muito de você.
- Obrigada.
- Nunca fui tão bem atendido. Que a Adriana não me ouça.
- É meu dever, senhor.
- Senhor não. Thiago, por favor.
- OK. – Ela ria. – É meu dever, Thiago.
- Fica melhor assim. A que horas você sai da loja?
- Tarde. Bem tarde.
- Eu imagino. Essa época de fim de ano...
- Pois é.
- Bem, não vou lhe atrapalhar mais. Boas vendas, Natalia. A gente se vê. Eu espero.
- Sim. Também espero.
- Espera mesmo? Pelas compras ou por mim?
Por essa ela não esperava. Ela olhava para os lados com receio e:
- Por você. Foi muito bacana o que você fez.
- Fui justo. Apenas isso. Mas não com você. Fui justo com meu coração, Natalia.
- Como assim?
- Eu quero lhe ver novamente. Conversar, lhe conhecer melhor. Há algo em você que...
- Thiago...
- Não fique sem jeito, por favor. Sei que não é a ocasião certa para isso, mas quando eu falaria a ti o quanto gostei de sua pessoa?
- Thiago...
Natalia morria de vergonha.
- Posso lhe esperar às cinco?
- Às oito.
- Fechado. Estarei frente ao shopping. OK?
- OK.

* * *
Conforme combinado, lá estava eu a esperar Natalia para uma conversa. Imaginava o quanto devia estar cansada. Tinha que pensar num lugar agradável para levá-la. Um lugar aconchegante e tranqüilo. Ela, então, chegava.
- Oi Thiago.
- Oi Natalia.
- Meu Deus, mas como você é rápido.
- Refere-se ao meu convite?
- Isso.
- Bem, se preferir, nós podemos marcar um outro dia...
- Não. Eu estou brincando. Para ser sincera eu gosto de pessoas objetivas como você.
- Eu já posso contar isso como um ponto a favor?
- Já tem muitos pontos a favor, Thiago.
- É? E como os consegui?
- Quando entrou na loja e me olhou já ganhava um. Quando gaguejou a me desejar bom dia, ganhava outro. Quando me escolheu para lhe atender, mais outro. E a cada minuto com você naquela loja tu ganhavas mais e mais, Thiago.
- Nossa! – Eu ficava sem palavras. – O que tenho a lhe dizer é que... Bem, também gosto de pessoas objetivas como você, Natalia.

Naquela noite, conversávamos um pouco sobre a vida de cada um. Todas as palavras jogadas a uma mesa do então vazio Bar Anexo me levavam a crer que Natalia era, sim, um doce de mulher. O tipo de pessoa que diz o que sente. Que transborda de coisas boas e pensamentos bons. Divertida, Natalia me fazia virar criança. Uma criança às vésperas do Natal. Ríamos muito naquela noite quente. Acabávamos de nos conhecer e parecíamos tão íntimos.
- Dá um sorriso para mim?
Ela pedia.
- Para quê?
- Dá um sorriso, garoto!
Ela insistia e eu sorria.
- Pronto! Mas o que tem o meu sorriso?
- Tudo de bom que um sorriso pode ter. E mais um pouco.
- E o que seria esse “mais um pouco”, Natalia?
- O despertar de uma vontade louca de lhe beijar, Thiago. Pronto! Falei!

Eu não conseguia classificá-la como oferecida ou como tímida. Natalia era um misto do que ambos os adjetivos tinham de melhor. Eu ainda não sabia, mas a vida, e não eu, pusera fim às buscas daquele mês doze.

* * *
Foto da capa: Janaina Muller.

5 comentários:

Janaina W Muller disse...

Mas sou a primeira a comentar! Primeira vez que eu consigo isso õ/
Adoreei esse conto. A Natalia é muito meiga; mais tímida do que as outras :) Mas também é impulsiva :D
Esse casal, em especial, é muito fofinho :D

Abraços.
='-'=

Anônimo disse...

que bom que ele encontrou o que tanto procurava sem precisar buscar. e que não fique somente esse mês mas por muito tempo ainda =D

bjos

Anônimo disse...

casal fofinho...

Anônimo disse...

aaaai brigada gente! =)
hahahaha
aaaaaaaaaaaaahhh preciso dizer que amei? rsrss
as nathalias são mto fofas =)

Luciano, não tenho mais meu orkut, mas vou continuar vindo aqui tá?
o "muitos em um" está salvo nos favoritos aqui e a visita vai continuar =)
um beijo e parabéns SEMPRE!

Vanessa Sagossi disse...

Muito bom!!
Que coisinha mais fofa! Até me faz acreditar na humanidade...

"- Dá um sorriso para mim?
Ela pedia.
- Para quê?
- Dá um sorriso, garoto!
Ela insistia e eu sorria.
- Pronto! Mas o que tem o meu sorriso?
- Tudo de bom que um sorriso pode ter. E mais um pouco."
Super lindo!

É, tomara que não seja só mais um mês 12 para eles!
xD

Beijo!