quinta-feira, 6 de maio de 2010

A DECLARAÇÃO SEGUNDO CAIO

O fim de tarde era sempre o início. O início de mais uma chance de dizer à Luiza o tamanho da reviravolta que me causava. É que todos os dias, das seis da tarde às oito da noite, eu me sentava ao seu lado, no curso de inglês. Eu, que namorava a Daniele seriamente havia cinco anos, me via, naquele momento, tomado por sentimentos que, sei lá, não sei explicar... Queria Luiza para mim. Sabia disso. Apesar de um amor ainda enorme à Daniele, queria Luiza para mim!

Descrever Luiza não é fácil. Com sua estatura baixa e medidas perfeitamente distribuídas, Luiza compactava em si as mais singelas qualidades que uma mulher poderia ter. Quando sorria, assemelhava-se a uma criança; quando séria, mostrava a mulher madura que seus vinte anos muitas vezes escondia. Enquanto assistia às aulas, por vezes me pegava a observá-la. É que seus olhos negros e bem desenhados, num misto de atenção e curiosidade, junto àquele semblante meigo e àquela pinta próximo ao canto da pequena boca, me hipnotizavam. Quando ela surgia envolta num vestido florido – o meu preferido –, ficava ainda mais difícil prestar atenção à minha volta; meus olhos eram seus. Os cabelos lisos e cortados na altura do ombro não possuíam um desenho elaborado, mas não me importava com isso. Debaixo daqueles fios eu me perderia por completo em sua nuca coberta de mais pintinhas como a do canto da boca. Na ponta das orelhas, um par de brincos tão meigos quanto a dona – geralmente com frutinhas – era a cereja do bolo.

O meu medo maior era o de com Luiza evoluir uma amizade que não coubesse uma declaração apaixonada de minha parte. Eu tinha a convicção de que, até o final do curso, eu iria me declarar. Mas me frustraria profundamente receber em troca uma gargalhada fofa, daquelas que só ela era capaz de soltar. Mas como controlar uma aproximação quando o desejo de se dizer futuramente o real sentimento se choca a vontade louca de ser amigo, irmão e pai daquela pessoa? Ao mesmo tempo em que eu procurava não me transformar no “melhor amigo” de Luiza, agia como se já o fosse de fato. “Eu preciso dizer logo o que sinto”, eu pensava. Mas e o medo de tudo até ali acabar de repente? – a amizade de Luiza, mesmo que limitando o meu sentimento mais profundo, era muito importante para mim.

Certo dia, já cansado de todo o fim de tarde dar início à minha confusão noturna, segui para o curso confiando ser aquele o “Dia D”. “De hoje não passa”, eu pensava e, pelo caminho, chegava a dizer a mim mesmo em voz alta. Cheguei até a notar que, durante o trajeto, o semblante de Daniele não me surgira. Aliás, fazia alguns dias que não conseguia pensar em Daniele, embora, repito, eu ainda a amasse. Amava? É que o foco ali era Luiza, entende?. Eu tinha que estar entregue, de corpo e alma, àquela conquista. Foi quando pensei: “E se Luiza disser ‘sim’, o que eu faço?”. Bem, embora fosse este o meu objetivo, eu notava que realmente não havia pensado em tal possibilidade. Terminaria tudo com Daniele?

Chegando ao curso, me deparava com Luiza ocupando uma cadeira na cantina, como sempre, a saborear um atraente suco de laranja.

- Olá – eu dizia.

- Que bom que chegou cedo, Caio. Precisava mesmo falar contigo – dizia Luiza séria.

Criativo, pensei: “Já pensou se ela se declara antes de mim?”.

- Pois não. Diga.

- Eu não sei bem como dizer, sabe? Eu tenho muito medo do que pode vir a acontecer depois desse nosso papo.

- Nossa! Fiquei curioso. Prossiga.

- É o seguinte: eu sei que você morre de amores pela sua namorada, a...

- Daniele – eu a completava, enquanto pensava “ela vai se declarar, ela vai se declarar”.

- Isso, a Daniele. E eu, pelo amor de Deus, Caio, acredite em mim, não quero jamais estragar um relacionamento tão bacana.

- Ora, mas por que diz isso?

- Bem, vou direto ao assunto. Acho melhor nos distanciarmos, Caio.

- Por que isso? Ainda não entendi. Somos amigos, não somos?

Estava na cara. Luiza notara que estava apaixonada por mim, e, com medo de não ser correspondida, devido ao meu relacionamento com Daniele, queria se distanciar.

- Caio, eu não sei como dizer. Só sei que será melhor para nós dois.

- Luiza, o que é isso? Não está sendo leal comigo. Diga-me realmente o que sente. Só assim poderei aceitar ou não esse distanciamento. Você está gostando de mim? É isso? Pois fique sabendo que eu estou perdidamente apaixonado por ti, Luiza! E nada, nem mesmo a Daniele será capaz de apagar o que sinto.

Pronto. Naquele momento, eu, contrariando todo um planejamento, me declarei. Senti-me leve e ao mesmo tempo certo de que me enganava em relação ao que sentia por Daniele. Ninguém, que amasse realmente, seria capaz daquilo. É como se em questão de segundos eu descobrisse um amor e um desamor ao mesmo tempo.

- Ficou maluco, Caio? – dizia Luiza.

- Sim! Maluco por ti!

- Ah... Mas... Não é nada disso, Caio. O que sinto por ti é a mais pura amizade. Eu... Ai, meu Deus... Queria me distanciar de ti porque sua namorada esteve aqui e me deixou esse bilhete.

Luiza, nitidamente sem jeito, jogava o bilhete sobre a mesa e saía. Eu, surpreso e confuso com tudo aquilo, o li:

O Caio pensa que eu não sei. Fique longe dele, Luiza. Está me causando problemas.

Daniele.


Como Daniele havia chegado até Luiza? Eu devo ter dado alguma bandeira, sei lá. Quem sabe até dito o nome de Luiza ao pé do ouvido de Daniele. O fato claro é que Luiza já tomara mais espaço em minha vida do que eu imaginava.

Hoje, minha relação com Luiza está péssima. Ela mal fala comigo. Duro é aceitar que seus sorrisos contagiantes, que antes eram meus, já se mostram sem uma direção certa.

7 comentários:

Anônimo disse...

Você anda sumido daqui...

Gostei do conto, uma pena eles não ficarem juntos, podia ter continuação.. :)

Unknown disse...

Sim, Aninha. Aguarde "A Declaração Segundo Luiza" ;)

Nathalia disse...

aaaah sim, que bom que terá continuação! =)

coistado de todo mundo nessa história... rsrsrsr

bjs

Letícia Machado disse...

Nossa... Não sei se sinto pena da Luiza ou da Daniele... Adooorei!!

Aguardo a "A Declaração Segundo Luiza"...rs!!

Bjs!

Unknown disse...

aguardando a parte II...

:)

Yara Lopes disse...

Vou ficar aguardando a continuação. Mas eu temo que terei de ficar ao lado da Dani.
Eu meio que me vejo nela,gente ela tá com ele há 5 anos e vem uma Luiza e toma ele dela?
Muiito injusto

Você é muito polêmico Luciano

Vanessa Sagossi disse...

Cara de PAU!!!!!!!!!
Tomara que se ferre no final.
Poderia ter sido sincero com as duas.
Mas com medo de ficar sozinho, não quis arriscar a perder uma e talvez ter outra.
Só trocaria se tivesse certeza.
Muito cara de pau!