terça-feira, 27 de janeiro de 2009

JANEIRO MEU IV

Na manhã seguinte, Luana despertava com a sensação de ter um péssimo dia pela frente. O dia anterior fora confuso o bastante para embaralhar todos os seus sentimentos e conceitos. Permanecia na cama. Embora Luana fizesse uma tremenda força contrária, à mente vinha Denis. Confundia-se ainda mais. Que diabos há nesse garoto?, pensava Luana. Nunca sentira algo assim. Atração! A palavra que dera a luz às conclusões de sua amiga Giovanna. Às suas também.

Levantava-se devagar e, em seu costume de verão, abria a janela de seu quarto. A rua estava molhada. Chovera durante toda a madrugada, mas o clima abafado permanecia. Um tímido sol anunciava aos poucos a praia dos meninos da rua de Luana, que olhava para o relógio e notava que ainda era bem cedo, umas sete e meia. Onde estaria Mimi?, perguntava-se.

Mimi havia dormido na sala. Luana descia a fim de vê-la.
- Mimi? Dormiu aí, não é? Sua gata maluca!
Mimi levantava-se e ia direto para as canelas de Luana. Entrelaçava-se entre as pernas da dona se espreguiçando.
- Celeste, papai e Patrícia já foram para o trabalho?
- Sim, Luana. Foram bem cedo.
- Hum...
- Acordou cedo, hein! Esqueceu que está de férias, Luana?
- Não. Eu não dormi bem, essa noite.
- Foi o Denis, não foi?
- O quê?
- Não precisa me responder. Mas eu sei que foi. Deve ter sonhado com o menino.
Celeste acertava na mosca.
- Não! Eu tenho namorado, Celeste. Gosto muito do Rômulo!
- Eu sei, Luana. Não precisa ficar brava. Mas você quer ouvir uma história?
- Que história?
- Sente-se aí. Tome seu café enquanto conto.
- Está bem.

Celeste começava:
- Quanto eu tinha a sua idade... Não. Um pouco mais velha, eu acho... Bem, eu tinha um namorado também. Eu namorava escondida dos meus pais, porque, naquela época, as coisas eram bem diferentes de hoje. Meus pais eram muito bravos e não queriam saber de filha deles namorando antes dos vinte.
- Vinte?
Luana admirava-se.
- Pois é. Voltando. Eu gostava muito desse meu namorado. O nome dele era Claudinei. E...
- Claudinei [risos].
- Está rindo do quê, menina? Claudinei é um nome lindo!
- Sim, sim. Continue, Celeste.
- Então... Eu gostava muito do Claudinei e achava até que me casaria com ele. Vê se pode.
- Hum...
- Até que um certo dia, me apareceu o Agnaldo.
- Agnaldo [risos].
- Para de rir, menina! O Agnaldo me balançou, Luana. Por mais que eu gostasse muito do Claudinei, eu não tirava o Agnaldo da cabeça. Foi quando percebi que o que eu sentia pelo Claudinei não era assim tão forte, entende?
- Acho que sim.
- O que eu quero que você entenda é que a gente, principalmente quando está na sua idade, nunca sabemos ao certo o que sentimos por alguém. Tudo é muito novo e isso faz com que confundamos as coisas. Não se sinta culpada se está se sentindo atraída pelo Denis. Isso é muito normal nessa fase de descobertas.
- Mas quem lhe disse que estou atraída pelo Denis?
- Luana, eu convivo com você desde que era uma menina de colo. Participei, de certa forma, do seu crescimento. Pode não saber, mas lhe conheço como poucos.
- (!!!)
- Ontem, você saiu para dar uma volta e retornou logo depois. Ao chegar aqui, disse que o bicho que havia lhe mordido se chamava Denis. À noite, você veio com a história de que tinha de pedir desculpas ao menino. Voltou e nem deu muita bola ao recado de Rômulo. Pensa que eu não liguei as coisas? Acha que nasci ontem?

Luana percebia que Celeste sabia de tudo. Admirava-se por isso e:
- OK, Celeste. É isso mesmo. Há alguma coisa no Denis, mas não sei o que é. E não sei o que fazer também.
- Não faça nada, Luana. Deixe as coisas acontecerem. O único cuidado que deverá ter é de não ser injusta com o Rômulo e nem com o Denis. Ih! – Celeste via da janela. – E por falar no Denis...
- O que foi?
Perguntava Luana com os dois olhos enormes.
- Olha quem está no portão.
- Denis?
- Pode acreditar.
- Ai, meu Deus.

