segunda-feira, 3 de novembro de 2008

UMA ESPÉCIE DE SAUDADE VIRTUAL

Quando a conheci, numa dessas salas virtuais da vida, não imaginava que teríamos tanta coisa em comum. Mas devido à distância – ela, Érica, no sul do país e eu, Júlio, no sudeste – tivemos que nos contentar com aquilo que nos “uniu” e que já era considerado um avanço para suprir as necessidades de uma amizade daquele tipo. O problema é que pela tela do computador eu só tinha acesso às fotos que Érica achava mais convenientes. As fotos, geralmente posadas, demonstravam ora sorriso, ora seriedade. Mas a verdade é que em todas as situações Érica deixava claro que a amiga mais bonita de meu círculo era justo a que eu nunca tivera a oportunidade de ver em movimento. Quando pensava nela era como pensar num manequim. Ali, parada.

Érica e eu conversávamos muito e trocávamos “favores virtuais” aos montes. É que eu a ajudava em algumas pesquisas universitárias enquanto ela, numa tentativa de ser grata, me dava alguns conselhos a fim de melhorar o meu poder de sedução, que, diga-se de passagem, era nulo. Digo isso para que, antes que pensem o contrário, entre Érica e eu não havia qualquer tipo de interesse que ultrapassasse o limite de uma boa amizade. Não mesmo. Ela era linda, sim, mas, definitivamente, eu tinha ciência de que não era para o meu bico.

Até que:
- Oi Júlio!
Ela sempre começava.
- Oi Érica! Beleza?
- Sim. E você?
- Também. Tudo tranqüilo. E como foi com aquele trabalho?
- Tirei 9,5!
- Parabéns, Érica!
- Parabéns a você também, não é? Ajudou muito naquele dia.
- Ora, não foi nada, Érica. Por favor.
- Escuta.
- Diga.
- E a tal da Karina? Conseguiu alguma coisa?
- Sim. Consegui sim.
- Então conta, guri!
- Consegui um “não” e quase consigo uma tapa também.
- O quê? Por que ela fez isso?
- Ora, você sabe. A Karina é uma gata e eu sou um otário de ainda pensar que algo possa rolar entre nós.
- Escuta. É porque ela não tem noção do quão grandioso você é!

Como uma menina que jamais ficara frente a mim poderia saber o quão grandioso eu era a ponto de questionar a opinião de uma outra que falava pessoalmente comigo quase todo dia? Érica, sim, sabia muito mais sobre mim do que qualquer outra amiga.

- Érica. Você diz isso justamente pelo fato de não me conhecer pessoalmente.
- Mas quem lhe disse que preciso?
- Tudo o que sabe sobre meus sentimentos, Érica, são meia dúzia de bonequinhos amarelos que ora sorriem e ora choram.
- Está errando, Júlio.
- Por quê?
- Porque estás subestimando o poder de nossas conversas.
- Érica, eu acho cansei de tudo isso. Seus conselhos não estão me ajudando porque você na verdade não sabe realmente a quem está os direcionando. Não me conhece.
- Então você acha que perco o meu tempo com você?
- Não é isso, Érica. Só acho que não somos capazes de conhecer um o outro através dessa coisa toda. Sabe o que eu queria fazer quando tomei aquele “não” da Karina?
- O quê?
- Abraçar você.
- Ai, Júlio. Que fofo.
- Pois é. Mas como? Agora até existe um bonequinho meu que pode abraçar uma bonequinha sua, mas o abraço em si continua inexistente. Entende?
- Então acha que uma amizade como a nossa não vale a pena existir?
- Sinceramente, eu não sei até que ponto.
- Entendi. Bem, Júlio, eu vou precisar sair. Eu já volto. Beijos.
- Beijos, Érica.

Depois daquela despedida, Érica sumia de meu PC durante uns três dias. Três dias em que minha cabeça largava de forma inédita a imagem de Karina e passava a pensar exclusivamente na falta que Érica me fazia. De fato eu subestimara o poder daquela amizade. Até que ela, enfim, aparecia novamente.

