segunda-feira, 8 de março de 2010

ENCANTO (Parte 1)

O mês de janeiro, em forma de sorrisos e alegrias contagiantes, já jogava o seu charme pré-carnavalesco pela janela do quarto de uma Luana aparentemente anestesiada. É que um diferente bater no coração, uma espécie de flerte ensolarado, bem no finalzinho daquele dezembro passado, lhe deixara num misto de confusão e desejo. Atenta aos movimentos sutis de um pedacinho de papel que voava próximo à janela de seu quarto, Luana soltava alguns sorrisos confusos enquanto pensava na vida. Pensava em Matheus, é verdade.

O calor era insuportável, mas Luana, como de costume, apenas observava da janela as imensas sombras que as árvores de sua rua proporcionavam aos muitos outros jovens que por ali residiam. Estes, ao contrário de Luana, pareciam aproveitar o verão do início ao fim. Não adiantava o quanto Celeste, a empregada da casa, suplicasse, pois dificilmente Luana sairia de casa; sentia-se bastante à vontade na companhia de sua gatinha Mimi, de seus livros e CDs. É ali, naquele pequeno quarto situado no segundo andar da casa, que Luana gosta de permanecer e de pensar na vida. E como pensa na vida essa menina...

O ventilador ligado na velocidade máxima soprava forte, fazendo bailar a pelagem de Mimi e os cabelos de Luana – pelo menos os poucos fios que ainda permaneciam livres do suor. A larga camiseta de mangas e golas cortadas – uma das preferidas de Luana –, era ideal para que o vento percorresse todo aquele corpo livre de elásticos ou sutiã. As pernas descobertas da menina davam num fino quadril coberto por um pequenino short jeans – na verdade uma calça com as pernas cortadas um pouco abaixo da virilha. Assim, à vontade (afinal estava em seu quarto e na presença apenas de Mimi), Luana seguia em suas reflexões e conclusões – mesmo que ainda sem muitos fundamentos.

O celular de Luana tinha um toque especial quando a ligação era de sua amiga Giovanna. Assim que o aparelho soava os acordes de “The Next Time Around”, do Little Joy, a menina o atendia prontamente.

- Luana, tudo bom?

- Tudo, Giovanna! E você?

- Mais ou menos, amiga. Tenho uma notícia não muito boa. Na verdade, péssima.

- O que houve?

- Papai foi transferido. Vamos nos mudar, Luana, em poucos dias.

- Mas... Se mudar? Para onde? Muito longe?

- Bahia, amiga. Dá para acreditar?

- Ah, eu não acredito, Giovanna! E a gente? Como vou viver sem você por aqui?

- Nem me pergunte isso, Luana. E eu lá na Bahia?

- Pode vir aqui em casa agora?

- Sim, mas, provavelmente, já será para me despedir, Luana.

- Meu Deus...

Quase uma hora depois, Giovanna chegava à casa de Luana. Um abraço repleto de ternura já se fez presente logo no portão. Ambas choraram durante aquele carinho mútuo, pareciam não acreditar no que estava acontecendo. Giovanna, a mais velha, secava as lágrimas de Luana numa tentativa de demonstrar algum lado bom naquilo tudo, mas, diante de tamanha tristeza, falhava.

- Eu não sei o que dizer a ti, Luana, não sei mesmo... – dizia Giovanna a chorar.

- Ai, amiga, eu só tenho você – dizia Luana aos prantos.

Luana talvez só chorara daquela forma uma vez na vida, quando seu primo namorado Rômulo faleceu, em meados do ano anterior [vide Opus 1]. É que o sentimento de perda em relação à Giovanna era tão grande quanto fora em relação a Rômulo. Giovanna teve, sem dúvida alguma, importância ímpar na vida de Luana. Muito além de “melhor”, Giovanna era a única amiga de Luana.

As amigas foram direto para o quarto. Mas antes, na cozinha, Giovanna recebia um caloroso abraço de Celeste.

- Que Deus te abençoe, minha filha. Tudo de bom para você lá na Bahia – dizia a empregada com os olhos em lágrimas.

Chegando ao quarto, as duas conversaram bastante. Relembraram momentos marcantes de amizade tão sólida, riram muito e, claro, choraram muito também.

No meio daquela conversa repleta de emoções, o celular de Luana dava sinal de que uma mensagem de texto acabava de chegar. Luana, meio envergonhada e já sabendo o remetente, leu a mensagem com os olhos brilhantes e, ao fim, sorriu.

- Que sorriso é esse, amiga? – perguntava Giovanna.

- Ai, Giovanna, ainda nem te contei. É que, pouco antes do Natal, um estagiário que trabalha para o meu pai esteve aqui em casa [vide Um Natal Para Luana]. Foi uma visita rápida, a trabalho mesmo. Mas ele foi tão fofo, Giovanna! Eu confesso que não estava aberta a uma nova pessoa, pois a morte de Rômulo ainda é muito recente para mim. Mas o Matheus foi tão... sutil...

- E rápido também, pelo visto – dizia Giovanna a esboçar malicioso sorriso.

- É... – respondia Luana a morder os lábios com ar de sapeca.

- Posso ler a mensagem?

- Pode, claro.

Queria muito ver você. Mas acho melhor esperar que seu pai solicite minha presença por aí, como naquele dia. Não esqueci de cada detalhe seu, Luana.

Saudades já.

Matheus.


- Menina! – dizia Giovanna levando as mãos à boca – Está podendo, hein! Gata desse jeito também!

- Para! – Luana ria.

As meninas pulavam sobre a cama às gargalhadas. Mas embora estivessem as duas momentaneamente cobertas por certa euforia, depois de alguns minutos de sorriso seus olhares se encontraram de maneira séria.

- Vou sentir sua alta, Luana. Nem sei o quanto.

- Eu também vou, Giovanna. Meu coração já dói.

[Continua]

Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo
Mais contos de Luana aqui.

8 comentários:

Nathalia disse...

=(
vc é muito cruel com ela, cara!
rsrsrsrs

juro que fiquei arrepiada com a noticia da giovana... =/

CONTINUAAAAA! EEEEEEEEEEEE

Anônimo disse...

Ahhhhh, não acredito que Giovanna vai embora! :(
Poxa agora que estava parecendo q com a chegada de Matheus as coisas iriam se acertar acontece isso..

aguardo a continuação! :9

Unknown disse...

mas vc adora "zoar" a coitada! rs



tsc tsc tsc...

Pam disse...

Tadinha da Luanaa...
mas a vida é assim mesmo, quando acha q ta tudo ficando bem acontece algo... Super real o conto...

adoreiiii...

Vanessa Sagossi disse...

Jesus, será que um dia a vida da Luana vai ser feliz. Dois contos atrás ela perdeu o Rômulo, agora a Giovana vai embora para a BAHIA!
Tomara que aconteça alguma coisa e ela fique.
Agora, esse Matheus não me convence nem um pouco! Um cara perfeito em um mesmo local já é o suficiente, e ele morreu. Outro perfeito? Tá de brincadeira. Esse deve ser um homem normal, ou pior que isso...

Livia Queiroz disse...

aaaaaaaaah poxa...
to triste tbm...
um nó na garganta!
poxa Luh, a Luaninha ja sofreu taaaaaanto!!!!!
Merece isso naum!

Livia Queiroz disse...

aaaaaaaaah poxa...
to triste tbm...
um nó na garganta!
poxa Luh, a Luaninha ja sofreu taaaaaanto!!!!!
Merece isso naum!

Yara Lopes disse...

Poxaa, tadinha dela

=/