
Maria cumpria então o seu último mês naquela função. Durante aqueles dias fez questão de avisar a cada conhecido daquele edifício – que não eram poucos – sobre a sua saída. “Estou de aviso prévio, sabia? É a vida, não é?”, dizia Maria, que nada ouvia como resposta. Na certa aqueles condôminos eram donos de uma mesma ideia: a de que o prédio precisava, sim, de novas ascensoristas; mais jovens e mais belas, por que não?
Maria subia e descia em média cento e dez vezes por dia naquele elevador. Dizia, também diariamente, mais ou menos setecentos e setenta vezes coisas como “bom dia”, “chegamos”, “qual o andar?” etc. Sua rotina era estar exposta a todo e qualquer tipo de doenças, que através de espirros e tosses eram arremessadas sobre sua pessoa. Naquele banquinho, ouvia de tudo um pouco; fofocas, coisas banais, coisas interessantes, notícias sobre o clima, sobre o trânsito, sobre o dólar, sobre o Lula...
No último dia de trabalho, Maria se despedia de cada passageiro que em sua cabine viajava. Recebeu até tapinhas nas costas e muitos votos de boa sorte, porém, ninguém ousou lhe oferecer uma nova vaga. Maria não estava preocupada com o futuro, pelo menos não naquele momento. A ascensorista estava mais triste pela falta que lhe faria toda aquela rotina, apesar de tudo.
Faltando dois minutos para o término de seu último dia naquele emprego, Maria, mesmo sem chamadas, subia o elevador até o último andar. Abria a porta, mas não havia ninguém a descer. No intuito de parar em todos os andares, marcou todos os botões de seu painel e desceu. Incrivelmente não houvera em nenhum dos vinte andares alguém para descer. Com o elevador vazio, porém, coberto até o teto da mais horrível solidão, Maria chegava ao térreo. Lá, uma menina de aparentemente dezenove anos, lindamente vestida com o novo uniforme do condomínio a aguardava.
- Maria Antônia? – dizia a menina.
- Sim, sou eu.
- É que pediram para que eu a rendesse.
- Você é a nova ascensorista?
- Sim.
- Ah... Boa sorte, OK?
- Obrigada!
A menina sentava-se no banquinho que por vinte e dois anos fora de Maria, fechava a porta do elevador e subia. Maria, como se fosse a peça mais antiga daquele edifício, cruzava cabisbaixa aquele hall já coberto por uma nova logomarca e um slogan que dizia: “Venha para o novo”. Ela saía.
3 comentários:
"trabalhador barsileiro"
parabéns, sempreeeeeeeee!
triste. Não ri não. =/
Triste 2.
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