terça-feira, 18 de novembro de 2008

DUAS V - Tudo Ao Mesmo Tempo

No dia seguinte, pela manhã, Marcos e Luana seguiam para o enterro da prima Arlete. Patrícia preferia ir trabalhar. Alegava não se sentir muito bem em cemitérios. Demonstrava também muita preocupação na ida de Luana. Não achava uma boa idéia, por achar o cemitério um local muito triste e medonho. Marcos perguntava por diversas vezes à Luana se ela tinha certeza de que queria ir ao enterro.
- Tem certeza de que quer ir, Luana?
- Claro que tenho, papai. Não sou mais criança!
- OK. Então vamos.

Marcos parava o carro em frente à porta principal do cemitério. Os despachos de candomblé encharcados da chuva que caíra na noite anterior deixavam Luana um pouco impressionada, pois nunca chegara tão perto de um. Luana abraçava forte o braço de Marcos e o seguia até a capela onde familiares e amigos velavam o corpo de Arlete.

Plínio, irmão de Arlete, recebia pai e filha na porta da capela com um rosto de expressão nula. Não parecia triste nem feliz. Nem choroso nem risonho. Nem atencioso nem displicente. Apenas olhava para um nada enquanto apertava a mão de Marcos, que constatava uma piora nos sentimentos de Plínio daquela tarde no supermercado até então.
- Olha aí a Luana. Não está uma moça?
Marcos tentava quebrar o clima.
- Nossa! Está uma moça linda!
Plínio abraçava Luana, porém, com o mesmo olhar sem vida. Na certa não reconheceria Luana se a visse na rua no dia seguinte. Plínio parecia arrasado e com a cabeça bem distante.

Ao entrarem na capela, Marcos explicava à Luana o grau de parentesco de Plínio.
- O Plínio é irmão da prima Arlete. Lembra dele?
- Não, não me lembro muito bem. Então ele é meu primo também?
- Sim. É o que chamamos de primo de segundo grau. Ele é seu primo de segundo grau.
- Entendi.
- Você vai querer ver o corpo?
- Não, papai. Prefiro ficar por aqui.

Logo, vários familiares chegavam até Marcos e Luana. Estavam todos impressionados com Luana, que, por conta do excesso de trabalho de seus pais, mantinha-se há tempos longe das principais reuniões familiares. Diziam “Mas como cresceu!” “Meu Deus! É a Luaninha?” “Não acredito, Marcos! É a sua filha? Que moça linda!”. Luana se encabulava, mas não deixava de sorrir a todos e conversar um pouco com cada um que a ela chegava. Marcos deixava a “atração” do velório para consolar os mais próximos de Arlete. Até que:
- Realmente. Você está linda mesmo, Luana!
Um menino aparentando uns dezessete anos se aproximava dizia à Luana.
- Obrigada. Quem é você?
- Meu nome é Rômulo. Bem, pelo parentesco, sou seu primo. Distante, mas primo – ele sorria – Sou filho da sua prima, a Lúcia.
- Não conheço também.
- Deixa-me explicar. Tia Arlete, que Deus a tenha, era irmã da minha mãe, a Lúcia. Aquela ali.
Rômulo apontava para sua mãe.
- Entendi.
- Você não se lembra de mim?
- Desculpe-me, mas não lembro de você. Na verdade não me lembro de ninguém por aqui.
Luana sorria meio sem graça.
- Tudo bem. Eu lembro de ti muito pequena. Um natal que passamos na casa de Tia Arlete.
- Nossa. Não me lembro mesmo.

Rômulo falava manso e de forma que paralisava o olhar de Luana em seu semblante. Ele era um rapaz muito bonito. Um pouco mais alto que Luana, com ombros de quem parecia nadar todo dia. Vestido num casaco negro e de calça jeans na mesma cor, Rômulo fazia contraste com sua pele branca. Os lábios e o nariz eram delicados. No par de olhos, o menino trazia um castanho bem claro.
- Com quantos anos está?
Perguntava Rômulo.
- Fiz quinze. E você?
- Dezessete.
- Legal.
- Por que nunca mais a vi nos natais?
- Meu pai e minha madrasta trabalham demais. Principalmente nessa época do ano. Então, por causa da correria, acabamos passando as festas em nossa casa mesmo.
- Entendi. Mas façam um esforço para estarem mais próximos.
- Se dependesse de mim...

