quinta-feira, 28 de agosto de 2008

SEM QUERER - Parte 2 (Final)

No dia seguinte, eu saía mais cedo para não me deparar com o namorado da menina que havia me beijado no dia anterior. Acordava puto da vida em ter de encarar as minhas covardias. Primeiro, por não ter coragem de enfrentar aquele babaca. E segundo, por não ter pulso e nem capacidade de lutar por mais beijos vindos daquela boca maravilhosa. Eu tinha que ser manipulado pelos meus chefes mesmo. Não tinha forças nem para resolver as minhas questões pessoais, imagine as profissionais, que eu detestava!

Entrava no ônibus e começava a observar que o fluxo de pessoas era o mesmo. A sincronia dos corpos e do ônibus era a mesma, porém, tratava-se de outros corpos, outros horários. Que bom. Pelo menos aquele casal de malucos eu não veria mais. Leso engano. No “ponto da menina”, quem eu vejo? Ela mesma. A boca mais saborosa de todas. Não entendia. Perguntava-me se ela não queria me acertar novamente, prevendo o meu plano de sair mais cedo de casa. Mas eu logo concluía que isso era ridículo. Ela não trocaria a presença do namorado por umas tapas nessa minha cara feia. Ela subia no lotação com o olhar mais triste. Olhar esse que se encontrava com o meu. Mais uma vez ela se sentava ao meu lado.
- Eu gostaria de lhe pedir desculpas por ontem, eu...
Eu iniciava um diálogo. Seria melhor.
- Tudo bem. Não faz mais diferença.
- Então entende que foi você quem me beijou?
- Não faz mais diferença. OK?
Ela parecia fria.
- Tudo bem. Assunto encerrado, então?
- Mais do que encerrado. Na verdade tudo está encerrado.
- Como assim?
- Eu nem cheguei a falar com ele sobre o nosso beijo.
- Quem bom, então.
- Nós não estamos mais juntos.
- Nossa. Que pena.
(Yeah!)
- Pois é. Eu que lhe devo pedir desculpas pela tapa e pelo mal-entendido.
As frases saíam desanimadas de sua boca.
- Está tudo bem.
- Qual o seu nome?
- Eduardo. E o seu?
- Prazer. Gabriela.
- O prazer é meu, Gabriela. É a primeira em vez que me apresento a uma mulher depois de já a ter beijado. Entende? A ordem foi inversa. (Mais sem graça impossível)
Gabriela olhava fixamente em meus olhos e após dois exatos segundos de silêncio, soltava uma gargalhada que merecia ser filmada.
- É a primeira vez que me ocorre também, Eduardo.

Eu na verdade estava muito curioso quanto o que realmente havia ocorrido na noite anterior para que ela me aparecesse triste daquele jeito e com o seu relacionamento findado.
- Não quer me contar o que aconteceu com você e o...
- Felipe.
- Isso. Entre você e o Felipe.
Ela então começava a me contar do momento em que telefonara para Felipe:
- Amor?
- Oi Gabriela, tudo bem?
- Não. Não está tudo bem!
- Por que?
- Não o vi no ônibus pela manhã, Felipe. O que houve?
- Pois é Gabriela, eu tive um compromisso meio urgente.
- Compromisso? Meio urgente? Àquela hora da manhã?
- Sim, mas não dá para lhe explicar agora, OK? Eu passarei na sua casa hoje à noite.
- Não vai nem querer saber como foi o meu dia, Felipe?
- Gabi, por favor, eu estou um pouco ocupado agora. Mais tarde, na sua casa, a gente conversa. Pode ser?
- Pode. Mas é que um cara me beijou hoje cedo, no ônibus. Mas depois a gente conversa, não é?
Alfinetava Gabriela.
- OK. Depois você me conta essa história direito. Beijos.
Felipe desligava sem demonstrar sequer uma preocupação mínima em relação ao beijo citado por Gabriela, que por sua vez ficava sem ação diante de tal falta de atitude.

Anoitecia e Gabriela não conseguia esconder a raiva que estava preste a despejar sobre Felipe. Se havia uma coisa que tirava Gabriela do sério, era o pouco caso demonstrado a algo que a atingisse. A campainha enfim soava. Era Felipe.
- Entra.
- Desculpe a demora, Gabi. É que...
- Vamos, Felipe. Conte-me que raio de compromisso foi esse às 7:15h da manhã!
- Sente-se, Gabi. Eu explicarei, mas precisa me prometer que não cometerá nenhuma loucura. OK?
- Como assim?
- Eu explico. Na madrugada de ontem, uma pessoa me ligou alegando estar esperando um filho meu e...
- COMO?
- Calma.
- COMO CALMA? QUEM É ESSA PESSOA, FELIPE?
- Primeiro, deixe-me contar a história, por favor.
- ESTÁ BEM! CONTE LOGO!
- Então, para sanar qualquer dúvida, marquei com essa pessoa de nos encontrarmos em um laboratório no Centro da cidade, logo pela manhã, para fazermos um exame de sangue e pegarmos o resultado pela tarde.
- DÚVIDA? VOCÊ TINHA DÚVIDA SE HAVIA ENGRAVIDADO ESSA VAGABUNDA?
- Calma Gabriela.
- FALA LOGO! DEU POSITIVO OU NEGATIVO?
- Deu positivo, Gabi.
- PUTA QUE PARIU! QUEM É ESSA VAGABUNDA?
- A Kelly.
- KELLY? KELLY MINHA PRIMA NÃO, NÉ?
- Sim. Ela mesma.
O mundo de Gabriela caía de uma vez só.
- MAIS QUE FILHOS DE UMA PUTA! VOCÊS DOIS!
- Calma Gabi. É você quem eu amo!
- TIRA AS MÃOS DE MIM! SUMA DAQUI. EU NÃO QUERO VER A SUA CARA!
- Vamos conversar, Gabi...
Gabriela abria a porta e sem dar uma única palavra, esperava até que o último passo de Felipe passasse rumo à rua.

