terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PRESENTE

- E onde eles moram? – eu perguntava à Ana com lágrimas nos olhos.

Ana passaria o Natal na casa de seus avós, em Minas Gerais. Tudo bem, se nosso namoro não estivesse num misto de paixão incendiária e tesão adolescente. Eu só via Ana ao meu redor; da chaminé da fábrica à flor do meu jardim, tudo era Ana. Eu não conseguia me concentrar em absolutamente nada. E saber que passaria duas semanas sem os beijos de Ana me fazia preferir a morte. Juro!

A Ana possuía uma presença em minha alma que era possível senti-la à distância. Mas eu tinha certeza de que não estava disposto a sentir tal presença estando ela em Minas Gerais, mesmo que por míseros quinze dias; eu não aguentaria.

Os seus cabelos, sempre soltos, eram negros, lisos e escorriam até a altura dos ombros, que por sua vez mostravam uma pele morena clara e coberta de pintinhas. O rosto de Ana possuía beleza rara. Não que ela fosse uma miss, mas suas expressões faciais demonstravam uma personalidade tão apaixonante, que a busca pelo desvendamento de seu íntimo se tornava um objetivo cego dos seres que a conhecia.

Pode parecer exagero toda essa descrição sobre Ana, mas, acredite, as palavras se tornam falhas diante de tantas qualidades. Sentia que meu coração só batia de verdade ao lado dela. Enfim, eu estava perdidamente apaixonado e louco por Ana – o auge de tudo de mais belo que já sentira em minha vida.

- Quinze dias, Ana? – eu perguntava.

- Infelizmente... – respondia-me Ana com seu lábio inferior à frente do superior; uma espécie de “biquinho”.

Era incrível como seus dezoito anos se dividiam perfeitamente entre a inocência bela de uma menina e a sensualidade avassaladora de uma mulher. Eu estava em suas mãos. Essa era a verdade.

- Seus pais pensariam na hipótese de eu... ir junto?

- Jamais, Gabriel. Você sabe que nem a favor de nosso namoro eles são!

- Entendi... Na certa querem mais é que você se apaixone por um mineiro rico.

- Isso é verdade...

- Ah?!

O quê? Ela acabava de concordar com o fato de seus pais estarem lutando para a nossa separação. O reconhecimento aparentemente ingênuo de Ana me fez parar e pensar por alguns segundos. Até que:

- E você acha isso provável? – eu perguntava – Você se apaixonando por outro homem?

- A gente nunca sabe, não é? Eu não quero, mas... – respondia-me fria, mas não menos doce.

- Tudo bem. Eu confio em você! – eu dizia.

- Que bom, Gabriel!

- E quando irão?

- Amanhã à noite.

- OK.

* * *
Como combinado, Ana viajava com os pais para Minas Gerais. Deixava-me com a certeza de somente vê-la no dia 2 de janeiro. Seriam os piores quinze dias de minha vida, mas eu estava disposto a aguentar. Aguentaria porque a amava da forma mais louca e cega possível.

Durante os quatro primeiros dias de sua ausência nós nos falamos bastante, sempre pela manhã, ao telefone. Ela me dizia o quanto estava sendo difícil aguentar nossa distância; chegou até a chorar, no terceiro dia, me lembro.

No quinto dia, estranhamente, Ana não me telefonara. No sexto dia, completamente sem saber o que fazer – tamanha doença romântica que tomava meu peito –, apenas esperei. À noite, o telefone tocava. Era o pai de Ana.

- Gabriel? Podemos falar com a nossa filha? Sabemos que ela está aí!

- Como? Não estou entendendo!

- Não se faça de imbecil, Gabriel! Quero falar com minha filha, chame-a!

- Senhor, ela não está aqui! Ontem, inclusive, ela não me telefonou.

- Rapaz, você me escute bem! A Ana sumiu daqui, creio que na noite de ontem! Deixou um bilhete dizendo que não aguentava mais de saudades suas e que estava voltando para o Rio. Que história é essa, rapaz?

- Eu não sei de nada, senhor! Acredite em mim! Ela não me falou nada sobre voltar para o Rio!

Um silêncio terrível tomou a conversa de repente.

- OK! – ele desligava o telefone na minha cara.

Os dias foram passando e eu não obtinha notícias de Ana. Não tinha noção do que estava acontecendo, mas algo me dizia que não era nada bom. O jeito foi chorar e esquecer que o mundo existia. Pelo menos até o dia 2 de janeiro, quando procuraria os pais de Ana na casa deles.

No dia 2, chegando lá, encontro uma família tomada por um luto furioso. Isso porque Ana teria tomado um ônibus para o Rio, mas o mesmo se envolvera num terrível acidente, deixando ela e mais dez vítimas fatais. Os pais de Ana já estavam no Rio antes mesmo do Ano Novo. O corpo de Ana, já cremado – conforme ela mesma vivia pedindo –, sequer pude ver.

Por conta disso, Natal e Ano Novo, para mim, não se comemora mais. Nessa época do ano, é como se eu voltasse àquele ano e vivesse todo aquele sofrimento novamente. Mas uma coisa eu nunca deixei de sentir, um minuto sequer: sua presença em minha alma.

5 comentários:

Unknown disse...

ih....

Pequeno Historiador Urbano . disse...

Nossa, que triste!
Mas acho que familias que passaram por desastres em épocas como essa, devem ter um sentimento semelhante.

http://www.seismaisoito.blogspot.com/
[coloquei a ferramente de seguidores.Que quiser me seguir, como no teoria. Agradeço (:]

Nathalia disse...

poxa... =(

Vanessa Sagossi disse...

Nossa! Que tristee!
:/
Tadinhoo..
Eu que gosto de contos tristes, quero um conto de natal feliz! :)

:*

Anônimo disse...

muito bonito porém triste demais :/