quinta-feira, 19 de março de 2009

VERDADES DE LUANA VI

No dia seguinte, terça-feira, Luana acordava com um frio na barriga. No intervalo das aulas, como combinado, teria uma séria conversa com a diretora da escola, a Dra. Leda. Mas e até lá? Não tinha noção de como seria a recepção por parte de Manoela e Gisele.

Tomara seu café da manhã com o pai e a madrasta. Esta última, sem dizer nada, tinha no olhar um ar de “tudo dará certo” e, ao mesmo tempo, sorria para a menina, que se sentia cada vez mais confiante.

Ao se despedir, Patrícia chegava até o ouvido de Luana e:
- Qualquer coisa, me ligue!
- Pode deixar...
Respondia Luana a disfarçar.

A sós, Celeste e Luana trocavam palavras.
- Luana, veja bem o que vai falar à diretora, hein.
- Pode deixar, Celeste. Direi a verdade. Apenas a verdade.
- Deus te proteja, minha filha – dizia a empregada olhando para o céu.

Ao fechar o portão de sua casa, Luana era surpreendida com um puxão em seu braço.
- Ah!?
Espantava-se Luana.
- Calma, sou eu!
Para o desprazer de Luana, era Gisele.
- O que você quer? Solte-me!
- Está bem, desculpa. É que eu preciso falar com você?
- Falar o quê, Gisele? Já não acha que estou encrencada demais?
- Escute-me. O Rômulo esteve lá em casa ontem.
- Ah – dizia Luana com nítida raiva –, normal, não é?
- Não é o que você está pensando, Luana.
- E o que é, então?
- Ele exigiu que eu consertasse toda essa confusão e...
- Mas que confusão? – ironizava Luana – Não existe confusão. Existem verdades.
- Olha, você precisa me ouvir, Luana.
- Que engraçado, Gisele. Primeiramente: eu não me lembro de ter lhe informado o meu endereço. Segundo: ontem, você e Manoela me humilharam com toda aquela conversa e, hoje, você quer que eu lhe ouça? Ouvir o quê? Mais detalhes sobre o Natal? É isso?
- NÂO!
Luana se assustava com o tom alto de Gisele, que continuava:
- Estou aqui para lhe pedir desculpas.
- !!!
- É isso mesmo, Luana. Somente ontem, diante da atitude de Rômulo, lá em casa, percebi o que estava claro todo o tempo: Rômulo não é e nunca será meu.

Luana não sabia, mas Gisele passara a noite em claro. Imaginara as drásticas consequências se Rômulo resolvesse mostrar a quantidade de calcinhas deixadas por ela na gaveta do rapaz. A partir daí, Gisele não tinha escolhas. Após concluir que nada tiraria Luana do pensamento do primo, decidia seguir as palavras ameaçadoras de Rômulo. Consertaria toda aquela confusão.

- Mas o que Rômulo fez, afinal?
Perguntava Luana.
- Foi rude e grosso o bastante para que eu repensasse em tudo o que ocorreu. Passei a noite a refletir e cheguei à conclusão de que você nada tem a ver com o meu sofrer.
- E por que sofres?
- Eu o amo, está entendendo? Eu amo o Rômulo! Sempre amei! Desde muito nova o amei.
- Hum...
Luana não sabia o que dizer. A sinceridade de Gisele lhe causava estranheza, desconfiança, medo e, acima de tudo, pena.
- Você não tem noção das coisas que fiz para conquistá-lo. Aí vem você... Você! Tão... Tão...
- Tão?
- Desculpe-me, Luana, mas não vejo nada em você que possa despertar aquela adoração de Rômulo.
Confessava Gisele, com os olhos cheios de lágrimas. Continuava:
- O que é que você tem, Luana? O que é que você tem que eu não tenho?! Eu... Eu queria tanto ser... Ser você.
- Eu não sei onde você quer chegar, Gisele!
- O Rômulo te ama, Luana! Dá pra entender? O Rômulo te ama! Tudo aquilo que ocorreu no Natal foi por minha culpa! Ele cedeu, sim, mas não foi de alma, entende?
- Não entendo como uma pessoa possa “ceder” sem alma.
- Foi corpo, Luana! Apenas corpo! A alma de Rômulo é sua! Deu para entender?

