segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A PIZZA DE NATAL

“Aniversariante não paga”, dizia a placa. Poder jantar numa bela pizzaria seria ótimo. Sem dinheiro nem para o café da manhã, às onze horas da noite, eu, de tanta fome, já perdia os sentidos. Todos lá dentro pareciam comemorar o meu aniversário. Esse era o lado divertido de nascer num dia 24 de dezembro. Mas o que aquelas pessoas faziam numa pizzaria em plena véspera de Natal? E aqueles funcionários? Aposto que o dono da pizzaria devia estar em casa com sua família. Ah! Danem-se. Eu só sabia que, por direito, teria minha refeição garantida.
- Pois não, senhor?
Recebia-me uma atendente da pizzaria.
- Uma mesa, por favor. Sou aniversariante.
- Ah! Sim! Meus parabéns! E onde estão os convidados do senhor?
- Não tenho convidados.
- Não tem? Tudo bem. Siga-me até a sua mesa, sim?
- OK.

Chegando à minha mesa, a atendente perguntava o meu nome.
- Paulo Fernando.
- OK. Aqui está a sua comanda. Será rodízio ou fará algum pedido?
- Rodízio!
- OK. Quinze e noventa.
- O que é quinze e noventa?
- O preço do rodízio, senhor.
- Você não me escutou? Sou a-ni-ver-sa-ri-an-te. Há uma placa ali fora que diz “aniversariante não paga”. Logo, eu não pago. Não é isso?
- Quase isso. Acima do “aniversariante não paga”, a placa também diz “acompanhado de no mínimo quatro convidados”.
- É? Mas eu não tenho convidados!
- Então, infelizmente, o senhor terá de pagar o valor do rodízio.
- Mas que absurdo!
- Sinto muito, senhor, mas são ordens da casa.
- Preciso de quatro convidados? É isso?
- Exatamente. O senhor não teria uma namorada ou alguns amigos? Familiares...
- Não tenho ninguém nessa cidade. Somos somente Deus e eu. Se é que ele existe.
- Bem, o senhor nasceu no mesmo dia em que o menino Jesus, senhor. Isso pode significar alguma coisa, não?
- Não.
- Por que não, senhor?
- Porque Jesus nasceu no dia 25. E eu nasci no dia 24.
- Ah! É mesmo.
- Bem, eu preciso correr atrás de meus quatro convidados, sim? Dê-me licença.
- Fique à vontade, senhor.
Eu precisava encontrar quatro pessoas a fim de comerem uma pizza. Não deveria ser tão difícil.

Ao sair da pizzaria, deparava-me com um grupo de jovens que vinha em direção à porta. Eu não tivera boas experiências com os jovens daquela cidade, mas...
- Por favor.
Eu dizia.
- Sim.
Um dos jovens me respondia.
- Vocês vão para a pizzaria?
- Sim, vamos. Por quê?
- Bem, eu gostaria de pedir um favor.
- Pois peça.
- É que hoje eu faço aniversário e...
- Meus parabéns. Chama-se Jesus?
Ele brincava.
- Obrigado, mas, não, não me chamo Jesus. Por que me chamaria?
- Nasceu no mesmo dia que ele, então...
- Não. Jesus nasceu no dia 25. Eu nasci no dia 24.
- Ah! Podes crer. Mas continue.
- Então... Aniversariante não paga a conta se trouxer quatro convidados à pizzaria. Eu pensei em vocês serem meus convidados. O que acham? Eu não conheço ninguém nessa cidade e não possuo um tostão furado. Estou com muita fome...
- Bem, por mim... O que vocês acham, pessoal?
Ele buscava a aceitação de todos.
- Tudo bem.
Eles aceitavam. Eles eram seis ao todo.

