sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

AQUELE NATAL

Às 11:30h do dia 24 de dezembro, eu chegava até a janela de meu quarto após uma noite mal dormida. Cabeção, meu grande amigo, já se encontrava debruçado à sua, ao lado da minha. Cabeção estava em silêncio. Apenas observava o meu rosto, que não estava nada bem. Com os olhos bem vermelhos, a face ainda amassada pelo travesseiro e o cabelo feito um ninho, eu olhava para o lado e me dava conta da presença dele.
- Fala, Cabeção.
- O que houve com você? Está com uma cara horrível.
- Dormi pouco. Quando preguei os olhos, já deviam ser mais de quatro.
- Vai lavar esse rosto. Melhora.
- Já vou, mas me espera aí. Eu já volto. Preciso falar com você.
- OK.

Eu lavava o rosto, escovava os dentes e penteava o cabelo de forma rápida. Passava na cozinha, abria um pacote de biscoito recheado e voltava à janela.
- Pronto – eu dizia.
- Está melhor.
- É. Nada como uma água gelada na cara.
- É. Mas diga. O que você queria falar comigo?
Perguntava Cabeção.
- Ah! Sim. Lembra da Silvana? Lá da rua 14 de Outubro.
- Aquela que você andou dando uns beijos?
- Isso! Aquela gracinha.
- Sim. O que tem ela?
- Eu liguei para ela, essa noite.
- E?
- Forcei a maior barra para nos vermos, mas me parece que ela não engoliu minhas palavras.
- Eu te conheço, Douglas. Você deve ter falado um monte de merda.
- Juro que não. Eu realmente estou louco de saudades dela.
- Daqueles seios deliciosos, você quer dizer.
- Pára. É sério. Ontem, eu acordei com imensa vontade de beijá-la. Não parei de pensar nisso um instante. Então, à noite, eu resolvi ligar para ela.
- Mas o que você disse a ela?
- Ah! Quer saber, Cabeção? Dá um pulo aqui. Vamos jogar um pouco.
- OK. Vai ligando essa geringonça que você chama de videogame.
- É? Geringonça? Pois fique sabendo que, na década passada, o Super Nintendo foi o melhor videogame de 16 bits no mercado. E...
- Basta! Estou indo para aí.
Cabeção me cortava. Aquilo renderia um discurso imenso.

A minha mãe preparava mil coisas ao mesmo tempo para a ceia de Natal. O cheiro de todos aqueles ingredientes trazia às mentes minha e de Cabeção lembranças do Natal passado.
- Você estava com a Silvana no Natal passado, não?
Perguntava Cabeção enquanto forçava os botões do joystick.
- Sim. Estava. Lembro que morri numa boa parte de minha mesada com o presente que dei a ela.
- Lembro dela por aqui no dia 25. Estava uma gata.
- Opa!
- O que foi? Você não está mais com ela, Douglas.
- Mas a fiz uma proposta para voltar. Isso faz com que eu exija de você um pouco mais de respeito para com ela.
- Respeito? OK! Respeito àqueles seios maravilhosos! Isso sim.
- Cale a boca, Cabeção, e jogue! O meu boneco vai morrer por sua culpa. Atira! Atira!
- Estou atirando, merda!

Nós dois passávamos todo aquele dia ensolarado dentro no quarto. Era impressionante a capacidade que tínhamos de jogar e jogar aqueles jogos sem parar. À tarde, eu roubava algumas rabanadas preparadas por minha mãe, a fim de matarmos a fome.
- Vocês não vão almoçar? Já passam das duas!
Perguntava minha mãe.
- Não. Essas rabanadas já são um almoço!
- Mas não acabe com elas, por favor. É para a ceia, Douglas.
- OK.
Eu me apossava de quatro. Duas para mim e duas para Cabeção.

- Seu celular tocou, Douglas – dizia Cabeção assim que eu voltava ao quarto.
- Quem era?
- Eu sei lá.
- Deixe-me ver. (...) Ih! Adivinha.
- Silvana?
- Ela!
- Vai retornar?
- Agora não.
- Por que não?
- Na última fase de Sunset Riders? Ela espera um pouco.
- Isso – dizia Cabeção mordendo uma rabanada. – Mas está uma delícia a rabanada de sua mãe!
- Sempre está!

