Eu
poderia escrever sobre como a música entrou na minha vida, mas aí teríamos que
voltar aos primeiros anos da década de 80, o que seria longe demais. A ideia
aqui é contar, de forma bem resumida, uma parte da história da extinta banda de
heavy metal Over Action. Pelo menos a
parte em que estive presente. E para começar, devo definir como marco zero o
ano de 1997.
Eu
tinha uns quinze para dezesseis anos. E naquele ano eu iniciava, na Escola
Técnica Estadual Henrique Lage, o então chamado 2o grau, hoje
conhecido como ensino médio. É quando você se sente mais próximo do fim daquela
longa escada que é a escola, mas sente também que os degraus vão ficando mais
difíceis de serem superados. Foi quando conheci o primeiro personagem dessa
história: Renato Ferraz.
Eu
já havia me esbarrado com Renato no ano anterior, em uma aula de Eletrônica que
chamávamos de “oficina”. A gente estudava no turno da tarde, mas era obrigado a
aparecer na escola em algumas manhãs para aprender coisas interessantes como...
Como enrolar uma bobina e construir um radinho que não funcionava. Um tédio.
Mas foi em 1997 que de fato dividimos a mesma sala de aula, oficialmente,
digamos assim. Não me lembro de que forma nos aproximamos, mas sei que foi por
conta de algo relacionado à música, com certeza.
Renato
já tocava violão e contrabaixo e, se não me engano, nessa época já rolavam os
primeiros ensaios da Dark Side (o primeiro nome da Over Action). Não sei
precisar se isso foi em 1997 ou 1998, mas, devido à minha facilidade com os
desenhos...
–
Cara – disse-me Renato –, a gente arrumou uma casa que faremos de estúdio de
ensaio. Você podia desenhar algo nas paredes, o que acha?
Tratava-se
de uma casa da família de Henrique Pacheco, então guitarrista da Dark Side.
–
Claro! – eu disse.
Levei
alguns lápis e o que saiu foram as logomarcas do Iron Maiden e do Metallica em
uma das paredes. Mas não tínhamos tinta, e a coisa ficou só no esboço mesmo.
Nesse
mesmo dia conheci o Henrique, que tirava um som de guitarra enquanto eu
desenhava. Tudo o que sabia de Henrique é que havia aprendido todas as (dificílimas)
linhas de guitarra base do famoso Kill
‘Em All (primeiro disco do Metallica, de 1983). De fato Henrique já
demonstrava uma habilidade absurda para o meu entendimento. Palhetadas rápidas
e um som de guitarra animal, que nunca tinha presenciado. O som vinha de uma
guitarra Samick junto a um pedal Zoom 505, uma combinação que hoje me causaria
apenas boas risadas. E ao Henrique também.
Foi
quando surgiu o convite para eu assistir a um ensaio da banda. “Claro! Vai ser
demais!”, eu pensei.
No
dia do ensaio cheguei cedo ao apartamento de Renato. Logo apareceu o Henrique e
descemos. Presenciei tudo. A chegada dos caras àquela casa fedendo a mofo, a
montagem da parafernália, a passagem de som. Fui apresentado ao restante da
banda, o guitarrista Rodrigo Santos e o baterista Leonardo de Andrade.
A
diferença entre uma banda ensaiando em uma casa “própria” e uma banda que aluga
um estúdio é apenas uma: a preocupação com o tempo.
Do
momento em que chegaram à casa até o primeiro acorde do ensaio, sabe-se lá
quantas horas se passaram. Tudo era assunto. “Já ouviu o novo disco do Judas
Priest?”, “Cara, dá uma escutada nesse riff”, “Olha o som que consegui com esse
pedal...”. Eu também devo ter dado meus palpites e ajudado em todo aquele
atraso, mas seria um idiota se não me enturmasse logo com aquele pessoal. Eles
estavam fazendo aquilo que há anos tive vontade de fazer!
Depois
de muito papo, lá estava a Dark Side tocando músicas do Black Sabbath,
Metallica, Iron Maiden, Ramones... Curiosamente, no meio do ensaio, fui
convidado a cantar “Palhas do Coqueiro”, dos Raimundos. Foi bacana cantar pela
primeira vez. O problema foi que eu gostei. E muito!
Quando
o ensaio terminou já era noite e tudo o que eu ouvia era um zumbido forte, o
que não era para menos; a casa não possuía qualquer tratamento acústico e os
caras tocavam alto! Muito alto! Eu me posicionei próximo à bateria e quem já
viu o Leonardo atacar os pratos pode imaginar o que passei durante aquelas
horas.
Lembro
de ter chegado em casa morto de cansaço, como se eu tivesse ensaiado também. Mas
sentia que algo havia mudado em relação ao que sentia pela música. A ideia de
aprender a tocar violão me vinha desde os dez anos, se não me engano. Mas foi
naquele dia que disse a mim mesmo: "Foda-se! Vou aprender essa merda!" Bem, desse
“foda-se” até eu realmente aprender algo levou um certo tempo.
[Continua]
7 comentários:
Caraca, tu é um artista mesmo, hein?? Está de parabéns por tirar todas as teias de aranha do caminho UAHuahUAHuahuAHUahuHAUha Que riqueza de detalhes!! Cara, eu nem me lembro dos desenhos na parede. Foi pra isso que vc foi chamado mesmo?? huahauhauhauahu Que vergonha. Nem lembrava disso... MUITO SHOW teu texto!! Aguardarei ansiosamente pelos próximos!! Abração!!
Ahh, e não poderia esquecer da foto de fundo que vc pôs. Homenagem ao Bruno. hUAHuahUAHuahuHAUHa
Eu sou um gravador ambulante, cara! Eu lembro de tudo! Não sou muito de datas, mas de fatos! rs Aguarde os próximos capítulos! ;)
Não esqueça das fotografias na parede tb, as quais serviam-nos de inspiração nos clímax guitarrísticos, ahhhhhhhhhhhhhh....
Fato huahuahua
Excelente registro meu amigo!!!
Henrique
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