quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

EU TENHO MEDO DESTE NATAL

- Não acredito, Daiane! Mais um Natal na casa da sua mãe? – eu disse desanimado.

O problema não era a casa de minha “sogra” em si, muito pelo contrário; um palácio com piscina, churrasqueira e até um campinho de futebol, desses de se jogar quatro na linha e um no gol, maior barato! O problema todo estava no fato de, novamente, ter de encontrar os olhos da prima de minha namorada, a Luciana.

Luciana não é nem de longe mais bonita que Daiane. Enquanto minha namorada exibe um corpitcho bronzeado e de medidas perfeitas, Luciana anda aos estalar dos ossos que lhe sobressaltam; magrela, coitadinha, Luciana precisa da identidade para provar seus vinte e um anos – aparenta dezesseis, no máximo, por conta da ausência de, digamos, atributos.

Vamos fazer um comparativo? Daiane: estatura mediana, morena, cabelos longos na cor do mel, na altura do meio das costas. Olhos negros num rosto de traços delicados. Seios e bumbum rijos, um abdômen hipnotizador e um par de pernas que, meu Deus... Luciana: estatura mediana também, branca como um papel, cabelos negros e longos, na altura da cintura. Rosto sardento, mas de traços finos. Seios e bumbum pequeninos de dar pena. Mas os olhos... Ah, os olhos de Luciana...

Grandes, amendoados e claros, os olhos de Luciana são – mais ainda que o abdômen de Daiane – também hipnotizadores. Por vezes me peguei paralisado frente àqueles olhos; não tem como! Palavra! É como se Deus tivesse deixado o capricho todo voltado naquele par de olhos e se esquecesse do restante de Luciana.

No Natal passado, fui flagrado três vezes por Daiane.

- O que tanto você olha para a Luciana, Saulo? – perguntou-me Daiane já no terceiro flagrante.

- De novo com essa história, Daiane? Que coisa!

- “Que coisa” é uma ova! Já é a quarta...

- Terceira!

- Que seja! Já é a terceira vez que te pego olhando para essa magrela! O que é que tá rolando?

Eu sentia nas palavras de Daiane uma convicção numa espécie de superioridade de beleza em relação à sua prima. Era como se fosse, segundo Daiane, impossível um homem trocar o “conjunto da obra” por um par de olhos. Realmente é impossível, você deve estar pensando. Mas, diante de Luciana, você treme na base.

- Vamos parar com esse assunto, Daiane! – eu dizia. – Nem falo direito com a sua prima! Está viajando com essa paranóia.

- Paranóia, né, Saulo? Paranóia? Na próxima vez que eu o vir fitando Luciana, Saulo, eu faço um escândalo, ouviu?

- OK, Daiane... OK...

Mas o pior ainda estava por vir... eu havia tirado a Luciana no amigo oculto da família. Como não olhar nos olhos de um amigo oculto? Confesso que por muito pouco não troquei os presentes com o Guilherme, irmão de Daiane – um grande amigo, que me entenderia.

Na hora de entregar o meu presente, tive que, como todos os participantes da brincadeira, dar pistas sobre o meu amigo oculto.

- Bem – eu começava –, não tenho muito a dizer sobre meu amigo oculto. A gente pouco se conhece e...

- O seu amigo oculto é bonito, Saulo? – perguntava um tio chato de Daiane, o Alberto.

- Bem – eu pensava no que ia falar –, posso dizer que sim, por que não, né? E...

- O que o seu amigo oculto tem de mais bonito, Saulo? – perguntava agora a chata da minha “sogra”, no mínimo achando ser ela.

- Acho que...

- Fala, Saulo! Fala logo! – insistiam.

- Pode falar, amor, que vergonha é essa? – dizia Daiane – É uma brincadeira.

- Bem... Eu acho que... Os olhos! Sim – agora com entusiasmo –, os olhos do meu amigo oculto são lindos! Lindos demais!

- Hummm – diziam, em uníssono.

- Então diga logo quem é, Saulo! – dizia minha sogra.

- É a Luciana!

Eu entregava o presente à Luciana ao mesmo tempo em que notava duas coisas engraçadas ocorrendo ali, diante de minha declaração sobre os olhos daquela menina: o desapontamento de Daiane e o silêncio daqueles familiares. Senti que ninguém via a beleza que eu via nos olhos de Luciana. E isso se confirmou mais tarde, quando todos dormiam e eu contemplava, acompanhado de um copo de vinho, o bailar das águas daquela piscina, no momento tão calmas.

- Acordado ainda, menino? – dizia-me Luciana a “surgir”.

- Sim. Perdi o sono. E você?

- Não consigo dormir.

- Entendo. Quer vinho? Ajuda...

- Quero – ela sorria.

Servi a ela um copo.

- Sabe, Saulo – ela dizia – não consegui dormir porque não paro de pensar no que disse sobre meus olhos.

- Não gostou?

- Claro que gostei, Saulo. Nunca ninguém exaltou uma beleza minha, assim, como você fez hoje.

- Que injustiça, Luciana.

- É sério. Você foi a primeira pessoa que... que me disse algo assim.

- Disse a verdade, só isso.

Luciana olhou para os lados – a fim de constatar que estávamos realmente sozinhos – e tocou-me os lábios com um beijinho rápido.

- Feliz Natal, Saulo – ela dizia, sumindo para dentro daquela casa.

Aquele momento ficou na minha memória. Marcou.

No dia seguinte, os olhares meu e de Luciana se encontraram por diversas vezes. Daiane não tocou no fato do amigo oculto e de oculto mesmo ficou aquele beijo que somente os copos de vinho testemunharam.

Tenho medo do que possa acontecer neste Natal.

9 comentários:

Kayo Medeiros disse...

"corpitch"o"? Olha nathália entrando na cabeça de luciano aí...

Unknown disse...

uhahuahuuhauha, boa!

Vanessa Sagossi disse...

Ai, ai.
Só quero ver como será esse Natal! :)

Bjs,

Anônimo disse...

Eu gosto desses contos de Natal, principalmente os mais "alegrinhos" rs

bjs

Unknown disse...

Aninha por aqui! Que saudade!!!

CAMILA de Araujo disse...

Esse natal pelo visto, pode rolar o pacote completo! ;x
Eu gostei mais da Luciana, achei Daiane meio metida chamando a outra de magrela naquele tom, sabendo que físicamente poderia ser melhor. Mas branquelas, magrinhas com cabelo preto SEMPRE arrasam!

Também adoro os contos de natal!

DL ;* disse...

aaaaah eu adorei a luciana!
mt simpatica ela..
a daiane parece ser meio esnobe ;~

anciosa pro conto pós-natal
vai ter né?! ;D

bjs luh

DL ;* disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nathalia disse...

ameeeeeeeie o "corpitcho" caraaaaan! hahaha

ah, luciano, quem dera se todos os homens vissem os detalhes das mulheres como seus personagens...

Ó, doce, ilusão! hahahaha