quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

JANEIRO MEU

O auge das férias batia à porta. Janeiro chegava e trazia consigo seus dias quentes. Luana abria a janela de seu quarto e assim a deixava durante todo o dia. Às vezes, generoso vento balançava as cortinas e levava a sensação rara de frescor ao rosto levemente suado da menina. Alguns de seus fios de cabelo grudavam no rosto e nos lábios. Deitada ao chão, já que a cama parecia ferver, Luana pedia baixinho por mais uma dose de brisa.
- Venta! Venta! Venta!
Mimi, sua gatinha, se deitava sobre a cômoda de Luana, logo abaixo da janela. Os pelos de Mimi balançavam quando o vento se fazia presente. Quando não, a felina miava. Parecia ajudar sua dona nos pedidos.

Luana enrolava sua camiseta, que já se encontrava úmida de suor, até a altura da barriga. Soprava para baixo como se quisesse refrescar seu próprio umbigo, mas isso só ajudava a menina a se sentir mais cansada. O verão mostrava a sua força como que num convite a um passeio pela rua. Celeste, empregada da casa, parecia entender tal força. Batia à porta da menina.
- Entra, Celeste.
- Luana, minha filha, por que não sai desse quarto quente?
- Não tenho forças.
- Deixa de ser boba, menina! Toma um banho gelado e vá dar uma volta na rua.
- Nesse sol?
- Faladora! Essa rua tem árvores por toda a calçada.
- Mas está muito quente lá fora, Celeste.
- Aposto que está mais fresco que aqui dentro. Pelo menos você pega um vento. Olha como você está, menina, toda ensopada! Vá tomar um banho, pelo menos.
- Ai, me puxa Celeste.
Luana adorava levantar com um puxão de Celeste.
- Você não muda, não é? Há quantos anos te puxo assim, hein?
- Sei lá. Mas é que eu gosto.
- Boba. Vai tomar um banho, vai.
- Estou indo.
Luana seguia até o banheiro com um som portátil numa das mãos e uma muda de roupas limpas e frescas na outra. Mimi, como sempre, seguia junto.

O chuveiro despejava os primeiros jatos enquanto o locutor da rádio preferida de Luana anunciava a próxima música: “Rapaz de Bem” de Johnny Alf. A menina adorava ouvir aquelas gravações antigas. Divertia-se com os arranjos “engraçados”, mas se emocionava na mesma proporção que com as músicas contemporâneas. Lembrava-se de um especial do cantor que ela assistira há tempos na TV e tentava imitar seus trejeitos num piano imaginário. Engrossava a voz e cantava alto. O banho animara Luana.
- Luana!
Batia Celeste à porta do banheiro.
- O que foi?
- Está passando bem, minha filha?
- Sim! Só estou cantando, ora!
- Mas isso nem é do seu tempo, Luana!
- Se foi feito dentro de nossa galáxia, seja lá em que ano ou século, é do meu tempo, sim!
Celeste sorria com as respostas rápidas de Luana.

Mimi, deitada sobre as roupas de Luana, bocejava. A menina parecia não querer mais sair debaixo do chuveiro. Lavava o cabelo sem pressa. Ensaboava-se menos afoita ainda. O rádio agora tocava “Lobo Bobo” com João Gilberto. Luana ria coberta de sabão. Ria da letra e ria de si mesma, principalmente.

Após o banho, já devidamente vestida, Luana parecia outra menina. Disposta, pegava a chave do portão e avisava à Celeste que estaria por perto.
- Não demoro, Celeste. Estarei aqui pela frente.
- Está bem, Luana. Entre antes de seu pai chegar, OK?
- Pode deixar!

Luana passeava pela calçada com Mimi ao lado. Com um pacote de biscoito recheado nas mãos, a menina percebia que o vento, sim, como Celeste havia dito, estava muito mais agradável que em seu quarto.

Luana era uma menina que pouco saía de casa. Sentia-se bem em seu quarto com seus livros, discos... Os vizinhos conheciam Luana apenas de vista. Não possuía amigos naquela rua. Não que não gostasse dos jovens que por ali moravam, mas simplesmente não se sentia atraída a participar das rodas de conversa e, muito menos, das “baladas” daquele grupo. A média de idade daqueles meninos e meninas passava dos dezessete. Luana seria a mais novinha do grupo, porém, a dotada de mais conteúdo, talvez. Luana se queixava das risadas exageradas e da falta de assunto que, mesmo assim, os mantinha reunidos quase que em todos os dias.

