sexta-feira, 7 de novembro de 2008

OS SEGREDOS DA COZINHA DE DONA JANE

Sexta-feira. O expediente se encerrava e a movimentação no Centro da cidade me causava profunda dor de cabeça. Aliás, isso acontecia todas as sextas. Eu sentia meu crânio latejar nos dois lados, pouco acima do ouvido. Eu saía da repartição e procurava um bar o mais longe possível daquele agito. O bar da Jane era sempre o escolhido, pois ficava numa rua deserta depois de uns quatro quarteirões da via principal.

Jane era uma típica proprietária desses bares que servem feijoada, angu e outras coisas. Gorda e sempre suada, ela tinha um rosto quadrado e a pele bem branca. Com os cabelos bem curtos e a ausência de qualquer um desses artifícios de embelezamento, Jane sempre levantava alguma suspeita por parte de sua clientela em relação a sua sexualidade. Homossexual ou heterossexual, a verdade é que Jane espantaria qualquer de suas opções. Ela tinha um semblante horrível e seus modos eram os de um homem das cavernas.

Eu sempre parava por lá. Por vários motivos, mas o especial era que no bar da Jane tinha um jukebox excelente. Por vinte e cinco centavos você podia ouvir de Chopin a Jimi Hendrix. Minha dor de cabeça cessava sempre que adentrava naquele minúsculo quadrado musical. Era bom beber com uma tigela de amendoim ao bom som daquele aparelho.

Eu sempre me sentava sozinho. Via por lá as mesmas pessoas de todas as sextas, porém, não falava com nenhuma delas. Na verdade ninguém falava com ninguém naquele bar. Ouvia-se apenas a música e os berros de Jane a fim de apressar o pessoal da cozinha.

- O CLIENTE QUER CHEGAR EM CASA A TEMPO DE ASSISTIR O ALTAS HORAS, AMANHÃ!
Berrava Jane.
- Já está quase pronto, D. Jane. É que hoje estou sozinha por aqui.
Explicava-se uma das cozinheiras.
- Garota, eu estaria com esse prato sob o queixo do cliente antes mesmo que você me desse tal desculpa. Ande logo com isso!
- Já vai. Já vai.

Da tal cozinheira eu só ouvia a voz mesmo, e baixa. Por várias vezes me vinha à mente a idéia de visitar a cozinha de Jane. Era meu direito como cliente daquela espelunca. Mas a preguiça tomava conta de minhas pernas imediatamente após.
- PATRÍCIA, PODE ESQUECER OS SALAMES, POIS O CLIENTE JÁ SE FOI! SE VOCÊ RESOLVER FABRICAR AS COISAS QUE LHE PEÇO, ME AVISE PARA QUE EU CORRA ATRÁS DE UMA LESMA PARA LHE SUBSTITUIR!
Depois dessa eu não ouvia sequer a respiração da cozinheira, a Patrícia.

- Posso visitar a sua cozinha, D. Jane?
Enfim eu estava por cima de minha preguiça. Tudo porque eu odeio injustiças. Queria conversar com a Patrícia sobre aqueles maus tratos.
- O que quer ver lá?
Jane tentava me intimidar.
- Ora, é meu direito. A senhora não sabe disso?
- Sei. Mas vou logo avisando. Se o que quer ver é o rabo da Patrícia, não perca o seu tempo. Não é para o seu bico!
- É para o seu, D. Jane?
- O quê? Como ousa...?
- Desculpe-me, mas é que somente as condições de sua cozinha é o que me interessa. Nada mais.
- Tudo bem. Pode entrar. PATRÍCIA! MOSTRE A COZINHA A ESTE SENHOR! Pode ir lá.
Autorizava-me Jane me olhando de cima a baixo.
- Obrigado.
Eu entrava.

Chegando à cozinha, Patrícia vinha até a mim. Uma morena, alta, de olhos azuis bem claros coberta por um avental branco imundo. De seus cabelos apenas alguns fios lisos e negros eu podia perceber. Eles saíam por de baixo de uma touca também branca.
- Desculpe-me senhor, mas estou com um monte de pratos para preparar. Não sei se poderei lhe dar a atenção devida.
- Fique à vontade, Patrícia. Meu nome é Maurício. É um prazer conhecê-la.
- Igualmente. Você é da vigilância sanitária?
- Não. Apenas um cliente assíduo do jukebox e da cerveja de vocês.
- Entendi. Bem, fique à vontade para perguntar o que quiser, OK? Estarei no fogão.
- OK.

