
- Vamos, amor? – dizia Marcos.
- Sim, vamos.
- Te espero no carro.
Marcos descia pela escada dos fundos do supermercado e se dirigia até o carro. Com a intenção de presenteá-la assim que ela descesse, posicionou o embrulho sobre o banco do carona.
Alguns minutos se passaram e Patrícia finalmente chega até o carro de Marcos. Ao abrir a porta:
- Meu Deus, hoje foi um dia cheio... – dizia Patrícia até notar o embrulho sobre seu assento – O que é isso, Marcos?
- Feliz aniversário de casamento, Patrícia.
- Ah, Marcos, que lindo! Você é um amor. E eu nem comprei nada...
- Não precisa, meu amor.
O casal se beija e segue para casa.
No caminho, Patrícia abria o presente e agradecia pelo perfume quando seu celular tocava. Era Luana.
- Diga, Luana!.
- Patrícia, você está perto do papai?
- Sim, por quê?
- Então não dê bandeira. Preciso te contar uma coisa, mas tem que ser agora!
- Sim, diga.
- Sabe o Matheus? O estagiário de vocês...
- Sim, claro.
- Ele esteve aqui hoje e me trouxe um perfume! Ele disse que papai não sabia de nada!
- E?
- Eu quero saber de você o que é que eu faço! Escondo do papai ou conto a ele? Responda “sim” para eu esconder ou “não” para eu contar tudo ao papai.
- Sim! Claro que sim, Luana! Estamos indo para aí. Beijos.
- Mas...
Patrícia desligava o telefone sem dar chances para maiores dúvidas por parte de Luana e esboçava um sorriso de admiração pela atitude de Matheus. Mas logo se desfazia do semblante animado para não dar brechas a possíveis perguntas de Marcos – que mesmo assim:
- O que Luana queria, Patrícia? – perguntava Marcos.
- Nada. Besteira. Uma opinião sobre corte de cabelo. Queria saber se eu aprovaria.
- Essa menina...
Luana, do outro lado da linha, ficava com o telefone na mão a pensar onde esconderia o presente de Matheus, mesmo sem saber se era ou não uma boa ideia. “No meu quarto, lógico, mas onde?”, pensava Luana.
A menina então corria até o seu quarto e escondia o perfume, com embrulho e tudo, debaixo da cama. O quarto de Luana é um território no qual Marcos dificilmente pisa. E quando pisa, é incapaz de vasculhar as coisas de sua filha.
Já chegando na rua de casa, Marcos dizia à Patrícia:
- Eu acabei comprando um perfume também para Luana. Essa semana eu a ouvi dizendo que seu perfume estava no fim. Eu pedi ao Matheus que comprasse. Você nem percebeu, não é?
- Ah! – respondia Patrícia pensativa – Eu? Não, não, nem percebi nada... – começava a juntar as peças do presente de Matheus.
- O Matheus só conseguiu comprar um, mas acabei dando uma fugidinha até a outra filial da perfumaria, no shopping, e consegui.
- Ah, que ótimo, amor! Ela vai... Vai adorar...
* * *
Luana descia as escadas com o semblante de uma menina que não conseguia conviver com a mentira. Seus olhos levemente puxados davam lugar a esbugalhados círculos. Patrícia, ao avistar o rosto assustado da enteada, foi rapidamente até ela e:
- Tudo bem?
- Tudo, Patrícia – respondia Luana ainda insegura.
- Filha – dizia Marcos –, trouxe uma coisa para você.
- O que é, papai?
- Seu perfume estava acabando não é?
- Sim, sim. Eu acho que sim... - respondia Luana num auge de aflição.
- Então tome aqui – Marcos lhe entregava o perfume à filha.
- Ah, papai, obrigada!
Foi quando Marcos avistou, próximo ao sofá da sala, um cordão decorativo idêntico ao dos embrulhos dos presentes dados à Patrícia e Luana.
- Ué! Que terceiro cordão é este no chão? – perguntava a si mesmo, em voz alta, um observador Marcos.
- Não tem “terceiro cordão”, Marcos – dizia Patrícia –, foi o meu que caiu.
- Não, não! O seu está aí com o seu presente, assim como o de Luana. Aquele ali é um terceiro cordão! Luana, alguém... esteve aqui?
- Não, papai... Que dizer... Sim, mas...
Marcos não tinha conclusão alguma sobre aquilo, mas passou a mão sobre a cabeça e começou a pensar.
- O que está acontecendo, Luana? – perguntava Marcos.
Patrícia olhava para a menina com um olhar que dizia “que bandeira, Luana”. Vendo-se em tal situação, Luana abria o jogo:
- Foi Matheus, papai. Ele... Ele também me trouxe um perfume. Mas foi só isso, papai. Ele esteve aqui e me deu o perfume. Só.
- Só? Mas... – Marcos ficava nervoso – Mas quem esse moleque pensa que é? Espere aí... Agora eu entendi tudo! O fato dele não achar o seu perfume quando o pedi para comprá-lo... O fato de pedir para sair mais cedo... Mas que filho da mãe!
- Não foi nada demais também, papai! Foi só um presente...
- Sim, filha, mas a forma como ele agiu foi ridícula e mentirosa! Ele vai se ver comigo amanhã!
Marcos saía da sala em direção ao seu quarto cuspindo fogo. Patrícia olhava para Luana e:
- Luana! Que bandeira! Não notou o cordão no chão?
- Como ia notar, Patrícia? Estava tão nervosa! O será que papai vai fazer?
- Não sei, Luana. Não sei. Vou lá tentar acalmá-lo.
[Continua]
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo
Mais contos de Luana aqui.
4 comentários:
aaaaaaaaaaaaaaaaaaai...#oremos pra patricia conseguir acalmar a fera...
mas que coisaaaa... se a luana tivesse visto o laço, não iria precisar passar por isso...
quer dizer... ela ia contar de qualquer forma... rs
ai caramba, mais coisa pra complicar rsrs
E vem vindo o grande confronto.
Ótimo Luciano.
Abraço.
Tomara que ele acabe com o Matheus!!!
Sou a única dessa opinião aqui?
Beijos
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