segunda-feira, 16 de março de 2009

VERDADES DE LUANA V

Naquela tarde, ao sair da casa de Luana, Rômulo ia direto à casa de Gisele. Embora estivesse, no momento, se sentindo sem chão, ou melhor: sem rumo, tinha o reflexo de procurar a prima causadora de tal confusão. A tristeza resultante do término de seu namoro ia dando lugar a uma raiva incontrolável. “Gisele fora longe demais”, pensava Rômulo.

Rômulo tocava a campainha da casa de Gisele com força, como se o botão, ao ser violentamente pressionado, fosse capaz de trazê-la aos chutes até a porta. Respirava ofegante. Estava fora de controle.
- Priminho!
Atendia à porta uma Gisele risonha, quase nua. Um short que poderia ser classificado como calcinha jeans e uma blusa de malha fina sem gola ou mangas. Qualquer rapaz naquela idade estremeceria diante da tentação em forma de menina. Porém, Rômulo nem se deu conta de tamanha provocação. Avançava no pescoço de Gisele com força.
- Escuta aqui, sua...
- Você está me machucando, Rômulo!
- Ótimo! Acho que precisamos conversar, não?
- Do que está falando?
- Não se faça de besta, Gisele – dizia Rômulo apertando ainda mais o pescoço da prima.
- Ah... ah...
Gisele ficava sem ar. Rômulo a soltava.
- SEU MONSTRO!
- Eu sou o monstro, Gisele? Você tem noção do que você fez? O que foi que você falou para Luana, sua...
- Eu não disse nada a ela! Se você resolveu se acusar, o problema é seu!
- Eu não tive escolha, Gisele. Eu preferi sacrificar o meu namoro a ela ouvir uma versão sua para toda aquela palhaçada no Natal.
- Ah! Palhaçada? Beijar-me daquela forma e alisar minhas pernas agora se chama palhaçada? Mudou de nome, porque, até onde eu saiba, aquilo se chama safadeza!
- Não me force a fazer em você o que Luana fez na sua amiguinha, Gisele!
- Ué? Onde está aquele pianista intelectual e paciente da família? Vai perder a cabeça, vai? Perde de vez e faz comigo o que eu sei que você quer!
- Você é louca, Gisele! Como é capaz? Luana está arrasada e encrencada na escola! Meu namoro terminado! O que mais você quer?
- Quero você! Sabe disso!
- Louca! Acho bom você pensar numa forma de consertar a merda que fez! Caso contrário, venho aqui e conto para os seus pais tudo o que vem aprontando, sua...
- Sua o quê? Vai, fala!
- Sua vagabunda!
Gisele levava a mão com força até o rosto de Rômulo, que, num reflexo incrível, segurava-a pelo pulso antes que o acertasse.
- Solta o meu pulso, Rômulo! Está me machucando!
- Tente mais uma vez e saberá o que significa o verbo machucar!
- Isso não vai ficar assim... Eu vou falar com seu pai, Rômulo. Eu...
- Fala. Vai ser muito interessante colocar suas atitudes esdrúxulas à mesa de nossa família!
- Ridículo!
- Ah! E vá vestir uma roupa decente! – dizia Rômulo ao arremessá-la no chão. – Quem lhe vê atender a porta imagina um bordel, não uma casa de família!
- ...
- Não se esqueça, Gisele! Conserte a merda que fez! Você tem vinte e quatro horas! Tchau!

Gisele via o primo se distanciar. Sentia a seriedade das palavras de Rômulo. Nunca tivera ideia do que aconteceria caso seus pais soubessem das dezenas de calcinhas deixadas na gaveta do primo, das visitinhas ao quarto do rapaz... Pela primeira vez pensava na cova que cavara para si mesma ao atrapalhar o namoro de Luana. No fundo já tinha ciência de que Rômulo jamais seria seu. Muito menos agora. Por último, lhe invadia uma admiração – ainda maior – por Rômulo. A maneira como o rapaz defendeu o seu amor a fazia querer, diante da mais cruel inveja, ser Luana.

Rômulo chegava em casa em pedaços. Analisava se fora muito rude com Gisele, mas, em poucos segundos de meditação, concluía que não. Gisele precisava, sim, de um freio.

* * *
Após o jantar, Patrícia seguia com Luana até o quarto da última. A menina subia a escada sob o abraço da madrasta. Pegava forte na mão de Patrícia, que, sem dizer palavra, deixava um beijo singelo na testa da enteada.

