sexta-feira, 27 de novembro de 2009

EU ESTOU ÓTIMO! E VOCÊ?

Sexta-feira. Uma semana antes, eu havia recebido um convite para uma festa de despedida na casa de uma amiga de longa data, a Ruth. Publicitária de mão cheia, Ruth estava de malas prontas para uma vida profissional bem sucedida na Espanha. A festa teria tudo para ser ótima, um misto de risos e lágrimas. Mas toda confraternização que tem como objetivo reunir velhos amigos de faculdade tem uma grande porcentagem de chance de não ser nada agradável. É que acaba sempre se tornando uma briga de egos, uma enfadonha roda onde as vantagens e as histórias de sucesso são jogadas à espera de olhares surpresos ou suspiros ambiciosos. Isso me enjoa.

Como Ruth era uma amiga muito querida, fiz questão de ir à festa. Sim, fui à festa apenas pelo apreço. Eu não podia deixar de lhe dar um abraço, lhe desejar boa sorte. Do restante do pessoal eu esperava apenas um “e aí, como vai?”, nada mais. Já que eu não atuava na área em que me formara, estava condenado a ser alvo de todo tipo de piadinhas e “sorrisos de canto de boca” naquela festa. Por isso, pus como objetivo: ir até a casa de Ruth, lhe dar um abraço, tomar uma cerveja e vir embora para casa.

Diante de um armário lotado de roupas surradas, não tive muita escolha; peguei uma camisa de malha azul, uma calça jeans e o único tênis que me sobrara após minha demissão na loja de discos. “Posso imaginar as roupas descoladas que farão daquela festa um verdadeiro desfile de moda”, pensei. “Ah, foda-se”, disse a mim mesmo. Tomei um banho, me vesti e fui.

Chegando ao sobrado onde morava Ruth, pude vê-los na varanda do segundo andar. Todos riam bastante. Como previsto, uma imensa roda se formava em volta do Alan – o mais bem sucedido da turma –, que, pelo que consegui “pescar” da conversa, contava como teve a brilhante ideia para a campanha dos sabonetes Dove. Eu, particularmente, achava aquela campanha uma verdadeira bosta, mas...

Foi quando daquela varanda surgiu o berro: “Ali! É o Vinícius! Sobe aí, Vinícius”. Eu, tentando ser o mais discreto possível, falhei. Talvez pelo fato de meu fracasso ser ainda mais visível que o sucesso de todos eles juntos.

Subindo a escada para o segundo andar, me encontro com Ruth. Um sincero abraço trata então de atrapalhar o trânsito de pessoas às gargalhadas, que subiam e desciam todo o tempo.

- Muita sorte lá na Espanha, menina!

- Obrigada, Vinicius! Você é um amigão! Sabia que vinha!

A música estava alta e a cerveja bem gelada. Tratei de me enfiar num canto, mas a dona daquele berro da entrada, a Cida, me puxava até a varanda.

Por que ela fez aquilo? Eu não tinha nada a acrescentar naquela roda. Pior: não tinha nada a ouvir também. Aquilo tudo de certa forma me frustrava. Contar a minha história de derrota frente aos vitoriosos? Por quê? Ouvir histórias de sucesso sendo você um fracassado? Por quê?

- E aí, Vinicius – dizia o Alan –, criando muito? É só levantar o braço e contar sua experiência! Estamos ansiosos! Você sumiu, poxa!

- Não. Vocês podem continuar...

Todos riram – logicamente.

Um repentino vento frio me atingiu e me fez espirrar. Virei-me e desci para o primeiro andar. Peguei outra cerveja e dei uma volta pela casa.

- Vinicius?

Aquela voz a me chamar era familiar. Era uma voz doce. Ouvir aquele chamado me fez voltar no tempo. Débora! Lembrei antes de me virar.

- Débora!

- Como você está, menino? – ela me perguntava com certo nojo expresso no olhar.

- Indo... E você?

- Indo também.

- Criando muito?

- Ai, se eu parar eu morro, Vinicius! - ela continuava com o mesmo olhar, o que me incomodava muito – E você?

- Eu já morri.

Conversamos por alguns minutos, mas minha vontade era a de passar a noite inteira com ela. Sempre fui apaixonado pela Débora, desde o primeiro período na academia. Ela era a menina mais sincera, mais amiga, mais meiga, mais linda e mais inteligente daquela classe. Porém, minha timidez, unida à minha falta de confiança, fez a distância entre nossos lábios permanecer para sempre ideal – para uma simples conversa entre amigos.

Sozinho, sentado no sofá a observar a garrafa em minhas mãos, sou surpreendido por uma menina de uns sete anos de idade, no máximo.

- Tio!

- Oi...

- Tem uma meleca no seu nariz.

Em meio àquele amontoado de feitos mirabolantes, a frase mais sincera da noite.

4 comentários:

FYC disse...

ahuahauaauauhuuaahuahuahhauahuaha
ADOREEEEI!

Vanessa Sagossi disse...

Ain, que tristeee!
Tadinho!

Lucas disse...

Hahahahahhahahahaha, ptz!

Muuuuuito bom Luciano, muito bom.
Divertidíssimo.

Obrigado pelo comentário.
Abraço Grande.

Ah, adorei a decoração de natal.

Anônimo disse...

Ecati :-S