
O semáforo estava verde para os carros. Não fiz nada. Ali fiquei. Imóvel. Nem sequer piscava os olhos. Nem me lembro se respirava. Apenas olhava para aquela menina do outro lado da rua, que parecia um pouco ansiosa em atravessar.
Foi quando deixou escapar um sorriso. Respondi sorrindo também, meio sem acreditar que aquilo era verdade. Abobalhado, deixei cair no chão toda a papelada que diariamente me resultava em fortes dores por todo o braço.
O semáforo “abriu” para nós. Não pude seguir, pois tive que me agachar para catar toda àquela chatice que tomava horas do meu expediente. Enquanto apanhava os papéis, ia observando cada calçado que tropeçava em mim na esperança de ser aquele cano longo preto que me chamara atenção segundos antes. Mas não o vi passar. Recolhi tudo. Triste, me levantei e olhei para o semáforo, que estava novamente verde para os carros.
Logo pensei que havia perdido a oportunidade de ao menos passar ao lado daquela menina dona do sorriso mais lindo que eu já tinha visto até então.
Olhei para os lados, para trás e até para cima. Não seria difícil achá-la no meio daquela gente toda, com aquele tom de blusa. Mas não achei. Foi quando olhei para frente. Ela estava lá, no mesmo lugar. Ela também não havia atravessado a rua. Balançou seus longos fios ruivos, sorriu-me novamente e disse uma frase que só através da leitura labial entendi.
- Você tem mais uma chance!
* * *
Foto da Capa: Ana Fonseca
Conto publicado originalmente em 30 de agosto de 2007 no fotolog.com/lucianofreitas
4 comentários:
não lembraaaava!
Uau!!!
Que intrigante esse conto!
Que bonitinho. ^^
Quem dera essa segunda chance ser comum na vida...
Gostei Luciano, mesmo!
Abraço grande.
Adorei,Luciano.
Seus contos são ótimos,e esse entrou para os meus favoritos.
Quem não iria querer uma segunda chance para fazer ou mostrar que as coisas podem ser melhores,dar certo ou intensas.
www.teoria-do-playmobil.blogspot.com
Postar um comentário