sexta-feira, 24 de outubro de 2008

AQUELE VERÃO

Durante as férias de fim de ano, a falta de um apoio financeiro por parte dos meus pais me forçava a passar aqueles dias quentes debruçado na janela do meu prédio olhando para o nada. Para o nada não. Na verdade eu tinha muitos alvos interessantes ao redor dos prédios vizinhos. É que as meninas dos blocos C e D, as mais gatas daquele condomínio, diga-se de passagem, iam à praia quase todos os dias. Algumas delas já haviam adquirido um tom de bronzeado tão forte que podiam ser facilmente confundidas com as nossas índias.

Às 8h, saía o primeiro grupo, o do bloco D, com Letícia, Carolzinha, Amanda, Layana, Bruninha e Fernanda. Todas lindas demais. Era difícil focar apenas uma, já que naquele grupo tinha quase todo o tipo de menina. Duas louras, uma morena, uma nipônica, uma ruiva e uma mulata. Eu chegava a fazer uma espécie de rodízio no qual eu procurava dar atenção especial a apenas um daqueles corpos em cada dia da semana, mas em vão. Exibindo as cores de seus biquínis elas conseguiam confundir tudo aquilo que eu julgava organizado. Oswaldo, o porteiro, que o diga.

Às 9h, o grupo do bloco C dava o ar da graça. Naquele espetáculo de time tinha Bianca, Monique, Yasmin, Débora, Ludmila, Cecília, Paulinha e Thayssa. Oito coisinhas. O mesmo esforço aplicado para conseguir observar cada uma das meninas do primeiro grupo me era preciso com este segundo. Desciam a ladeira até a portaria com charme, risadas e uma predominância de cachos em seus cabelos. Das oito, apenas duas possuíam os fios lisos, os quais seguiam a direção do vento forte, porém, o cuidado capilar de todas era nítido por conta do brilho intenso em reação àquele sol escaldante.

Findada a passagem de ambos os grupos, algo me fazia permanecer na janela até às 10h. Era a vez da solitária Lívia, também vinda do bloco C, descer rumo à dose diária de areia, sal e sol. Lívia tinha um par de pernas que minha avó chamaria de “pernocas”, por serem bem torneadas. Usava shorts curtos, cada dia numa cor diferente e sempre combinando com a sandália. Os cabelos eram negros, cacheados e não menos tratados que os do grupo que saía uma hora antes. A sua pele morena ela sabia bronzear. A Lívia tinha o jeito certo de fazer, pois ela estava sempre na cor ideal. Era impressionante. Os fones no ouvido na certa não a deixavam perceber o barulho que fazia em cada passada forte, porém, sensual, em direção à portaria. Assim seguia Lívia em seu rebolar.

Na janela mais próxima à minha, Cabeção, um grande amigo.
- Tira o olho da morena, Douglas!
Ele brincava.
- Há quanto tempo está aí?
Perguntava-lhe.
- Desde de oito.
- E como não te vi?
- Na certa estava muito ocupado com as meninas, não?
- Com certeza. Você também, pelo visto.
- Claro.
- São lindas, não? No verão elas parecem estar mais lindas do que em outras estações.
- É verdade. Tem a sua preferida?
Perguntava-me Cabeção.
- Difícil dizer.
- Vamos, diga. Qual a mais gata de todas?
- Difícil, já disse.
- Eu tenho a minha!
- Qual?
Eu perguntava.
- A ruivinha do bloco D, a...
- Bruninha.
- Isso. Um filé! Mas qual é a sua, Douglas?
- Bem, eu acho que fico com a Lívia. Essa última que desceu.
- Eu sei quem é a Lívia. E quem não sabe?
- Por quê?
- Ora, Douglas, essa menina já ficou com todo o condomínio.
- O quê? Cite um!
- Cito trinta se quiser. Sandro, Orelha, Cacá, Matheus, Leandro Lelé, Chupeta...
- Porra! Chupeta? Ela ficou com Chupeta? Mas ele é feio que dói! Que menina em sua sanidade beijaria aquele ser?
- Cito uma, meu caro Douglas!
- Quem?
- Lívia.
- Vai à merda!

Eu fechava a janela e custava a acreditar nas frases de Cabeção. Mas ele dizia com tanta convicção. Queria saber mais sobre os fatos. Chamava-o então para jogarmos videogame. Era o que restava aos duros. Jogar videogame.
- Mas diga. Estava falando sério sobre Chupeta e Lívia?
- Sim, cara.
- Não posso crer.
- Olha, Douglas. Quer ficar com essa menina?
- Depois dessa? Acho que não.
- Dizem que vale a pena.
- OK. O que devo fazer, mestre Cabeção?
- Simples. Vá até ela e diga que quer beijá-la.
- Vai à merda, Cabeção!
- É sério! Cara, pensa em Chupeta! Se ele conseguiu, quem não conseguirá?
- Vai ver ele é bom de papo.
- Chupeta? Ele tem a língua presa, Douglas. Esqueceu?
- É mesmo. Quer saber? Eu sei a hora em que ela costuma chegar da praia. Vou cercá-la.
- Faça isso! Mas antes...
- O quê?
- Ligue esse videogame e vamos jogar. Antes que fiquemos loucos com essas meninas!
- Ah sim. OK!

