sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

VOYEUR VI (Final)

Assim como Isadora e Olga, eu também fui convidado a depor. Eu confirmava a minha versão, omitia o trato entre Durval e eu e omitia também a transa com sua filha. Eu não tive mais contatos com Isadora durante o desenrolar das investigações, mas tinha confiança de que a jovem não me colocaria numa fogueira, apesar de tudo. Sabia que ela, assim como eu, omitiria o sexo e alegaria que eu fora enganado sobre sua real idade.

Mais alguns dias se passavam e o detetive Cosme me chamava novamente até a sua sala.
- Caro Fábio, tudo bem?
- Tudo, detetive. E o senhor?
- Também. Sente-se, por favor.
- Obrigado.
- Aceita um café?
- Não, obrigado.
- Como quiser. Bem, eu lhe chamei aqui novamente porque me surgiu uma dúvida após os depoimentos da senhora Olga e de sua filha, a Isadora.
- Pois diga.
- Bem, Isadora disse que você não sabia que ela era menor de idade. Confere?
- Sim, senhor.
- Agora, você, como fotógrafo profissional que é, não pediu a identidade da jovem?
- Olha, detetive, era o que eu, profissionalmente, deveria ter feito. Mas Durval era um velho amigo meu. O que me faria pensar que Durval estivesse mentindo sobre a idade de sua própria filha?
- Eu entendo, mas é isso que não me entra na minha cabeça. Não dá para compreender o motivo pelo qual levou Durval a mentir sobre a idade da própria filha. A menos que...
- A menos que o quê?
- A menos que ele, mais do que ninguém, até mais que a própria Isadora, quisesse essas fotos. As fotos de Isadora nua, você sabe.
Eu sentia que Cosme chegava perto da verdadeira história. Merda!
- Mas detetive, ele é pai de Isadora!
- Mas ele encomendou essas fotos, não?
Cosme me pressionava. O que eu ia responder? Eu já estava metido em tanta mentira que precisava raciocinar para não me contradizer.
- Sim. Ele disse que eu poderia tirar fotos nuas de sua filha. Então, eu perguntei a idade dela e ele me disse: dezenove. Simples assim!
- É, Fábio, mas não é tão simples assim...

* * *
Duas semanas mais tarde, o detetive Cosme voltava a me procurar. Dessa vez, na minha casa.
- Bom dia, Fábio.
- Bom dia, detetive. Entre.

Cosme sentava-se e logo começava:
- Devo lhe informar que o caso está praticamente encerrado. Olga está presa.
- Mas... Como? Foi ela quem matou Durval?
- Quase.
- Como assim?
- Eu explico. Bem, nós andamos investigando ao redor do estúdio fotográfico da Cia. Zero. Fizemos algumas perguntas aos moradores daquele local. O crime foi durante o dia, logo, dificilmente, alguém não teria visto a entrada de pessoas no estúdio. Uma senhora, que na tarde do crime estava em sua varanda – que possui vista total para o estúdio – presenciou tudo.
- Tudo?
- Sim, tudo o que ocorreu do lado de fora, é claro. Ela viu o senhor chegar e, logo depois, Durval e Isadora chegarem também. Viu Durval parar o carro atrás do estúdio e entrando pela porta dos fundos. Isso a deixou curiosa. Sabe como é velha fofoqueira, não?
- Sei sim.
- Pois bem. Isso fez com que esta senhora ficasse ali observando, pois sabia que algo não cheirava bem. Foi quando ela viu a entrada de um sujeito também pela porta dos fundos.
- E quem era?
- Calma, Fábio. Vamos voltar à parte onde Durval liga para você combinando tudo!
- Combinando tudo? Como assim?
- Fábio, nós já sabemos de tudo. Sabemos que você nunca foi fotógrafo, que Durval sentia atrações por Isadora, o voyeurismo de Durval... Enfim, tudo!
- Meu Deus.
- Continuando. Olga, pela extensão telefônica, sem querer, ouvira toda a conversa entre você e Durval. Logicamente, como mãe, ficou revoltada.
- Então ela sabia de tudo a todo tempo! Queria me incriminar forçando aquela versão sobre o coração de Durval. Que tola.
- Sim! E quando soube de tudo, quis fazer justiça com as próprias mãos, ou melhor, com a mão do Lucas.
- Lucas?
- Sim. Parece que esse Lucas vivia atrás da Isadora e, por isso, Olga sabia que poderia contar com ele para qualquer loucura a favor da filha.
- Sim! Estou lembrado desse Lucas. Eu o vi na festa da casa de Durval, onde tudo começou! Então, Olga contratou Lucas para dar fim a Durval?
- Exatamente.
- Mas como vocês chegaram ao Lucas?
- Aquela senhora, a vizinha do estúdio, para nossa sorte, conhecia o rapaz. Ele vivia por lá, provavelmente atrás de Isadora.
- Que babaca.
- A senhora sabia até o nome do pilantra. Ele não teve sequer o cuidado de usar uma máscara. Foi fácil pressionarmos Olga e Isadora para descobrirmos que raio de Lucas era esse.
- Meu Deus. Que história maluca! Mas detetive, se vocês já sabem de tudo, acredito que eu também irei preso. Você veio aqui me prender, não foi?
- Não, Fábio.
- Não?
- Não. Nós sabemos, sim, que você e Isadora tiveram relações naquela tarde. As provas colhidas no estúdio comprovam. Mas quando fomos chegando ao final das investigações, Olga se viu sem saída e desesperada. Então, nos procurou, contou toda a verdade e se entregou.
- Mas Isadora continua sendo menor de idade, detetive.
- Sim, mas Isadora afirma que a relação sexual que tiveram também partiu dela. E como nem Olga e nem Isadora quiseram prestar queixa contra você... Se ela tivesse quatorze, você estaria, sim, bem encrencado. Não importariam em que circunstâncias.
- Foi por um triz, então.
- Foi sim. E convenhamos, que morra aqui, mas aquela Isadora é um pedaço!
- Se é, detetive. Mas uma coisa eu não entendi. E o Lucas?
- Está foragido. Mas foi na casa dele onde encontramos todas as provas do crime. Sem elas, nem prender Olga poderíamos. Um celular com as ligações de Olga. Umas trocas de mensagens entre os dois também, etc. O que sabemos é que ele entrou pelos fundos do estúdio e, tomado pelo ódio de saber que Durval tinha tramado coisa tão horrenda, a mando de Olga, estrangulou-o. Pelo estado do corpo, chegamos à conclusão de que Durval chegou a assistir alguma coisa. Até o sexo, talvez.
- Meu Deus. Mas Isadora e eu não ouvimos nada! Trata-se de um assassino profissional, detetive?
- Acho que não. O rapaz não possui antecedentes criminais. Ah! Tem outra coisa que acho que você precisa saber.
- O quê?
- Isadora não é filha de Durval.
- O quê?!
- Isso mesmo. Olga também acabou nos contando isso. E Durval, segundo Olga, sabia que não era pai de Isadora. Nesse caso, não havia incesto. Ele morria era de tesão pela enteada. Uma enteada que ele criou como filha, mas... Enteada.
- E por que ele não me disse?
- Isadora é fruto de uma traição de Olga, segundo ela mesma diz. Que homem admite um caso desse?
- Nossa! Quem diria...
- Bem. Eu vou indo, Fábio.
- Tudo bem. Obrigado por me trazer tais informações. Sorte nas buscas, detetive.
- OK. Ah! Fique longe de problemas, cara. Por pouco você não se lasca.
- Pode deixar.