- LUANA!
Chamava Denis.
- O que eu faço, Celeste?
- Vá lavar esse rosto, e... Você dormiu com essa roupa?
- Sim. Peguei no sono e nem vesti minha roupa de dormir.
- Troque-a.
- Sim.
- Eu falo para ele esperar.
- OK.
Luana seguia o recomendado.

* * *
Apresentável, Luana ia até Denis, que no portão a esperava.
- Desculpe, é que eu tinha acabado de acordar.
- Nossa. Então, foi mal, gatinha. É que...
- Já falei para não me chamar de gatinha, Denis.
- Foi mal. Bem, passei aqui para te chamar para irmos à praia.
- Não gosto. Prefiro piscina.
- Por quê?
- Fico toda vermelha, a areia me incomoda... Além do mais, ficar exposta ao sol e ao sal faz mal à pele.
- Passe um protetor solar. Fique debaixo da barraca. Sei lá. Mas vamos!
- Acho melhor não. E nem falei nada com o meu pai.
- Eu falo com ele.
- Ele já foi trabalhar.
- Eu ligo para ele.
- Ele lhe dará um fora.
- Bem, não vou insistir mais. Acho que você é quem não quer ir mesmo. Eu vou indo, então.
Luana sentia vontade inédita de ir à praia.
- Espere um minuto, Denis! Fique aí! Eu já volto.
- (???) OK!

Luana entrava correndo e ligava para Giovanna.
- Giovanna?
- Oi, Luana. Diga.
- Vamos à praia?
- À praia? Mas você...
- Eu sei. Eu sei. Mas o Denis me convidou. Meu pai só deixaria eu ir se você fosse. Sei disso!
- Menina! Você não disse que tentaria esquecê-lo?
- Mas é isso o que quero fazer! Quero conhecer o seu interior. Sei que me decepcionarei. Sei que a atração dará lugar à razão.
- Está brincando com fogo, Luana.
- Vamos ou não?
- Seu pai já deixou?
- Digamos que sim.
- OK! Vamos! Eu passo aí!
- Ótimo.

Luana ligava para o pai. Dizia sobre a companhia de Giovanna e:
- Bem, pelo que sei, você não gosta de praia, Luana, mas... Sim, filha, pode ir. Mas cuidado, ouviu? Não vá para o fundo! Use protetor solar! E chegue antes das duas, entendeu? Você e a Giovanna!
- Sim papai! Pode deixar!
- Beijo e boa praia!
- Beijo, papai!

A menina ia até o portão.
- Denis, eu vou, mas preciso esperar uma amiga minha. Você se incomoda?
- Não... Já esperei tanto, não é?
- Desculpe-me. Quer entrar? Eu vou me arrumar.
- Não. Eu fico aqui mesmo. Estarei te esperando.
- Você é quem sabe. Já volto.

Luana subia até o seu quarto e separava biquíni, protetor solar... A sensação de um dia péssimo dava lugar à esperança de uma decepção feliz. Luana era um misto de empolgação e confusão. Olhava pela janela, avistava Denis a esperar e o sol a clarear o gramado de seu quintal.
- Ai, clarão, prepare para mim um dia de mudanças! Eu lhe peço!
Conversava Luana com o sol.

[Continua]

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana em: LUANA, DUAS, O NATAL DE LUANA e GISELE.

7 comentários:

Kayo Medeiros disse...

Rá! esqueceu q o Rômulo vai passar lá! isso vai dar bode...

Anônimo disse...

ai meu Deus!
é verdade! o Rômulo vai passar lá e ela nem lembrou de ligar pra avisar que iria a praia...
luana, luana...

TUDO culpa da gisele...
hahaha

to ótimooooooooooooooooo!!!!!!!!

Anônimo disse...

ihhhh...

lorena disse...

tomara que luana vá a praia e passe a aprecia-lá. rsrs . primeira historia de luana que leio e já gamei, vou ler o restanta pra entender.

ow prosa deliciosa, no aguardo pelos proximos capitulos.

=]

Vanessa Sagossi disse...

Luaninhaa!
Rrsrs.. Tem que aproveitar as férias msm...
Digamos de passagem, a Celeste é igualzinha a minha mãe.. rsrsr

Vanessa Sagossi disse...

Ahh, não é nada culpa da Giovana... É culpa dos feromônios (como diria a Mia -DP- rsrsr)

Anônimo disse...

"Está brincando com fogo, Luana."

não preciso dizer mais nada, Giovanna já disse tudo.

mas tomare que ela não se queime!

:)