segunda-feira, 23 de março de 2009

VERDADES DE LUANA VII (Final)

Parte I:

Chegando à altura da escola, Luana descia do ônibus. Logo depois, Gisele também descia. As duas vinham num caminhar quase que sem destino e separadas por, pelo menos, uns quatro metros de puro silêncio. Luana avistava Giovanna, que, conforme combinado no dia anterior, a aguardava em frente ao portão da escola.

Ao chegar perto de Giovanna, Luana mantinha o silêncio até que Gisele passasse pelas duas.
- O que houve, Luana?
Perguntava Giovanna.
- Estava esperando Gisele passar.
- Ah! Aquela é a Gisele?
- Ela mesma.
- Hum...
- Ela me abordou ainda pouco.
- Para quê?
- Para me pedir desculpas. Dá para acreditar?
- Não!
- Pois é. Estou desconfiada, mas, acima de tudo, confusa.
- Eu também ficaria. Mas que audácia!
- O pior você não sabe.
- O quê, Luana?
- Ela disse que “queria ser eu”.
- Como assim?
- Ela está completamente desorientada, coitada.
- Coitada?
- Giovanna, você acredita que o Rômulo esteve na casa dela e a forçou a “consertar” tudo o que ela fez?
- Você ligou para o Rômulo, para confirmar?
- Não. Ela me disse isso faz alguns minutos, ora. E outra: não quero falar com Rômulo.
- Mas menina, se ele fez isso é porque gosta de ti, não?
- Não sei, Giovanna. Vejo que, mesmo contra minha vontade, terei, sim, de ligar para o Rômulo. Farei isso quando chegar em casa.
- OK. Mas me diga, como entrará na escola? Ligaram para os seus pais? Você não me ligou, Luana. Fiquei preocupada!
- Desculpe, amiga. Ligaram sim. A diretora quer conversar comigo. Outra hora eu lhe conto os detalhes.

Naquele exato momento, Dra. Leda chegava à escola. Ao avistar Luana e Giovanna ainda do lado de fora, dirigia-se até as duas meninas.
- Vocês duas, não vão entrar? Já vai bater o sinal, meninas.
- Sim, senhora.
Diziam as duas.
- Dra. Leda!
Chamava Luana.
- Pois não.
- A nossa conversa está de pé? Eu sou a Luana.
- Ah! Sim! Nossa! Na foto de sua ficha você está tão diferente, Luana. Parece um bebê! Bem, vamos adiantar logo isso. Vem comigo. Vamos para a minha sala, sim?
- Sim, senhora.

Luana olhava firme para Giovanna, que dizia:
- Vai lá, amiga. Boa sorte com a diretora!
- Obrigada, Giovanna!

Chegando à sala da Dra. Leda, Gisele se encontrava de pé, frente à porta. “Mas o que ela quer agora, meu Deus?”, perguntava-se Luana. Gisele carregava um semblante preocupado, bem diferente do que costumava carregar – tão cheio de confiança em si mesma.
- Está me esperando?
Perguntava Dra. Leda à Gisele.
- Sim, estou.
- É muito importante? Se não for, vá para a sala de aula. Já vai bater o sinal. E eu preciso conversar com a...
- Luana! É sobre a Luana mesmo que quero falar, diretora.
- Mas...
- Quero dizer que a tapa que Luana deu em Manoela foi por minha culpa!
- Ora, meu Deus, entrem as duas, andem!
Ordenava Dra. Leda.

Na sala, Gisele contava toda a cena da manhã anterior. Gisele não demonstrava nenhum tipo de bloqueio ao reconstituir as obscenidades cruéis dirigidas à Luana. Em meio a toda aquela confissão, Gisele chorava. Parecia não chorar por vergonha ou sentimento parecido, mas por ter dentro de si o gosto de uma derrota que parecia prometer um amargo por tempos incalculáveis.

Luana, calada, assistia a tudo. Não emitia palavra. Dra. Leda, psicóloga, parecia avaliar o comportamento de Gisele. Luana pedia a Deus que Gisele não dissesse frase que, poucos segundos após sua súplica, ouviria:
- Diretora – dizia Gisele aos prantos –, eu queria ser ela! Queria ser Luana!
- Mas o que é isso, menina? Não se deve querer ser outra pessoa!
- É que eu quero ter o que ela tem, diretora. Eu...
- Pare, pare, pare!... Luana – interrompia Dra. Leda –, olha, vai assistir sua aula, vai. Acho que você é apenas a ponta do iceberg. Preciso conversar seriamente com Gisele.
- Mas a senhora não acha que Manoela cobrará de ti uma punição a mim?
- Eu determino quem merece punição aqui, Luana. Fique tranquila, sim? Agora vá.

