segunda-feira, 10 de novembro de 2008

DUAS

Chegava da escola com o mesmo ar de cansada de todos os dias. Mimi, sua gata de estimação, já a esperava sobre o segundo degrau da escada a fim de acompanhá-la até o seu quarto, no segundo andar. Luana afagava rapidamente Mimi e seguia com destino à cama. A menina enfiava o rosto no travesseiro macio e sentia como se as células de seu corpo se espreguiçassem todas juntas. A moleza de seus membros fazia com que Luana ficasse completamente imóvel sobre o colchão. Mimi apenas a observava.
- Vá para o banho, Luana!
Dizia D. Celeste, a empregada, da cozinha, no primeiro andar.
- Estou morta, Celeste...
- Mas seu pai vem almoçar em casa. Ele não vai gostar de lhe ver ainda de uniforme, Luana.
- Está bem!
Respondia Luana chutando cada pé do par de tênis para um canto do quarto após sentar-se na cama.

Após o banho, Luana se sentia mais acordada. Embora o chuveiro lhe despejasse águas quentes sobre seu corpo, aquele sono todo da menina dava uma boa trégua. Eram quase doze e trinta quando Marcos, seu pai, e Patrícia, sua madrasta, chegavam para almoçar. D. Celeste preparara uns camarões capazes de chamar Luana à mesa pelo cheiro. A menina descia correndo.
- Camarão! Adoro! Oi Papai! Oi Patrícia!
- Oi filha.
Dizia Marcos.
- Oi filha.
Dizia Patrícia, que já a considerava e agora a chamava como sua filha.

Durante a refeição, Luana resolvia contar um fato ocorrido na escola.
- Papai. Sabe aquela minha amiga? A Giovanna. [Leia em Por Que Ele?]
- Sim. O que tem?
- Hoje ela foi embora aos prantos.
- Por quê?
- Ela sempre foi apaixonada por um menino ridículo lá da escola, o Marcelo. Sempre falei para ela o esquecer, mas ela não me deu ouvidos. Então, uma menina que se disse amiga dela, a Lorena, resolveu que iria a ajudar a conquistar o Marcelo. E...
- Escuta aqui, Luana. Essas meninas vão para a escola estudar ou arrumar namorado? Não gosto disso.
Interrompia Marcos.
- Está bem, pai. Mas agora escute. Daí, a Giovanna passou a se vestir de maneira vulgar a mando de Lorena, para ajudar na “conquista”. Sei que o Marcelo disse algo à Giovanna que a fez vomitar sobre ele.
- Nossa! Bem feito pra ele, então.
Vibrava Marcos.
- Também acho. Mas preciso ligar para Giovanna. Coitada. Deve estar arrasada.
- Eu não ficaria.
Dizia Marcos.
- Por que não, papai?
- Porque o vomitado foi o tal Marcelo e não eu, ora.
- Por favor, gente. Estamos na mesa. Que papo mais nojento.
Dizia Patrícia em tom irritado.
- Desculpe-me Patrícia.
Pedia Luana.

A amiga de Luana devia estar muito mal em casa após aquele episódio na escola. Seria bom que Giovanna recebesse uma ligação ou até mesmo uma visita de Luana, já que ambas só tinham uma à outra para contar. Uma visita seria mais eficaz. Sabia que a primeira coisa que Giovanna precisaria seria um abraço forte da amiga.
- Papai, eu posso ir à casa de Giovanna depois do almoço?
- Claro.

Enquanto Luana se arrumava, Mimi andava em círculos pelo quarto.
- Você está estranha, Mimi. O que houve?
Seria ótimo se os gatos falassem, não? Mimi continuava a rodar.
Luana vestia-se numa calça jeans, um Converse nos pés e uma blusa de listras. Beijo na Mimi, corrida escada a baixo, beijo na D. Celeste e rua.