Adentrava-me à pizzaria e era atendido pela mesma atendente.
- O senhor voltou!
- Sim! E trouxe meus convidados.
- Que rápido!
- Pois é! Você tem uma mesa para nós?
- Para sete não.
- Como não?
- Não tendo, ora. Precisam esperar um pouco. Eu tenho uma mesa para seis pessoas prestes a desocupar.
Os jovens olharam para mim com olhares que, na minha cabeça, pareciam dizer “dane-se o seu aniversário”.
- Eu não posso por mais uma cadeira nessa mesa de seis?
- Nosso estabelecimento não permite. Precisaria acoplar a esta mesa uma outra de no mínimo dois lugares.
- Ora, ora.
- Tudo bem, cara. A gente espera.
Um dos jovens dizia.
- Farão isso por mim?
- Relaxa!
- Serei eternamente grato.

* * *
Depois de muitos minutos, a atendente nos aprontava uma mesa de oito lugares, como combinado.
- Venham por aqui.
Nós íamos.

Sentávamos à mesa. A atendente perguntava pelo nome de cada um. Preenchia as comandas. “Marcelo” “Lucas” “Júlio César” “Michele” “Andréia” “Viviane” “Paulo Fernando”.
- Escreva aí que sou aniversariante.
Eu dizia.
- Ah! Sim! Sua identidade, por favor.
- Está aqui.
Eu apresentava-a.
- Sinto muito, mas o senhor nasceu no dia 24 de dezembro.
- Exatamente, mas porque sente muito?
- Já passa da meia-noite, senhor. Hoje é dia 25. Feliz Natal!
- O quê? Feliz Natal? Você quer dizer que terei de pagar pela minha pizza? Feliz Natal?
- Sinto muito, senhor...
- Espere... Nós pagaremos a sua pizza, senhor. Fique tranqüilo.
Dizia Viviane, uma das jovens.
- Não, não precisam se preocupar...
- Por favor. É Natal, senhor. Estamos todos aqui porque não agüentamos tanta hipocrisia nos nossos respectivos lares. Se nós o levássemos para uma de nossas casas, talvez o senhor fosse mais mal tratado de que aqui. Deixe-nos fazer diferente.
- Viviane o seu nome, não é?
Eu perguntava.
- Sim.
- Viviane, eu estou nessa cidade há dois meses em busca de um emprego. Venho sendo destratado desde o primeiro minuto em que pisei aqui. Não é fácil pedir uma oportunidade a uma pessoa que tem idade para ser seu filho. Para mim não está sendo, pelo menos. Isso me fez criar uma imagem muito negativa do jovem urbano. Mas saiba que vocês, hoje, acabaram de acender uma luz no fim do meu túnel.
- Feliz Natal! E que a sorte lhe brilhe daqui para frente, senhor.
- Feliz Natal, meus convidados!

7 comentários:

Anônimo disse...

aaaai que legal esse!
gostei mesmo!
você a alguma pizzaria pra criar esse conto?
hahahaha

pizza no lugar da ceia... êta modernidade!

Anônimo disse...

CARACAAAAAAAAAA, agora que eu vi no "em breve" a visão da Gisele sobre o Natal de Luana!
gente, isso vai dar o que pensar.. haha
obaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Anônimo disse...

belo conto!
mas acho que seria mt difícil encontrar um grupo de pessoas ou pelo menos uma que fosse tão legal assim hj em dia, msmo no Natal.
apesar de saber que existem não são fáceis de se achar.
sorte do Paulo ;)

Lucas disse...

Amei!

Muito bom. Muito mesmo. Mesmo.

Deu vontade de comer pizza. :)

Abraço.

Anônimo disse...

GOSTEI!

Vanessa Sagossi disse...

Muito bom!
Nunca tinha pensado em pizza de natal.. Legal!
Apesar de toda desventura passada, que sorte, hein!

Janaina W Muller disse...

É difícil mesmo encontrar um grupo assim, mesmo no Natal. Coitado do homem, ainda bem que conseguiu a pizza! õ//

Abraços.
='-'=