Às 15h, Lívia apontava na portaria. Eu descia correndo e me posicionava frente ao seu prédio. Ela chegava e:
- Oi Lívia.
- Oi Douglas. Beleza?
- Beleza. Precisava falar com você.
- Diga.
- Depois que você tirar esse sal do corpo e descansar a sua beleza, sei lá, por volta de umas oito horas, poderíamos nos ver aqui em baixo?
- Era isso o que queria me falar ou falará à noite?
- À noite.
- Pode me adiantar o assunto?
- Sua boca.
- O que tem minha boca, Douglas?
- Quero beijá-la.
Lívia olhava para os lados, dava um passo à frente e alcançava meus lábios numa doçura sem igual.
- Oito horas então?
Eu perguntava.
- Sim. Tchau.
- Tchau.

* * *
Às 20h, Lívia e eu, recostados na enorme pilastra de seu prédio, éramos quase que um só. Seu corpo ainda estava quente da praia, o que contrastava com o frescor de sua boca tomada da ação de um creme dental fortíssimo, me causando uma sensação inexplicável ao beijá-la. Mas algo me incomodava. Nada me fazia aceitar que Chupeta também vivera, talvez, aquele mesmo momento.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Pode. O que foi?
- É verdade que... É verdade que...
- Fala logo, Douglas.
- É verdade que você já ficou com Chupeta?
Lívia se distanciava de meu corpo. Puxava um elástico do bolso e ao prender seus cachos esticava os músculos de seus membros de forma estonteante. Ela respirava forte e parecia irritada com a pergunta.
- Por que quer saber?
- Curiosidade.
- É porque o acha feio, não é?
- Bem, eu...
- Pois vou lhe dizer uma coisa. Se você já ouviu falar por aí que já beijei quase todo o condomínio, tome como uma verdade. Mas saiba que o motivo é muito simples.
- Qual é?
- Não sei dizer “não” a cantadas.
- O quê? Como assim? Quer me dizer que fica com as pessoas por não conseguir dizer “não”? É isso?
- Exatamente. Mas não acontece em todos os casos. Quando o cara tem um bom papo, ele me ganha. Quando não, eu sinto pena e acabo ficando.
- E no caso do Chupeta?
- Ele me ganhou.
Eu não podia acreditar!
- E no meu caso?
- Foi pena mesmo. Até mais, Douglas.
Ela subia até o seu apartamento deixando para trás um frango. Assim que me sentia. Um frango.

* * *
Mais histórias sobre Douglas em Tapete Testemunha I e II.

14 comentários:

Marcelo disse...

Ótimo blog, execelente texto.

Comenta lá no meu, um abraço.
http://tchannannan.blogspot.com/

Anônimo disse...

hahaha, o Douglas só se fode tadinho.
muito bom!

até o próximo conto.

Anônimo disse...

esqueci de comentar sobre a capa, ficou muito boa!
me acabava no super nintendo! huahauhaua :D

Daiane Santana disse...

Opa...

ví lá no orkut

MAAAAARA mesmo seu BLOG
ehhee

mas agora estou no trabalho e quando chegar em casa eu leio tudinho hauahuahua


:* bjão

Janaina W Muller disse...

Aaah, acho que estou sendo malvada...mas olha, beeeem feito pra ele. haUHAUhauHAU :D Não pude evitar de começar a gargalhar quando eu li "Foi pena mesmo". hauHAUhuah XD

Abraços.
='-'=

Lucas disse...

Ptz!

Rachei de rir;

Ótimo!!!!!!!!

Queria ter tempo de ler todos os seus contos.
Quem sabe um dia não os encontro em uma livraria. :)

Abraço;
Inté.

Livia Queiroz disse...

Eita
essa minha xará n eh flor que se cheire hein??

aff

e coitado do Douglas, mas tbm kem pergunta ker saber! hauhauhaua

Unknown disse...

oi, voce recebeu uns memes passa lah no meu blog http://zcolmeia.blogspot.com/

Kayo Medeiros disse...

"foi pena mesmo"

SIFU!

XP

Alexandre Alves disse...

cara, viajei no texto... como se eu estivesse presente, observando tudo.
abraços!

Anônimo disse...

um frango có có...

Anônimo disse...

:O
não creio...
agora dizer 'não" é desculpinha.. hahahahaahhaha

otimooooo!
parabéns

Yara Lopes disse...

bom demais!!!
parabéns
e que lívia é essa
até que fiquei com pena do douglas tadinho

Vanessa Sagossi disse...

Huahua...
Ficou achando que o outro cara era ruim. Mas era pior.
Mas fala sério. Essa Lívia...