
Chegando na cozinha:
- É, Celeste, ela se foi – dizia Luana.
- Não fique triste, minha filha. Hoje em dia vocês podem se falar pelo computador, não é mesmo?
- É, claro, mas nunca será a mesma coisa.
Luana subia até o seu quarto e se deparava com Mimi a olhar fixamente para o celular, como se o mesmo tivesse acabado de tocar. E realmente tocara. Era uma nova mensagem de Matheus.
Não me respondeu, Luana. Estou sendo inconveniente?
Matheus.
Luana então o respondia.
Estava com uma amiga minha aqui em casa. Você não está sendo inconveniente, de forma alguma – Luana então pensou se realmente escreveria o que tinha em mente. Até que escreveu – Também gostaria de te ver.
Beijos.
Luana.
* * *
Matheus, em meio a um monte de papeis e tarefas que só um estagiário é designado a se responsabilizar, recebia a mensagem de Luana no exato momento em que era solicitado à sala de Marcos – seu chefe e pai de Luana.
- Pois não, Marcos – dizia Matheus.
- Matheus, eu sei que não é responsabilidade sua, nem de seu setor, mas gostaria que me fizesse um favor.
- Pode dizer.
- Hoje eu faço aniversário de casamento e fiquei de comprar um perfume para Patrícia, mas estou atolado por aqui. Então, assim que tiver um tempinho, dê um pulinho naquela perfumaria ali em frente e me compre um frasco desse perfume – Marcos entregava a Matheus o dinheiro e um papelzinho com o nome da fragrância – Não esquece?
- Não, Marcos, pode deixar!
- Ah! Faz melhor: compre dois. A minha filha usa o mesmo perfume e...
- A Luana?
- Sim, só tenho uma filha. Você a conhece?
- Sim. Estive na sua casa no final do ano, não se lembra?
- Ah, é mesmo! – dizia pausadamente Marcos, com ar de desconfiança – Bem, estão é isso. Assim que comprar, me traga aqui, mas sem que Patrícia desconfie, OK?
- Pode deixar, Marcos.
Sem querer, Matheus descobria a marca do perfume de Luana, uma informação valiosíssima para a conquista que investia. Embora o rapaz já tivesse ouvido falar na superstição de não se dar tal presente à pessoa amada, com o risco de perdê-la ao fim do frasco, pensou que seria, mesmo assim, excitante.
Matheus então largou seus afazeres e foi correndo à perfumaria. O rapaz comprou, sim, os dois frascos, porém, um com a quantia de Marcos e o outro com o seu próprio dinheiro. Estava disposto a mentir para o chefe. Diria que havia apenas um frasco na loja e lhe entregaria o troco. No poder de um outro frasco, Matheus presentearia Luana.
No caminho até o escritório, Matheus pensava que teria de ser rápido na entrega do presente, já que Marcos poderia muito bem, naquela mesma tarde, ir até outra perfumaria e adquirir a fragrância de Luana.
Chegando à sala de Marcos:
- Marcos, trouxe o perfume – dizia Matheus.
- Ah, sim! Comprou os dois?
- Infelizmente, Marcos, só tinha um. Aqui está o troco.
- Puxa... Bem, fazer o quê? Obrigado, Matheus.
- Por nada – dizia Matheus que logo emendou – Marcos, eu poderia sair um pouco mais cedo hoje? É que tenho umas coisas para resolver na secretaria da faculdade.
- Sim, tudo bem. Só avise ao Dr. Castro que eu o liberei, OK?
- OK. Obrigado, Marcos.
Matheus então pegava seu paletó na cadeira e a embalagem que deixara sobre a mesa e partia em disparada para a casa de Luana.
Sem sequer saber como seria recebido – se é que seria recebido – por Luana, Matheus seguia no ônibus a calcular suas chances com a ausência de Marcos e Patrícia. O rapaz pensava que horas antes dissera à menina que somente apareceria por lá sob solicitação de Marcos, mas se via quebrando as regras e movido simplesmente pela vontade louca de rever o rosto de Luana – vontade esta que se tornou incontrolável ao descobrir a fragrância da menina. Matheus lembrava com detalhes o endereço do chefe, não foi difícil chegar até lá.
Ao pisar frente ao portão de Luana, ajeitou o nó da gravata, passou a mão sobre o paletó e chamou:
- LUANA!
Celeste avistava o rapaz pela janela da cozinha.
- Luana – dizia Celeste –, tem um rapaz de terno lhe chamando.
- De terno?
- É, vem ver só.
Luana tremia as pernas ao constatar o que já imaginava: Matheus estava lá a lhe chamar.
- Celeste, ele é um estagiário lá do supermercado de papai. Será que o papai sabe que ele está aqui? O que eu faço?
- Bem, parece que ele traz um presente. Acho melhor que o atenda, minha filha.
- Ai, meu Deus, eu preciso de um banho. Estou puro suor. Mande-o entrar, Celeste. Eu já desço.
Celeste segue as ordens de Luana e acomoda o rapaz na sala.
- Ela já desce, está bem? – dizia Celeste – Aceita um suco, ou uma água?
- Eu aceito uma água.
No banho, Luana era um misto de tudo ao mesmo tempo. Não conseguia se concentrar no que realmente estava acontecendo.
- Por que ele está aqui? Por que apareceu sem avisar? Por que estou tão nervosa com a presença dele, meu Deus? – perguntava-se Luana a se ensaboar.
Luana não sabia sequer como se comportar diante de Matheus. E se já não bastassem as mil dúvidas, ainda havia o medo de estar recebendo o rapaz em casa sem a ciência de seus pais – ainda mais por ser Matheus um empregado deles.
Enquanto isso, na sala, ansiosamente, Matheus a esperava.
[Continua]
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo
Mais contos de Luana aqui.
5 comentários:
aaaaaaaaaaaaaaai que friozinho na barrigaaaaa!
haha
adoreeeeeeeeeeei!
até que eu to começando a simpatizar com essa Matheus rs
bjo
Eu definitivamente ainda não gosto do Matheus. Tudo bem que parece que foi tudo de boa intenção. Mas disso o inferno está cheio, não é mesmo??
Ah, eu quero que a Giovana fique!!
Aiii tbm to ansiosa aki!
e na torcidaaaaaaaaaaa!!!
hehehe
Muito bom.
Impossível não gostar dessa história.
E essa superstição do perfume acabar e a relação também. Só detalhes, certo?
Luana precisa de um "viveram felizes para sempre".
Abraço Luciano.
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