
O problema não era a casa de minha “sogra” em si, muito pelo contrário; um palácio com piscina, churrasqueira e até um campinho de futebol, desses de se jogar quatro na linha e um no gol, maior barato! O problema todo estava no fato de, novamente, ter de encontrar os olhos da prima de minha namorada, a Luciana.
Luciana não é nem de longe mais bonita que Daiane. Enquanto minha namorada exibe um corpitcho bronzeado e de medidas perfeitas, Luciana anda aos estalar dos ossos que lhe sobressaltam; magrela, coitadinha, Luciana precisa da identidade para provar seus vinte e um anos – aparenta dezesseis, no máximo, por conta da ausência de, digamos, atributos.
Vamos fazer um comparativo? Daiane: estatura mediana, morena, cabelos longos na cor do mel, na altura do meio das costas. Olhos negros num rosto de traços delicados. Seios e bumbum rijos, um abdômen hipnotizador e um par de pernas que, meu Deus... Luciana: estatura mediana também, branca como um papel, cabelos negros e longos, na altura da cintura. Rosto sardento, mas de traços finos. Seios e bumbum pequeninos de dar pena. Mas os olhos... Ah, os olhos de Luciana...
Grandes, amendoados e claros, os olhos de Luciana são – mais ainda que o abdômen de Daiane – também hipnotizadores. Por vezes me peguei paralisado frente àqueles olhos; não tem como! Palavra! É como se Deus tivesse deixado o capricho todo voltado naquele par de olhos e se esquecesse do restante de Luciana.
No Natal passado, fui flagrado três vezes por Daiane.
- O que tanto você olha para a Luciana, Saulo? – perguntou-me Daiane já no terceiro flagrante.
- De novo com essa história, Daiane? Que coisa!
- “Que coisa” é uma ova! Já é a quarta...
- Terceira!
- Que seja! Já é a terceira vez que te pego olhando para essa magrela! O que é que tá rolando?
Eu sentia nas palavras de Daiane uma convicção numa espécie de superioridade de beleza em relação à sua prima. Era como se fosse, segundo Daiane, impossível um homem trocar o “conjunto da obra” por um par de olhos. Realmente é impossível, você deve estar pensando. Mas, diante de Luciana, você treme na base.
- Vamos parar com esse assunto, Daiane! – eu dizia. – Nem falo direito com a sua prima! Está viajando com essa paranóia.
- Paranóia, né, Saulo? Paranóia? Na próxima vez que eu o vir fitando Luciana, Saulo, eu faço um escândalo, ouviu?
- OK, Daiane... OK...
Mas o pior ainda estava por vir... eu havia tirado a Luciana no amigo oculto da família. Como não olhar nos olhos de um amigo oculto? Confesso que por muito pouco não troquei os presentes com o Guilherme, irmão de Daiane – um grande amigo, que me entenderia.
Na hora de entregar o meu presente, tive que, como todos os participantes da brincadeira, dar pistas sobre o meu amigo oculto.
- Bem – eu começava –, não tenho muito a dizer sobre meu amigo oculto. A gente pouco se conhece e...
- O seu amigo oculto é bonito, Saulo? – perguntava um tio chato de Daiane, o Alberto.
- Bem – eu pensava no que ia falar –, posso dizer que sim, por que não, né? E...
- O que o seu amigo oculto tem de mais bonito, Saulo? – perguntava agora a chata da minha “sogra”, no mínimo achando ser ela.
- Acho que...
- Fala, Saulo! Fala logo! – insistiam.
- Pode falar, amor, que vergonha é essa? – dizia Daiane – É uma brincadeira.
- Bem... Eu acho que... Os olhos! Sim – agora com entusiasmo –, os olhos do meu amigo oculto são lindos! Lindos demais!
- Hummm – diziam, em uníssono.
- Então diga logo quem é, Saulo! – dizia minha sogra.
- É a Luciana!
Eu entregava o presente à Luciana ao mesmo tempo em que notava duas coisas engraçadas ocorrendo ali, diante de minha declaração sobre os olhos daquela menina: o desapontamento de Daiane e o silêncio daqueles familiares. Senti que ninguém via a beleza que eu via nos olhos de Luciana. E isso se confirmou mais tarde, quando todos dormiam e eu contemplava, acompanhado de um copo de vinho, o bailar das águas daquela piscina, no momento tão calmas.
- Acordado ainda, menino? – dizia-me Luciana a “surgir”.
- Sim. Perdi o sono. E você?
- Não consigo dormir.
- Entendo. Quer vinho? Ajuda...
- Quero – ela sorria.
Servi a ela um copo.
- Sabe, Saulo – ela dizia – não consegui dormir porque não paro de pensar no que disse sobre meus olhos.
- Não gostou?
- Claro que gostei, Saulo. Nunca ninguém exaltou uma beleza minha, assim, como você fez hoje.
- Que injustiça, Luciana.
- É sério. Você foi a primeira pessoa que... que me disse algo assim.
- Disse a verdade, só isso.
Luciana olhou para os lados – a fim de constatar que estávamos realmente sozinhos – e tocou-me os lábios com um beijinho rápido.
- Feliz Natal, Saulo – ela dizia, sumindo para dentro daquela casa.
Aquele momento ficou na minha memória. Marcou.
No dia seguinte, os olhares meu e de Luciana se encontraram por diversas vezes. Daiane não tocou no fato do amigo oculto e de oculto mesmo ficou aquele beijo que somente os copos de vinho testemunharam.
Tenho medo do que possa acontecer neste Natal.
9 comentários:
"corpitch"o"? Olha nathália entrando na cabeça de luciano aí...
uhahuahuuhauha, boa!
Ai, ai.
Só quero ver como será esse Natal! :)
Bjs,
Eu gosto desses contos de Natal, principalmente os mais "alegrinhos" rs
bjs
Aninha por aqui! Que saudade!!!
Esse natal pelo visto, pode rolar o pacote completo! ;x
Eu gostei mais da Luciana, achei Daiane meio metida chamando a outra de magrela naquele tom, sabendo que físicamente poderia ser melhor. Mas branquelas, magrinhas com cabelo preto SEMPRE arrasam!
Também adoro os contos de natal!
aaaaah eu adorei a luciana!
mt simpatica ela..
a daiane parece ser meio esnobe ;~
anciosa pro conto pós-natal
vai ter né?! ;D
bjs luh
ameeeeeeeie o "corpitcho" caraaaaan! hahaha
ah, luciano, quem dera se todos os homens vissem os detalhes das mulheres como seus personagens...
Ó, doce, ilusão! hahahaha
Postar um comentário