Naquele momento, o caixão de Arlete era fechado e os presentes seguiam para o enterro. Marcos chegava até Luana e a encontrava bastante entretida com o primo. Mesmo com um pouco de ciúmes e desconfiança das intenções de Rômulo, Marcos acabava achando melhor. Tinha com quem ficar até que ele retornasse.
- Filha.
- Oi papai.
- Tudo bom Rômulo? Está um rapagão!
Cumprimentava Marcos.
- Pois é...
Rômulo sorria.
- Luana, eu vou seguir até o enterro. Você fica aqui, OK?
- Fico sim, papai.
- Pode ficar tranqüilo, primo. Ficarei aqui fazendo companhia a ela.
Prontificava-se Rômulo.
- Que bom. Não demoro.

Luana e Rômulo estavam agora sozinhos frente à capela. Sentavam-se num banco de concreto e ali conversavam sobre a vida um do outro. Logicamente que tanto Luana quanto Rômulo desejavam no fundo que aquele enterro durasse pelo menos uns dois anos. Luana notava certa atração pelo primo, embora tentasse negar num terrível conflito íntimo. Rômulo era só carinho para com Luana. Mesmo num cemitério, o clima entre os dois era de algumas risadas e muitas constatações felizes. A demonstração de inteligência e a educação eram recíprocas.

Luana encontrava-se num misto de coisas inéditas. Onde imaginaria estar faltando aula, sentada num banco de uma capela, conversando com um primo atraente e tomada por uma vontade louca de beijá-lo?

Depois de muito conversarem:
- Posso te dizer uma coisa?
Perguntava Rômulo.
- Diga.
- Há muito não sinto vontade de ter alguém como sinto agora.
- O quê?
Luana envergonhava-se, porém, demonstrava agrado ao ouvi-lo em tal afirmação.
- É sério. Luana, isso pode parecer esquisito, por conta de toda essa situação, mas eu já estou com saudades de você só de pensar que amanhã não lhe verei.
- Poxa, Rômulo. Não sei o que dizer. Eu...
- Não precisa dizer nada. Apenas contribua para o cessar dessa saudade.
Rômulo chegava até os lábios de Luana vagarosamente, a fim de dar tempo para que a menina decidisse se corresponderia ou não àquele beijo. Rômulo jamais roubaria os lábios de uma menina. Acharia-se desrespeitoso e aproveitador. Mas ela correspondia.

Enquanto se beijavam, na cabeça de Luana se passava tudo ao mesmo tempo: Marcos lhe fazendo carinho, Giovanna recitando versos lindos, Mimi pulando em seu colo, Nara Leão cantando “O Barquinho”, um foguete subindo aos céus, os camarões de Celeste, o sol rasgando as nuvens com seus raios... Rômulo sabia beijar uma menina. Luana não seria mais a mesma depois de tal experiência.

Ao chegar de Marcos e os familiares, Luana e Rômulo fingiam apenas conversar. Porém, toda uma vontade de se verem mais vezes já tinha sido exposta um ao outro. Trocaram telefones e se despediram.

[Continua]

* * *
Foto da capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana na série LUANA (
Setembro de 2008).

7 comentários:

Anônimo disse...

eu não sei quem está mais empolgada, se é a luana ou eu!
adoreeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeiiii!
fofos! fofos! fofos!!!!

=)))))))))))))
to felizzz! hahaha

Anônimo disse...

Querido amigo avassalador...
Gostei do nome. Muitos em um.
De fato somos.
Gostei do pequeno conto. é autobiografico?
Voce escreve de uma maneira lispectoriana, já disseram pra vc?
venha nos visitar.
http://avassaladorasrio.blogspot.com

Livia Queiroz disse...

Opaaaaaaaaa
Adorei isso então ker dizer q akele moço do outro conto, o Daniel(o tal babakinha) dançou mesmo!
Ufa!
Sorte de Luaninha(me permita chamá-la assim, é que ja tenho uma especie carinho por ela)...

To adorando...e to anciosíssimaaaaaaaaa!!!

Anônimo disse...

caraaaaca manéé;
A-D-O-R-E-I msm!
tomaraa qi elees se vejaam denovoo!
vaai serr maraa!

qii lindoo ~.~

Anônimo disse...

Que liiindoo!!!
owwww *-*
a Luana tem que ficar com ele uahuhau
to adorando, muito fofo.
esta cada vez melhor!!

beijos ;*

Anônimo disse...

"trocaram telefone e se despediram"
nhá, q fofinho!

Vanessa Sagossi disse...

Ah, que fofo!
Nem perdoa um enterro.. rsrs
É isso aí, Luana!