quinta-feira, 18 de março de 2010

ENCANTO (Parte 4)

Marcos se despedia de seus funcionários e passava então na sala de Patrícia. Com muito cuidado para que sua esposa não visse o presente, bateu na porta e abriu apenas uma fresta.

- Vamos, amor? – dizia Marcos.

- Sim, vamos.

- Te espero no carro.

Marcos descia pela escada dos fundos do supermercado e se dirigia até o carro. Com a intenção de presenteá-la assim que ela descesse, posicionou o embrulho sobre o banco do carona.

Alguns minutos se passaram e Patrícia finalmente chega até o carro de Marcos. Ao abrir a porta:

- Meu Deus, hoje foi um dia cheio... – dizia Patrícia até notar o embrulho sobre seu assento – O que é isso, Marcos?

- Feliz aniversário de casamento, Patrícia.

- Ah, Marcos, que lindo! Você é um amor. E eu nem comprei nada...

- Não precisa, meu amor.

O casal se beija e segue para casa.

No caminho, Patrícia abria o presente e agradecia pelo perfume quando seu celular tocava. Era Luana.

- Diga, Luana!.

- Patrícia, você está perto do papai?

- Sim, por quê?

- Então não dê bandeira. Preciso te contar uma coisa, mas tem que ser agora!

- Sim, diga.

- Sabe o Matheus? O estagiário de vocês...

- Sim, claro.

- Ele esteve aqui hoje e me trouxe um perfume! Ele disse que papai não sabia de nada!

- E?

- Eu quero saber de você o que é que eu faço! Escondo do papai ou conto a ele? Responda “sim” para eu esconder ou “não” para eu contar tudo ao papai.

- Sim! Claro que sim, Luana! Estamos indo para aí. Beijos.

- Mas...

Patrícia desligava o telefone sem dar chances para maiores dúvidas por parte de Luana e esboçava um sorriso de admiração pela atitude de Matheus. Mas logo se desfazia do semblante animado para não dar brechas a possíveis perguntas de Marcos – que mesmo assim:

- O que Luana queria, Patrícia? – perguntava Marcos.

- Nada. Besteira. Uma opinião sobre corte de cabelo. Queria saber se eu aprovaria.

- Essa menina...

Luana, do outro lado da linha, ficava com o telefone na mão a pensar onde esconderia o presente de Matheus, mesmo sem saber se era ou não uma boa ideia. “No meu quarto, lógico, mas onde?”, pensava Luana.

A menina então corria até o seu quarto e escondia o perfume, com embrulho e tudo, debaixo da cama. O quarto de Luana é um território no qual Marcos dificilmente pisa. E quando pisa, é incapaz de vasculhar as coisas de sua filha.

Já chegando na rua de casa, Marcos dizia à Patrícia:

- Eu acabei comprando um perfume também para Luana. Essa semana eu a ouvi dizendo que seu perfume estava no fim. Eu pedi ao Matheus que comprasse. Você nem percebeu, não é?

- Ah! – respondia Patrícia pensativa – Eu? Não, não, nem percebi nada... – começava a juntar as peças do presente de Matheus.

- O Matheus só conseguiu comprar um, mas acabei dando uma fugidinha até a outra filial da perfumaria, no shopping, e consegui.

- Ah, que ótimo, amor! Ela vai... Vai adorar...

* * *
Luana descia as escadas com o semblante de uma menina que não conseguia conviver com a mentira. Seus olhos levemente puxados davam lugar a esbugalhados círculos. Patrícia, ao avistar o rosto assustado da enteada, foi rapidamente até ela e:

- Tudo bem?

- Tudo, Patrícia – respondia Luana ainda insegura.

- Filha – dizia Marcos –, trouxe uma coisa para você.

- O que é, papai?

- Seu perfume estava acabando não é?

- Sim, sim. Eu acho que sim... - respondia Luana num auge de aflição.

- Então tome aqui – Marcos lhe entregava o perfume à filha.

- Ah, papai, obrigada!

Foi quando Marcos avistou, próximo ao sofá da sala, um cordão decorativo idêntico ao dos embrulhos dos presentes dados à Patrícia e Luana.

- Ué! Que terceiro cordão é este no chão? – perguntava a si mesmo, em voz alta, um observador Marcos.

- Não tem “terceiro cordão”, Marcos – dizia Patrícia –, foi o meu que caiu.

- Não, não! O seu está aí com o seu presente, assim como o de Luana. Aquele ali é um terceiro cordão! Luana, alguém... esteve aqui?

- Não, papai... Que dizer... Sim, mas...

Marcos não tinha conclusão alguma sobre aquilo, mas passou a mão sobre a cabeça e começou a pensar.

- O que está acontecendo, Luana? – perguntava Marcos.

Patrícia olhava para a menina com um olhar que dizia “que bandeira, Luana”. Vendo-se em tal situação, Luana abria o jogo:

- Foi Matheus, papai. Ele... Ele também me trouxe um perfume. Mas foi só isso, papai. Ele esteve aqui e me deu o perfume. Só.

- Só? Mas... – Marcos ficava nervoso – Mas quem esse moleque pensa que é? Espere aí... Agora eu entendi tudo! O fato dele não achar o seu perfume quando o pedi para comprá-lo... O fato de pedir para sair mais cedo... Mas que filho da mãe!

- Não foi nada demais também, papai! Foi só um presente...

- Sim, filha, mas a forma como ele agiu foi ridícula e mentirosa! Ele vai se ver comigo amanhã!

Marcos saía da sala em direção ao seu quarto cuspindo fogo. Patrícia olhava para Luana e:

- Luana! Que bandeira! Não notou o cordão no chão?

- Como ia notar, Patrícia? Estava tão nervosa! O será que papai vai fazer?

- Não sei, Luana. Não sei. Vou lá tentar acalmá-lo.

[Continua]

Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo
Mais contos de Luana aqui.

4 comentários:

Nathalia disse...

aaaaaaaaaaaaaaaaaaai...#oremos pra patricia conseguir acalmar a fera...

mas que coisaaaa... se a luana tivesse visto o laço, não iria precisar passar por isso...

quer dizer... ela ia contar de qualquer forma... rs

Anônimo disse...

ai caramba, mais coisa pra complicar rsrs

Lucas disse...

E vem vindo o grande confronto.

Ótimo Luciano.

Abraço.

Vanessa Sagossi disse...

Tomara que ele acabe com o Matheus!!!
Sou a única dessa opinião aqui?
Beijos