Luana olhou para Gisele aos prantos e, sem entender seu próprio gesto, pois a mão sobre a cabeça da outra e disse:
- Vai ficar tudo bem, Gisele. Fique calma.

* * *
Naquele dia, Luana assistia às aulas apenas com a vista, pois a mente estava longe – mais precisamente onde não queria estar: em Rômulo.

Manoela não aparecera na escola, o que tornava o dia de Luana um pouco menos desagradável.

Antes da volta para casa, Luana contava o ocorrido para Giovanna.
- Credo – dizia Giovanna.
- Pois é. Senti pena de Gisele.
- Está louca?
- Louca? Eu? Louca está ela! Você precisava ver, Giovanna. A visita de Rômulo a ela não a fez nada bem.
- Que loucura.
- E por falar nisso, preciso ligar para Rômulo, assim que chegar em casa.
- Hum... Sei...
- Para, Giovanna. Não é o que está pensando.
- OK. Mais tarde você me diz.
- Boba.

Ao chegar em casa, Celeste perguntava à Luana sobre a conversa com a Dra. Leda.
- E então, como foi? O que você disse?
- Não disse nada.
- Como assim, minha filha?
- Eu lhe explico melhor depois, Celeste. O que importa é que está, aparentemente, tudo bem.
- Louvado seja Deus.
Dizia a empregada.

Parte II:

Luana subia até seu quarto. A cada degrau da escada, pedia que Rômulo já estivesse chegado em casa. Estranhava e lutava contra sua própria euforia em vão. O pulsar de seu coraçãozinho por Rômulo era maior que toda aquela confusão. Gisele, Manoela, tudo parecia inexistir a partir do momento em que colocava Rômulo na cabeça.

- Oi Mimi, que saudade!
Abraçava a gatinha.
Pegava o telefone, discava e, sem pensar ainda nas palavras, escutava o telefone a chamar. Ele atendia:
- Alô.
Era a voz desanimada de Rômulo.
- Oi. Sou eu...
- Luana! Que surpresa!
- Tudo bem?
- Até então, não! Mas está ótimo agora!
- Preciso lhe perguntar uma coisa.
- Diga.
- O que você foi fazer na casa da Gisele, ontem, quando saiu daqui?
- Ora, pelo visto já ficou sabendo! Bem, fui tentar fazer com que ela consertasse todo o estrago que nos causou. Por quê?
- Porque, hoje, a Gisele...
E, então, Luana contava tudo a Rômulo.
- Meu Deus, Luana. Ela está louca!
- A coisa parece séria, Rômulo. Tive pena.
- Luana, esquece a Gisele! Vamos pensar em nós!
- Não sei, Rômulo. Preciso de um tempo para assimilar tudo isso!
- Assimilar o quê, Luana? Assimilar que eu te amo? Assimilar que tudo não passou de uma provocação de Gisele, aquela maluca? Ela mesma te confirmou isso! Afinal, você nunca se sentiu provocada por alguém? Nunca se sentiu fraca diante de alguém? Responda!
Luana pausava por uns segundos e:
- Sim, Rômulo. Já.

Rômulo, embora esperasse uma resposta positiva, a fim de justificar seu erro passado, ficava gelado ao ouvir aquele “sim”.
- Você disse “sim”, Luana?
- Sim. Disse “sim”.
- Eu posso saber por quem?
- Não fará diferença. Passou já.
- Mas você...
- Não, Rômulo. Diferente de você, eu não me entreguei.
- Mas omitiu a história.
- Como você também omitiu, não é mesmo? Omitiu uma história muito mais grave.
- Grave por conta do beijo?
- Sim, claro.
- E o que difere o meu beijo em Gisele do seu desejo de beijar essa tal pessoa que lhe atraiu?
- Exatamente o beijo.
- Luana, você só não o beijou por pura ineficiência dessa pessoa.
“Rômulo tem razão”, pensava Luana.
- Quer dizer que somos assim tão vulneráveis?
- Quero dizer que somos seres humanos, Luana! E seres humanos, assim como se sentem atraídos por pessoas do sexo oposto, também erram..
- Erram em omitir tal atração?
- Exatamente!
- Então, não quero mais errar! Há uma atração que não quero omitir, Rômulo.
- Qual, Luana?
- A que sinto por ti agora, nesse momento!
- Ah, Luana...
- Vem me ver!
- Agora! Mas e as regras de seu pai? “Somente nos fins de semana”, você se lembra?
- Nem que você passe aqui no meu portão para me dar um beijo. Só isso.
- Estou indo.