Eu andava pela cozinha, que, embora limpa, apresentava pequenos sinais de desleixo. Mas nada que me fizesse criar repulsa pelos pratos lá servidos. É que eu pensava logo naquelas mãos morenas e, pelo visto, carinhosas os preparando. Depois de duas voltas pela cozinha, eu chegava até o posto de Patrícia.
- Você é linda, sabia?
- Olha, o senhor não devia estar aqui com esse propósito.
- Realmente não estava, mas é que não sabia que encontraria um ser como você por aqui.
- O que quer dizer com isso?
- Quero dizer o que eu já disse: que você é linda demais.
- Acho melhor o senhor voltar para a sua mesa.
- PATRÍCIA! VAMOS LOGO COM ISSO!
Gritava Jade.
- Está vendo só? Vai para a sua mesa, por favor.
- OK. Mas quero saber em que outro momento eu terei o prazer de revê-la.
- Volte para a sua mesa, por favor, senhor.
- O que foi, Patrícia? Por acaso a D. Jane manda em ti?
- Claro que não. Mas a devo respeito.
- Por quê? Porque ela é sua patroa ou porque é sua...
- O quê?
- É que a D. Jane me parece um pouco...
- O que está pensando? Ela é minha mãe! Sou adotiva, mas a considero como tal!
Que idiota eu fui!
- Entendi. Mas quando podemos nos ver novamente sem esse avental me poupando a vista?
- O que você quer comigo?
- Apenas conversar.
- Sobre?
- Sobre a possibilidade de ter a D. Jane como minha sogra. Pelo menos por algumas horas.
- Não transo na primeira noite, se é o quer saber.
- OK. Alguns dias.
- Não tenho hora para sair, mas se quiser me esperar, fique à vontade.
- O tempo que for.

A espera valeu a pena. Fomos parar num motel barato logo após Patrícia despistar a mãe. Lá, Patrícia despia-se como uma atriz pornô. Seus vinte e oito anos balançavam os meus quarenta no mesmo ritmo com o qual quicava sobre mim.

- Você disse que não iria para a cama na primeira noite, lembra?
- Sim. Eu disse.
- Então sou uma exceção na sua vida!
- Não.
- Então mentiu?
- Sim. Como sempre.
- Como assim “sempre”?
- Ora, Maurício, você acha mesmo que foste o único a visitar aquela cozinha? Caia na real! Minha mãe não falaria no meu rabo só por falar.
- (...).
- E então? Vai repetir?
Ela perguntava com as mãos mais ocupadas que naquela cozinha. Eu ficava triste por uns dois segundos, mas a sua fome pela coisa me alegrava de imediato.
- Vou sim. Como sempre!

8 comentários:

Beline Cidral disse...

Acabei lendo mais de um dos seus textos, muito bacana. Me lembrou um pouco o cheiro do ralo, também algo do Ubaldo e o Verissimo. To gostando, bom que ainda tenhov mais pra ler!

Anônimo disse...

muito bomm!
hahahahaha
as mulheres do seus contos estao cada vez mais.... soltinhas.. rsrsrsrs

bjsss

Unknown disse...

e eu q pensei q a gorda q fosse ter qq tipo de coisa com o cliente...

RJ disse...

rapaz, eu gosto da maneira como vc escreve, os detalhes das pessoas, lugares e situações...

mas, ALTAS HORAS não é na sexta-feira...

é no SÁBADO, rsrsrs

vc poderia colocar um "leia mais" no seu texto, ficaria melhor pois é mto grande!

abraço!

Vanessa Sagossi disse...

É mesmo, Nathália, as mulheres dos contos estão ficando cada vez mais soltinhas... rsrs

Livia Queiroz disse...

muuuuuito booom!
HEhehe
acho q Patrícia e Luluzinha seriam ótimas amigas
huahuahuauahuahua

Bjaum
e brigada pelo comentário!

Janaina W Muller disse...

Mas essas mulheres...estão ficando cada vez mais "soltinhas" mesmo! E eu jurava que essa ai faria o genero mais inocente :D Novamente, um final que eu jamais iria imaginar.

Abraços.
='-'=

Unknown disse...

cara voce ta lendo o clube da luluzinha né as personagens tão mais "apimentadas"