Dessa vez, eu começava:
- Oi Érica!
- Oi Júlio!
- Sumiu! O que houve?
- Andei ocupada com uns trabalhos da faculdade.
- Que bom que dessa vez não precisou de minha ajuda? Fico feliz!
- Na verdade precisei. Como sempre preciso.
- E por que não me procurou?
- Porque, segundo você, tudo isso não passa de uma perda de tempo, Júlio.
- Ora, eu não disse isso, Érica.
- O fato é que dessa vez minha nota foi 5,0.
- Eu sinto muito. Eu...
- Tudo bem. Só espero contar com a sua ajuda no próximo. Se você quiser, lógico.
- Estarei aqui, Érica.
- Você sentiu minha falta, Júlio?
- Sim. Uma espécie de “saudade virtual”.
- Eu também. Passe lá e me dê um abraço.
- Com o bonequinho?
- É tudo o que podemos, por enquanto.
- Está certa.
Eu ria ao entender que a amizade de Érica era ímpar justamente por conta das condições em que se encontrava: distante demais e ao mesmo num esforço constante de estar o mais perto possível.

* * *
Foto da Capa: Janaina Muller.

12 comentários:

Marta disse...

Eu penso como a Érica, não é preciso ver pessoalmente uma pessoa para conhecer seu íntimo.

Invista nessa amizade, pois ela me parece muito verdadeira.

Um abraço

http://martateixeira.spaces.live.com/

Anônimo disse...

aaaaaaaaaaaaaaai que fofo!
=)

menina linda da capa!
bjssssssssssss

Anônimo disse...

vai continuar?????

Janaina W Muller disse...

Uuhuuu, e é eu na capa! Mas que honra \O//
Bá, adorei a Érica e o Júlio...é linda demais a amizade deles. Mesmo sendo algo virtual, tem uma intensidade muito grande...parece ser mais verdadeira do que muita amizade real. Fofinho demais *-*
(...) "era ímpar justamente por conta das condições em que se encontrava: distante demais e ao mesmo num esforço constante de estar o mais perto possível". - Me apaixonei por essa frase <3

Aah... e vai continuar?????[2]
XD~

Abraços.
='-'=

Unknown disse...

ahhhhhh
que conto bonitinho!!!

me lembrei de uma coisa...
fotografias em troca de artes em corel... HAHAHA

mas o q achei mais fofinho no conto todo, foi a "saudade virtual"

bjos

Unknown disse...

daew cara to de blog novo o blog do zé e voce recebeu um meme la vlw

Livia Queiroz disse...

Ki fofo!!!
Tenho grandes amigos virtuais...
Sinto essa saudade tbm qndo algum deles some, e alívio qndo reaparecem
heheh

mto bom

bj

Nat Valarini disse...

Boa tarde Luciano!

Primeiro, parabéns por este blogtão bonito. Não estou colocando o bonito para o lado visual, layout e tals... mas pelas suas palvras bem trabalhadas. Ver seu link no orkut foi um verdadeiro achado! Gosto muito de blogs assim!

Gostei muito dessa postagem.
Ela vai de encontro com uma certeza que eu tenho: Amigos de verdade não precisam se ver todos os dias, o sentimento verdadeiro resiste mesmo em meio à distância quando se trata de amizade.

Vou divulgar seu trabalho. Posso colocar o seu blog na minha lista de indicações para que meus visitantes conheçam?

Tudo de bom e sucesso ao seu blog!

http://garotapendurada.blogspot.com/

Unknown disse...

oi luciano eu vi que voce linkou o meu blog ai voce poderia trocar o link agora é o blog do zé

Lucas disse...

Posso xingar?

"CARALHO!"

Muito bom!!!

Não sei se por ter rolado identificação, mas o conto é ótimo.

Faz um tempo que não venho por aqui. Muitas coisas na cabeça. Acabei esquecendo da internet. Mas foi bom ter vindo!

Abraço!

Anônimo disse...

Que liindo! *----*
muito bom, Luciano!
tenho alguns amigos virtuais, e realmente faz falta o convívio mas é possível sim manter uma amizade assim a distância, então boa sorte pra eles né ;]

Vanessa Sagossi disse...

Ai, que fofo!!
"distante demais e ao mesmo num esforço constante de estar o mais perto possível."
Adorei!

Beijos!
(: