segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

NADA MAU PARA UM NATAL

23 de dezembro. Jorge e Cícero preparavam-se para o recesso de fim de ano da empresa onde trabalhavam. Todo o setor administrativo somente estaria de volta ao trabalho no mês de janeiro. Jorge já não pegava em serviço algum desde meados do mês corrente. Já Cícero, cumpria alguns trâmites a fim de se manter ocupado às vistas de seus superiores.
- Cícero, meu caro, o que está fazendo em pleno último dia de expediente do ano?
- Cumprindo o expediente, logicamente, Jorge.
- Você é um prego mesmo. As outras salas trocando presentes de amigo oculto e nós aqui tendo que aturar o barulho de seu teclado infernal.
- Jorge, eu não posso trabalhar sem usar o teclado. Ainda não inventaram silenciadores de teclas. Então, sugiro que arrume algo para fazer.
- Já arrumei.
Jorge ia até sua mesa, esticava as pernas sobre ela e ficava a apreciar o traseiro de Aline, a estagiária, que se encontrava à janela.
- Jorge, eu me referia a trabalho.
- E observar essa gostosura que é a Aline não dá um trabalho danado, Cícero? Procure uma imperfeição nesse corpinho. É trabalhoso, meu caro.
- Faça o que você quiser.

Aline acendia um cigarro e olhava para trás. Sabia que Jorge estaria a observá-la, como sempre.
- Está sabendo do sorteio, Jorge?
Perguntava Aline.
- Que diabo de sorteio?
- Parece que vai rolar um sorteio para decidir quem se vestirá de Papai Noel no dia 25. Só para os homens, é claro.
- Papai Noel? Dia 25?
- Deixe que o explique, Aline – Cícero interrompia – Todo final de ano, a empresa faz uma caridade a um orfanato aqui de perto. Um funcionário, devidamente sorteado, se veste de Papai Noel e distribui alguns presentes às criancinhas de lá.
- Ora, Cícero, não é mais fácil escolher o mais gordo? Aqui ao lado tem um que deve pesar uns duzentos quilos. O Wilson.
- Pois é, Jorge, mas seria injusto o Wilson ser o Papai Noel todo ano. E além do mais, a fantasia de Papai Noel possui enchimentos o suficiente. Dessa forma, até o magricelo de Sandro, do RH, pode facilmente ser o sorteado.
- Quando eu trabalhava no setor de entregas, não ouvia nem falar dessa tradição.
- É que somente uma determinada camada da empresa participa dessa tradição, Jorge.
- Entendi. O fato é que eu odeio criancinhas. Mais ainda nessa época do ano. São pidonas demais.
- Eu adoraria vê-lo de Papai Noel, Jorge.
- Dizia Aline.
- Algum tipo de fetiche, Aline?
Perguntava Jorge imaginando a estagiária vestida sensualmente de Mamãe Noel. Uma Mamãe Noel avassaladora.
- Não. Apenas uma vontade louca de...
- De?
- De dar umas boas risadas.
- Aline, fique sabendo que... Deixa.

O sorteio estava marcado para o fim do expediente, às cinco da tarde. Jorge almoçara pensando o quanto seria incômodo vestir-se com aquela roupa quente naquele calor que fazia. Os enchimentos deviam ser de espuma. Isso! Poderia inventar uma alergia à espuma ou ao tecido da fantasia. Cetim, provavelmente. Pronto! Resolvido.
- Pronto! Resolvido, Cícero!
- O que foi?
- Caso eu seja sorteado, eu posso inventar algum tipo de alergia, e...
- Todos dizem o mesmo, Jorge. Não seja tolo. Além do mais, acho que você não vai querer se queimar diante da diretoria da empresa. Caso seja sorteado, simplesmente cumpra o seu papel. Papel de Papai Noel. Viu? Até rimou.
- Vai para o inferno, Cícero. As chances são mínimas. Não vou me preocupar.
- Não precisa mesmo, Jorge.

* * *
Findado o expediente, todos se reuniam na recepção do edifício para o tão temido sorteio. O diretor da empresa mencionava algumas palavras:
- Caros funcionários. Como em todos os anos, estamos aqui reunidos a fim de, por intermédio de sorteio, escolher a pessoa que terá o prazer de entregar presentes, no dia 25, às crianças do orfanato São Sebastião. É preciso lembrar que essas crianças não têm o mesmo carinho e a atenção que seus filhos. Sendo assim, espero que o sorteado deste ano, assim como em todos os outros, aceite com muito amor a tarefa que lhe será entregue. OK? Vamos ao sorteio.

O diretor tinha em mãos um saco no qual depositava papéis com os nomes de cada um dos funcionários.
- Bem, pelo menos o sorteio é bem justo. Os nomes dos diretores também estão no saco.
Dizia Jorge a Cícero.
- É.
-
E O SORTEADO DESTE ANO FOI...
Dizia o diretor.
- Deus...
Rezava Jorge.
-
JORGE SILVA! Onde está o Jorge Silva?
- Aqui!
Lamentava o pobre Jorge.
- Que delícia, Jorge! Estou pensando seriamente em ir lhe ver vestido de bom velhinho.
Aline o provocava.
- Para o inferno, Aline!
- Vai ser bom, Sr. Jorge. Parabéns.
Dizia Wilson ao seu lado.
- Obrigado.
Jorge tinha vontade de surrá-lo. Cícero ria da cena.

