segunda-feira, 22 de março de 2010

ENCANTO (Parte 5)

Patrícia chegava até seu quarto e encontrava um Marcos bastante bravo, que andava para lá e para cá em volta da cama. O sentimento de ter sido enganado por Matheus o incomodava ainda mais do que o fato de seu presente ter sido “sabotado”. As possíveis intenções de Matheus com Luana, na verdade, ocupavam o menor espaço na cabeça de Marcos. A ira era mesmo pela mentira de seu estagiário. Sentia-se um tolo.

Patrícia chegava até Marcos com calma. Entendia perfeitamente o lado de seu marido, mas entendia também as atitudes de Matheus – achava-o corajoso e romântico até. Não seria fácil acalmá-lo, mas Patrícia era, talvez, a pessoa mais centrada daquela casa; a única capaz de tal tarefa.

- Marcos, também não é para tanto, vai – dizia Patrícia.

- Como não, Patrícia? Como não? Aquele moleque me engana daquela forma! E a fim de dar em cima da minha filha! Era só o que me faltava.

- Marcos, o Matheus é jovem e, no meu ponto de vista, está, sei lá, apaixonado por Luana. O que você queria que ele fizesse? Se ele abrisse o jogo contigo, você o deixaria vir e presenteá-la?

- Por que não?

- Ah, Marcos, conte outra...

- Queria que ele agisse como homem, Patrícia! Depois dessa, eu não sei se quero um moleque namorando minha filha. E vou além: não sei se quero esse mesmo moleque resolvendo a parte jurídica de meus negócios!

- Aí você está indo longe demais, Marcos. O Matheus tem se mostrado um excelente funcionário. Não misture as coisas.

- Excelentes funcionários não mentem como ele mentiu!

- Mas Marcos, pelo amor de Deus, você não vê o lado bacana disso tudo? Analise o que esse rapaz fez! Ele só deu sinais de que realmente gosta de sua filha, Marcos! Outro cara, ou melhor: um “moleque”, como você mesmo diz, não teria atitude tão romântica.

- Romântica? Ah, Patrícia...

Luana escutava da sala algumas palavras do diálogo entre o pai e Patrícia. Não se lembrava de ter visto o pai tão bravo alguma vez. Sentia medo, mas não do que poderia acontecer a si – até porque não teve culpa alguma do que ocorrera –, mas ao Matheus.

No quarto:

- Eu vou ligar para o Matheus é agora – dizia Marcos.

- Para quê?

- Ora, quero ouvir o que ele tem a dizer!

Marcos pegava o celular e discava com a força de um leão.

- Alô.

- Matheus?

- Sim, Marcos, pode falar.

- Soube que você esteve aqui em casa, é verdade?

- É... – Matheus pensava um pouco – Sim, Marcos, estive. Peço desculpas se...

- Olha aqui, rapaz, eu não gostei nem um pouco de sua atitude! Para mim, você não passa de um moleque! Onde já se viu? Contar-me uma mentira para sair mais cedo a fim de dar em cima da minha filha! Onde já se viu?

- Desculpe-me, Marcos, é que...

- Você mostrou que não merece estar na minha equipe, rapaz. Muito menos ser namorado de minha filha! Amanhã, Matheus, por favor, vá direto ao RH e resolva sua papelada de estagiário, OK? Passar bem!

- Você não vai me ouvir? Eu o ouvi. Pode me ouvir também?

- Sim, claro – dizia Marcos respirando fundo.

- Não quero me defender. Sei que errei e assumo isso. Mas errei apenas no que diz respeito à empresa! Menti, sim, porque, naquele momento, vi apenas a mentira a favor do que sinto pela sua filha, Marcos.

- Não me venha...

- Eu ainda não terminei. Vou lhe fazer uma pergunta, Marcos, mas você, por favor, não me responda. Quero apenas que reflita. Você nunca usou de uma mentirinha para conseguir o que quer?

- Eu...

- Não responda! Apenas se lembre que o setor jurídico da empresa acata as suas vontades, Marcos. E, de vez em quando, a sua vontade é pela nossa mentira. Passar bem.

Matheus desligava o telefone.

Marcos ficava sem palavras diante daquilo. Não esperava tamanha maturidade de Matheus. Sentou-se na cama e começou, com calma, a analisar as atitudes de Matheus desde o dia em que ele pisou em seu supermercado. Concluía aos poucos que Matheus era um excelente funcionário e que tal mentira teria um peso muito inferior para competir com os serviços por ele prestados. Sentiu-se mal.

- O que foi que ele disse? – perguntava Patrícia.

- Nada demais. Vamos jantar.

* * *
Durante o jantar, ninguém emitia palavra. Até que Luana, morta de curiosidade, resolvia perguntar:

- Ainda está bravo, papai?

- Vai passar. Só não quero mais saber desse rapaz aqui em casa, OK?

- Mas papai, ele foi tão...

- Luana, se você me disser que ele foi romântico, assim como a Patrícia disse, eu vou me retirar dessa mesa.

- OK, papai, não precisa se retirar. Só escute uma coisa: eu ia dizer que ele foi sincero e que me respeitou todo o pequeno tempo que esteve por aqui. E eu acho que estou realmente gostando dele. Com licença.

Luana deixava a mesa sob o olhar assustado de Marcos.

- O que está acontecendo com Luana, Patrícia? – dizia Marcos – Ela não era assim!

- Marcos, a Luana cresceu. Nada mais óbvio de se esperar que ela comece a correr atrás de seus desejos.

Marcos respirava fundo.


[Continua]

Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo
Mais contos de Luana aqui.

4 comentários:

Nathalia disse...

luana! tchá! tchá! tchá!
luana! tchá! tchá! tchá!
luana! tchá! tchá! tchá!

Kayo Medeiros disse...

Impressão minha, ou rolou algo meio parecido com uma chantagem na conversa entre o Marcos e o Matheus? hmmmmmm...

Vanessa Sagossi disse...

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, não!
Ela não pode gostar delee!!!
E o romantismo?? Eu sei que o Romulo morreu! MAS é tãoo próximo. E além do mais dois senhores perfeitos não existem na mesma história, hein, Luciano!

Anônimo disse...

Ela não pode gostar delee!!! [2]
aaaaaiiii esse garotinho não me parece ser bom pra ela, não fui com a cara dele, até estava me simpatizando mas tem alguma coisa q não ta batendo..