
“Tenente, leve o Robinson contigo. Não deve haver mais que dois naquela igrejinha”, dizia-me o capitão. O Robinson era um sargento daqueles que você prefere uma latrina cheia de merda à sua companhia; não serviria sequer para amarrar seus próprios coturnos. Mas ordens são ordens.
“Vamos, Robinson, não quero demorar por aqui”, eu dizia ao sargento, que, estabanado como sempre, derrubava sua arma ao tentar dizer um simples “sim, senhor”. Era lamentável.
Próximo à igreja daquele local já deserto, nos posicionamos. Podíamos ouvir aqueles alemães com suas risadas exageradas junto às tentativas de grito da irmã. Como o capitão previa, escutávamos apenas duas vozes masculinas. “Eles devem estar se divertindo um bocado, tenente”, dizia-me Robinson. Até a voz daquele sargento me enojava. “Robinson, você vai até a porta da igreja e, com cuidado, verifique se ela está aberta. Se estiver, dê-me sinal. Se não, volte para cá”, eu dizia.
Robinson chegou sem problemas até a porta, mas ao movimentá-la com sua delicadeza de búfalo, foi totalmente perfurado pelas MP40 dos alemães, que logo trataram de sair correndo dali. Diante disso, dei a volta por trás da igreja e me posicionei de forma que conseguisse ver os passos inimigos. Na certa eles imaginaram a presença de uma grande tropa aliada nas proximidades; sequer desconfiaram que na verdade estavam em vantagem sobre mim.
Com a fuga dos alemães, preocupado com o estado de saúde de Robinson, fui até a porta da igreja. Pela vida daquele sargento não havia mais nada a ser feito. Mas a freira permanecia viva – eu constatava pela respiração ofegante que se ouvia lá de fora. Fui até ela.
- Alliés! Américaine! – eu dizia à freira ser um aliado americano.
- Obrigada, senhor!
- Fala a minha língua, irmã?
- Sim... Eles iam me matar...
- Já passou. Vamos sair daqui.
- Para onde vamos?
- Para um lugar seguro, mas primeiro me ajude a carregar o corpo de meu amigo até a minha tropa, OK?
- Farei o possível.
Estávamos de certa forma em fuga, e aquela roupa que a irmã vestia não era nada apropriada, pois a fez tropeçar por diversas vezes. Então, parei no meio do caminho, saquei minha baioneta, fui até às pernas da irmã e rasguei metade de sua vestimenta.
- Mas tenente?!
- Isso vai lhe ajudar! – eu dizia ao mesmo tempo em que notava a beleza das pernas daquela mulher.
Eu estava naquele inferno havia pelo menos dois anos. Dois anos sem saber o que era prazer carnal. Levei minhas mãos até suas partes íntimas... Não pensei. Agi como um animal; estuprei-a.
Cheguei à tropa com um sargento morto e o silêncio temeroso de uma freira “salva”.
Mesmo assim, anos depois, retornado à minha pátria, recebi medalhas e até hoje sou considerado um herói de guerra.