segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

VOYEUR

Durval, um grande e velho amigo meu, que há muito não via, comemorava com uma enorme festa os vinte anos de seu casamento. Vinte anos ao lado de Olga eu também tiraria de letra. Olga mantinha-se jovem e linda em plenos quarenta e seis. Ambos mereciam aquela festa. Amavam-se como jamais vira um casal. Durval não era um sujeito feio, confesso, mas também não tinha, no meu ponto de vista, uma beleza à altura da de Olga. Era fácil surgirem comentários do tipo “o que ela viu nele?” ou “mas justo com esse cara sem sal?”.

O fato é que esse meu amigo, o Durval, era um cara muito inteligente. Sempre esteve à frente de seu tempo em relação a tudo. Objetivou melhores empregos e melhorou de vida por conta de suas boas idéias. Durval era dono da mais bem sucedida loja de roupas da cidade. Várias filiais, propagandas em horário nobre da TV etc. Estava bem. Muito bem de vida. E com Olga por perto, quem não estaria ainda melhor?

Olga era uma morena de mais ou menos um metro de setenta, cabelos lisos, volumosos e longos. Um corpo esculpido nas máquinas mais modernas de sua academia particular, eu imagino. Olga era do tipo que ao sorrir já nos fazia imaginar toda sua educação alimentar exemplar. Um molde para as quarentonas. Um belo molde!

Lá estava eu. Naquela casa enorme de Durval com minha única calça e minha mais apresentável blusa. Uma listrada de botões. Durval me apresentava cada pessoa naquele imenso jardim. Muitos eram homens de negócios. Amigos de interesse, dizia Durval.

- Mas o que você anda fazendo da vida, Fábio?
Ele me perguntava.
- Ora, Durval, correndo atrás, não é?
- Mas saiba que deve correr na frente. Atrás não.
Durval tentava injetar um pouco de seu ânimo em minha pessoa.
- Pois é. Eu não tive a mesma sorte que você, Durval. Ou melhor, a mesma garra!
- Pois fique sabendo que além de garra contei muito com a sorte também, Fábio. Veja minha esposa – lá ia ele falar da gostosa da Olga. – Olha que mulher linda! Isso não é uma baita sorte? Ela me ajuda muito a crescer, além de tudo.
- É. Uma grande sorte a sua.
- Olha lá, Fábio!
Apontava Durval.
- O quê?
- A Isadora.
- Isadora?
- Não lembra de minha filha, Fábio?
- Ah! Sim! Que desligado sou. A vi muito pequena. Mas onde ela está? Não a vejo.
- Ora, Fábio. Aquela ali com as amigas. Ela é a de vestido azul.
- Ah! Sim! Mas está enorme. Meu Deus!
- O tempo, Fábio. Passa.
- Se passa.

O que eu via era uma jovem linda. Não tão linda como a mãe, talvez, mas linda. Mais morena que Olga, provavelmente por conta de longas manhãs na praia. Tinha o corpo delicado, porém, com formas invejáveis. Nada vulgar. Suas medidas pareciam ter sido encomendadas depois de muito estudo. O vestido azul deixava as coxas à mostra. E que coxas. Nem enormes nem magricelas. Torneadas. Isadora devia se cuidar como a mãe. Durval e Olga tinham caprichado na menina.
- ISADORA!
Chamava Durval.
- Sim, pai!
- Venha até aqui. Quero que conheça um amigo meu.
- Estou indo.
Ela vinha. Ajeitava seus longos fios atrás daquelas orelhinhas perfeitas. Fazia sinal para as amigas dizendo que voltaria logo. Ela vinha. Caminhando pelo jardim num rebolar inocente e, por isso, talvez, mais provocante que a mãe.

- Filha, este aqui é o Fábio. Um velho amigo da escola. Não o vejo faz tempo. Encontrei com ele esses dias e...
- Prazer, Fábio. Isadora.
Interrompia a menina.
- O prazer é meu, Isadora.
Eu também a cumprimentava.
- Ele te viu bem pequena, filha.
Dizia Durval.
- É mesmo?
Ela perguntava.
- Sim. Vi sim. Bem pequena. E agora, esta moça! Você é muito linda, sabia? Com todo o respeito, Durval.
- Tudo bem, Fábio. Que isso?
- Obrigada, Fábio. Agora, se me dão licença, eu vou até minha amigas.
- Fique à vontade, Isadora.
- Tchau.
Ela voltava às amigas. Dessa vez me colocando à vista as costas nuas com suas marquinhas de biquíni. Um par de nádegas médias e perfeitamente sincronizadas. Uma coisa de louco. Fazia-me, por alguns minutos, esquecer-me de Olga.