Como combinado, Rômulo “pousava” no portão de Luana e, sem dizer palavra, beijava-a como se o título de ex-namorado ruísse depois de cem anos.
- Promete uma coisa?
Perguntava Luana.
- O que você quiser, Luana!
- Daqui para frente, sem omissões?
- Sem omissões!
- Apenas verdades?
- Apenas você e eu, meu amor! A mais verdadeira das verdades!

O casal se beijava sob os olhares de Celeste, que sorria ao concluir que tudo estava realmente bem.

Longe dali, Gisele implorava à mãe, numa quase loucura, para que a trocasse de escola. A verdade nua e crua a respeito do desejo e adoração de Rômulo por Luana a fizera cair num surto que acabava por infernizar toda a família. Não queria, por nem mais um dia, rever a figura de Luana. A figura que queria ser.

Manoela, que não aparecera na escola naquela manhã, dividia, em algum local, um cigarro de maconha com seu amigo Denis.
- Lembra daquela fedelha lá da rua, a Luana?
Dizia Manoela.
- Sim, claro. Por pouco não tracei.
- Pois é. Me deu uma tapa!
- Que isso!? E você?
- Ah! Foda-se. Porra, eu estava esculachando a garota também, Denis. Depois te conto a história. No lugar dela, eu acho que faria o mesmo. Sabe que gostei da atitude dela, pensando bem?
- Ih!
- É! E você já pensou se eu parto para cima dela? Não ia sobrar nada!
- Coitada. Você fez bem. Deixe-a pra lá. Você não presta mesmo, que eu sei.
- É! Ei, passa isso para cá! Vai fumar sozinho?
Manoela era um “caso perdido”.

* * *
À noite, Patrícia procurava por Luana, que estava deitada em seu quarto, tranquila, ouvindo um CD do Joey Ramone.
- Luana?
- Oi.
- Posso entrar?
- Claro.
- E aí? Como foi com a diretora?
- Foi tudo bem, mas...
Luana contava tudo à Patrícia, que, após, dizia:
- Olha, Luana, fico feliz que tenha terminado tudo – em termos – bem. Mas espero que tenha entendido, Luana, o que uma simples omissão pode nos trazer de mal. Entre você e Rômulo não deve existir meias verdades, minha filha. Ele tem que entender isso também. Vocês são muito novos, mas já que se gostam tanto, precisam ser confidentes!
- Sim. Foi o que prometemos um ao outro. Mas sabe o que me deixa triste?
- O quê?
- Ter escondido isso de papai.
- Deixe que com o seu pai eu resolvo. Contarei a ele, mas de um jeito certo.
- Eu te amo tanto, Patrícia.
- Eu também, Luana. Mas prometa que daqui para frente...
- Prometo! Apenas verdades!
- Isso aí. Agora me dá um abraço forte.

As duas se abraçavam. A janela aberta do quarto de Luana mostrava, como uma espécie de fundo, uma noite de céu limpo. Mimi, que dormia sobre a cômoda da menina, tinha seus pelos levemente balançados pela brisa que, no momento daquele abraço, invadia o quarto como se os deuses trouxessem novos ares para Luana. Ela agradecia.

[Fim]

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana em
Luana, Duas, O Natal de Luana, Gisele e Janeiro Meu.

9 comentários:

Anônimo disse...

final feliz! eee.

Janaina W Muller disse...

Tudo bem quando termina bem :D
Luana feliz, Gisele surtada e Romulo não é idiota que eu acreditei que fosse 'aoisaisaois õ/
viva os happy end #D

Anônimo disse...

geeente, que feliz, né?

luana feliz; madrinhas felizes!
hahahahahah

bjsssssssssssss

Anônimo disse...

oowwwwww, que final lindo *----*

que bom que deu td certo pra Luana e pro Rômulo, até fiquei com um pouco de pena da Gisele..

bjos ^^

Livia Queiroz disse...

Eh assiiiiiiiiim que eu gosto
FINAL FELIIIIIIIIZ
rsrsrs

Adorei, e qnto a Gisele, talvez uma boa terapia resolva.


Já to c saudades de Luana!

DL ;* disse...

*.*
fiquei até com pena da gisele agora.. rs.
mas a manuela não ficou sabendo da decisão da diretora né.. oeieoie'
adooorei ³


;*

CAMILA de Araujo disse...

Adoorei o final! xD
Final feeeeeliz !
Ah cara, Gisele o que vai dar jeito são umas boas bofetadas uheuehehuehueheuehue

www.casadobesouro.blogspot.com

Unknown disse...

gente, ADOREI! Vou paginar o teu blog todo hehehe.. Ah, e meu nome é Luana também, rolou uma identificação! :P

Um super beijo e parabéns!

Lucas disse...

Senti pena de Gisele também. :/
_

Lindo final!

"ouvindo um CD do Joey Ramone"

Podia terminar melhor?

Abraço Luciano.