Chegando ao quarto, Luana abria a janela; deixava a brisa lhe acariciar o rosto e, então, sentava-se à cama. Patrícia ficava de pé.
- O que realmente aconteceu, Luana?
- Ai, eu não sei por onde começar.
- Comece do começo, ora.
- Bem, vamos lá...
Luana, então, contava tudo à madrasta. E, sem perceber – tamanha era a confiança depositada em Patrícia naquele momento –, acabava contando também o episódio da escola. Patrícia ouvia tudo calada e boquiaberta. Até que:
- Mas Luana! Como você foi capaz?
- Patrícia! O que você faria se ao invés de mim, fosse você? E ao invés de Rômulo, fosse papai?
Patrícia pausava por uns segundos e:
- Eu não sei, Luana. Dessas coisas só se sabem vivendo e...
- Pois é! E eu vivi! Ou melhor: morri!
- Não fala isso, Luana.
- Não sei mais o que fazer, Patrícia! Em relação à escola, amanhã conversarei com a Dra. Leda. Tentarei consertar as coisas. Quero poupar meu pai, entende? Não acho que meus problemas de adolescente devam aterrissar sobre a cabeça adulta e cheia de assuntos sérios de papai.
- Mas você, Luana, é assunto sério para seu pai. E para mim também, ora essa.
- Eu sei.
- Nada justifica o que você fez. Onde está aquela Luana inteligente? Que pensa e que nos ganha com suas palavras sempre bem usadas? Não se resolve nada com a força, minha filha.
- Eu sei. Sinto-me envergonhada por isso.
- Olha, isso será um segredo nosso. Eu espero que consiga resolver-se com a diretora. Caso contrário, saiba que estamos aqui, seu pai e eu! Entendeu?
- Claro. Obrigada por me ouvir.
- Não precisa agradecer. Ouvir seus problemas é uma obrigação minha!
- Eu te amo.
- Seu pai e eu também te amamos muito, querida. Ah! E sobre o Rômulo...
- Diga.
- Dê um tempo. Deixe o mar se acalmar. Quando o horizonte se mostrar sereno e as nuvens negras abrirem espaço para um céu lindo e azul, sente-se com ele sobre as areias claras e conversem.

[Continua]

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana em Luana, Duas, O Natal de Luana, Gisele e Janeiro Meu.

8 comentários:

Anônimo disse...

romulooo, ADOREI sua atitude.

gisely, MORRA de inveja.

luaninha, força na peruca.

Anônimo disse...

acho q vai ter final feliz...

Livia Queiroz disse...

Bem feito pra Giseleeeeeeeeeeeeee

Bem feitoooooooooooo. Adorei.
Rômulo subiu um pokim no meu conceito, embora eu tenha plena convicção de que ele sacaneou. Mas.....
rsrss

Vejo que as coisas estão começando a se ajeitar!

bjoksssssss


Parte III de "O Ensaio(ou anseio) de Chico" já está no Blog.
Confira!

http://liu-loren008.blogspot.com/

CAMILA de Araujo disse...

Um livro que acho que vou ler assim que terminar ' a vida como ela é...' é aquela biografia do John Lennon; 'John Lennon - a vida'

Ah, naquele meu texto tinha referencias a Los Hermanos sim, e também Beatles e até uma a Mozart e algumas aquele escritor Caio Fernando Abreu...

Parece que as coisas estão melhorando pra Luana ^^

www.casadobesouro.blogspot.com

Anônimo disse...

aee Rômulo, gostei de ver! :D
Tomare que dê td certo pra Luana e pra ele, e que a Gisele e a Giovanna se ferrem bonito hahahaha

Anônimo disse...

Giovanna não coitada, Manoela UASHUAHSUAHSUAHSUA
se vc não fala eu nem ia perceber :O

Amanda Albuquerque disse...

oi. vi que você já tem um selo igual, mas eu te indiquei pra um!
tá lá no blog!
;)

DL ;* disse...

adooooorei! a gisele vai se ferrar  :D

'Deixe o mar se acalmar. Quando o horizonte se mostrar sereno e as nuvens negras abrirem espaço para um céu lindo e azul, sente-se com ele sobre as areias claras e conversem.'
- ameei *.*


;*