* * *
À noite, Cabeção aparecia na minha casa, como de costume.
- E aí? Vamos dar uma volta? A galera deve estar toda lá no bloco C.
- Não posso, Cabeção. Meus familiares começarão a chegar para ceia e...
- Entendi. E a Silvana? Ligou para ela?
- Liguei sim. Pegue duas cervejas lá na cozinha para a gente, vai. Eu te conto o que aconteceu.
- Já é!
Cabeção ia até a cozinha, abria a geladeira e alcançava duas latinhas, as mais geladas, e voltava correndo para me ouvir.
- E então? Diga.
- Bem – eu dizia –, primeiramente eu me desculpei por não ter retornado a ligação de imediato.
- Disse a causa? Ou seja, o videogame.
- Claro que não, Cabeção! Disse que estava a ajudar minha mãe com a ceia.
- E ela?
- Achou-me fofo.
- Canalha.
- Deixa-me falar, Cabeção!
- OK! Fala.
- Ela disse que me ligara a fim de conversar mais sobre a minha proposta. Conversamos. Eu estava mais criativo no fim da tarde, então, acho que me saí melhor do que ontem à noite.
- Mas ela aceitou ou não, merda?
- Disse que pensaria e, caso aceitasse, estaria na praça por volta de uma da madrugada a me encontrar.
- E se ela não aceitar?
- Não estará na praça.
- Assim? E você vai correr o risco de um bolo desse? Está na cara que ela não vai. Quer te fazer de otário, Douglas.
- Será?
- Caso ela aceite, o que é muito difícil, e apareça na praça, nossa, será um natal farto, não? Aqueles seios...
- Cabeção! Mais respeito!
- Mas você ainda nem pegou!
- Mas está marcado, ora. Ficou maluco?
- Sim. Maluco por aqueles seios. Não adianta, Douglas. Só vou ter algum respeito quando me disser que estão juntos novamente. E firme!
- Seu prego. Você não vale merda alguma.
Eu dizia. Nós ríamos.

* * *
Depois da ceia, eu me dirigia até a praça. Voava em minha bicicleta. Oswaldo, o porteiro, nem me via. Imaginava Silvana cheirosa e levemente embriagada de vinho. Imaginava-a sentada em um dos bancos daquela praça deserta, abrindo um sorriso ao ver me aproximar. Eu sorriria também.

Ao chegar à praça, eu não via ninguém. Dei voltas e voltas por toda sua extensão a fim de encontrar tudo aquilo que imaginara no caminho, mas nada. Apenas suava feito um porco com o calor que fazia naquela noite. Àquela altura, nem sabia se queria mais encontrá-la. Até que:
- Oi.
Era ela. Silvana tinha os seios médios para grandes e eretos como lanças. O cabelo, numa tonalidade ruiva, estava preso numa imensa trança. Usava uma curtíssima saia jeans e uma camiseta folgada que deixava a mostra suas marcas deixadas por aquele sol de dezembro. O rosto ligeiramente maquiado trazia na boca um batom leve.
- Eu temia que não aparecesse.
Dizia Silvana num sorriso que me fazia voltar no tempo.
- Eu também temia. Acho que até mais do que você. Mas eu gostei do seu jogo. Senti-me numa última fase, sabe?
- Não, não sei. Não curto games.
Eu tinha o dom de mandar mal.
- Você está linda e eu suado feito um mendigo.
- Não importa. Importa é que provaste a mim que me desejas.
- Você nem sabe o quanto, Silvana.

Nós nos beijávamos e deixávamos aquele calor infernal tomar conta de nossos corpos. Aquela nossa volta teve um início lindo, mas não duraria muito. Duas semanas depois, eu já estaria sozinho novamente e a desejar uma outra menina: a Lívia. Coisa que nem gosto de lembrar. Mas essa história eu já contei, não? [vide “Aquele Verão”].

* * *
Mais histórias sobre Douglas em “Tapete Testemunha” I, II e “Aquele Verão”.

10 comentários:

Anônimo disse...

homens...

Janaina W Muller disse...

É mesmo. Homens [2]
Depois dizem que as mulheres é que são voluveis né ¬¬
Tanta preocupação para duas semanas depois já estar interessado em outra menina.
Aiai...HAUhuahUA :D

Abraços
='-'=

Unknown disse...

já! essa história já contou sim!
rs

Anônimo disse...

esse Douglas hein?!
não tem jeito coitado!
uhauhauha

bjos

Vanessa Sagossi disse...

Verdade que não tem jeito.
Mas que obsessão por seios que esses garotos têm, cruzes!

Eu quero o Natal de Luana!!!!
^^
heheh

beijos!
(:

Mr. e Mrs. Ironia disse...

Amores juvenis... tão intensos, enquanto duram...

Ótimo blog!

Unknown disse...

Gostei do texto, muito bom o seu blog.

Beline Cidral disse...

Entao quer diz que a silvanba ta na pista? Boa!

Lucas disse...

Ótimo conto!

Legal a idéia de fazer contos natalinos.

Muitas novidades por aqui, não é?

Vou votar em você nas coisas em que está concorrendo. E assim que der passo no seu myspace pra ouvir tua música!

Se for tão bom músico como é escritor. Terá um grande futuro!

Abraço.

Amanda Albuquerque disse...

Haha...
Ameeei a história!
Se a história fosse de uma mulher, seria outra coisa!

Amei o texto! Muito criativo!
Parabéns!
Já pesnou em lançar um livro?
kk'

http://wordsandflashes.blogspot.com