quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

TEMPORADA DE DEZEMBRO

Durante todo o ano, eu fico cercado por um volume enorme de notas fiscais, telefones frenéticos... É que na empresa de transportes na qual trabalho as tarefas são mal divididas. Dessa forma, o que seria prático para duas pessoas resolverem se torna extremamente difícil para apenas uma. É um trabalho que me consome muito, de janeiro a novembro.

Sempre no mês de dezembro, mais precisamente a partir do dia 2, entro de férias. Mas como nunca gostei de ficar sem ter o que fazer, me junto a dois amigos, o Beto e o Jonas, que, coincidentemente, também tiram férias no último mês do ano, formamos uma banda, a Jazz Christmas, e entramos numa curta temporada num bar de um terceiro amigo meu, o Luizão. Há uns seis anos que fazemos isso.

Eu poderia falar aqui da qualidade de nosso repertório – que procura apresentar temas natalinos no formato jazz –, da quantidade de whisky que ingerimos durante todo o mês doze, ou até mesmo das gargalhadas que damos sempre que erramos algum tema. Mas preciso contar sobre uma pessoa muito especial, que durante os seis anos em que a Jazz Christmas se apresenta não perde uma nota sequer. O nome dela é Mônica Lisboa.

Mônica, quando começou a frequentar os nossos shows, era ainda uma menina, tinha seus dezessete anos, talvez. Sempre acompanhada de uma amiga que carregava o tédio nos olhos, Mônica se sentava na primeira mesa; e ali ficava a cantarolar todos os temas – eu podia notar seus lábios se mexendo em sincronia com minha guitarra.

Quando ela apareceu pela primeira vez, eu já tinha os meus vinte e sete anos. Beto e Jonas me colocavam certa “pilha” para que eu me aproximasse da jovem. Não podia! Embora solteiro, via nos nossos dez anos de diferença um abismo enorme. Sentia-me mal com os conselhos dos rapazes. Como já dito, eu calculava uns dezessete anos para ela, mas Mônica poderia ter ainda menos.

- Gente, ela gosta de jazz! Só isso! – eu dizia.

- Não! – dizia-me Beto – Ela gosta é de você!

- Besteira! Uma menina!

- Meninas viram mulheres, Rodrigo, sabia disso? – dizia-me agora o Jonas.

- OK! Quando ela virar uma mulher, eu penso no assunto! Agora, vamos tocar!

A verdade é que, todo ano, quando me deparava com aquele bar totalmente decorado com enfeites de Natal, antes mesmo dos temas que tocaríamos mais tarde, os olhos de Mônica se faziam presentes em meus pensamentos. Eu só sabia o nome dela porque, na primeira noite do Jazz Christmas, há seis anos, ela veio até a mim e se apresentou. Depois disso, apenas sorrisos e olhares; ela na mesa e eu no palco.

No ano passado, a Mônica, já com seus 22 anos, estava em sua mesa a nos assistir, como sempre. A diferença é que, ao invés de uma menina – que de certa forma já me criava certo desconforto –, havia ali uma linda mulher. Seus olhares já não vinham mais seguidos daqueles sorrisos infantis e nem daquela mão a apoiar o queixo abobalhado. Seus olhares tinham objetivos; eram penetrantes e convidativos.

Quando eu me preparava para tocar “Here Comes Santa Claus”, o Beto saltou da bateria e foi até o microfone que ficava ao centro do palco.

- Gente, gente! Para o próximo tema, “Here Comes Santa Claus”, gostaríamos de chamar ao palco Mônica Lisboa!

A menina, assustada, levou a mão à boca; não esperava pelo convite. Na verdade ninguém ali esperava.

- Ficou louco? – eu disse ao Beto.

- Louco você vai ficar quando ouvir a voz dessa mulher, Rodrigo! Vai por mim!

Mônica, ainda sem entender, subiu ao palco.

A verdade é que Mônica Lisboa já era considerada um fenômeno no bairro, e eu nem sabia. Ela já se apresentava inclusive no Jazz Bar, acompanhada pelo excelentíssimo guitarrista Alfredo Ramos. O excesso de trabalho por várias vezes nos distancia das coisas boas que acontecem ao nosso redor.

Preciso dizer que Mônica cantou “Here Comes Santa Claus” divinamente? Eu, boquiaberto, parei de tocar na metade da música; deixei a harmonia por conta do órgão de Jonas. Ela conseguiu arrancar pelo menos dois minutos ininterruptos de aplausos – sem contar os litros de saliva que de mim escorreram.

Depois disso, ela voltou à sua mesa e assistiu ao restante do show. Mas a bagunça já fora feita; minha concentração fora para o brejo. Eu estava ali completamente apaixonado pela voz e pela alma de Mônica, mas segui a apresentação.

* * *
Ao fim, fui até Mônica, antes que ela se retirasse do bar.

- Mônica!

- Sim!

- Obrigado pela “canja”. Foi magnífica!

- Eu que agradeço! Realizei um sonho!

- Que sonho? Sonhava em tocar com a gente?

- Sonhava em tocar com você!

A frase me vinha como uma flecha, bem no peito.

- Fico feliz de... – eu gaguejava.

Mônica me interrompeu tocando meus lábios com os seus.

- Para onde você vai? É Natal, e... – eu dizia depois do beijo.

- Para minha casa, ora! Meus pais me esperam.

- Mas... Eu te esperei por seis anos...

- Não! EU te esperei por seis anos!

- Amanhã, se não estiver em família, podemos almoçar, que tal?

- Claro!

- Pode ser aqui mesmo?

- Claro!

- Às 12h, então!

- Às 12h!

- Feliz Natal, então!

- Já está sendo... Feliz Natal para você também – ela dizia a sumir pela porta do bar.

Naquela noite, diante de tantas emoções, não dormi. Fiquei, talvez, a esperar a chegada de Papai Noel. Porque voltei ali a ser criança com o beijo de Mônica. E ela cantando “Here Comes Santa Claus”, meu Deus!

7 comentários:

Anônimo disse...

Êeee, um conto fofinho *-*
o blog ta lindo! =)

bjos!

Luciano Freitas disse...

Aninha! Tava sumida!

Anônimo disse...

pois é, esse finalzinho de ano ta corrido.. num tenho mais tido tempo de ficar na internet :/
mas sempre que da, dou uma passadinha aqui :)

Pequeno Historiador Urbano . disse...

Realmente a noite deve ter sido boa!

Ficou ótimo o layout natalino x)

Ainda aguardo o conto da Caroline, meu presente hein Luciano!

http://primataracional.blogspot.com
(novo! ex. teoria do playmobil)

Kayo Medeiros disse...

Eu gosto da mônica. =)

FYC disse...

Que máximo saber a história da Mônica Lisboa!
ADOREEEEEI!
=)

Vanessa Sagossi disse...

Ain, que bonitinho! :)