* * *
Alguns dias se passavam e, sem eu saber como, Isadora aparecia à minha casa. Parecia, pelo menos, recuperada de toda aquela confusão.
- Oi Fábio.
- Oi Isadora. Acho que lhe devo desculpas. Eu...
- Não vai me convidar para entrar?
- Sim! Claro! Entre!

Isadora entrava e, como se não fosse aquela máquina que havia montado em mim naquele estúdio, sentava-se recatadamente.
- Acredito que o que a traz aqui são meus pedidos de desculpa.
- Esqueça isso. Eu não sei nem dizer quem foi o mais louco nessa história. Meu pai, ou melhor, padrasto, tinha tara por mim. Minha mãe, descobre tudo e manda matá-lo. O Lucas, veja só, o Lucas aceita a proposta de minha mãe e agora é um assassino foragido. Você, se faz passar por fotógrafo a fim de transar comigo e completar todo esse ciclo de loucura!
- Desculpe-me, Isadora. Eu...
- O que te fez aceitar a trama de meu pai?
- Tesão, Isadora. Unicamente. Mas se eu soubesse que era menor de idade, nada disso teria ocorrido.
- Eu acredito em você. Não sei por que, mas, dessa vez, acredito.
- Que bom, Isadora.
- A propósito, eu vim até aqui não para relembrar todo esse pesadelo, mas para lhe ver.
- Para me ver?
- Eu gostei de você, Fábio.
- Olha, Isadora, acho que já nos envolvemos em problemas demais. Outra: você é menor de idade, esqueceu?
- Não mais. Completei dezoito a exatos cinco minutos, segundo minha certidão de nascimento.
- Não acredito que...
- Sim! Vim para ficar com você!
- Mesmo depois de tudo?
- Depois do quê? Do dia de hoje para trás, nada quero saber. De hoje em diante é o que me importa.

Beijávamos-nos loucamente. Precisou a morte de um pai, a prisão de uma mãe e a fuga de um pentelho assassino para que pudéssemos nos curtir em paz. Durval deveria estar, de algum lugar, concretizando o voyeurismo para fim de uma tara que acabou por lhe consumir. Deveria ser, naquele momento, um anjo voyeur. Ou um capeta. Dane-se. Estávamos Isadora e eu, um sobre o outro. Devia tudo aquilo às minhas mentiras. Mentir! Mentir!

[Fim]

5 comentários:

Anônimo disse...

é.... até que fabio saiu bem de toda essa confusão...
parabénsssssssssssss

Anônimo disse...

caracolis...

CAMILA de Araujo disse...

Quanta criatividade e sagacidade!
Muito interessante.
Parabens


www.casadobesouro.blogspot.com

Anônimo disse...

realmente, apesar de todos os acontecimentos Fábio se deu bem.
e que confusão hein?!
mas td, acabou se 'acertando'.

bjos

Anônimo disse...

Eu li no dia que vc colocou Lu, mas n deu para comentar, primeiro lugar, parabéns muito bom o final, Fabio coitado, pensou q ia ser o maior prejudicado, rs....no final ficou com o trunfo....haha

mto bom....Vlw CAra.....abraçoss