Para chegar à casa de Giovanna, Luana precisava tomar um ônibus na via principal, mas nem isso a menina conseguiria, já que Giovanna apontava no início da rua vindo em direção à Luana. O andar estava pesado, a cabeça baixa, os ombros caídos, mas pelo menos já se encontrava vestida com as roupas que usava normalmente. Era duro para Luana ver a amiga daquele jeito vulgar de antes. Luana respirava um pouco aliviada.
- Giovanna, eu estava indo à sua casa.
- Fico feliz, Luana. Então você viu aquilo tudo.
- Não. Eu fiquei sabendo. Naquele momento eu estava na biblioteca.
- Ai, amiga. Queria tanto estar lá com você. Lendo. Longe de toda a fantasia em que me meti por causa daquele ser repugnante.
- Eu lhe avisei, não, Giovanna?
- Pois é. Sinto-me envergonhada em ter dado ouvidos à Lorena, que me fez pagar esse mico, e não a você, que a todo tempo quis me poupar da cena mais ridícula de minha vida. Desculpe-me.
- Ora, Giovanna. Está tudo bem. Você não ouviu nem a mim, nem à Lorena. Você ouviu apenas o seu coração. E Lorena parecia estar a favor dele, não?
- Foi bem por aí mesmo.
- Mas e então? Quer conversar?
- Quero sim, Luana.
- Está bem. Mas conversaremos sobre qualquer coisa, menos sobre Marcelo, Lorena... Nada que lembre os dois. OK?
- OK!

Luana dava meia-volta e conduzia Giovanna até sua casa. Foram caminhando por aquela rua residencial e repleta de casas bem cuidadas. O silêncio da rua onde Luana morava trazia certa paz à Giovanna.
- É engraçado.
Dizia Giovanna.
- O quê?
- Nossa amizade.
- Por quê?
- Há pouco tempo, nós apenas conversávamos um pouco no intervalo das aulas. E isso era tudo. Hoje, estou aqui buscando em ti um apoio sentimental.
- Não temos com quem contar naquela escola. Somos incompreendidas por aqueles seres que nos rodeiam. Era inevitável nossa aproximação. Somos muito parecidas.
- Eu te adoro, sabia?
- Eu também, Giovanna. Dá um abraço.
As duas amigas se abraçavam e se sentiam em relação ao mundo exatamente como se encontravam naquela situação: ambas numa rua deserta e completamente sozinhas.
- Precisamos uma da outra.
Dizia Giovanna.
- Uma da outra e de Mimi!
- Mimi? A sua gata que tanto você fala?
- Sim. Você precisa ver. Ela me ajuda tanto. Sabe que um dia desses, ela...

Luana levava sua amiga até sua casa contanto alguns feitos de Mimi. Giovanna ria da forma engraçada como Luana falava de seu animal. A tristeza de Giovanna logo dava espaço ao prazer da companhia de Luana, que depois daquele dia passou a receber Giovanna frequentemente em sua residência. Era o início de uma nova união na vida de Luana, que, mais tarde, lhe traria algumas surpresas.

[Continua]

* * *
Foto da capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana na série LUANA (Setembro de 2008).

8 comentários:

Anônimo disse...

ADOROOOOO essas continuações das histórias passadas!

PARABÉNS!
bjs da sua fã né.. rsrsrs

Unknown disse...

hummmm...
o teremos amanhã?!
surpresaaa!!
na hora o almoço concordei plenamente com a patrícia!! camarão não combina com aquele assunto! rs

beijos

Livia Queiroz disse...

hummmmm
Serááááááá???
rsrsrs

Bom vou aguardar anciosa os proximos acontecimentos!!!

Tava até com Saudades de Luana e Mimi hehhehe

Anônimo disse...

É bom rever Luana.
Vou ficar aguardando a continuação então.

bjos

Lucas disse...

Espero a continuação, e já me sinto íntimo de Luana. :}

Ah, converso com meu gato também. (doido)

Seus contos são sempre muito bons!

Quando der passa pelo meu blog.

Abraço.

Janaina W Muller disse...

Bá, eu tb converso com a minha gata hAUhuHAU :D
E quais serão essas surpresas? Eu adorei essas duas! Como sempre, estamos todos esperando uma continuição O/ XD

Abraços.
='-'=

Lê Stabiili disse...

Poxa...interessante a história de Luana...
Já estou imaginando aqui as continuações...rsrsrs!!!
Vou frequentar este espaço....muito bom,gostei mesmo!!!!

Um grande abraço pra vc...e ótima noite ai!!!

Vanessa Sagossi disse...

Adoro rever os personagens dos contos anteriores.. Aquela sensação que já os conhece.. heheh..
Essas suas surpresas, Luciano... huah