* * *
Na manhã do dia 25 de dezembro, Jorge chegava ao orfanato se coçando horrores. Ele descobrira que realmente era alérgico ao tecido da fantasia. Cetim. Um calor infernal e um Jorge que, por conta da tarefa, não bebera quase nada no dia anterior. Jorge só pensava o quanto seria bom se as provocações de Aline tivessem um fundo de verdade. Aquela delícia num uniforme sexy-natalino seria demais.

- PAPAI NOEL!
Gritavam as crianças.
Jorge permanecia calado. Até que um menino chegava até o “Papai Noel” e resolvia apalpar-lhe.
- Ele sempre faz isso. Ele nos pergunta se Papai Noel é realmente gordinho.
Explicava uma das funcionárias do orfanato.

Jorge vira no menino coisa que jamais prestara atenção. A solidão que aquela criança carregava transformava-se em uma alegria contagiante ao apalpar a pança do Papai Noel.
- Ele é gorducho!
Dizia o menino.
- Sim... Eu sou...
- Dá um abraço, Papai Noel?
Jorge agachava-se e abraçava o menino que o tateava a todo instante.
- Você trouxe meu presente?
- O... O que foi que você pediu mesmo?
- Eu lhe pedi uma bola, Papai Noel.
- Ah sim! Uma bola.
Jorge entregava-lhe a única bola do saco, mas percebia que o menino simplesmente abraçava o presente ao invés de chutá-lo, como faria qualquer menino.
- Esse... Esse vai ser goleiro.
Brincava Jorge.
- O Paulinho é cego, senhor.
Explicava a funcionária do orfanato.
- (...)
Jorge entregava suas tímidas lágrimas de vez.

* * *
Na volta para casa, o celular de Jorge tocava. Era Aline.
- Como foi no orfanato, Papai Noel?
- Aline, se não estiver disposta a realizar uma fantasia sexual de um senhor exausto, pode desligar.
- Então, OK! Tchau, Papai Noel. Até janeiro.
Aline desligava sem perder o bom humor.
- Dane-se.
Dizia Jorge a si mesmo.

* * *
Já no andar de seu apartamento, Jorge se deparava com Aline à sua porta. Ela carregava uma bolsa enorme nas mãos.
- Que diabos faz aqui, Aline? Você...
- Ah! É assim? Então eu vou embora!
- Não! Fique! Como sabia onde eu morava?
- Não é difícil quando se trabalha na mesma empresa, Jorge.
- Ah sim! Claro!
- Trouxe um bom vinho. Você deve estar seco, não?
- De tudo que você possa imaginar. Seco de tudo. Mas não estaria disposta a matar todas as minhas securas. Então, eu aceito apenas o vinho.
- Apenas o vinho? Eu venho disposta a ser uma Mamãe Noel e você vai aceitar apenas o vinho?
- O quê?
- Convide-me para entrar, Jorge, e eu lhe mostro o seu presente.

Que belo Natal o de Jorge. Aline, a estagiária mais gostosa que já passara naquela empresa, lhe proporcionara prazeres que nem Sheila e Laura juntas [vide “Quem Você Quiser” I e II] seriam capazes. A sua manhã no orfanato o libertava da implicância que tinha com crianças. Ele estava inclusive disposto a adotar o Paulinho.

O sorteio, as gozações, o calor, o cetim, a alergia. Tudo correra bem e estivera a seu favor naquele Natal. Ele refletia.

* * *
Mais histórias de Jorge Silva nas séries “Quem Você Quiser” e “Pela Cidade”.

8 comentários:

Anônimo disse...

aaaaaaaaaaaaaaaaahhhh muito bom!
hahahahahahahahaha
eu imagino perfeitamente esse jorge...

luciano, brigada mais uma vez por ter ido ao show ontem!
gostei muito da sua presença =)

* adorei a idéia de contos natalinos e o blog ta mara! rsrs

Anônimo disse...

nossa! o jorge silva está bombando no blog!!

o blog ficou fofinho, viu?!

beijos

Josi Valentim disse...

Adorei teu conto!!!

Acesse o blog e ajude!!!

S.O.S Santa Catarina e dessa vez ...

"que isso nunca aconteça com você!"

http://poisehguria.blogspot.com

Janaina W Muller disse...

Os contos com o Jorge são os meus favoritos! Ele é muito engraçado :) E dessa vez, ele estava até mais sensível XD
Abraços
='-'=

Livia Queiroz disse...

Olha só kem voltou...
A dupla dinâmica: Jorge e Cícero!!!
Gostei de ver(ou melhor de ler) o Jorge como Papai Noel, e descobrindo que não há nesse mundo nada mais encantador do que a alegria de uma criança... vejo isso sempre no trabalho e sei o qnto elas se contetam com um carinho, um beijo, um abraço, um presente mesmo que n seja o melhor de todos. E a inocência e transparencia que elas carregam... enfim sou suspeita pra falar e acho q todas as professoras de ensino fundamental q amam o q fazem tbm são...


E Jorge foi então muuuuuuuuuuuito bem recompensado...Papai Noel não esqueceu dele
hehehehe

adoreiiiiiiiii

bjoks

Anônimo disse...

Muito sensível a surpresa da cegueira...

Vanessa Sagossi disse...

hahah
Verdade, ele foi um bom menino indo ao orfanato e recebeu a recompensa...
Muito legal!

(:

Anônimo disse...

olha o Jorge ai novamente, pelo visto ja se recuperou de suas decepções amorosas.
uma hora ele acerta!

:}