Naquele dia, a rua estava deserta, como costumava ser à tarde. Ideal para tal passeio com Mimi. De repente, Luana ouvia um assobio que vinha do alto. Fingia não ser para ela e, por isso, não procurava sua origem. Continuava a caminhar. Mais alguns passos e: outra vez o assobio. “Fiu-Fiu”. Luana corava-se. Agora sabia de onde vinha, mas não olhava. Apertava o passo.
- Não precisa correr, gatinha!
- Ah?
Luana olhava para a janela de onde vinha tal frase.
- É isso mesmo. É tão raro vê-la pela rua, menina. Agora que a vejo, não vai correr, vai?
- Não enche, garoto!
- Eu tenho nome, Luana!
- Como sabe meu nome?
- Pois é! Como é que sei o seu nome e você não sabe o meu?
- E eu sei lá!
- Prazer, me chamo Denis.
- Prazer. Tchau!
- Opa! Espere aí! Eu vou descer aí para falar contigo, posso?
- Não precisa. Eu já estou indo para casa.
- Mas você mora na outra direção.
- Não seja por isso!
Luana dava meia volta e:
- Pronto. Tchau!
- O que foi que eu te fiz, Luana?
Luana não respondia. Seguia agora a passos firmes.

Denis tinha a pele bem queimada de praia, os olhos verdes bem claros e o cabelo em caracóis castanhos. Parecia um modelo dessas lojas de surf, pensava Luana.

Chegando em casa:
- Mas já? Pensei que demoraria mais pela rua, Luana.
Dizia Celeste.
- Enjoei.
- Não vai voltar para aquele quarto quente, vai?
- Vou.
- Que bicho lhe mordeu, Luana?
- Denis. Esse é o nome do bicho.
- (???)

Luana deitava no mesmo chão, levantava a camiseta até acima da barriga, soprava a si mesma e, num momento de arrependimento, danava a pensar: “Por que tratei aquele menino daquela forma? O que ele fez para mim? Meu Deus, como fui grossa! E a troco de quê?” O fato é que a imagem de Denis sorrindo à janela, de alguma forma ficava grudada na cabeça de Luana. Precisava se desculpar com o garoto, pensava.

[Continua]

* * *

Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana em: LUANA, DUAS, O NATAL DE LUANA e GISELE.

12 comentários:

Anônimo disse...

Genial, menina!
Vai nessa! Tu tens talento!
Abs e sucesso pra ti,

www.doisps.blogspot.com

Ananda V. Sgrancio disse...

adorei.
*-*


vc tem taleento.
;DD



http://opniaoinutil.blogspot.com/

Anônimo disse...

aaaaaaaaaaaahhhh agora um triângulo??
e o Rômulo? hahaha
ja to gostando dessas ferias!!!!!
=)

bjssssssssss

Anônimo disse...

(continua)

Livia Queiroz disse...

Aaaaaaaaaaaaaah e o Romulo??

hum
to feliz demais por Luana ter voltado!!!
adoooooooooooooro os contos dela

aguardpo anciosa!


bjaum

CAMILA de Araujo disse...

Você escreve muito bem!
Aguardo a continuação deste conto xD

www.casadobesouro.blogspot.com

Alex Viana disse...

Grande e talentoso Luciano. É sempre um prazer visitar o blog e se deparar com, cada vez mais, histórias interessantes que o Lu sabe escrever ao ponto, sem exageros e com bastante criatividade!! Abraços!!

Anônimo disse...

Lu hj eu passei por aqui :)

Nao preciso dizer mais nada ne o pessoal ai de cima ja disse tudo...

Meus parabens pelo grande talento que papai do ceu te deu...

bjao

Big Bosta disse...

escreve muito bem, só foi ruim que eu lembrei que as ferias tao acabando ;x

Anônimo disse...

Algumas manias da Luana me são familiares...deitar no chão com a blusa suspensa, pedir para alguém puxá-la, levar o rádio para o banheiro e a gatinha companheira.
Não é verdade....

Beijos, te amo!!!!
Fabi:)

Vanessa Sagossi disse...

Ups..
Comoo assim??
E o Rômulo?
Luana, se ele assobiou não vale a pena.. rsrs..

Anônimo disse...

é isso Luana!
Gostei, ela ta precisando aproveitar, ainda mais depois da sacanagem que o Rômulo fez com, han, não esqueci não hahaha

aii to atrasadérrima aqui no blog né rs

bjos