
Patrícia chegava até Marcos com calma. Entendia perfeitamente o lado de seu marido, mas entendia também as atitudes de Matheus – achava-o corajoso e romântico até. Não seria fácil acalmá-lo, mas Patrícia era, talvez, a pessoa mais centrada daquela casa; a única capaz de tal tarefa.
- Marcos, também não é para tanto, vai – dizia Patrícia.
- Como não, Patrícia? Como não? Aquele moleque me engana daquela forma! E a fim de dar em cima da minha filha! Era só o que me faltava.
- Marcos, o Matheus é jovem e, no meu ponto de vista, está, sei lá, apaixonado por Luana. O que você queria que ele fizesse? Se ele abrisse o jogo contigo, você o deixaria vir e presenteá-la?
- Por que não?
- Ah, Marcos, conte outra...
- Queria que ele agisse como homem, Patrícia! Depois dessa, eu não sei se quero um moleque namorando minha filha. E vou além: não sei se quero esse mesmo moleque resolvendo a parte jurídica de meus negócios!
- Aí você está indo longe demais, Marcos. O Matheus tem se mostrado um excelente funcionário. Não misture as coisas.
- Excelentes funcionários não mentem como ele mentiu!
- Mas Marcos, pelo amor de Deus, você não vê o lado bacana disso tudo? Analise o que esse rapaz fez! Ele só deu sinais de que realmente gosta de sua filha, Marcos! Outro cara, ou melhor: um “moleque”, como você mesmo diz, não teria atitude tão romântica.
- Romântica? Ah, Patrícia...
Luana escutava da sala algumas palavras do diálogo entre o pai e Patrícia. Não se lembrava de ter visto o pai tão bravo alguma vez. Sentia medo, mas não do que poderia acontecer a si – até porque não teve culpa alguma do que ocorrera –, mas ao Matheus.
No quarto:
- Eu vou ligar para o Matheus é agora – dizia Marcos.
- Para quê?
- Ora, quero ouvir o que ele tem a dizer!
Marcos pegava o celular e discava com a força de um leão.
- Alô.
- Matheus?
- Sim, Marcos, pode falar.
- Soube que você esteve aqui em casa, é verdade?
- É... – Matheus pensava um pouco – Sim, Marcos, estive. Peço desculpas se...
- Olha aqui, rapaz, eu não gostei nem um pouco de sua atitude! Para mim, você não passa de um moleque! Onde já se viu? Contar-me uma mentira para sair mais cedo a fim de dar em cima da minha filha! Onde já se viu?
- Desculpe-me, Marcos, é que...
- Você mostrou que não merece estar na minha equipe, rapaz. Muito menos ser namorado de minha filha! Amanhã, Matheus, por favor, vá direto ao RH e resolva sua papelada de estagiário, OK? Passar bem!
- Você não vai me ouvir? Eu o ouvi. Pode me ouvir também?
- Sim, claro – dizia Marcos respirando fundo.
- Não quero me defender. Sei que errei e assumo isso. Mas errei apenas no que diz respeito à empresa! Menti, sim, porque, naquele momento, vi apenas a mentira a favor do que sinto pela sua filha, Marcos.
- Não me venha...
- Eu ainda não terminei. Vou lhe fazer uma pergunta, Marcos, mas você, por favor, não me responda. Quero apenas que reflita. Você nunca usou de uma mentirinha para conseguir o que quer?
- Eu...
- Não responda! Apenas se lembre que o setor jurídico da empresa acata as suas vontades, Marcos. E, de vez em quando, a sua vontade é pela nossa mentira. Passar bem.
Matheus desligava o telefone.
Marcos ficava sem palavras diante daquilo. Não esperava tamanha maturidade de Matheus. Sentou-se na cama e começou, com calma, a analisar as atitudes de Matheus desde o dia em que ele pisou em seu supermercado. Concluía aos poucos que Matheus era um excelente funcionário e que tal mentira teria um peso muito inferior para competir com os serviços por ele prestados. Sentiu-se mal.
- O que foi que ele disse? – perguntava Patrícia.
- Nada demais. Vamos jantar.
* * *
Durante o jantar, ninguém emitia palavra. Até que Luana, morta de curiosidade, resolvia perguntar:
- Ainda está bravo, papai?
- Vai passar. Só não quero mais saber desse rapaz aqui em casa, OK?
- Mas papai, ele foi tão...
- Luana, se você me disser que ele foi romântico, assim como a Patrícia disse, eu vou me retirar dessa mesa.
- OK, papai, não precisa se retirar. Só escute uma coisa: eu ia dizer que ele foi sincero e que me respeitou todo o pequeno tempo que esteve por aqui. E eu acho que estou realmente gostando dele. Com licença.
Luana deixava a mesa sob o olhar assustado de Marcos.
- O que está acontecendo com Luana, Patrícia? – dizia Marcos – Ela não era assim!
- Marcos, a Luana cresceu. Nada mais óbvio de se esperar que ela comece a correr atrás de seus desejos.
Marcos respirava fundo.
[Continua]
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo
4 comentários:
luana! tchá! tchá! tchá!
luana! tchá! tchá! tchá!
luana! tchá! tchá! tchá!
Impressão minha, ou rolou algo meio parecido com uma chantagem na conversa entre o Marcos e o Matheus? hmmmmmm...
Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, não!
Ela não pode gostar delee!!!
E o romantismo?? Eu sei que o Romulo morreu! MAS é tãoo próximo. E além do mais dois senhores perfeitos não existem na mesma história, hein, Luciano!
Ela não pode gostar delee!!! [2]
aaaaaiiii esse garotinho não me parece ser bom pra ela, não fui com a cara dele, até estava me simpatizando mas tem alguma coisa q não ta batendo..
Postar um comentário