Luana fazia silêncio. Refletia. Tentava entender. Tentava se colocar no lugar de Rômulo. Imediatamente lhe vinha à mente o mês de janeiro e toda aquela atração que sentira por Denis [vide Janeiro Meu]. Luana passava então a entender o que poderia ter levado Rômulo a beijar Gisele. Como se descobrisse, naquele momento, um segredo do ser humano, Luana concluía que não beijara Denis por puro desvio de destino. Luana revivia em poucos segundos aquele imã que lhe puxara a Denis.

- Eu o provoquei, Luana. E ele cedeu, mas não parava de falar o seu nome.
- Olha, Gisele, se o que você quer é que eu volte para o Rômulo, esqueça.
- Mas é que estou me sentindo muito culpada, Luana.
- Azar o seu, Gisele. Eu não estou. E, se me der licença, eu preciso ir para a escola.
- Você não entende? Se você e Rômulo não reatarem... Sei lá... Eu não sei o que Rômulo é capaz de fazer comigo.
- Diga a ele que... Que você tentou, mas não funcionou. Tchau.
Luana seguia para o ponto de ônibus. Gisele ia atrás.

Durante todo o percurso, Gisele atormentava o juízo de Luana, que, por sua vez, não entendia aquela mudança de comportamento da outra. Gisele queria ir do diabo ao anjo em menos de vinte e quatro horas! Luana se confundia com tanta informação. Queria se concentrar na conversa que teria com a Dra. Leda, mas não conseguia sob a tagarelice de Gisele.
- Gisele, escuta uma coisa: eu não quero pensar no Rômulo! Deixe-me em paz, por favor!
- Olha, Luana, eu era para me sentir a menina mais feliz do mundo, diante dessa sua frase. Mas, definitivamente, o Rômulo é seu! Pene nisso!

Gisele, séria e aparentemente preocupada, deslocava-se para um assento mais distante de Luana, que, completamente confusa, danava a pensar. Luana observava Gisele enquanto a frase “...não vejo nada em você que possa despertar aquela adoração de Rômulo” martelava em sua cabeça. Por alguns segundos, como se fosse um homem, como se fosse Rômulo, tentou analisar a beleza de Gisele.

Ora, não precisava ser homem, heterossexual, para concluir que Gisele era uma beldade. Maléfica, sim, mas uma beldade. Luana olhava o reflexo de si mesma, produzido pela janela do ônibus, e outra frase de Gisele lhe vinha. “O que é que você tem, Luana? O que é que você tem que eu não tenho?! Eu... Eu queria tanto ser... Ser você”. “Ser você”. “Você”. “Você”. Nunca ninguém lhe dissera tal coisa. Luana deixava escorrer um fio de lágrima.

[Continua]

* * *
Foto da Capa: Ana Claudia Temerozo.
Mais histórias sobre Luana em Luana, Duas, O Natal de Luana, Gisele e Janeiro Meu.

6 comentários:

Anônimo disse...

nossa, que forte!
estranho pq certas sensações me são comum...
[terapia 2, ativar!]

gisele, morra de preocupação!

Livia Queiroz disse...

Pois que bom que Gisele se tocou.
Já tava na hora...

Doreiiiiiii rssr

Bjaum

P.S.: Tem post novo no Assuntos de Meina tbm

Anônimo disse...

ih, alá...

essa gisele tá melhorando, é?!

Anônimo disse...

quanta confusão na cabeça da Luana..

a Gisele é podre!

DL ;* disse...

aaaah eu to adooorando!

giseeele: sooofra de remorço
(sei lá como se escreve; rs)

Lucas disse...

Como as coisas mudam rápido.
Será que é sincero?

Ta ótima a história!

Espero a continuação.