Gabriela fechava a porta e se desmanchava em lágrimas. Aproveitava a ausência dos pais para chorar à vontade durante horas no mesmo lugar onde caía de joelhos, logo após Felipe sair. Não conseguia entender o motivo pelo qual Felipe a traía com a própria prima. Kelly era um pouco mais velha que Gabriela, uns dois anos talvez. Linda como Gabriela, porém, levava vantagem nos quesitos experiência e sexy-appeal. Pele alva, cabelos longos, medidas perfeitas e um jeito de se vestir que passeava entre o atraente e o vulgar. Mas na hora de falar, Kelly era uma anta em forma de deusa. A cada cinco palavras, pelo menos uma seria pronunciada de forma inadequada. Colocando Gabriela e Kelly lado a lado, o intelecto da primeira falaria mais alto e desbancaria as outras qualidades de Kelly, na minha opinião, pelo menos. Gabriela esconderia a história triste do casal para os pais. Pelo menos até Felipe se pronunciar diante de toda a família sobre a gravidez de Kelly. E conhecendo os pais de Kelly, poderia se esperar também o anúncio do casamento, por bem ou por mal.

Naquele dia, durante o caminho, conversávamos muito. Gabriela me contava toda a história sobre Felipe e Kelly. Eu também acabava contando o motivo de estar mais cedo no lotação. Era nítido o sentimento de raiva alojado em seu peito por conta da situação, mas também era bastante visível o bem que meus ouvidos e minhas falas a causavam.
- Gostei de você, Eduardo.
- Eu também gostei de você, Gabriela.
- E amanhã? Pegará o ônibus mais cedo também?
- Acho que não. Pelo que me disse, não corro perigo com o Felipe.
- Mas eu corro.
- Perigo? De quê?
- De vê-lo novamente. Eu não quero. Estou muito decepcionada. Vê-lo só levará meu astral para baixo.
- Então, não nos veremos por um tempo, não é?
- A menos que tome o lotação mais cedo também.
- É que acordar nesse horário para mim é ruim demais. Dê-me um bom motivo para isso, menina.
- Dou. Agora.
Gabriela me pegava pela nuca e repetia o beijo que me desconsertava a mente.
- É um bom motivo, menina. Amanhã, às 6:45h, tomarei esse ônibus novamente.
- Oba!
- Mas caso não me encontre por aqui, não vá dormir. OK?
- Por que?
- Tu entraste na minha vida tão sem querer que já morro de medo que lhe beijem da mesma maneira.
- Seu bobo. Esteja aqui e só beijarei você. E querendo.
Ela parecia saber o poder contido nos movimentos daqueles seus lábios perfeitos. Mas não sabia. Conquistava-me há tempos. Sem querer.

***
Colaboração: Fabiana Romeo
Foto da Capa: Clarissa Marinho

3 comentários:

Anônimo disse...

Deeeeeus!
como eu odeio esse Felipe...
Aii não gostei nada dessa história...
rsrsrsrs

beijooooooooooooo
Nathalia - UCAM

Anônimo disse...

colaboração apenas para fazer o "sem querer II"... nada mais! o resto veio da sua cabeça de "vitamina em forma d contos"!

mas esse felipe, hein?! foi trocar a gabi por uma "cabeça de azeitona"?? francamente! (rsrs)

gostei do conto que VC fez... pena que não é como um livro que pode ser longo... e tudo acaba acontecendo em poucos minutos... se o "amor" da gabi com o eduardo fosse acontecendo "aos poucos" acaberaia sento mais bonito, né?! digamos que... mais real...

mas enfim, cade a cada um de nós imaginar o tempo q tudo isso levou... na minha cabeça, por exemplo, a história que ela foi contando sobre felipe (e bla bla bla) aconteceu em mais de uma viagem (mesmo com o diálogo dos horários) hehehe.

bjos. bacana!

Anônimo disse...

Luuuu;

nháá mtoo legaal!

ficoou lindo *-*

adoreeei (:

by_cunhadaa