- O que você achou?
Perguntava-me Durval.
- O que eu achei do quê?
- Ora, Fábio. Da Isadora.
- Bem. Está uma moça muito bonita.
- Espere aí, Fábio. Quero ouvir o que você realmente achou da Isadora.
- Não entendi. Eu já disse: Uma moça...
- Gostosa. Não é isso o que você achou?
- Como assim, Durval? É sua filha!
- Fiz uma pergunta, Fábio. Achou ela gostosa?
- Está gozando comigo, não é?
Eu não entendia as intenções de Durval.
- Não. Só quero saber isso. Se a achou gostosa.
Claro que tinha achado, mas como diria isso ao pai dela? O que Durval queria afinal?
- A achei linda. É isso. Linda.
- Pode falar. Minha filha está uma tremenda gostosa, não está?
- Durval... Que papo é esse? É sua filha. Como pode falar assim?
- Fábio, eu não sou cego! Minha filha está gostosa e eu não posso negar isso.
- Você não vai me dizer que você sente...
- Não! Não sinto atração pela minha filha! Ficou louco?
- Que bom.
- Quer dizer...
Vacilava Durval.
- Quer dizer o quê?
- Fábio, eu preciso confessar uma coisa.
- O quê?
Eu perguntava já imaginado o teor de gravidade em sua confissão. Durval checava se havia alguém muito próximo e:
- Sinto-me atraído, sim, pela Isadora.
- O QUÊ?
- É isso mesmo. Sinto-me atraído pela Isadora. Não sei mais o que fazer.
- Precisa cuidar disso, Durval. Não vá cometer uma loucura. Isso daria uma merda tremenda. Você está completando vinte anos de uma união tão bacana. E a Olga é tão linda...
- Sei de tudo isso. Mas acho que sei como amenizar minha tara.
- Como?
- Quero vê-la com alguém.
- Você quer dizer namorando alguém?
- Não, Fábio! Transando mesmo! Palavra!
- Ficou maluco?
- Acho que sim. Mas juro que quero.
- Durval, por que conta tudo isso para mim? Eu, sinceramente, não gostaria de saber de nada disso.
- Conto isso para ti porque acho que pode me ajudar.
- Como? Arranjando alguém para Isadora? Está louco...
- Não! Sendo esse alguém! O que acha?

Eu gelava. Jamais esperava tal proposta. Vindo de Durval? A vontade que tive de aceitar, confesso, era gigante. Imaginava Isadora em meus braços e... Mas entre seu próprio pai sugerir nossa intimidade e a menina querer havia uma distância incalculável. Na certa não vingaria. Ao mesmo tempo eu pensava seriamente em não aceitar aquela loucura. Seria monstruoso de minha parte. Pensei por alguns segundos.

[Continua]

10 comentários:

Anônimo disse...

situação muito complicada, eu não conseguiria me envover em um casos desses!
mas conheço relacionametos parecidos, e posso dizer que não é nada amigável...
enfim, são as circunstancias da vida
abraço

visite

http://www.kaoskotidiano.blogspot.com/

Anônimo disse...

Nossa, podemos até achar bizarro mais é uma situação que existe, muitos problemas assim ja aconteceram, alguns com um final bem complicados.... mas... continua interessante a historia, tomara que tudo acabe bem....

Abraços Lu..

Livia Queiroz disse...

Durval eh um ser desprezível!

Unknown disse...

ih, gente...
que babado, han?!

Kayo Medeiros disse...

O Fábio vaaaaaaai... e ainda vai palitar os dentes! XP

Lucas disse...

Nossa, nossa, nossa.

Ótimo.

Quero ler o fim da história!


Abraço.

E gostei da cara nova do blog, ficou ótimo.

Anônimo disse...

vê lá como vai terminar essa história, hein?!

Anônimo disse...

alguém me amarrota!
gente, como assim???
que "pai" é esse? creeedo!

luciano, infelizmente so pude ler hoje! estava sem internet aqui no trabalho ontem... mas, mais uma vez, PARABÉNS!
comecou com o pé direito =)

beijoo

Anônimo disse...

uma curiosidade:
esses dados referem-se ao conto ou ao nome do blog "muitos me um"?

Anônimo disse...

essa história promete hein!
quero ler a continuação, isso vai dar o que falar!

bjos